Iniciativa TRPG: Igreja e dogmas de Marah
A Iniciativa Tormenta RPG está de volta! Para quem não conhece, é uma proposta entre os usuários do Fórum Jambô para criar mais material para o mundo de Tormenta RPG. O tema deste período é “Igrejas e Dogmas”. E resolvi revisitar uma série de textos que escrevi há muitos anos sobre várias igrejas e religiões do mundo de Arton. O resultado vai aparecer aqui em doses homeopáticas; o primeiro falou sobre igrejas relacionadas a Khalmyr, o Deus da Justiça; o segundo tratou dos clérigos e a ordem de Valkaria, Deusa da Humanidade; o terceiro artigo não é sobre o Terceiro fez o mesmo por Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento; o quarto vai contar mais sobre o culto a Marah, Deusa da Paz.
Paz e amor
Sempre vista como fraca por muitos, a Dama Branca teve ampla influência na caravana de refugiados para o continente norte. Seus sacerdotes pregavam que exílio era uma nova chance, uma oportunidade para atingirem um estado de paz nunca antes visto.
Mas é claro que eles não poderiam mantê-la por muito tempo. A despeito de todas as guerras e sofrimento passados em Lamnor, a grande maioria dos regentes e nobres preferia voltar aos velhos modos e abraçar a guerra. Mas Roramar Pruss, o primeiro Imperador-Rei, tinha ouvidos para os marahnitas. Estes fundaram seu primeiro templo em Arton-norte na cidade de Valkaria, expandindo o culto lentamente.
Graças à habilidade dos diplomatas de Marah, o projeto “Reinado” pôde ser executado com sucesso, criando um conglomerado de reinos aliados e sem desejos de guerra desnecessários. Pelo menos em sua maioria…
História da Ordem da Dama Branca
A devoção dos primeiros marahnitas do Reinado foi recompensada pela deusa. O desejo pela paz era tão grande que os próprios templos da deusa eram imbuídos com a tranqüilidade e sentimentos positivos, criando desse modo uma aura que impedia a violência dentro desses locais sagrados.
E o maior presente foi dado pela deusa: uma sumo-sacerdotisa foi apontada entre os fiéis de Arton-norte. Esta era Gillian Cloudheart, uma jovem que havia perdido toda a família na Grande Batalha. Esses eventos tomaram lugar nos primórdios do Reinado e de Deheon. Logo o culto se expandiu.
Gillian aliás foi peça importante ao impedir escaramuças entre Khalifor, a última fronteira, e o incipiente reino de Tyrondir. Graças à sua aura de paz e tranqüilidade, pôde aproximar-se da fortaleza sem ser atacada, e negociou um tratado com Khalifor: a última cidade do reino de Tyrondir seria Dagba, o “ponto final” numa situação que já beirava a guerra. Gillian morreu muitos anos depois, e seu túmulo existe até hoje, numa colina de Tyrondir.
Os primeiros contatos com os halflings merecem um parágrafo à parte. Guiados pelo sumo-sacerdote de Thyatis, Krilos, uma grande caravana humana se fixou na região da Lança de Hyninn, tomando conhecimento da existência dos halflings. Estes eram, em sua maioria, devotos fervorosos de Marah; em pouco tempo, a Ordem da Dama Branca e os cultos halflings à deusa se unificaram, e ganharam força.
Nos dias atuais, a Ordem continua com sua missão de levar conforto, paz e alegria à todos, e também acabar com a violência e a guerra. A Ordem da Dama Branca tem um papel muito importante na maioria dos reinos, cuidando especialmente dos casamentos e festividades das localidades. O casamento nos templos de Marah é realizado com uma cerimônia muito bela, que envolve declarações de amor entre os futuros cônjuges, e a troca de grinaldas de rosas brancas. Após o casamento, uma grande festa sempre toma lugar. Na verdade, todo o tipo de festividade costuma ser organizada pelos marahnitas, desde a anual Semana da Folia, até as festas do Dia da Alegria (solstício de verão).
Não há uma hierarquia fixa na Ordem: todos são iguais perante à deusa. Em geral, há apenas um responsável nominal pelo templo, usualmente o clérigo mais velho. Os noviços são responsáveis pelo dia-a-dia do templo, enquanto os clérigos dão ensinamentos e sermões diários aos fiéis, bem como conforto nas horas difíceis. Os clérigos também podem agir como diplomatas a serviço dos Regentes.
Os Sacerdotes e Sacerdotisas de Marah
Para se tornar um sacerdote ou sacerdotisa de Marah, o pretendente (que pode ter qualquer idade, raça e sexo) deve visitar o templo e apresentar seu desejo ao responsável pelo templo. Este avalia o candidato com uma conversa franca sobre diversos assuntos, chegando mesmo a perguntar sobre assuntos pessoais, para descobrir as intenções do pretendente.
Normalmente, o candidato é admitido como noviço, e inicia seu treinamento religioso, onde aprende a sentir a paz e tranquilidade, e começa a desenvolver sua aura de pacifismo. O treinamento pode demorar ou ser rápido — tudo depende do coração do noviço. Aqueles que já haviam encontrado a tranqüilidade e a alegria freqüentemente se tornam clérigos muito mais rapidamente do que almas atormentadas.
O noviço passa a ser considerado um clérigo a partir do momento em que tem sua aura de tranqüilidade completamente formada. Não há cerimônias ou outra diferenciação entre noviços e clérigos – ambos utilizam as vestes brancas da Ordem e consideram-se iguais em todos os aspectos.
O Paladinato em Marah – Guerreiros da Paz?
Embora a própria idéia de um guerreiro devotado à paz seja aparentemente disparatada, alguns pretendentes sentem que a vida clerical é pacata demais, e que a paz deve ser levada a todos os lugares, mesmo os mais remotos e hostis. Em geral, estes noviços recebem sinais divinos da própria deusa (sonhos, premonições, fenômenos naturais) para que se tornem paladinos a seu serviço.
Quando isso ocorre, normalmente o responsável do templo também sente que o noviço está sendo chamado, e contata a Ordem para que um paladino disponível ensine seus caminhos ao futuro guerreiro da paz. Este treinamento também não possui um período fixo, mas normalmente o paladino é considerado pronto em um ou dois anos.
O ordenamento do paladino é feito no próprio templo onde ele se iniciou, com uma cerimônia solene onde o mais novo soldado da paz se ajoelha perante uma estátua de Marah e profere um juramento sagrado à Dama Branca. Caso o paladino seja aceito, a mão da estátua brilha com uma luz etérea e o símbolo da deusa surge nas armas, armaduras ou flâmulas do paladino. Um paladino que não seja aceito pela deusa deve cumprir uma penitência antes de poder tentar novamente, pois provavelmente realizou um ato de violência. A cerimônia pode ser assistida por quaisquer interessados; é comum que pacificadores, monges e bardos devotados à Dama Branca atendam à cerimônia.
A imagem de capa é de autoria de Breno Tamura.
Ei, esses artigos estão se tornando frequentes. Espero que artigos de templos relacionados a todos os deuses do Panteão.
Estava um pouco ansioso com relação as deusas pacifistas do Panteão e seu relacionamento com paladinos. Uma pena o texto não abordar mais sobre isso.
Gostaria de saber um pouco mais sobre as ordens de paladinos da paz e da vida, assuntos que não foram muito bem tratados mesmo nos panteões (D20 e 3D&T) ou livros básicos.
Por fim, obrigado pelo trabalho e espero que a continuidade dos artigos.
Oi Gilmar!
Infelizmente, não vou chegar a falar de todos os deuses do Panteão. Esses artigos são mais uma ‘ressurreição’ de textos antigos meus…
Não entendi a questão sobre as deuses pacifistas e os paladinos. Você quis dizer mais no sentido de “eles podem lutar afinal”? (pra isso, a gente vai ter que esperar a caixa básica O Mundo de Arton…)
Eu não vejo os paladinos da paz e da vida como sendo organizados em ordens. No caso dos paladinos da vida, sabe-se que a maioria é de meninos que nascem de clérigas de Lena – ou seja, são mais “soldados” da própria ordem da Lena do que uma organização própria à parte.
E da maneira como eu descrevi aqui no artigo, os paladinos da paz são também parte integral da Ordem da Dama Branca – sua diferença principal estaria em sua capacidade de aguentar mais porrada que um clérigo médio, risos
Valeu por responder Álvaro
Uma pena que os textos não estendam para todos os deuses. Com exceção da Igreja de Nimb (um artigo em duas partes do autor Shido), seu material e alguns artigos avulsos da internet, existem poucas informações sobre as igrejas (e inúmeras sobre os deuses).
Quanto aos paladinos pacifistas, você meio que tirou minha dúvida. Explico-me: desde o suplemento “Panteão” paladinos de Lena e Marah já podem causar dano se possuírem um poder concedido, fato reforçado durante a Trilogia e no Guia da Trilogia. Minha dúvida era se, sob seu ponto de vista, os paladinos se reunião em ordens e qual seu comportamento com relação a Ordem da Dama Branca, a sociedade, a deusa e a si próprios. Como você escreveu, eles fazem parte da ODB e seguem os mesmos preceitos dos clérigos, embora possam pegar o poder Golpe Piedoso.
Obrigado por sanar minha dúvida.
Massa, mas acho que teve um equivoco quando fala que o símbolo de Marah brilha nas armas do paladino. Mas paladinos de Marah são proibidos de transportar armas e usar da violência.
Kléber, de acordo com as regras de Poderes Concedidos, um paladino de Marah poderia não seguir suas Obrigações e Restrições à risca, desse modo não ganhando um talento adicional gratuito. Ou seja, dependendo do paladino, ele pode sim portar e usar armas – embora eu ache que faça mais sentido o uso de armas não-letais, por exemplo.
É por isso que eu acho que obrigações e restrições deveria ser regra e não regra opcional, pois isso espaço para muita bizarrices como:
– devotos de lena e marah que matam algum vilão, devotos de marah que lutam (não se esqueça, ela é a deusa da Paz, abomina e recusa todo tipo de violência).