Vamos se organizar para fazer uma tradução não oficial?

Ou porque isso não vai dar certo.
Volta e meia me deparo com fãs de um sistema não publicado no Brasil (ou publicado) com exatamente o mesmo projeto: Pegar o livro original e fazer um esforço comunitário para traduzir os livros básicos ou um suplemento que não foi lançado em português. E sempre vejo os mesmos argumentos: A editora oficial não faz; não querem negociar os direitos; é só cada um fazer dez páginas que o livro fica pronto; ninguém vai perder dinheiro porque não querem vender o livro mesmo…
Até dá para desmontar cada um desses argumentos, mas o problema é que eu realmente concordo com eles em certas circunstâncias, e ainda assim as pessoas vão continuar com a mesma ideia genial que sempre vai dar errado, mesmo quando der certo.
Em primeiro lugar é preciso dizer que essa ideia já deu certo antes. Pelo menos o RPG Wraith The Oblivion foi traduzido por fãs e espalhado através da internet antes mesmo de existirem redes sociais. Não sei como ficou a qualidade dessa tradução, que foi chamada de Aparição, O Esquecimento ou Aparição, O Limbo. O resultado foi o cancelamento da versão oficial da Devir, que já estava na revisão, porque eles consideraram que não conseguiriam vender os livros que fossem impressos. Era um RPG de nicho, e todos interessados já teriam a versão pirata. O quanto isso pesou para o declínio de vendas da linha Storyteller como um todo não dá para saber.
E o Wraith foi uma exceção. Apesar de termos muitos sistemas sem tradução com grupos de fãs dedicados que inclusive produzem material original, não conheço nenhum outro projeto de tradução que tenha chegado ao final. O motivo é simples, tradução é um trabalho difícil e ingrato.
Traduzir requer um bom conhecimento da língua estrangeira, requer refazer o texto para adequar a fala do autor para a fala equivalente da nossa língua, requer conhecer o significado de expressões de linguagens original e um equivalente nacional, requer manter coerência com os termos do jogo, requer exatidão matemática com as regras, requer conhecimento técnico de termos específicos do universo ficcional. E esse trabalho todo vai gerar um produto que você não precisa, porque o tradutor pode muito bem se virar com o original, que as pessoas que usarem vão reclamar sempre porque é claro que elas teriam feito uma tradução melhor, que não vai ser creditado se você permanecer anônimo ou vai te gerar a inimizade de todos os que trabalham com traduções oficiais se você assumir o crédito.
E mesmo que você tenha sucesso total nesse processo, o resultado final é impossibilitar que o produto oficial seja lançado!
Porque traduzir oficialmente requer muito trabalho e risco pessoal. Requer entrar em contato com os detentores dos direitos, requer inspirar confiança, requer dinheiro investido em uma empreitada que pode te gerar prejuízo e que mesmo que der certo vai te gerar pouco lucro, porque é um mercado de nicho. Fazer isso tudo de graça acaba passando uma rasteira no pessoal que tenta trazer esses títulos oficialmente para os fãs.
São muitos fatores contrários em um projeto desses, e as recompensas não parecem compensar.
Eu tenho duas alternativas muito melhores para quem fala de um projeto desses: A primeira é óbvia. Monte uma editora, negocie os direitos, movimente o dinheiro, pague os tradutores e detentores dos direitos. Você pode pedir orientação para qualquer um dos editores que já fizeram esse caminho antes, o pessoal da Retropunk, da Jambô, da Redbox, da Secular. Te garanto que tu vais receber muito mais apoio deles que tu imagina. A segunda: Não quer ou não tem como levantar o dinheiro necessário? Tem muito material em Creative Commons, Open Game License, ou simplesmente que requer um email para o autor para liberar o direito de tradução.

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16 Resultados

  1. Não somente o livro de Aparição poderia vir a ganhar uma tradução nacional feita por fãs mas muitos outros livros do cênario do Mundo das Trevas como por exemplo os Livros dos Licantropos de Lobisomem : O Apocalipse , os Livros das Tradições de Mago : A Ascenção , os Livros dos Kiths de Changeling : O Sonhar ,o Livro da Tecnocracia , os Livros das Convenções Tecnocraticas , os Livros dos Algurios de Lobisomem : O Apocalipse , o Livro dos Parentes de Lobisomem , o Livro da Wyrm , Land of Eight Million Dreams com o Oriente dos Changelings , Dragons of the East com o Oriente dos Magos , World of Darkness: Outcasts com os ” parias ” do mundo das Trevas dentre os que posso citar . Realmente seria maravilhoso caso os fãs se unissem para fazer a tradução destes livros pois é muito material legal que nunca foi publicado .

    • Hackbarth disse:

      Tenho minhas dúvidas se você realmente leu o artigo…

      • Desculpe . Eu coloquei esse comentario porque realmente considerei interessante a ideia da tradução feita por fãs de titulos que nunca chegaram a receber uma versão traduzida para o português . Não era meu desejo fazer um comentario fugindo do assunto do tópico . =(

        • Hackbarth disse:

          O assunto É ESSE!
          É justamente a questão, tradução por fãs é um troço que quase nunca dá certo e qunado dá certo ainda assim dá errado.

          • Desculpe-me se meu comentario foi totalmente errado . Não tive a intenção de falar um monte de bobagens eu realmente pensava que não estava fugindo do assunto do topico . Me desculpe se eu errei .

          • Eu sei que você comentou como traduções de titulos de RPGs feitas por fãs na maioria das vezes são trabalhos completamente amadores e mediocres e que você estava comentando como a iniciativa de se fazer traduções resulta na maioria dos casos em obras mau feitas mas mesmo assim ao menos alguém tentou fazer o trabalho de tradução por mais tacanho que tenha sido o resultado e por mais que como você mencionou : “Tradução por fãs é um troço que quase nunca dá certo e quando dá certo ainda assim dá errado.” mesmo que seja verdade ainda assim muitas vezes é a única maneira de jogadores de RPG conseguirem ter acesso a titulos ineditos que nunca chegaram a ser traduzidos para o português . Esperar pela tradução por empresas pequenas que adquirem os direitos de tradução dos titulos é que não da certo também .

          • Mas de qualquer forma concordo com seus argumentos de que traduzir requer um bom conhecimento da língua estrangeira, requer refazer o texto para adequar a fala do autor para a fala equivalente da nossa língua, requer conhecer o significado de expressões de linguagens original e um equivalente nacional, requer manter coerência com os termos do jogo, requer exatidão matemática com as regras, requer conhecimento técnico de termos específicos do universo ficcional e de que esse trabalho todo vai gerar um produto que você não precisa, porque o tradutor pode muito bem se virar com o original, que as pessoas que usarem vão reclamar sempre porque é claro que elas teriam feito uma tradução melhor, que não vai ser creditado se você permanecer anônimo ou vai te gerar a inimizade de todos os que trabalham com traduções oficiais se você assumir o crédito porque traduzir oficialmente requer muito trabalho e risco pessoal, requer entrar em contato com os detentores dos direitos, requer inspirar confiança, requer dinheiro investido em uma empreitada que pode te gerar prejuízo e que mesmo que der certo vai te gerar pouco lucro, porque é um mercado de nicho e fazer isso tudo de graça acaba passando uma rasteira no pessoal que tenta trazer esses títulos oficialmente para os fãs. Realmente penso que nesse caso compensaria mais e seria infinitamente preferivel e mais pratico para aqueles que desejam fazer a tradução de titulos de RPGs em português montar uma editora, negociar os direitos, movimentar o dinheiro, pagar os tradutores e detentores dos direitos oficiais sobre o dito RPG que você deseja traduzir do que ser como foi o caso da versão traduzida por fãs de Wraith : The Oblivion ou ” Aparição : O Esquecimento ” / ” Aparição : O Limbo ” cuja versão traduzida por fãs acabou matando a possibilidade de uma versão oficial traduzida pela Devir e atualmente nos conhecemos muito poucos , pouquissimos mesmo jogadores de Wraith que joguem com Fantasmas no antigo cênario do Mundo das Trevas.Realmente é de se parar para pensar se a iniciativa de se traduzir um livro compensa ou se não seria mais vantajoso fazer como você sugeriu e tentar fazer isso por editoras como a Retropunk, a Jambô, a Redbox, a Secular etc.

  2. Tenho minhas dúvidas se a tradução realmente inviabiliza a publicação nacional.
    Quer dizer, um livro está longe (muito longe), de ser apenas seu conteúdo textual. Tem as ilustrações, a diagramação, o manuseio e a praticidade de uso em mesa de jogo (ainda não superada pelos tablets, que ainda não são uma realidade para a maioria dos RPGistas).
    Claro que no tempo do exemplo citado, a situação do mercado era outra. A tiragem de um título de nicho da Devir na década passada deve ser bem maior que a dos FC que vemos por aí hoje.
    Quanto a tradução, realmente é um trabalho ingrato e de difícil execução. Organizar para fazer a parada mais profissionalmente provavelmente é a melhor opção.

    • Hackbarth disse:

      O único caso que conheço teve esse resultado, nenhuma outra iniciativa de tradução por fãs acabou por facilitar ou não prejudicar o lançamento oficial. Entãos esses são os dados que temos.

  3. Nathalia disse:

    Eu entendo que esse texto é de teor opinativo e não jornalístico, por isso não tem o compromisso de pegar todos os fatos. No entanto sou adepta da máxima que informação gera opinião.
    Nesse sentido o texto peca bastante. Faltou o Hackbarth pesquisar um pouco antes de escreve-lo. O texto todo se baseia em um único caso, dito pelo autor como o único conhecido por ele, e que aconteceu a bastante tempo. Se não estou enganada deve ter mais de 10 anos, não?
    Não entrarei em juízo de valores a respeito da opinião de que traduções não-autorizadas atrapalham a vinda do jogo, mas convenhamos: 10 anos atrás tanto a internet quanto o cenário nacional de RPG eram outro completamente diferentes.
    Além do mais temos mais tantos outros casos para analisar, casos bem recentes inclusive.
    O grupo facebook D&D Traduções traduziu a maioria do conteúdo oficial já lançado da 5ª edição até agora. Alias, esse grupo, se não estou enganada foi formado por dois grupos que já vinham traduzindo e resolveram unir forças. Nesse caso duvido muito que alguma editora deixaria de lançar D&D por conta dessas traduções. D&D não tem nem previsão de vir pra cá, mas por outros motivos né.
    Shotgun Diaries, pra dar o exemplo de um RPG pequeno, teve uma tradução rodando a internet antes da Redbox lançar sua caixa de luxo que fez relativo sucesso. Até o John Wick, autor do jogo, elogiou dizendo que precisava lançar algo assim lá fora também.
    A tradução de Monsterhearts foi um alivio, pelo menos pra mim que tomei o cano da Kobold’s Den que detém o recorde de RPG mais atrasado do mercado brasileiro.
    Pessoalmente não sou entusiasta das traduções de fãs, e por isso não conheço tantas. Mas tenho certeza que temos bem mais exemplos dos que eu dei acima. Já ouvi falar de uma de Street Fighter RPG e se não me engano tem um grupo de Pathfinder também.
    Pra finalizar acho que faltou uma pesquisa, mesmo que leve, do que tem rolado atualmente. No fim o texto me pareceu mais uma cagação de regra sem muito fundamento para sustentar a opinião dada.
    “Conhece um caso antigo, esse caso teve X resultado, então minha opinião é Y”. Ok, numa mesa de bar com os amigos tá valendo, mas pra um site como o rpgista acho que não né.

    • Hackbarth disse:

      É realmente verdade que é um texto de teor opinativo. Mas essa é a natureza do blog, todos nossos textos são assinados e vale discutir as opiniões dos autores e dos leitores, é por isso que temos caixas de comentários. Eu não conhecia esses casos, embora suspeitasse que existisse.
      D&D é um RPG à parte. Nunca dá para comparar tiragens de D&D com de outros RPGs, mercado de D&D com de outros RPGs, etc. No caso dele não vejo grande prejuízo para o mercado porque D&D é vendido de qualquer maneira. Mesmo quem pirateia o livro ainda assim acaba comprando.
      Mas no caso de Monster Hearts acredito que o pessoal da Kobolds Den que colocou seu dinheiro e trabalho na licença não vai ficar muito feliz com o pessoal que traduziu, não é?

    • Thiago Rosa disse:

      Essa tradução do D&D é horrorosa. Definitivamente não é um exemplo de coisa que deu certo. Frequentemente tem gente com dúvidas nas comunidades de D&D por depender de uma tradução mal feita. Sem contar as vezes que eles simplesmente inventaram conteúdo e colocaram no livro.

  4. João Paulo Leonel Alves disse:

    Faltou pesquisa, existem diversos livros de RPG traduzidos por fans na internet pra baixar, e de alta qualidade textual e gráfica, pertencentes à linha Storyteller então… é o que mais tem, só dar um pequeno Google pra encontrar por aí…

  5. João Paulo Leonel Alves disse:

  6. João Paulo Leonel Alves disse:

    Comentário postado pra ser notificado sobre novos comentários.

  7. Edjan disse:

    E o que dizer dos quase todos os livros de Lobisomem o Apocalipse 3ed. já traduzidos, uma pancada de livro do WOD que ninguem nunca veria em português

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