Resenha: Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara
Ah, os fliperamas! Quem nunca atazanou os pais por fichas para jogar The King of Fighters com desconhecidos em ambientes escuros e sujos não sabe o que é jogar videogame de verdade. Sim, pois houve uma época em que eles não eram coisa de anti-sociais fechados em seus quartos, mas podiam ser um instrumento importante de socialização e criação de novos amigos – ainda que em geral os pais se preocupassem muito com que tipo de amigos seriam esses que frequentariam esse tipo de ambiente…
Dentre os muitos gêneros que marcaram a história dos fliperamas, estão os chamados beat ‘em ups, os famosos jogos de pancadaria desenfreada em que você e até três amigos recém conhecidos (ou até cinco um caso muito especial) andavam por um cenário genérico, geralmente da esquerda para a direita, batendo em meliantes e inimigos em geral até encontrar o chefe da fase, em quem vocês tinham que bater por um pouco mais de tempo para vencer. Para pegar o espírito geral, recomendo uma olhada no RPG indie Beat ‘em Up, que o adaptou de forma muito legal. Muitas séries hoje clássicas começaram assim: Final Fight, Streets of Rage, Captain Commando… Outros tantos jogos de franquias de outras mídias que se tornaram clássicos também o adotaram, como o famoso jogo das Tartarugas Ninja, o dos Simpsons, e o primeiro crossover de Aliens X Predador.
E além destas, há também o RPG mais conhecido do mundo, Dungeons & Dragons. Dois jogos foram produzidos com a licença da franquia pela Capcom, Tower of Doom e Shadow Over Mystara, que usavam como ambientação o cenário clássico Mystara. São estes dois jogos que agora foram relançados com gráficos em HD no pacote Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara, disponível para compra on-line através de serviços como a PlayStation Store e a Steam.
O estilo de jogo em si não muda muito daquilo que já foi descrito: você deve escolher um personagem entre os clichês típicos das histórias de fantasia – Tower of Doom possui quatro opções: um guerreiro, um clérigo, um anão e uma elfa; e Shadow Over Mystara possui mais duas além destas: um mago e uma ladra -, e então partir enfrentando as hordas de inimigos, que aqui são compostas pelas criaturas típicas do gênero também – então ao invés de meliantes e gangues, você estará batendo em goblins, kobolds, esqueletos e elfos das sombras, entre outros. Ao final de cada fase, um chefe, também de criaturas tradicionais – mantícoras, quimeras, trolls e pelo menos um dragão vermelho em cada jogo que rende uma batalha espetacular que não faria feio se estivesse em Demon’s Souls.
Claro, estamos falando de D&D, e houve na época um cuidado especial para que os fãs do RPG reconhecessem elementos dele durante o jogo. Isso talvez tenha sido o que realmente fez com que eles fossem títulos marcantes e únicos dentro de um mar de outros tão parecidos: havia acúmulo de experiência e passagem de nível entre as fases; alguns dos personagens tinham acesso a feitiços especiais, e mesmo os outros podiam eventualmente encontrar anéis de mísseis mágicos ou equivalentes; toda a coleta de tesouros como jóias, moedas de prata e ouro e afins, que podiam ser usadas para comprar itens especiais; a possibilidade de escolha de caminhos diferentes em algumas fases; e daí por diante. Shadow Over Mystara vai ainda mais adiante nisso, e disponibiliza até mesmo algumas armas diferentes aos personagens marciais. Somado a enredos que poderiam ter saído de uma mesa de jogo – leia-se, “grupo de aventureiros enfrenta monstros reunidos por mago maligno para atacar o reino” -, e se tem praticamente duas campanhas de RPG tradicionais transpostas para a tela eletrônica.
Além de trazer de volta os dois clássicos, a versão remasterizada também adicionou um bocado de coisas legais que fazem o pacote realmente valer a pena. Há diversos extras a serem descobertos – além de alguns troféus/achievements, há lá diversas artes originais que você abre com pontos adquiridos durante o jogo, e também algumas “house rules” que você pode adicionar para embaralhar as coisas um pouco. A principal adição, no entanto, foi certamente a possibilidade de jogar online, entrando no jogo de outra pessoa ou criando o seu próprio para outros entrarem. Para um gênero que se fez em cima de jogos cooperativos, não havia como prescindir de algo assim. Acho que o único contra mesmo é que o fato de haver continues infinitos meio que mata o desafio do jogo; mesmo assim, ainda há muita diversão nostálgica ao lado de desconhecidos a se ter.
E há algo mais a se pedir além disso? Na verdade, acho que sim: fiquei sonhando agora com uma versão em HD e com suporte online do velho beat ‘em up dos X-Men (que eu sei que está disponível para compra na PlayStation Store também, mas é só a versão clássica sem adicionais)… Em todo o caso, serve também como um ótimo aquecimento para enquanto O Desafio dos Deuses não fica pronto.
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