Pontos de Vista: relativismo monstruoso

Pontos de Vista: relativismo monstruoso 1

Triste, né? Vou lhes contar uma história que aconteceu recentemente comigo em uma campanha para um grupo novo aqui em Florianópolis: os personagens foram contratados por um nobre para escoltar colonos para uma área selvagem. Chegando lá, calha que a área já era habitada por uma tribo de orcs, e lá foi o grupo de “heróis” aventureiros, felizes e saltitantes, exterminar as criaturas do mal. Lá pelas tantas durante a invasão da caverna onde a tribo vivia, permiti um teste de Inteligência para que os personagens entendessem partes do que o chefe orc falava para seus comandados durante o combate: “Lutem!… nosso tesouro… as crianças… atrás da porta… não desistam!”. Resultado? Após matar todo mundo, incluindo algumas fêmeas orcs que tentaram, desarmadas, impedir que eles chegassem a tal porta, eles a abriram a machadadas, enxotaram as crianças orcs para longe e aí procuraram o tal tesouro por todo o canto da sala. Eles ficaram frustados por não encontrarem o tesouro e eu não tive coragem de contar a verdade para eles.

Tudo bem, também tenho minha carga de culpa, por colocar uma situação moralmente ambígua para um grupo novato lidar. Até esperava que eles falhassem em resolver a situação, mas essa completa insensibilidade deles, assassinando mulheres desarmadas, enxotando crianças órfãs sem se importar com o que lhes aconteceria numa área selvagem e inóspita como aquela, sem nem por um instante questionando as próprias ações, isso me chocou muito.

Então, um pedido a todos vocês que rolam dados, por gentileza, coloquem a mão na consciência. Um mundo de fantasia de RPG não é um mundo onde você pode agir como um monstro só porque as conseqüências não são reais. É um mundo onde você pode ser um herói. E ser um herói é sobre fazer a coisa certa. Sempre.

Agradecimentos ao Leonel Domingos pelo letreamento da tira.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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17 Resultados

  1. Lord Balrog disse:

    Vingança!
    A história vai continuar daqui pra frente? Os jogadores farão mais aventuras com os mesmo personagens?
    Que tal alguns, do grupo das pequenas crianças Orcs, sobreviverem no mundo selvagem que foram arremessados pelo grupo, e voltarem para se vingar dos parentes mortos?
    Isso ensina uma moral de história para os jogadores, e o mundo fica muito mais crível!
    Vingança! rsrs
    Abraços.

  2. Luiza disse:

    Aaah, não adianta XD Tem gente que não tá preparada mesmo pra questões morais ambíguas dentro do jogo.
    Mas concordo com o que o Balrog disse! Tudo na vida tem consequências, talvez ensine uma coisa ou duas pras criaturas XD

  3. Pedro disse:

    Matar NUNCA é nescessario. Muitos dos jogadores tem um passado do tipo “minha familia morreu e estou atras de vingança”, ok, mas o cara fará igual matando. Lembra tambem aquela aventura que o Trio Tormenta vive falando dos camponeses na torre. Enfim, só por que se tem poder não significa que você tem o direito de matar todos.

  4. Armageddon disse:

    Orc bom é orc morto. >=D

  5. Rodrigo Quaresma disse:

    E depois me perguntam porque Orc e Goblinóide vêm antes de dracônico na minha fila de prioridade de idiomas que meus personagens devem aprender =P
    Agora só consigo imaginar a cara de preocupação dos jogadores do Nume quando ele diz que um grupo de goblins tenta assaltá-los xD
    “E agora? Será que a família dele tá passando fome? Ou ele tá juntando dinheiro pra o resgate de um parente sequestrado?”

  6. Ka Bral disse:

    Em 1992, GURPS Fantasy me ensinou que entrar numa dungeon pra matar orcs e roubar seu tesouro significa que esse grupo de “heróis” são, na verdade, ladrões e assassinos racistas.
    Desde então, nunca, nunca mais usei o tema “entre na masmorra e roube o tesouro daquela raça diferente da sua” e nunca mais usei humanóides como simples buchas de canhão.
    Na verdade, gosto de escrever estórias e aventuras em que exploro os pensamentos e sentimentos dessas “minorias”, em especial kobolds. Nunca gostei da visão D&D de raças “intrinsecamente boas ou malignas” – embora em D&D 3.X tenha digievoluído para tendências “frequentes” ou “gerais”, mas, mesmo assim… Somente humanos, elfos e anões têm direito à vida e à dignidade?

  7. Di Benedetto disse:

    Olha Nume acho que depende muito do tipo de jogador e o tipo de campanha. Nem todo mundo curte campanhas mais “heróicas”
    Tem jogadores, (principalmente os mais novos/imaturos) que querem apenas saber de tacar o terror, propagar a destruição, encher os bolsos de ouro e violar donzelas.
    Se isso JÁ acontece nas guerras e batalhas no mundo real, difícil que não vá rolar no RPG, onde é escapismo e como você disse, ninguém tem responsabilidade real nenhuma pelos seus atos.
    Quando jogadores agem no modo matar pilhar e destruir acho interessante botar as consequências do que fizeram para persegui-los.
    A ideia do Balrog é foda! 🙂
    Em tempo: Nem sempre um herói sabe o que é certo. Ned Stark, do GofT sabia, mas ninguém tira da minha cabeça que ele tomou a decisão ERRADA, XD

  8. Jirayajonny disse:

    Na minha primeira aventura no grupo novo fui lá eu com meu Youkai – Swashbuckler/Lenda Urbana, investigar um bando de homens encapusados suspeitos, entrando em um beco … Esperei sobrarem poucos homens do lado de fora… Sobrou um. Empunhei minha arma e saltei sobre o maligno vigia. Matei-o em dois golpes e entrei na casa… Após alguns percalsos cheguei a um portal onde eu vi os mesmos meio-orcs ajudando pessoas a fugirem de um exército “esqueleto from hell”. Na hora eu ri mas depois eu pensei… KCT eu matei um cara q tava ajudando aquele povo!!
    A Partir dai eu penso 2 vezes antes de matar um ser inteligente que NÂO TENTOU ME MATAR ANTES!!

  9. Urathander disse:

    Hummm… cabe ao mestre dar o tom da aventura, um PdM poderia fazer as vezes de interprete, os orcs poderiam tomar a iniciativa de tentar um acordo (o que? So pq são orcs não podem ter ideia de uma solução pacífica? Quem está sendo o “preconceituoso” agora?).
    Quando os critãos invadiram a Cidade Santa mataram tudo que se movia, alguns anos atrás protestantes na Irlanda fizeram fila para xingar crianças católicas que iam para a escola e recentemente judeus ultraortodóxos, fizeram fila para cuspir em crianças de uma escola cujos trajes julgavam inadequados, querer que os jogadores sitam empatia pelos orcs, sem uma ajuda do mestre, é meio utópico…

  10. JJ Rangel disse:

    Todos são responsáveis por seus atos, incluindo os virtuais. Matar-pilhar-destruir ficou entranhado na mente de muitos jogadores que acham que tudo é Doom. Pena.
    Até.

  11. Lord Seph disse:

    meu grupo nunca faz esse tipo de coisa… mas apenas proque eles sabem que tem consequencias futuras XD

  12. Lucas disse:

    É mesmo muito difícil lidar com ambiguidade moral em na mesa de jogo, mas acho que alguns sistemas tornam isso ainda mais difícil.Eu to começando agora uma campanha de Pathfinder e resolvi retirar as tendências do jogo achando que isso iria limitar menos as opções morais dos personagens.
    Pra que… quanta dor de cabeça…

  13. nerun disse:

    Meu antigo grupo tinha o problema sério de (falta de) moral. Principalmente quando jogávamos Vampiro. Em uma sessão de Vampiro: Idade das Trevas, chegamos a uma vila, onde os jogadores aproveitaram para dizimá-la por puro prazer. Pesenciei um grangel matar dois bebês batendo a cabeça um do outro e beber seu sangue… Acho que algumas pessoas aproveitam as sessões de RPG pra liberar suas bestas, literalmente. Eu nunca consegui agir assim, mesmo interpretando sempre tive um limite.

    • Tek disse:

      Acho que depende muito do grupo, do clima da campanha, da interação entre os jogadores e vários outros fatores.
      Eu mesmo sou contra o pessoal “escrotizar” uma aventura pelo simples prazer de “eu posso”. Mas dependendo de como está sendo conduzido o jogo e do próprio histórico e construção do personagem, é mais do que justificado alguns atos hediondos DENTRO DO JOGO, porque é algo que o personagem faria ou se espera que ele faria.

  14. Augusto disse:

    Cara achei muito tri essa historia =)
    Espero que tenha uma continuacao.

  15. Puppet disse:

    Orc bom é orc morto!!

  16. Aqui na nossa mesa aconteceu semelhante, mas eles acabaram por acabar de criar essas crianças orcs. Com um certo peso na conciência, passaram a manter a vila orc, como seus protetores e pais dos orcs, assim no nosso mundo surgiu uma vila que os orcs falam várias línguas e alguns são até magos.
    Em fim qualquer dia eu coloco essa história no blog.

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