Triste, né? Vou lhes contar uma história que aconteceu recentemente comigo em uma campanha para um grupo novo aqui em Florianópolis: os personagens foram contratados por um nobre para escoltar colonos para uma área selvagem. Chegando lá, calha que a área já era habitada por uma tribo de orcs, e lá foi o grupo de “heróis” aventureiros, felizes e saltitantes, exterminar as criaturas do mal. Lá pelas tantas durante a invasão da caverna onde a tribo vivia, permiti um teste de Inteligência para que os personagens entendessem partes do que o chefe orc falava para seus comandados durante o combate: “Lutem!… nosso tesouro… as crianças… atrás da porta… não desistam!”. Resultado? Após matar todo mundo, incluindo algumas fêmeas orcs que tentaram, desarmadas, impedir que eles chegassem a tal porta, eles a abriram a machadadas, enxotaram as crianças orcs para longe e aí procuraram o tal tesouro por todo o canto da sala. Eles ficaram frustados por não encontrarem o tesouro e eu não tive coragem de contar a verdade para eles.
Tudo bem, também tenho minha carga de culpa, por colocar uma situação moralmente ambígua para um grupo novato lidar. Até esperava que eles falhassem em resolver a situação, mas essa completa insensibilidade deles, assassinando mulheres desarmadas, enxotando crianças órfãs sem se importar com o que lhes aconteceria numa área selvagem e inóspita como aquela, sem nem por um instante questionando as próprias ações, isso me chocou muito.
Então, um pedido a todos vocês que rolam dados, por gentileza, coloquem a mão na consciência. Um mundo de fantasia de RPG não é um mundo onde você pode agir como um monstro só porque as conseqüências não são reais. É um mundo onde você pode ser um herói. E ser um herói é sobre fazer a coisa certa. Sempre.
Agradecimentos ao Leonel Domingos pelo letreamento da tira.