Elfos artonianos: expandindo o conceito
Caiu a nação élfica. O elfo, agora, além de uma figura trágica e amargurada — e francamente meio emo — é também alguém sem pátria. Mas quando atentamos às informações de regras sobre a raça, não é isso que vemos — toda a carga cultural de espada-longa-arco-e-flecha continua lá, mesmo quando não mais há uma cultura centralizada de origem que assegure que todos os membros da raça herdem tais habilidades — que ninguém em sã consciência espera que sejam transmitidas geneticamente (ou “pelo sangue”, se a palavra “genética” em fantasia te causa arrepios). Este artigo tem dois objetivos. O primeiro é estabelecer traços raciais élficos que não dependam de transmissão cultural — de modo que possam ser comuns a todos os elfos, carentes de uma cultura centralizada ou não. O segundo é explorar como tais traços sofrem variações forçadas pelos diferentes ambientes aos quais os elfos são agora obrigados a se adaptar.
Arquearia está para os elfos como marretas e machadões estão para os anões. Mas a predileção por uma ferramenta em especial é transmissão cultural, não genética. Devemos, portanto, especular que característica biologicamente inerente aos elfos pode ter tornado tal escolha vantajosa para a cultura da raça. Uma vem rápido à mente — a coordenação e agilidade superiores (estas geneticamente transferíveis), aquele +2 em Destreza. Logo, apesar do conceito tolkeniano fortemente arraigado, pode-se dizer que os elfos não têm uma predileção inerente pelo arco em si — eles teriam facilidade com armas de ataque à distância em geral; acabou sendo o arco porque, provavelmente, era a arma de ataque à distância mais tecnologicamente avançada disponível em Lenórienn.
Primeira proposição de modificação de regras — simplesmente eliminar os talentos automáticos com arcos. Não há mais berço cultural que os justifique. Se o elfo quiser ser um arqueiro, ele pode fazê-lo adquirindo níveis em uma classe que possa usar arcos (guerreiro ou ranger) — o bônus em Destreza já é o suficiente para conferir vantagem adicional.
As espadas longas e similares, novamente uma marca registrada dos esbeltos orelhudos. Novamente transmissão cultural. E é só cultural mesmo — não há característica inerente, como a Destreza para armas de ataque distante, que justifique uma vantagem em tal escolha. Entra aqui a segunda sugestão: remova os talentos gratuitos de usar espada longa, sabre e similares. Mas queremos que tal opção possua alguma vantagem que justifique a adesão universal na época da cultura unificada de Lenórienn. Minha sugestão — postule que quando utiliza armas de lâmina leves/de uma mão (com as quais seja proficiente), um elfo automaticamente recebe os benefícios do talento Acuidade com Arma. Assim, usar uma arma destas requer um componente de treinamento — província das classes –, treinamento durante o qual o elfo descobre, por tentativa e erro, formas eficazes de empregar sua agilidade natural. Elfos guerreiros serão naturalmente atraídos por sabres e espadas longas. Podemos, ser mais audazes e nos afastar mais da tradição: Sempre que o elfo brande uma arma leve, sabre, chicote ou corrente com cravos (desde que possua o talento apropriado para usal tal arma), recebe o benefício de Acuidade com Arma. Se a tradição é forte em você, contudo, troque o chicote e a corrente com cravos por espada longa (que normalmente não receberia o benefício deste talento).
Anões, por exemplo. Mesmo ditos como um povo guerreiro, não recebem nenhum talento de usar arma — recebem apenas o acesso a armas anãs, de modo que um guerreiro possa usá-las sem problema (e sem comprar Usar Arma Exótica). Como as armas dos elfos já são comuns, qualquer guerreiro élfico sabe usá-las — e, sob a solução apresentada, as usam melhor, o que justificaria, além do fator cultural, a escolha destas armas e não outras.
No post sobre raças há um parágrafo inteiro conjecturando sobre a percepção élfica; ali temos possíveis causas orgânicas para os bônus em testes de Ouvir e Observar, e para a Visão na Penumbra, bem como possíveis implicações culturais de tal percepção ampliada. Para fins de comodidade, reproduzo abaixo:
Os elfos têm os famosos sentidos aguçados; por que não usar um pouco destas coisas naturais “mundanas” para justificar alguns de seus traços culturais? Talvez a audição deles seja capaz de captar sons mais agudos que os humanos — para eles, música humana seria limitada, e os humanos, em contrapartida, simplesmente não seriam capazes de ouvir boa parte das sinfonias élficas tocadas em estranhos instrumentos, e por isso acusados de filistismo por não conseguirem apreciar tal arte “completamente”. O mesmo vale para cores — e por que não pode ser a renomada facilidade dos elfos com magia provir do mundano fato de eles conseguirem ver a magia (que seria um eletromagnetismo, como a luz, mas em freqüência invisível aos humanos, que precisam se apoiar em fórmulas e teorias enquanto, para os elfos, a coisa vem naturalmente, como uma espécie de arte, como se lê em várias descrições).
Pois bem, foi tocado no assunto da magia. Elfos são geralmente associados ao ofício arcano mas, estranhamente, não há qualquer vantagem inerente à raça que justifique isto (exceto Mago como classe favorecida, atividade em que, em termos de regras, até anões se sairíam melhor). Neste ponto, há diversas possibilidades.
A primeira e mais óbvia — o gosto pela magia é meramente cultural. Mesmo não possuindo qualquer vantagem inerente (como é o caso da predileção por armas de ataque à distância), a cultura deles evoluiu de modo a dar importância para tal prática, pura e simplesmente. Não havendo mais berço cultural para assegurar a perpetuação de tal tradição (reforço: transmitida culturalmente, não geneticamente), espera-se que, através das décadas, o número de elfos magos caia.
Uma segunda opção: elfos não são magos, são feiticeiros. Sob um ponto de vista temático, é mais condizente — a magia élfica é descrita como uma arte, mais baseada em intuição e sensibilidade do que propriamente em fórmulas e teorias. Nesse caso, os elfos artonianos possuem uma vantagem: seu bônus de +2 em Carisma. Se tomamos como verdadeira a hipótese dos sentidos capazes de perceber magia, aliamos isto à força de personalidade inerente (o bônus em Carisma) e temos em tal equação o resultado que você já esperava: trocar a classe favorecida de Mago para Feiticeiro. Claro que as artes exigem treinamento e técnica, e a feitiçaria não seria diferente — o aumento de níveis nessa classe representa o treinamento e os aperfeiçoamentos advindos da experimentação, enquanto o puro talento bruto é coisa do primeiro nível. Desta forma, temos elfos naturalmente hábeis com magia, independentes de uma tradição agora inexistente (ou, ao menos, moribunda) e com uma magia diferente dos magismos humanos, como as descrições de elfos nos costumam informar como sendo. Podem adquirir um ou dois níveis de feiticeiro para uns poucos truques — beneficiando-se do bônus em Carisma para mais e melhores magias –, e depois se dedicando com afinco a qualquer outra classe — como feiticeiro, nesta hipótese, é classe favorecida, meros um ou dois níveis na classe não acarretam penalidade de XP).
Hipótese terceira. Os elfos, de fato, utilizam uma magia não baseada em talento inerente, mas apoiada em fórmulas e ciências, sendo, portanto, magos. O que difere a magia élfica da humana é a formulação das teorias, os princípios e ferramentas usados. O que diferencia esta hipótese da primeira é o seguinte. Elfos têm uma aptidão inerente para este tipo de magia (eu assumo os sentidos capazes de perceber os fluxos de magia, mas não precisa sê-lo necessariamente). Mas nem de longe isso seria universal — assim como nós ocidentais freqüentemente temos uma visão estereotipada dos orientais ou árabes, o fragmento de informação “todo elfo é bom com magia” não passa de uma semelhante generalização por parte dos não-elfos. Haveria uma grande incidência de elfos mais capazes de manipular as forças arcanas, desenvoltos em seu estudo como seria alguém com facilidade para matemática em relação às demais pessoas, mas seriam alguns, não todos, a despeito dos estereótipos. Nesse caso, a aptidão para a magia (de mago) é uma possibilidade, e não algo universal. Tal caso pode ser facilmente resolvido com um talento (que criei especificamente para aggelus — aggeluses? — com o pé no Reino de Wynna, mas que servem para nosso propósito presente):
Afinidade Arcana
Pré-requisitos: Elfo, pode ser adquirido apenas no 1o. nível
A Inteligência do elfo é considerada como sendo 2 pontos maior, mas apenas para fins de determinar o número de magias adicionais e o nível máximo das magias que o personagem pode conjurar. Exemplo: Celine é uma elfa maga de Inteligência 13, que normalmente poderia conjurar magias de até 3o. nível e receberia uma magia adicional de 1o. nível. No entanto, como sua Inteligência é considerado como sendo 15 para estes fins, ela pode conjurar magias de até 5o. nível e recebe uma magia adicional de nível 1 e uma de nível 2.
(Se você gosta da hipótese de “magias como ondas eletromagnéticas em um espectro invisível”, pode trocar o requisito “elfo” por Visão na Penumbra ou Visão no Escuro, que poderiam englobar a percepção de um espectro eletromagnético maior — o que, com este talento, incluiria magia. Claro que isso daria a mesma vantagem mágica para anões e meio-orcs…)
Com isso, o elfo artoniano ficaria assim:
Elfo Artoniano
+2 em Destreza, +2 em Carisma, -2 em Constituição;
Humanóide, Tamanho Médio, Deslocamento de 9m;
Precisão Élfica: Quando usa uma arma leve, sabre ou espada longa (ou, em vez de espada longa, chicote e corrente com cravos) para a qual possua o talento de Usar Arma correspondente, o elfo recebe os benefícios do talento Acuidade com Arma;
Sentidos Aguçados: O elfo recebe um bônus de +2 em testes de Ouvir, Observar e Procurar;
Visão na Penumbra
Classe Favorecida: Mago (ou Feiticeiro, tudo depende de sua abordagem)
Eis que temos um elfo despido de caracteríticas culturais, substituídas por imperativos mais gerais que, em si, não dependem de transmissão cultural (improvável, quando não impossível, na condição de sem-lar espalhados pelo mundo). Tal “esqueleto” pode suportar, em termos de regras, o elfo tolkeniano-de-espada-longa-e-arco se assim a história do personagem exigir, mas não o limita a ser apenas isso. Expostos a diferentes culturas, os elfos que conseguem passar por cima de preconceitos contra-producentes e apego a tradições moribundas podem aprender a aplicar suas capacidades naturais de outras formas. Vamos a elas.
A destreza élfica os fazia bons para usar arcos — as armas de combate distante mais avançadas em Lenórienn. Fora da nação élfica, contudo, além de arcos e bestas, existem as armas de fogo. Mesmo ilegais e desaprovadas pela sociedade em geral, não se pode negar que são eficientes, ainda que meio barulhentas. Um elfo lenorianno jamais as usaria — seja por imperativos de tradição ou simplesmente por não terem existido lá. Mas agora as coisas são diferentes, e os elfos rápido notaram que tais lançadores e projéteis vão bem com sua destreza avantajada. Melhor ainda: são menores, logo, mais fácil de serem portadas sob um modo de vida nômade e de serem ocultadas. Sem a pressão cultural para aprender a arquearia, elfos em ambientes urbanos, quando esbarram em tais maravilhas tecnológicas, as acolhem prontamente, supondo que sejam suficientemente pragmáticos.
O fim da pressão cultural que perpetuava a obrigatoriedade da arquearia também varreu o mesmo princípio em relação à espada longa. Armas de fogo estão associadas a swachbucklers, que, por sua vez, têm associação com sabres, floretes e armas de esgrima afins. Por que uma espada longa quando o florete é mais leve e pode ser usado com a mesma agilidade? Estilos de esgrima com duas armas (o florete e a main gauche, uma espada curta/adaga usada para aparar) pode se tornar popular entre muitos elfos, visto que a leveza de ambas as armas lhes permite usufruir de sua destreza.
E não só floretes e adagas. Em locais como Tapista ou mesmo Yuden podemos encontrar elfos em posição de escravidão. Como escravos, elfos não têm acesso às lâminas de que tanto gostam — mas têm seus punhos e pés, ataques desarmados que são considerados armas leves, logo, passíveis de se beneficiar pela acuidade com armas da raça. Podemos até mesmo ter “quilombos” em Tapista, agrupamentos de escravos elfos foragidos — afinal, nenhum sistema escravista é perfeito, e escravos escapam. Tendo desenvolvido estilos de combate desarmado (beneficiados pela agilidade natural da raça) camuflados em dança (a cultura élfica possuía um pendor para as artes), estes quilombos podem ser focos de uma tradição de monges élficos — o combate desarmado combina com a agilidade, e as habilidades mais esotéricas podem ser explicadas pela facilidade dos elfos com a magia. Está aí uma forma de ter monges sem o “ranço oriental” ao mesmo tempo que se dá para estes elfos uma identidade cultural mais condizente com sua realidade atual.
Os maiores mantenedores da tradição de Lenórienn, ironicamente, seriam os elfos bárbaros. Estes, afinal, continuam, em sua maioria, em Lamnor, em uma posição de decadência e luta constante. Para eles, o arco continua sendo a melhor opção de arma à distância — mais por circunstância do que escolha — e, sem acesso a forjas, podem diversificar sua seleção de armas — desde que sejam leves para se beneficiar da acuidade, que, embora não combinem à primeira vista com o conceito de bárbaro, são úteis para batedores e similares. Correntes com cravos podem ser espólios de goblinóides vencidos (e são boas para desarmar), enquanto chicotes, embora menos óbvios, são de manufatura relativamente simples — couro trançado, que pode ser obtido de animais abatidos e não necessita de forja, apenas trabalho manual, algo “bem élfico” –, permitem certa distância do adversário, são bons para derrubar e desarmar — podem não ser as táticas mais “honradas”, mas são eficazes. Apesar de bárbaros, elfos podem possuir chicotes belamente trançados e adornados, não raro feito de couro de goblinóides. Fragmentos de armas metálicas destruídas podem ser incorporados, dando origem a um chicote-ferrão (o whip dagger).
Especulando a razão das escolhas culturais de elfos tolkenianos (o “elfo padrão” com que estamos tão acostumados), pode-se chegar a linhas mais gerais que, longe de limitar (como são as habilidades raciais padrão), abrem mais opções de conceito. E minha parte favorita — tais traços podem ser compartilhados por todos os elfos, mesmo sem a cultura centralizadora. Cabe a você combinar estas novas habilidades raciais com os meios que existem no ambiente em que seu elfo se encontra, o que certamente originará elfos únicos, afastados do estereótipo — e nem por isso ineficientes em termos de regras.
Concordo com o que diz, mas há que se considerar a linha de tempo usada no jogo. Se for a sugerida pelo próprio cenário, considerando a longevidade élfica, muitos elfos adultos viveram de fato em Lenórienn, recebendo sua carga cultural e justificando portanto heranças culturais. E mesmo as primeiras gerações nascidas fora de Lenórienn, ainda que filhos de pais que prefiram esquecer a terra-natal, poderiam receber treinamentos práticos relativos à herança cultural dos pais (armas, principalmente, mas também arte e magia).
Em relação à magia, como sabemos os Hobgoblins estão aprendendo a magia élfica. De grimórios, que foi o que restou, e naturalmente, interrogando elfos capturados na tomada da cidade, principalmente para compreender a linguagem e os símbolos usados. A grande quantidade de grimórios a disposição dos hobgoblins sugere que o caminho do Mago era sim um dos preferidos entre os elfos de Lenórienn. Mas se os elfos fossem dotados de um sentido especial que os permitisse ver a magia, de alguma forma, creio que somos forçados a crer que os hobgoblins também possuam tal sentido. Da mesma forma que um humano jamais irá conseguir reproduzir a música élfica (porque ele não escuta todas as notas), um hobgoblin não poderia reproduzir a magia élfica se não a sentisse da mesma forma que os elfos. Isso é algo a se considerar.
De fato, o reino élfico caiu há mais de vinte anos, suficiente para o surgimento de uma nova geração de humanos, mas não de elfos.
Mas ainda existe a possibilidade de que muitos tenham passado apenas parte de seu amadurecimento no reino dos elfos, completando seu desenvolvimento no Reinado, o que justifica todo o seu (excelente) artigo.
A beleza da coisa, Fábio, é que as regras propostas de modo algum impedem de se seguir a tradição — eles continuam sendo bons com espadas longas e arcos. O propósito foi achar uma “raiz” para isso, uma que possibilitasse, além do conceito padrão, outros menos usuais (e interessantes!) que por ventura podem derivar desse imperativo mais genérico. Como o título diz, trata-se de expansão de conceito: o padrão continua valendo, mas pode-se ir além.
O Nume disse tudo: pode haver elfos que, na época da queda, eram recém nascidos; e também aqueles muito jovens. E, como me disse o Oriebir numa conversa, uma elfa raptada menina e criada na Aliança como escrava e sem nenhum contato com espadas longas e arcos simplesmente não terá como saber manejá-los. Mas ela pode fugir, conseguir soltar-se dos grilhões — e usá-los como arma; corrente com cravos neles!
Já a questão da magia élfica é mais espinhosa. Mesmo se tomarmos como feitiçaria, sempre haverá o componente técnico, que é cultural. Nesse caso, ele seria o limitador. Ou se pode ser específico e dizer que, mesmo podendo ver no escuro, os goblinóides ainda assim não têm acesso ao comprimento de onda da magia. Ou algo assim. Aí depende de como a coisa é definida, e como não há informações específicas quanto isso, o que temos são possibilidades abertas.
Muito bom cara. Pena que vc ficou meio que preso pela linha do tempo.
Ah sim, usando a sua idéia como inspiração, resolvi re-escrever os elfos, mas de um modo mais “radical” de acordo com o que eu conjecturei a respeito deles. O resultado está disponível – como de costume, em:
http://valberto.wordpress.com/2008/12/27/repensando-as-racas-basicas-i-elfos/
Shido, concordo, dá pra usar suas regras opcionais, com ou sem justificativa (o que importa é se divertir né? então). Se quiser uma justificativa, podemos supor que o elfo em questão ou sua família saíram de Lenórienn bem antes da queda, tendo saído ainda criança, talvez. Ou é um elfo que veio de outro lugar (como Domenique, que veio de “Lah”), não de Lenórienn.
Mas a magia realmente me incomoda. Se os elfos dependerem de um sentido extraordinário para conjurar suas magias, é forçoso crer que os Hobgoblins na Lenórienn ocupada (pelo menos eles) possuem tal sentido, sob pena de terem severas penalidades ao conjurarem a magia élfica (estariam repetindo gestos e dizendo palavras que simplesmente não compreendem).
se o problema é a linha do tempo, muda a idade dos elfos para ser adulto com 18 anos igual ao D&D4, muito melhor do que esperar 100 anos para partir em aventuras (o que é meio absurdo, qu que ele fazia antes então?). Se falei alguma merda (não lembro muito Arton ,joguei há tempos) desconsiderem.
A treta é que o Shido não pode mudar algo oficial do cenário. Claro, todo mundo pode ignorar o que está escrito no livro, mas esta não parece ser a intenção do Shido no artigo.
O que ele fazia antes? Era criança, adolescente, estava envelhecendo ainda, ué =) E eu gosto dos elfos assim. Quem preferir de outro jeito, é claro que é uma boa idéia mudar.
Vamos lá.
Como o Fábio percebeu, ao usar o exemplo do Domenique, do fedorendo e odioso Mercenário$, uma das minhas aspirações ao compor este material é criar um elfo mais estruturalista, um “esqueleto” de elfo que se adequasse ao meme (nada a ver com questionários, mas, sim, como pacote de informação) que se tem do elfo — “sujeito ágil, esguio, adepto de um combate preciso e com afinidade variável com magia”.
Essa estrutura comporta qualquer variação de elfo dentro desse meme — todo o tolkenismo, que *parece* obrigatório, não passa de penduricalhos culturais e idiossincráticos. Os penduricalhos tolkenianos se equilibram bem sobre essa estrutura — minha intenção foi abrir espaço para *outros* penduricalhos condizentes com a estrutura do meme élfico que eu citei. Eu poderia ter ido mais longe — como o Valberto fez com excelência –, mas, como o Nume observou, minha intenção não foi mexer com o conceito existente, apenas expandi-lo.
A linha de tempo. Certo, 20 anos não é muito para em elfo. Digamos, então, nesse ponto, que fiz um “esforço para o futuro” — eventualmente mais tempo há de passar, digamos que eu já “deixei a cama feita”. Agora vêm uns spoilers, pare de ler enquanto é tempo.
[SPOILER ALERT]
Os elfos (em Arton) estão mais na merda que nunca. A vadiazinha de cabelos roxos caiu, é escrava do Tauron. Já li (no Terceiro Deus) uma cena com minotauros recolhendo elfos como escravos, “É a nova ordem das coisas”, diziam (Um bom momento para elaborar melhor e expandir a idéia de quilombos). Nesse caso, tendo ou não sido ensinados em casa a espada-longa-e-arco-filia, na posição de escravos vai ser difícil ter acesso a essas armas. Hora de diversificar e aplicar a “precisão élfica” em outras direções. Mesmo os não escravizados sente em vazio e um desespero. Tradições caem nessas condições.
Ainda, é meio ingênuo pensar que *todos* os elfos *sempre* estiveram enfurnados em Lenórienn e só foram sair de lá após a queda. Por certo havia elfos em outras partes do Reinado antes, o suficiente para se ter umas poucas gerações longe de Lenórienn. Por mais que se queira manter tradições, o meio não deixa de influenciar o indivíduo. E filhos podem ficar rebeldes. Não é tão absurdo supor ao menos um punhado de elfos já adultos que não sigam as tradições, se se olhar por esse lado.
Direcionando um pouco para regras. Ao meu ver, o pacote oficial era, apesar do exagero de talentos de usar arma gratuitos, sub-ótimo. Guerreiro ou ranger elfo? A classe já provê tais talentos — a característica racial fica inútil, redundante. Mesmo como bardo ou ladino já se sabe usar ao menos uma ou duas das tais armas. Mago ou feiticeiro — esses, por si, praticamente não se engalfinham em combate corporal; se quiserem ter chance nisso, uns níveis de guerreiro (fighter/mage é popular entre elfos desde não sei quando), no qual os “use weapon” vêm de brinde. Sem falar que é cultural — raça é uma coisa, cultura é outra. Me empenhei em rever ambas questões. Um elfo guerreiro que use a espada longa com acuidade terá algum benefício real de sua agilidade melhorada agora. Seu elfo pode continuar usando (agora um pouco melhor) a espada longa por razões culturais — mas não é necessariamente obrigado. E pode usar *outras* armas — agilidade é coisa inerente da raça elfo; usar espada longa e arco é cultural. Reforço: raça e cultura são coisas bem diferentes. (Até traduzi o artigo do China Miéville pra bater mais pesado em tal tecla).
Para ilustrar melhor, em um futuro próximo, faço uma matéria inusual pra minha linha — uma matéria de NPCs. NPCs elfos, do tradicionalista ao rebelde urbano, do escravo ao bárbaro da resistência. Todos com circunstâncias de vida variadas, com apego variado às tradições. Todos sob esse conjunto estruturalista de regras. Todos muito possíveis.
Caraca, os elfos de Arton são muito podres. ¬¬
Realmente não tem nenhum elfo adulto pós-Lenórienn. Mas dá pra usar o artigo pra deixar a raça mais genérica, o que vai cair como uma luva pra mim, já que na minha Arton tem outras culturas de elfos (não confudir com subraças; vide Eberron =D).
É o Remo aí mostrando que não é uma máquina de churros. 😉
Ah sim, sobre o mago elfo, no Pathfinder o elfo ganha +2 em Inteligência e tem +2 para passar por RM, então já ajuda. E se você pegar os níveis de substituição de mago elfo do Races of the Wild, temos um elfo mago bem diferenciado do humano mago =D.
Elfos de garruncha e Capoeiristas auuhauhaauhua
Eu, mesmo como capoeirista acho a combinação estranha, mas para estes esteriótipos de fantasia eu sou sempre um tradicionalista chato de galochas mas tem exceções ao meu desprezo quando a história do personagem é única e plausível.
Entendi o que você fez e acho ok em termos de regras mas como opinião pessoal eu faria assim: bônus de +2 em Destreza e -2 em Constituição
mas com um bônus a escolha do jogador em: Sab, int ou car
assim acho que modelamos melhor o elfo.
Humanos nessa ótica teriam um bônus de +2 a escolha do jogador em qualquer atributo modelando a grande diversidade dos humanos
Anões: +2 em CON -2 CAR e o bonus de escolha em: SAB FOR CAR(podendo fazer um anão menos ranzinza que o comum)
e etc…
Keldorn, o desprezo que vejo da sua parte (e de outros “tradicionalistas”), em geral, é meramente estético. Proponha um cenário com Ciência e Máquinas e torcem o nariz; apresente a mesma coisa, mas com nomes como “Arcanologia” ou “Taumatologia”, as máquinas nomeadas como Golens ou Artefatos com uma aparência dos projetos do da Vinci e, de sopetão, parte colossal da rejeição some.
O caso aqui é o mesmo. Falei em quilombos e você já imagina capoeiristas, completos com aquele instrumento de uma corda só e toda a aparamentação africanizada. Grande erro. Deve-se parar de interpretar as coisas *literalmente*, ver além das aparências e entender o *conceito*. Um “quilombola” élfico em nada vai se parecer com um escravo do Brasil colônia. Não só em virtude do diferente ambiente em que são escravizados, mas também por causa de sua cultura nativa (Lenórienn, no caso). Escravos no Brasil usavam facas e coisas assim porque cortavam cana; as armas improvisadas dos nossos elfos escravos-fujões derivaram de suas funções como escravos, provavelmente. As danças da capoeira são inspiradas em danças africanas — e ninguém esperaria, em sã consciência, que a dos elfos fosse igual, vírgula por vírgula (a menos que no seu jogo os elfos tenham uma cultura africanizada, claro). A questão é adequar o *conceito* à estética do jogo.
Se você, de fato, transportar uma imagem de capoeiristas de Salvador e imaginar os elfos como o Zumbi dos Palmares, claro que vai parecer ridículo. Até porque simplesmente transportar coisas diferentes sem uma adaptação estilística é, em si, ridículo.
Segundo, elfo é raça, *não* cultura. Desenterrem um pouco o nariz do Senhor dos Anéis, gente. Elfo, para mim, é estritamente aquele sujeito delgado, ágil, propenso à sofisticação e à prática de magia — as armas que ele usa, como o tal pendor para a sofisticação se manifesta, como a magia é estudada/usada, depende do cenário e do autor. E podem me chamar de blasfemador, mas, pra mim, o Tolkien não fede nem cheira; o conceito de elfo dele, não me interessa se é o primeiro ou deixa de ser, é apenas *mais um* dentre muitos possíveis.
Longe de ridículo, um elfo com armas de fogo é plausível — as regras do jogo associam alta destreza ao uso de armas de ataque à distância (quaisquer que sejam). E se o elfo tem acesso a elas, e resolve usar, e as usa bem, fim de papo. O cenário (Tormenta — afinal, não usei “elfos artonianos” à toa) não tem armas de fogo? Os elfos não estão espalhados pelo continente, fazendo possível o contato deles com tais armas?
Eh triste ver que muitos ainda querem uma ambientação de RPG de Fantasia Medieval feijão com arroz. Ponha uma arma de fogo no elfo e pronto, todos os fanboys do Tolkien vêm pra cima de você.
Shido eu não imaginei os elfos capoeiristas no quilombo dos palmares e nem africanizados, com “capoeiristas” eu estava fazendo uma comparação com o fato de ter sido uma arte marcial criada para não se deixar escravizar, uma luta de libertação, e algumas idéias interessantes podem ser copiadas literalmente como o uso da dança para disfarçar a luta treinada, isso pode sim ficar interessante.
Quanto ao instrumento de uma corda só, ele é difícil pra tocar é necessário ter muita destreza manual e não estava presente na capoeira em seus primórdios sendo só incorporado bem mais tarde… mas isso é detalhe.
Uma outra coisa interessante nesse paralelo capoeira X RPG é que o mestre consegue tocando as músicas moldar o jogo da roda ditando o ritmo é claro e tbm podendo incetivar certo tipo de comportamento, claro q não é mágica mas é sabido por quem pratica que certas músicas incentivam e muito uma porradaria entre quem está jogando huauhauhahu e as músicas que costumam ser tão simplórias na verdade são quase sempre propositadas e têm mensagens nas entrelinhas , seja um aviso, um pedido, um desafio ou apeas contar uma história mesmo… tem de tudo quanto é tipo, mas é claro, só quem pratica a um tempo que saca.
Quanto as danças africanas, sim existem elementos recortados de várias culturas africanas na capoeira devido aos senhores de Engenho separarem no mesmo cômodo negros advindos de localidades/tribos diferentes as vezes rivais até para que não falando a mesma lingua fossem dificultados de confabular e planejar uma possível fuga, da mistura de culturas e da necessidade em comum surgiu a capu.
E como nosso Rui Barbosa queimou todos os arquivos que diziam respeito a cultura dos negros no brasil muito foi perdido e ainda é um mistério o porquê de várias coisas como: porque é usado o atabaque árabe? Porque muitas músicas são cantos de querra árabes? Como histórias do cangaço foram parar nas músicas tradicionais?(essa é mais fácil de se imaginar)
Falei bastante de capoeira que não tem muito a ver mas pode servir de inspiração para quem quiser criar no RPG escravos que lutam para se libertar
Concordo que depende muito do cenário para as coisas fora do “padrão” sejam aceitáveis, se não não é divertido.(pelo menos pra mim)
E sim Elfo é raça, concordo.
“Eh triste ver que muitos ainda querem uma ambientação de RPG de Fantasia Medieval feijão com arroz. Ponha uma arma de fogo no elfo e pronto, todos os fanboys do Tolkien vêm pra cima de você.” – Metal Sonic
Heh, eu pensava como os tradicionalistas… Até que no meu próprio cenário de fantasia começaram (eu comecei =D ) a surgir com idéias sobre metralhadoras, tanques de guerra, energia elétrica, calças jeans e cuturnos.
Achei o artigo muito bom Shido.
Quem diria, o Aiken deixando as fileiras dos tradicionalistas! Dê mais um tempo e não haverá mais um bom articulista em suas fileiras. Mwahahahaha! (Tá, deixa eu fantasiar um pouco.)
Pois então, eu também era tradicionalista (eu fiquei tempão me recusando a jogar Mage por causa dos Adeptos e Filhos do Éter!), e foi desenvolvendo um cenário que eu comecei a atentar a novas possibilidades, e depois, menos tímido, a desenvolvê-las. Na verdade, vários textos da minha autoria aqui (“RPG e a Mãe Natureza: Raças”, a abordagem materialista da cura mágica, entre outros) são origem dessa expansão de horizontes.