Romância – Fantasia Parnasopunk: Retour
Ou, em bom português, “retorno”. Muitos dos leitores daqui devem estar familiarizados com Romância, o meu projeto de caráter autoral para um cenário de fantasia. O Romância foi apresentado publicamente em 2005, neste artigo na RedeRPG — tendo gerado interesse, simpatia de alguns, e até mesmo encarado como ofensivo (!) por outros. O último artigo publicado (Antagonistas: a Feiúra) data de 2007. Depois disso, mais nenhuma palavra.
Mas engana-se quem pensa que o cenário morreu. Quer dizer, morreu em parte. Da forma como foi apresentado, havia, como notei após um distanciamento oportuno, muitos problemas na proposta: em especial, coisas que não fazian sentido e apego excessivo a certos clichês de fantasia (mesmo com a temática pouco usual). Nesse meio tempo, muita coisa foi modificada. Pelo teor de alguns artigos meus daqui (como o sobre raças e magias de cura) e pelo tipo de leitura a que aderi (como China Miéville), você pode imaginar o tipo de modificação. Se não quiser apenas imaginar, prossiga com a leitura.
Romância é um pastiche dos infernos. Começou com a idéia de fazer um cenário de fantasia mais “estético”, com toques de Oscar Wilde aqui e Sex Pistols ali — daí a denominação parnasopunk, que remete ao Parnasianismo (o movimento literário da “arte pela arte”, de foco formal) e ao Punk (rebeldia e músicas raivosas de não mais que três acordes). Ficou até bacana, mas acabou saindo um cenário de fantasia padrão com uma roupagem de visual kei japonês. Era toda aquela coisa — magia sem explicação, deuses criando coisas… Outro erro foi o maniqueísmo — formou-se uma polarização, com tudo o que representava ordem (belas formas, civilização…) representando o “bem” e o caos (a natureza, principalmente, e a barbárie) fazendo as vezes de “mal”. Isso é ruim. Em um cenário que bebe do romantismo (literário), focar apenas no aspecto decadentista do romantismo é um exercício incompleto. O culto ao artifício e o repúdio à natureza que vemos no romantismo do final do século XIX (como o À rebours do Joris-Karl Huismans), embora parte importante do romantismo, não o é na totalidade. E, ao ler A História da Beleza, do Umberto Eco, me deparo com uma frase que clareou tudo, “Romantismo não é razão ou emoção, é razão e emoção”.
A natureza deixou de ser antagonista. Por mais “desordeira” que pareça, ela tem uma ordem, um equilíbrio inerente. E que formas são! — milhões de anos de evolução pôs o design natural à prova, e ele prevaleceu. O conceito de beleza se expandiu — na verdade, ele sempre foi amplo, mas como muita gente insistia em não conseguir ver o sentido da palavra além do nível “beleza é ter um rosto bonitinho”, resolvi mudar a nomenclatura: o ideal é agora a Arquiforma. E a forma é tudo — afinal, eu e você somos o que somos graças à geometria das moléculas que nos constituem e à maneira como elas se organizaram! Somos algo como uma enorme (e bota enorme!) “colônia de bactérias”, cuja harmonia organizacional nos faz essas máquinas metabólicas de cérebros grandes demais e polegares opositores que somos hoje. Não é pouca coisa.
Nada de “bem” ou “mal”. Os “pilares” aqui são psicológicos, por assim dizer. São três: Razão, Paixão e Decadência. A Razão é como o superego freudiano, ele é todo sobre controle e regras. Sozinha, leva a construções maravilhosamente organizadas — mas estáticas e uniformes. A Paixão é o ímpeto, o fogo que faz agir, a atração — é o Eros freudiano, e como tal, se não for regulado pela razão, leva a explosões hiperativas sem objetivo. Assim como a Paixão faz nascer a ação, a Decadência traz fim ao ciclo das coisas. É o Tânatos freudiano — se ocupa da destruição, e, se não regulado pela razão, é apenas destruição gratuita e sem sentido.
Desses pilares que saem nossas boas e velhas conhecidas (ninguém achou que eu fosse remover isso, não?), as Estéticas. A estética Celestial é o pináculo do artifício e da construção racional, nega o corpo e as emoções. A Elegante une Razão e Paixão, é a parte exuberante da civilização. A Gótica é a união de Razão e Decadência, a “doença da civilização”. A fervilhante e destrutiva Punk une Paixão e Decadência. E temos as novas adições, a Selvagem/Silvestre (ainda não decidi qual o nome a usar) que é Paixão pura, e a Grotesca, que é pura Decadência.
A moral e a ética não funciovam direito, e isto foi revisto. Esse é um assunto a ser tratado posteriormente, pois é complexo, mas teremos coisas bem estranhas — como o “Social-Individualismo” da nação de Vitória, um Estado que funciona nas bases de “o indivíduo deve perseguir e desenvolver seus talentos e inclinações ao máximo, de modo a atingir sua Arquiforma como pessoa” (o que conflita com a industrialização crescente; e as leis, um pouco permissivas, geram problemas — afinal, nada é perfeito). A necrópole de Vestérgia, lar da nação vampíria, por outro lado, sofre de uma “necrofilia cultural”. Já o Socialismo Teocrático de Warsteiner (der Klein Kaiser caiu, e o clero de Morgenstern tomou o governo em um golpe) funciona eficazmente sob os dogmas de “razão pura” da igreja dominante; a criminalidade é quase inexistente — mas a que custo?
E chega a parte que mais consumiu tempo: a magia. Para poder saber quais seus impactos sociais e como/quanto ela é aplicada e presente, era necessário definir como ela funciona. Achei a resposta em uma teoria científica vitoriana caída: o éther. Mas só o éter luminífero não bastaria — e com prazer (e certo assombro) descubro que existem várias teorias atuais sobre o assunto, por parte de fringe scientists — um pouco daqui, um pouco dali e, pronto, temos um “modelo físico” da magia. Muito disse veio de leituras de ficção científica, mas, ainda assim, Romância continua sendo fantasia — até porque, em parte, a magia depende de um componente de “psiquismo” (alguns odeiam a palavra, mas acalmem-se, ela não vai aparecer), que, em si, é totalmente fantasioso (por mais que eu goste, as pesquisas parapsicológicas russas não convencem). E isso fundiu magia e tecnologia — afinal, assim como magia depende do éter, também dependem (segundo a teoria do éter luminífero, gente!) eletricidade, luz e magnetismo. Magnetismo, aliás, é visto como uma força arcana — que significa “oculto, escondido”, ideal para uma força invisível. Há vários estilos de magia — incluindo um de bardos, cujas guitarras são ideais para realizar a magia que aqui é baseada em eletromagnetismo.
E entra a Feiúra. São deformações aberrativas mesmo. E causadas pelo que os estudiosos arcanos chamam de “Emanação Teratomórfica”, semelhante a um câncer ou radiação. Os demônios teráticos não são mais invocados de lugar algum — agora está mais para possessão, já que o teratomorfismo precisa de um “hospedeiro” para deformar. O demônio terático fica bem mais emocionante quando se trata da amada de um persogem, deformada, insana e com as pernas fundidas a uma matilha de cães sarnentos! Como a teratogenia se manifesta? Por quê? Quem pode ser vitimado? É aventurar-se para descobrir.
Os deuses. Existem mesmo? Ninguém sabe — não há como visitá-los ou coisa assim. Seguir uma religião é questão de fé mesmo. O alto clero afirma poder se comunicar com as divindades. Será mesmo? Há quem diga que os deuses existem, ocultos em locais pelo mundo. Outros dizem que estão nas esferas celestiais. Um grupo de cientistas arcanos diz que os deuses não passam de “padrões inteligentes e auto-replicantes” (como programas — ou vírus — de computador) no éter. Há evidências a favor, mas também muito contra. E se for esse o caso, o que pretendem?
Uma de minhas partes favoritas: as raças. Tendo sido ou não criadas por deuses, convém construí-las usando a evolução — é o que vemos (até que se prove o contrário) no mundo, logo, uma realidade ficcional criada nos mesmos moldes é mais plausível.
No grupo dos Hominídeos temos os Humanos, Eloi e Trolls. Assim como muitos vêem o Homo sapiens como uma versão “mais refinada” dos “toscos” neandertais, os Eloi (Homo otiosus; você já viu esse nome antes, em A Máquina do Tempo de H.G. Wells) vêem os Humanos (Homo practicus) como neandertais. Foram os pioneiros na manipulação das forças arcanas, mas por serem ligeiramente mais frágeis e terem um tempo de gestação maior que o dos humanos, foram extintos em todo lugar, exceto uma ilha em que conseguiram prosperar. Já os trolls descendem de símios parecidos com os babuínos gelada (com a licença poética dos chifres), e são mais beastiais que os humanos.
Os Lemurídeos são humanóides descendidos dos lêmures. São os ninfos (Daoine e Leanan Sidhe) principalmente, mas há outras espécies como os Pixies (homenagem ao Frank Black!) e os Faunos. São espécies naturais de florestas, predominantemente notívagas — e expostas, em eras geológicas passadas (ao menos assim dizem os criptoarqueólogos) a quantidades relativamente leves de emanação teratomórfica — não se sabe se é por causa disso, ou simplesmente a disposição natural do cérebro, mas os lemurídeos possuem certas habilidades naturais de encantamento. Sim, sou picareta e usei isso para justificar essas “habilidades de fada” de ilusões e confundir sentidos. A teratogenia afetou principalmente os pixies — microlêmures de dieta insetívora, que acabaram por ter fundidos padrões de insetos em seu próprio (uma espécie de transgenia), e hoje têm asas e outras características anatômicas queratinosas (substância que sempre existiu em seus organismos, que ganhou formas diferentes).
Os Vampiros nada mais são leanan sidhe amaldiçoados por Armide, a grande taumaturga siamesa que sustenta, de sua torre, as nuvens negras que cobrem a nação de Funère. Amaldiçoados em termos. Os leanan-sidhe tiveram contato com a civilização graças ao necromantes de Flória, em expedições às florestas pantanosas dos leanan-sidhe em busca da turfa, conhecida por preservar cadáveres, para seu próprio processo de embalsamamento. Os cadaveri (singular cadavere) não são bem uma raça, mas humanos de Flória estudantes dos processos de vida e morte que, para sobreviver a ela, desenvolveram um processo para embalsamar seus próprios corpos, evitando assim que se degradassem. O contato com os selvagens leanan-sidhe acabou por abrir a estes as portas da civilização e, passado o tempo, ficaram sofisticados, e a astuta Armide, seduzindo os acadêmicos necromânticos, roubou-lhes o processo secreto. E ela o aperfeiçoou, aproveitando-se do fato de que os leanan-sidhe são naturalmente hematófagos, mas procurando evitar o aspecto ressequido dos cadavere — por pura vaidade. Desenvolveu, em seu próprio corpo, um agente (semelhante a uma bactéria) que altera os processos metabólicos, “congelando” o envelhecimento. Claro que por um custo — o processo, oneroso, transformou os já hematófagos leanan em beberrões de sangue. A “bactéria” é passada pela mãe, na gestação — como são as mitocôndrias, flora intestinal, etc. –, logo, é transmissível apenas hereditariamente. Com o passar dos séculos, toda a população da área acabou vampira, à exceção de focos bárbaros de leanan-sidhe, raros e isolados.
Já os Katze são os mais fáceis — felinos evoluídos. Conseguem ficar eretos a maior parte do tempo –embora desloquem-se mais sobre quatro membros –, usar os membros anteriores como mãos, e são capazes de linguagem e cultura (ainda que falem os idiomas humanóides de forma desajeitada). Não são gente com orelha e rabo de gatinho — são grandes e esguios felinos (semelhantes a cheetahs) que aprenderam a usar ferramentas, e cuja a inteligência se desenvolveu como conseqüência.
Há outras coisas, mas essas são as mais “urgentes” por assim dizer. O Romância não morreu — apenas estava na reabilitação. Esperem por outros artigos por aqui, aí com mais detalhes — e ilustrações (predominantemente nesse padrão, e o logotipo, que deixei nas mãos de um designer profissional. O Romância em si já nasceu estranho demais, logo, tudo o que fiz foi deixar mais estranho. Quem não gostou da estranheza do tema, continuaria não gostando, mesmo que eu tivesse mantido os elfos e o escambau; quem gostou talvez goste mais dessa nova abordagem puxada pro new weird pastichento. Não sei. Vocês é que dizem.
Cara, particularmente eu ñ conhecia o cenário. Acredito q se vc der uma grande explicada em td, essa idéia tem td para dar certo! Poxa, foi mt boa a mistura de Psicanálise, Mitologia, Robert Dawkings e Filosofia. Sinceramente eu gostei e se me permite meter o bedelho, quero fazer parte desse projeto!!! Pode ser q eu tenha algumas coisas a acrescentar… Abçs!
Ah, e a arte é belíssima, sem comentários…
Digo, Richard Dawkins rs! Como fui errar?!
Demais! Romancia!
Sempre imaginei se o cenário voltaria um dia, a espera valeu a pena 😀
Não agüento mais os cenários genéricos e sem sal que saem aos bandos em blogs de rpg. E graças aos céus, China Miéville 😀
Só não gostei muito da descrição evolucionária das raças, mas em conjunto com um fluff fantasioso ficaria ótimo. Para gente de fé e de ciência.
Romullo, obrigado! É bom saber que não se está sozinho no gosto pelas misturebas brabas em fantasia. Toda a estrutura já tá pronta (e fechada, porque se eu deixo algo em aberto, a coisa se torna uma seqüência sem fim de aprimoramentos). Mas, mais pra frente, vou selecionar um grupo de “leitores beta” pros textos finais — se quiser fazer parte, dá um toque. Fora o playtest do sistema, que vai ser aberto a quem se habilitar.
E sobre o Dawkins, espera os memes entrarem na história…
Sorakishi, as raças foram só uma descrição rápida, focando no pensamento por trás delas. A coisa em si vai escorrer fluff — até porque os textos delas vão ser na visão de um personagem do cenário, um estudioso, logo, todo em termos fantasiosos da pseudo-ciência arcana no cenário.
O inovador romancia voltou! Falem bem ou falem mal, mas falem de mim! hehehehe. Brincadeiras a parte, posso divulga o cenário no blog?
Claro, quero muito fazer parte de qualquer ponta neste cenário! Sério, cara, gostei mt. E finalmente tenho algo mais teórico q poderei apresentar como citação na minha monografia, se vc me permitir (escreverei sobre semiótica e RPG). QUanto a td, pode contar sim cmg. Aliás, agora vc conta com um em-um-ano-jornalista para o cenário. Sem babação de ovo, era o q precisávamos e q aqueles catedráticos vão adorar! Abçs!
Eu ainda não sei se captei a nova essencia do Romancia, mas o ponto mais positivo que pude perceber é que não pertente mais à rede…
Cara, sabe o q me veio a mente? Duas frases: “o Bom é o Belo” de Platão e “Deus está nos detalhes” de DaVinci. Creio q vc já deve ter lido O Banquete, mas se ñ o fez, poderá beber de uma grade fonte q tem td a ver com o cenário.
Vc já tem Editora? Providencie.
Eu quero jogar nesse cenário!
Agora eu sei que voce é mesmo o Shido e não um clone distorcido dele.
É bom quando as coisas ficam como pareciam…
Já declarei minha preferência por RPGs numa abordagem oposta ao Romância, mas gosto muito da iniciativa e o fato de não dar preferência não quer dizer que não tenha nada a dizer.
Vamos por parte de acordo com o texto
– Sugestão do nome da estética selvagem poderia ser “Primal”…
– Sobre a magia existe uma vertente dos estudos de magia que lida com a magia eletrônica utilizando de aparelhos elétricos apropriados para tal. Infelizmente não sou um ocultista para dar detalhes dela, mas sei que existe tal vertente.
Outra dica que talves de alguma inspiração é o trabalho de Nicola Tesla considerado até hoje um dos maiores gênios e comparado muitas vezes com Einstein (Inclusive trabalhou com ele em meados da 2ª Guerra). Os estudos nada ortodoxos dele sobre a eletricidade tem algumas bizzarrices interessantes como a inversão do Neutro Terrestre em Fase, fora as teorias de que ele esteve envolvido em trabalhos secretos para os EUA após sua suposta morte (Como por exemplo o projeto Buraco de Minhoca).
– Sobre a abordagem dos Teratomórficos e Deuses Lembra Também a versão ocultista dos Planos Vibratórios. E eu aconselho um pouco de Gnosticismo por aquí…
– Sobre as Criações (Raças), eu gostaria de sugerir uma abordagem mais Mary Sheley (O Filme do Frankeinstain com o De Niro é o que me vem a cabeça), com grandes avanços na área do conhecimento mas com muita coisa contrária ainda ao nosso “Real Conhecimento Atual” (Como por exemplo usar partes de corpos e reanimalos com eletricidade), pois Racionalizar demais tira um pouco o sabor da “Fantasia”. Mesmo que isto (A técnica do filme) Hoje seja perto da Verdade (Reanimação por descarga eletrica, transplante) a maneira como é mostrado aparenta uma Quase-Ciência.
Retornando ao início.
Esta nova abordagem por Razão, Paixão, Decadência, é maturamente melhor que a abordagem antiga de “Belo vs Feio”, mas é mais complexa de ser assimilada, ainda mais para quem não viu como era antes.
Neste caso eu sugiro voce dar uma caprixada na ambientação, para passar esta nova abordagem.
PS: O sistema Básico para Romancia será o TRUE20, certo?
Não esqueça de mesclar os elementos da Ambientação com elementos do Sistema
Muito, muito interessante!
O que o distingue em termos estéticos e sociais é o que me atrai, por acaso. E não é só pelo culto à novidade!
As suas ideias excelentes, Shjido, também me interessam especialmente porque ós no Ideonauta andamos a considerar o conceito de misturar a sensibilidade e estética punk e opressão corporativista moderna com um universo fantástico arcaico cheio de mitologia semita e de esoterismo cabalístico ou gnóstico. Se quiseres, dá uma vista de olhos no pequeno esboço que lá pusemos (http://ideonauta.blogspot.com/2008/12/filth-fury-introduo.html).
Por acaso o Rui Anselmo, anda especialmente inspirado pelo Miéville e pelas obras de ficção social como o “We” do Yevgeny Zamyatin. Vou-o reencaminhar para aqui!
Já agora para a estética Silvestre/Selvagem porque não Primal?
Continua com o bom trabalho e parabéns pela ideia e pelo esforço! 🙂
Gostei mesmo foi desta parte dos deuses. Em uma certa campanha em que participei, o clímax foi a descoberta de que os deuses não existiam; era a própria fé nos ideais que as “divindades” representavam que concedia poderes aos “servos divinos”, de forma similar à auto-confiança dos feiticeiros.
É por isso que sempre preferi os magos brancos (magos com magias de clérigos) e na crença de divindades que não interferem na vida mortal (como nosso deus), atuando somente na forma de filhos semi-deuses e profetas escolhidos a dedo. Gera menos problemas (eu acho…).
Valberto, a essência em si continua a mesma, só que expandida, por assim dizer. A coisa toda ainda há de ser explicada, mas, basicamente, os heróis funcionam pelos imperativos de “individualidade, cultivo e expressão da personalidade” como expostos pelo Wilde em “A Alma do Homem sob o Socialismo” (que está mais para anarquia, não socialismo, na verdade). Além dos demônios teráticos, volta e meia os personagens vão se ver em maus lençóis com o Estado (onde ele oprime a liberdade individual) e com a indústria (que transforma o trabalhador em engrenagem, e tenta homogeneizar o gosto das pessoas para vender mais). Em suma, são heróis românticos (excêntricos e apegados a ideais) se virando em um mundo que dá cada vez menos espaço para isso.
De resto, ainda vale a sua definição lá de 2005: “(…) um Castelo Falkenstein estilizado, erotizado e andrógino, regada a doom metal sensual nos porões do Clube Domina (clube SM de são paulo), com magreza pontiaguda e beleza doente deflorando a cada desenho. Um misto de bizarro e moda; anime e gótico; estilizado e retro.”
Romullo: “Primeiro treinar, depois karatê”. Editora só depois que o material estiver pronto. Como é autoral, pretendo concluí-lo exatamente segundo a visão que tenho; depois, havendo uma editora interessada, cabe aos editores editar o material (afinal, eles sabem mais de mercado que eu).
Gun, qual abordagem oposta? O mediavel padrão em que sofisticação, beleza e excentricidades são vistas sempre como sinal de fraqueza, em que qualquer coisa que vá contra as nossas convenções de gênero é execrada? Em que ser virtuoso é ser simplório, falar pouco (e deixar a espada fazer o discurso)? Se for isso mesmo, há bastante material assim á existente. O Romância busca uma via alternativa (e sem cair no politicamente correto do Blue Rose). Mas prossigamos.
Primal é uma nomenclatura interessante, não me havia ocorrido. Talvez sirva bem. Vou dar uma procurada sobre os planos vibratórios (pode encaixar bem, já que muito do funcionamento da magia se dá em cima de freqüência e ressonância). O Tesla tem todo um lugar especial no meu coração e na minha cabeça — na verdade, o transformei em um personagem icônico do cenário, a Nicole Tesla, que foi quem propôs o “modelo físico do éther”, virando a teoria taumatúrgica vigente de pernas pro ar. A parte descritiva do capítulo de magia, inclusive, é na forma de troca de cartas (quão vitoriano) entre essa Nicole e um arquimago hermético, logo, com visões mais tradicionais e esotéricas.
Já as raças, pode deixar que não vou descrever nos termos usados aqui. As coisas que discuti dessa vez foram num tom de “e nos bastidores…”, tudo direto (talvez até um pouco demais). Já o “Razão, Paixão, Decadência” é a mesma coisa de antes, só que com avanços. É baseado no aparelho psíquico do Freud (um modelo que dá “forma” à mente, por assim dizer) e concede que a beleza é subjetiva, depende do observador. O Grotesco e o Elegante têm visões diferentes da beleza, mas ambos a buscam.
Já o sistema é um “frankenstein” de True20, com umas soluções do Action!System, que, por enquanto (ainda sendo testado) ficou parecendo uma cruza entre d20 e Storyteller.
Heitor, eu também sou da opinião que isso minimiza problemas. E deixa mais as coisas na mão das pessoas, que não têm motivo para ficar esperando por intervenções divinas. E como toda a parte descritiva vai ser na forma de relatos de personagens do cenário (pra passar mais clima), todas as visões divergentes sobre o assunto (deuses são “pogramas” ou existem mesmo como deuses?) terão teoricamente o mesmo peso. Cabe ao mestre decidir, se quiser, qual a versão que é *realmente* verdade no seu jogo.
EXCELENTE saber que Romância está devolta! COM certeza eu quero ser um Beta Reader (Isso existe?)
O grande X da questão será você trabalhar nos textos de maneira que o mais fácil possível assimilar o conceito do cenário, senão vira algo tipo Mago A Ascenção, onde muitos liam o livro e saíam totalmente perdidos para conduzir uma mesa (e geralmente ficavam nos moldes de D&D: Super vilões, viagens pelo mundou ou pela Umbra, etc).
Abraços!
Eu gosto de deuses com uma visão meio H.P. Lovecraft/Howard, seres poderosos, capases de gerar religiões, mas quando manifestados aberrações geralmente mortais. Pra mim os deuses em romancia seriam padrões teratomorficos megapoderosos e antigos, prontos para criar seitas malignas, ou até mesmo atingindo uma existencia anti-teratomorfica, como um cancer teratomorfico. 🙂 quanto mais aintigo mais “divino”.
Espera o retono do cenario!
Gostava muito antes dele e mais ainda agora!
Também fujo da água com açucar dos cenários tradicionasi, e o “racionalismo”(fantastico, ou ao menos diferente do nosso) também muito tem me atraido.
Motivo por eu adorar os Reino de Ferro.
Mas o seu cenario concerteza terá um leitor assíduo! Eu!
Ps: Gostava mais das ilustrações antigas…
rsemente, respondendo atrasado: pode divulgar, sim. Se o fizer, inclusive agradeço. “Falem bem ou falem mal…” By the way, notei que você costuma incluir figuras nos seus posts (coisa pra quão não tenho paciência — ou sequer habilidade informática… — pra fazer aqui); se quiser usar as ilustrações disponíveis de coisas do cenário, tem toda a liberdade de fazê-lo.
E, sim, uma hora cheguei na conclusão do “Mago” — vou manter a coisa bem enxuta. As explicações ultra-detalhadas e ruins de digerir eu posso disponibilizar separadamente, como web-enhancement.
Arquimago: as ilustrações antigas, *realmente*? Elas têm um pouco de charme, mas, tecnicamente, eram mal resolvidas. Mas, se serve de consolo, eu pretendo refazer as antigas agora com muito mais XP acumulado como desenhista. =D
E esqueci de comentar, gostei da mudança de foco e a natureza não ser mais o “lado mal”
Isso me deixa contente!
Shido, estava observando os comentários na RedeRPG e mts deles te criticando. Claro q isso já faz tempo, mas é um absurdo como as pessoas ainda ñ absorveram a Filosofia. Quando te criticaram sobre o conceito de belo eu tive de rir. Platão já dizia: O Belo é o Bem. E qnd falaram mal dos antagonistas e o Book of Vile Darkness? O q é aquilo? Historinha para dormir? Já mudando de assunto, estava lendo um certo autor, James Lovelock q diz q o maior medo desta civilização é o do câncer. Interessante, ñ? rs
Abçs!
http://gaiaspriest.blogspot.com/
Pois é, Romullo, foi uma das coisas que me deixou de cabelo em pé. Claro que tenho minha parcela de culpa (eu “trollava” demais, a Rede, e o pessoal tinha pouca paciência comigo, como conseqüência). No fim, foi tudo mal entendido — como você disse, um pouco de Platão já resolve a parada. Por isso que dessa vez eu fiz questão de frisar que a questão da forma é abrangente — atua desde o nível molecular e define como as coisas são. Em algum tempo vou falar aqui sobre a magia no cenário, em que isso fica ainda mais evidente — além do éther, a coisa toda tem muito de sólidos platônicos/geometria sagrada.
De resto, as críticas foram em cima de coisas que acontecem em *todo* cenário de RPG (como muita gente apontou nos comentários), mas que passa batido pelos sensores de ofensa por causa da justificativa (fraca) do “mal”.
Não conheço o James Lovelock, mas vou dar uma pesquisada nesse final de semana. Quem sabe ele não tem algum insight sobre o tema que eu neglicenciei? Vale a pena explorar mais a fundo, afinal o câncer, simplificadamente, é forma que se desordena, foge do controle. E o melhor: vem de dentro. Depois de ler o “On World Building” do Miéville, cheguei à conclusão que as melhores ameaças não vêm de fora, mas surgem de dentro. Isso pode ser aplicado desde o “câncer terático” até coisas mais pé no chão e maiores, como crime e revoltas dentro de sociedades.
Sério eu tou empolgado pacas pra esse cenário.Se tu for deixar pra baixar, pelo amor de Deus(ou entidade semelhande, ou apenas da compaixão humana), me passa ele.
Por que parece que vai ficar bem foda. o
Outra pergunta ou sugestão sei lá:Bem por acaso você deixara alguns desses autores que tu leu e te inspirou como recomendações?Seria uma coisa interessante…Além de poder aumentar a cultura geral do leitor.
Se bem que eu só me lembro de ter lido um livro do Oscar Wilde.Enfim abraços e bota pra fuder com esse cenário.
É isso msm, Shido. Lovelock aponta sobre a Teoria de Gaia. Procurando por ela, sua pesquisa fica mais fácil. Nela, ele diz q a Terra (biosfera) tem a função de regular a temperatura e as condições químicas de forma agradável a TDS os seres vivos. Qnd uma espécie ameaça esse equilíbrio (tipo… homens), a tendência de Gaia (Terra) é expulsá-lo para voltar ao equilíbrio (tipo enchentes, escassez de alimentos,…). Agora nd disso com bases teológicas, td provado cientificamente. O câncer nós desenvolvemos, por exemplo devido à má utilização do oxigênio atmosférico pelo corpo humano.
Mal? O q é pior do q o homem? Já dizia o clássico WOD, devemos lutar contra a besta dentro de nós para viver em parcimônia com nossa humanidade, não é?
Abçs!
http://gaiaspriest.blogspot.com
Shido, faça mais desenhos, desenvolva o cenário, se não der para fazer sozinho arrume alguém da sua confiança e integrado com o projeto e mande um “demo” para editoras (as de fora tbm) heheh
eu estou dizendo isso porque gostaria de ver um livro do cenário de várias páginas com ilustrações, não sei se encontraria tempo para jogar nele mas mesmo assim gostaria de ter o livro.
A idéia é fezê-lo independente de sistema de regras? Talvez um TRUE20 com adenos pertinentes a unicidade do cenário seriam bacanas.. e já que tem um q de mangá.. talvez uns “poderes” não a lá 4rta edição de D&D mas comprados como no TRUE20, mas em arvores de talentos.
Se quiser, eu ficaria feliz de conversar sobre regras..
Abraço
jrnmariano, mil perdões por responder-te tão tardiamente. Como o Nume me informou, o comentário foi aprovado depois que outros foram feitos, logo, acabei, por distração, deixando passar.
Muito me interessa ver a ambientação que você citou, em que o punk não está presente apenas como em “steampunk” ou “cyberpunk”. Tais cenários com opressão corporativa, entre outros problemas endógenos (no estilo do China Miéville), e não externos (como na maioria dos cenários) são, ao meu ver, uma brisa de ar fresco.
É o segundo a propor a nomenclatura Primal, e me sinto inclinado a adotá-la — ou talvez em alguma variação, como “Primevo” ou “Primitivo”(embora este segundo tenha conotações negativas em vários casos).
Keldorl, assim que rolar definir as fontes, bordas e logotipos (que, não sendo eu tão hábil nisso, pedi socorro a um designer), espero tão logo conseguir fazer algo nesse ponto. O sistema é pesadamente derivado do True20, e de outro OGL menos conhecido, o Action! System. Do primeiro, as classes simplificadas, feitose sistema de magia; do segundo, a paridade de valores entre Atributos (de 1 a 10) e Perícias (também de 1 a 10), e um approach Storyteller de se combinar diferentes atributos e perícias em um teste, conforme pedir a situação. Já fiz uns testes com ele, e, tão logo ele pareça suficientemente bom, coloco o documento inteiro com regras disponível, para avaliação do grande público.
Parece legal, estarei aguardando.
Cara,
Acompanho desde os artigos da RedeRPG, inclusive, fiquei muito chateado quando pararam de posta-los. Ai encontrei o blog e as coisas já estavam um tanto evoluídas!!! Muito bom o cenário, muito interessante mesmo. Li também o artigo sobre as alterações no sistema (usando idéias de storyteller e true20) e achei bastante interessante. Gostaria de poder ajudar e inclusive participar de testes. Um abraço.
Rafael
PS: Sou fãzaço de Tormenta, mas não gostei muito dessa história de magia por pontos de magia (apesar de não ter testado em mesas de jogo). Você não poderia intervir junto ao Trio (ou seria quinteto como eles mesmos disseram) e voltar ao sistema antigo no Tormenta OGL??
Raise Dead só pra avisar que estou lendo um material de Romância e tá muito bom. Em breve, novidades.
Nossa, ok que o primeiro artigo (que só fui descobrir recentemente) me atraiu mais quando eu li, mas agora, relendo parte a parte todos os artigos que eu consegui, eu espero honestamente que você ainda esteja trabalhando nesse cenário (no final das contas to ficando fascinado pelo cenário).
Sim, eu convenci o Shido a retomar o Romância, logo sai mais coisas.
CARACA TEK, VALEU MESMO, no ultimo updade tinha ficado show.