Por um Milhão de Ambições
Havia caminhado por dias. Isso não era incomum na sua vida, para bem da verdade, mas aquela viagem em específico havia sido mais custosa do que todas as outras que já havia feito. Não pela a estrada estar mais perigosa ultimamente por conta da guerra contra os puristas. Não. Algo em seu coração parecia fazer com que ele não quisesse ir atrás daquela busca, mas era necessário, não ficaria calmo até fazê-lo, não ficaria satisfeito até fazê-la. Aquela era uma de suas ambições e por mais que fossem contraditórios seus sentimentos, seguiria até o fim do mundo para alcançá-las.
Assim era o caminho de Valkaria. Assim era o seu caminho que havia abraçado desde tão tenra idade. Esse era o caminho que sua tutora o havia ensinado e o qual sua espada vivia.
Havia deixado todos os outros para trás, dentre eles Aldred o havia chamado de louco quando tinha dito qual era sua busca e que ia sozinho. Arkam, não o braço metálico, mas a feiticeira que havia recebido o nome do herói, o apoiou e lhe deu um beijo desejando que não demorasse. Sentiu no momento do beijo um leve sentimento de vazio no peito. Não demoraria, prometeu, mas tinha dúvidas se retornaria.
Logo a sua frente, ao lado da estrada se encontrava uma casa de madeira de dois andares, podia ouvir a música que vinha de dentro dela, seu telhado era ornado com lajotas de cerâmica e telhas de barro e portas grossas de madeira nobre. Sentia o cheiro de carne e seu estômago roncou, balançou a cabeça afastando aquela ideia, não estava ali para comer.
O sentimento que o acompanhava pela estrada ficou mais forte, sentia o desejo de sacar sua espada e conquistar o mundo, sentia a vontade de lutar contra exércitos, derrubar tiranos, vencer a tormenta. Se não fosse ali, não seria nenhum outro lugar de Arton. Olhou para a placa “O Desbravador”. Abriu um sorriso pela ironia.
Adentrou e foi acometido por toda a miríade de sensações que um local como aquele trazia. Sentia o cheiro azedo de cerveja que havia sido derramada no chão, o perfume que vinhaa de um assado, ouvia a música que era animadamente tocada por um conjunto de artistas. Pessoas conversavam, cantavam, jogavam, apostavam em diversas das mesas. Do alto de um mezanino pessoas acompanhavam a festa que ocorria embaixo de forma mais reservada.
Quem estava ali não parava um momento sequer, andavam para todos os cantos, trocavam seus copos de bebida, dançavam, cantavam, comiam e gargalhavam juntos. Como uma única consciência.
Percorreu os olhos procurando ela e como esperado para ele não foi difícil de ver do outro lado do salão sentada no balcão bebendo de um caneco de cerveja. Estava vestida em uma armadura de couro batido, a espada em sua cintura era simples, seus cabelos vermelhos se encontravam presos em uma trança pouco elaborada. Terminava um longo gole da bebida e pousava a caneca na mesa, olhou diretamente para o ele que a encarava do outro lado do salão e deu um sorriso maroto. Levantou a caneca o convidando para uma bebida.
Seguiu em direção a mulher, se esquivando das pessoas e com os olhos firmados nela. Sempre que alguém passava a sua frente ou algo bloqueava sua visão a aparência dela mudava. Os cabelos pareciam mais curtos em um momento, mais longos, loiros, escuros. Seus olhos mudavam de cor, seu corpo e vestimentas também mudavam. Ninguém ao redor parecia se importar com aquilo, como se a realidade simplesmente aceitasse que ela tivesse aquela aparência todo o momento, em seu coração, o homem sabia quem era independente da aparência que tinha no momento. Era impossível se confundir.
Quando finalmente chegou ao seu lado a pessoa que o encarava tinha uma tonalidade escura de pele e os cabelos presos em diversas pequenas tranças, os olhos cor de mel se voltaram a ele.
O desejo de conquistar ao mundo escalava a um novo patamar.
Não esperava ver você tão cedo novamente. -Começou a mulher, agora cabelos de um roxo profundo quase preto caiam até a metade das suas costas e a pele clara como neve.
O homem soltou um suspiro, sentou em um banco ao lado dela, antes mesmo que pudesse pedir um copo de cerveja já estava a sua frente.
Não estranhava a constante troca de aparência da mulher aos seus olhos, apenas um verdadeiro devoto poderia ver a realidade da deusa. Valkaria era ambição, mas Valkaria também era força vital, elã, voracidade, vitória, conquista, paz, guerra, amor, ódio, tristeza e alegria. Valkaria era movimento, inquietude, espontaneidade, revolta e desejo de agir mas acima de tudo Valkaria era a deusa da humanidade e como a humanidade Valkaria era diversidade.
— Precisava te ver mais uma vez. Existem coisas que preciso entender, coisas que apenas você pode me responder.
A deusa riu e direcionou ao seu paladino um olhar malicioso.
— Sou a Deusa da Ambição, não a Deusa do Conhecimento, acho que veio atrás da deusa errada.
Dessa vez foi a vez do loiro rir, a virtuosidade era algo que admirava.
— Sabe que eu não vim até aqui para perguntas genéricas sobre Arton que todos se fazem todos os dias. Respostas que apenas você sabe me dar.
Ainda com um olhar matreiro a deusa bebericava de sua cerveja. Em um lugar ao fundo um homem berrava com outro por causa de uma aposta. Em algum lugar de Arton um jovem pegava a espada do avô e saia de casa.
— Sei? Porque eu deveria saber? Se você procura respostas deveria correr atrás delas e não vir pedir ajuda para mim. Não foi isso que te ensinaram sobre meus dogmas?
Olhava para o homem, sua mão por um momento deixou a mesa e pareceu que iria em direção ao medalhão que ele trazia na altura do peito que prendia sua capa, um movimento que parecia fazer inconscientemente. Porém ele parou no meio do caminho e voltou a pousá-lá na mesa. Olhou novamente sua expressão, mantinha um sorriso, mas via certa irritação em seus olhos. Manteve o sorriso provocativo. Uma guerreira abria a barriga de um dragão em Sambúrdia, sangue caia por seu corpo, mas ela sorria. Vitoriosa.
— Eu já havia esquecido o quão provocativa você é. Isso não me faz gostar menos, mas é um porre de se lidar depois de um tempo…
Os berros ao fundo aumentavam, o barulho de algo se quebrando fez diversas pessoas se agitarem. Os dois não se importavam.
— Eu lutei na guerra — Pausa — Eu estou lutando na guerra. Eu vi os milagres que alguns dos puristas manifestam, eu vi a deusa que eles cultuam e não me venha com esse papo de que é Keenn, ele é um mero vassalo aos olhos dos puristas…
Alguém foi empurrado do mezanino é caiu em cima de uma das mesas, quebrando ela no processo. Mais gritos. O ambiente na taberna pesava.
—… mas que porra Valkaria. O que você tem na cabeça?
A deusa pousou seu caneco e virou todo o corpo para ele. Sua pele era branca, cabelos loiros em tranças, olhos azuis. Os pelos do pescoço do homem se eriçaram, eram traços característicos dos habitantes de Yuden.
— Hoenheinn, vou tentar explicar de uma forma fácil para que você entenda. Sou a Deusa da Ambição, da humanidade. Eles querem levar os humanos a frente de todos os outros, como poderia eu negar poder a eles?
O baque do banco caindo no chão mal foi ouvido quando o loiro se pôs de pé em um sobressalto, mantinha o seu punho cerrado, seus olhos verdes faiscavam com raiva.
— O que fala é loucura, o tipo de caminho que eles pretendem dar para a humanidade é escuro e belicoso, é mais do que óbvio que não devemos nos livrar de outras raças ou simplesmente submetê-las a miséria e mera servidão. Todos possuem a capacidade de ambicionar o impossível, e a nossa mistura só nos torna mais fortes, basta ver os “meio qualquer coisa” que temos por aí. Todos são seus filhos, todos tem a insatisfação dentro de si.
A sua frente uma meia elfa se levantava calmamente, mantinha os olhos fixos nos olhos do homem. O sorriso não sumia de seu rosto apesar da postura do outro. Os artistas haviam parado de tocar, o dono do bar tentava gritar mas sua voz era abafada pela a multidão.
— Porque repete para mim o que eu já sei Hoenheinn? Todos eles também me são queridos e recebem minhas bençãos. Você fala como se não fosse meu paladino…
A voz da deusa se enchia de cada e cada mais vez de paixão a cada palavra dita.
—… você fala como se não soubesse qual é a minha maior vontade, qual é o meu maior desejo, qual é a minha maior ambição.
E então o loiro viu estrelas, uma dor lancinante percorreu sua cabeça, cambaleou para o lado dois passos e recobrou a postura. Por um momento achou que havia aberto a cabeça quando levantou a mão aos cabelos e sentiu algo molhado, mas pelo cheiro azedo logo notou que era bebida. As pessoas brigavam por toda a taberna mas o único som que ouvia era a gargalhada de Valkaria que parecia tomar conta do lugar.
Quando se deu conta viu que dois homens avançavam para cima da deusa apenas para logo em seguida serem derrubados por um soco desferido por um mulher com braços grossos e barriga larga. Hoenheinn não teve tempo para raciocinar, um homem baixo e de peito largo avançava contra ele, no momento em que ele estava próximo passou uma perna por entre as pernas dele, agarrou a camisa e fez alavanca utilizando o próprio movimento dele para arremessá-lo por cima do balcão derrubando diversas garrafas de bebida em cima do próprio no processo.
Procurou a deusa pelo o salão, já não estava mais ao seu lado e instintivamente seus olhos a encontraram, viu ela derrubando duas mulheres que a flanqueavam e pareceram até acertar alguns socos nela. O paladino viu que a deusa parecia nunca lutar em um nível impossível de ser alcançado contra mortais, nivelava sua força ao ponto de criar um desafio formidável ao seu adversário baseado em suas capacidades a fim de despertar o desejo de vitória do oponente contra um inimigo poderoso e não de esmagar suas esperanças.
O loiro correu em direção a ela, tentava se esquivar dos combates que ocorriam em meio a todo o caos, se evitando as garrafas, cadeiras e pessoas que eram arremessadas.
Distribuía socos, chutes e derrubava aqueles que avançavam contra ele quando necessário. Em seu caminho um homem em armadura negra pesada e um tabardo vermelho com um leopardo negro se destacou vindo em sua direção, sua cabeça era careca e os olhos pálidos. O paladino respirou fundo, sentiu raiva percorrer seu corpo, finalmente tomava uma postura séria de combate e quando o homem estava em seu alcance desferiu um soco, direto. A partir do nariz do homem uma explosão de luz branca faiscou emitindo um forte estrondo, era o primeiro golpe sério que deferia. O barulho em seguida que ouviu foi o do corpo do homem caindo em cima de outros quatro e quebrando uma mesa no processo. O rosto dele estava empapado do próprio sangue.
Ouviu a gargalhada da deusa em um canto do salão.
— Você ainda me pergunta porque eu dou poderes a eles! Veja como a sua frustração com isso te faz crescer. Veja como isso os torna um desafio! Veja como isso faz com que você tenha que se superar! Olhe para si mesmo, olha o quão forte você está! Está Grandioso!
Ele então trincou os dentes, saltou em cima de uma mesa e seguiu saltando de mesa em mesa evitando os brigões. Foi ganhando a distância entre ele e a deusa. Pessoas no mezanino jogavam canecos e garrafas, um grupo de pessoas o escalava e começavam a agarrar os pés das pessoas lá de cima.
O paladino saltou então de cima de uma das mesas com o punho cerrado, seu alvo a própria deusa e que acabava de jogar pela a janela um casal.
Era difícil de respirar com a garganta sendo apertada pelos dedos de um deus. Tentava aspirar o oxigênio, mas ele simplesmente não alcança seus pulmões. Agarrava o pulso da ruiva que o encarava de baixo e ele com esforço encarava de volta. Tudo tinha ocorrido rápido de mais, não havia tido tempo de reagir ao contra-golpe.
— Você não… pode… justificar a morte de tantos… dessa… maneira.
Mal terminou sua frase violentamente foi arremessado contra a coluna de sustentação da taberna. O local tremeu. Alvenaria se rachava e pedaços caiam na cabeça das pessoas que não pareciam se importar e apenas continuavam brigando.
— Você é um viciado Hoenheinn. Você acha que eu não sei?
O paladino se levantava em uma perna tossindo e respirando forte pela a boca. Com a cabeça pouco baixa encarava Valkaria, quando finalmente se colocou de pé a deusa continuou.
— Acompanho você desde sempre, fui eu quem escolheu você como paladino, você acha que eu não sei o porque você se aventura? Você acha que eu nunca vi seu sorriso diante de uma vitória? Você acha que eu não estava lá quando você caia e se levantava? Você adora isso. Desde que era um menininho correndo pelas ruas da cidade que tem o meu nome. Você adora a adrenalina do momento. Você não se aguenta, você precisa disso nas suas veias diariamente, você jamais viveria uma vida pacata. Essa guerra é um esbalde para você, talvez você nunca até esse momento se sentiu tão vivo. Você é literalmente viciado por isso e não importa quantas vezes isso te mate, você…
A deusa se agachou e uma cadeira explodiu contra a parede às suas costas. O paladino vinha ganhando o caminho aos poucos, os brigões pareciam vir em sua direção instintivamente, ia os derrubando um a um. Valkaria suspirou e seguiu subindo devagar a escada para o andar de cima, enquanto olhava de cima o paladino.
— Você não acha que eu sei o outro motivo que te trouxe aqui? Você não acha que eu vi seu envolvimento com aquela menina? Não me faça rir, você já estava lutando contra os puristas e não moveu uma palha para vir atrás de mim. Só resolveu vir se movimentar depois que soube dos meus novos dogmas, quando sentiu o que estava acontecendo.
Do alto do mezanino Valkaria olhava com arrogância para Hoenheinn lá embaixo rodeado por um mar de pessoas caídas ao seu redor. Seus olhares se encontravam e faíscas estalavam no ar entre deusa e devoto.
— Eu vou casar com ela, independente de sua aprovação ou não… isso é contra a liberdade. Todos devem ter o direito de ambicionar o amor e alcança-lo, não vou amolecer diante das ameaças de perder um punhado de poderes fornecido por você. Apesar disso uma decisão dessas não é da deusa que eu servi todos esses anos. Algo aconteceu Valkaria, e você vai me dizer o que eu quero saber.
O ar ficou quente e energia acalentadora emanava do corpo do loiro, ele sacou sua espada havia e luz surgia de seu corpo. Como um relâmpago o paladino ganhou a distância entre ele e sua a adversária com um salto sobrehumano. Seu golpe de espada com apenas as mãos foi aparado com facilidade pela ruiva, que disparou um soco em contragolpe, mas em um movimento tão veloz quanto o de sua oponente fez esse se resvalar pela lâmina e ganhou a oportunidade para uma estocada em direção ao abdômen dela. Ela era uma deusa, não era um adversário como qualquer outro que já havia enfrentado. Quando se deu conta a deusa se encontrava de pé na lâmina da espada o encarando de cima.
— Eu estou acima de você, deveria desistir agora e voltar com sua missão sagrada paladino. Se fizer isso serei clemente com você e deixarei sair com vida.
O paladino encarava sua deusa com um olhar descrente e abalado. Valkaria falando de desistir? Nesse curto momento abaixo sua guarda. Sentiu o impacto forte contra o queixo e perder momentaneamente o controle do corpo, sentia estar voando no espaço e em seguida o impacto das costas contra a madeira de uma parede. Ouviu o barulho de madeira se rompendo e a dor das costelas se partindo quando atravessou a parede. Com os olhos turvos viu o céu, árvores, o sol e o chão enquanto girava no ar. Por fim sentiu o rosto quente com o próprio sangue quando finalmente havia chegado a estrada do lado de fora da taberna quando caiu se arrastando na terra.
— Botou uma mão por cima das costelas, o pulso dourado de energia cobriu sua mão enquanto sentia a dor de seus ossos voltando ao lugar.
Ajoelhado mais uma vez, se apoiou na espada para se levantar e mais uma vez levou os olhos para cima o encarando do buraco na parede estava a deusa. Mais uma vez olhando para cima, enquanto ela o encarava do alto. Distante, imponente, inalcançável.
Rilhou os dentes. Os joelhos doíam, as costas gritavam, os músculos lamentavam. Tossiu. Sangue saiu por sua boca, mas não parecia se importar. A única coisa que importava era ela. A deusa não lutava com ele da mesma maneira que lutava contra os brigões na taberna, ela não se colocava amarras, nem deixava uma chance justa. Ela sabia que ele não esperava menos dela. Valkaria continuou.
— Não pode me derrotar Hoenheinn, admita para si próprio, você está no seu limite. Você não consegue nem mesmo se pôr de pé. Não acha patético usar a pulsão divina de sua oponente para recobrar a energia do seu corpo e continuar lutando?
Tentou falar, tossiu. A garganta estava seca. Respirar era difícil, mas mesmo assim se forçou a puxar ar com a boca e encher os pulmões. Sua voz saiu surpreendentemente limpa para o estado em que se encontrava.
— Você não é a Valkaria que encontrei anteriormente, você não é a Valkaria que eu aprendi os dogmas e vivi por eles…
Respirou fundo. Levantou o braço esquerdo e apontou o indicador a ela e do fundo de seus pulmões esbravejou.
— Você é qualquer coisa, mas menos Valkaria, uma impostora que assumiu seu lugar e eu vou acabar com você aqui e agora nesse momento.
A expressão no rosto dela era indecifrável. Quando o paladino se deu conta o punho dela já estava próximo ao seu rosto, com um movimento que era pouco mais do que um cambalear se agachou e o punho passou por cima de sua cabeça, mas não conseguiu se esquivar da joelhada contra seu abdômen.
— Está enganado. Não sou impostora, eu sou a Valkaria que você foi ensinado sobre. Apenas esqueceu o que eu mais desejo Hoenheinn…
Socou mais uma vez, mas o golpe foi desviado pela lâmina da espada, mais dois socos mais duas vezes ela foi aparada. A ruiva deixou escapar um sorriso de canto de boca e continuou sua sequência de golpes procurando uma brecha na guarda do oponente. O homem se esforçava para manter o ritmo, mas ela era muito mais rápida e hábil que todos os inimigos que já tinha enfrentado até hoje. Em meio aos diversos golpes a ruiva continuava a falar como se aquilo não exigisse qualquer esforço.
— Você deve superar Hoen!! Você deve superar tanto seus inimigos que não deve ter tempo de pensar em mais nada!
O loiro girou a espada em uma estocada, mas que foi repelida com apenas um safanão, recebendo um soco no lado esquerdo do rosto em seguida e diferente dos outros golpes que o jogavam para longe apenas cambaleou alguns passos para trás. Ela avançou golpeando, a guarda parecia fraquejar a cada novo soco ou chute.
— Supere seus amigos como eles fossem seus inimigos! Supere os puristas que marcham sobre Arton caçando não humanos!!
Agachou e avançou como uma animal contra o abdômen do paladino o agarrando e o derrubando no chão de costas e montando sobre o peito dele. Começou então a socar o rosto do oponente.
— Supere o Império de Tauron que escraviza e explora a todos!! Supere a todos! Supere a sua deusa que tanto venera! SIM! SIM! SUPERE A MIM, SUPERE A MIM!!!
O punho acertou o chão abrindo um buraco logo ao lado da cabeça do loiro, enterrando até o antebraço na terra. O rosto completamente empapado em sangue ainda exibia um único olho aberto cheio de determinação a encarar. A deusa não conseguiu deixar de abrir um sorriso ao ver aquela expressão seguido de uma sensação que parecia não sentir a décadas, quando ainda estava presa na estátua de pedra: dor. Sentiu dor nas suas costas e essa dor só aumentava. Saltou para longe do corpo do paladino o libertando de seu próprio peso.
O loiro segurava a espada pela a lâmina onde o sangue da divino e o seu próprio escorriam pela a lâmina. Tremendo, levou uma mão engolfada pela a energia divina ao próprio rosto enquanto mais uma vez se esforçava para levantar. A pulsão divina ao redor dele aumentava, sua aura se expandia e a deusa o encarava sorrindo. Quando abaixou a mão, encarava a deusa a sua frente com um misto de raiva e realização.
— Estava me provocando esse tempo todo… você nunca desejou que eu desistisse, ou fosse embora você só deseja uma única coisa em toda existência. Um único desejo que rege todos os seus atos…
A deusa abriu um sorriso tão grande que mostrava seus dentes e junto do concluiu a frase junto do seu paladino.
— Que os humanos superem os deuses.
O paladino engoliu o seco e manteve sua espada levantada. O silêncio que se abateu entre ambos era apenas quebrado pelo o barulho do vento. Até mesmo as pessoas dentro da taberna pareciam ter parado sua briga.
— Isso não explica na…
— Isso explica tudo. — Cortou — Vocês precisam se mover. Vocês precisam crescer, está frustrado comigo? Então me supere!! Me alcance, venha atrás de mim em Odisséia, rasgue os céus e me mostre a força que surge desse sentimento. Estou cansada de esperar, essa é a minha ambição Hoenheinn, você sentiu em seu peito o que anda ocorrendo nos planos divinos, não existe mais tempo. Como você com as suas ambições eu mataria e morreria por essa única. Quer casar com a sua “namorada” e ainda manter seus poderes? Quer que os puristas não recebam minha benção? O que mais você deseja? Venha até mim e me mostre a força da sua determinação ou continue em Arton com sua peregrinação resolvendo cada um dos problemas que você consegue.
Hoenheinn abaixou sua arma e encarou a deusa, dessa vez, de igual para igual, finalmente estavam na mesma altura. Levantou o seu punho esquerdo na direção da própria deusa.
— Você quer que eu vá pessoalmente até você em Odisseia e não apenas tenha que lidar com esse avatar enfraquecido? Eu irei até Odisséia, então. Irei rasgar os céus como um trovão em ascensão se necessário. Você quer que os humanos superem aos deuses? Essa é a sua ambição? Então é só isso que eu devia estar fazendo todo esse tempo? Então é isso que eu farei minha deusa. Eu irei até Odisseia e irei te mostrar a força dos seres humanos.
Uma pausa.
— Eu irei superar os deuses. Eu irei mostrar a força de sua criação e então você irá parar toda essa loucura.
Valkaria olhou uma última vez para seu paladino coberto em seu próprio sangue da cabeça aos pés. A deusa sorria antes de ascender os céus.
— Então venha, estarei lhe esperando com um exército de heróis.
Arte da Capa por Ricardo Mango. Arte do post por Cristiano Oliveira.
Adorei o conto, Roen. Mas tem uns errinhos que uma revisão melhor pegava.