Reiniciar personagens: Quando fazer?
Realizar uma releitura de um personagem nas histórias em quadrinhos é muito comum.
Acontece do personagem morrer e reaparecer renovado, com novos poderes e/ou fraquezas; ou
Mundos são destruídos e reconstruídos por causa de eventos cósmicos, trazendo novas origens, novos heróis e novos poderes; ou
A história é reescrita por criaturas de poder astral, dando uma nova vida aos antigos personagens, trazendo novas ambições, conflitos e inimigos.
E a lista continua. Tão infinita quanto a criatividade de cada roteirista.
Mas por que recriar um personagem?
Isso deve ser feito no RPG?
Normalmente, um jogador deseja recriar seu personagem quando a ficha do PC não está condizente com o que o player esperava para sua atuação na mesa.
Isso pode ser causado por uma série de fatores, que vão desde problemas na concepção do PC até a falta de planejamento para a sua evolução.
Pessoalmente, sempre que presenciei o “reboot” de algum personagem, percebi que o problema, normalmente, não era o conceito do personagem, mas apenas falta de planejamento.
O problema não era “me arrependi de fazer um ladrão, devia ter feito um mago”. Normalmente a questão se refere à mecânica do sistema. Alguma habilidade ou detalhe que não funciona da forma como o jogador imaginava.
“Gastei muitos pontos nesse poder e está sendo inútil. Posso diminuir isso?”
Se o problema é “um detalhe”, por que deixar que “um detalhe” atrapalhe a diversão do jogador?
A nova edição do D&D, por exemplo, assume essa possibilidade ao introduzir as regras para “re-treino”, quando um personagem pode deixar de lado alguma habilidade para aprender outra em seu lugar.
Pensando nisso, elaborei uma lista de vantagens e desvantagens sobre o assunto.
Leia, critique e decida o que se aplica na sua mesa de jogo.
Vantagens e oportunidades:
– Fazer um jogador feliz
“Rebootar” um personagem pode prolongar a “vida útil” dele, trazendo nova motivação ao jogador que o criou. É sempre melhor ter na mesa o mesmo personagem, evitando aquele rodízio horrível de novos PCs entrando a cada sessão.
-Melhor andamento da aventura
Ocorre principalmente quando alguém criou um PC mecanicamente superior ao outro. Ter desníveis de poder é muito ruim para a aventura e cria um problema para o mestre:
Como criar desafios para todos, sem que sejam fáceis demais para alguns, e difíceis demais para outros?
Refazer a ficha de alguns personagens, melhorando sua mecânica, pode ser a solução para o nivelamento.
– Faz sentido para a campanha
Imagine que o mundo onde se passa a aventura acabou e foi refeito por alguma criatura extraplanar.
Uma reviravolta no universo traz muitos ganchos para aventuras futuras e refazer as planilhas de alguns personagens pode ser o reflexo das mudanças no mundo, além de trazer mais solidez para a campanha.
É mais legal ainda quando os PCs lembram de como era o mundo antes das alterações e precisam fazer algo para voltarem a ser o que eram.
– O acaso atrapalha o conceito do personagem
Isso acontece quando os dados cismam em atrapalhar o personagem que deveria ser “o melhor espadachim do reino”.
O espadachim erra todos os golpes e quando finalmente acerta tira um dano ridículo.
Refazer o PC pode ajudar no alinhamento do conceito do personagem, ao invés de forçar um abandono por parte do jogador frustrado.
“Bem, se ele erra tudo, então é melhor fazer o mais trapalhão espadachim do reino.”
Ou então
“Queria gastar mais pontos nessa habilidade, para garantir o resultado nos dados.”
– Novos suplementos/edições do sistema
Não há melhor motivo para recriar a ficha de um personagem que esse!
Quando novos poderes surgem e a desculpa para comprá-los é completamente plausível.
Na minha opinião, o lançamento de novos livros não é desculpa para abandonar os antigos PCs, mas uma oportunidade de melhorá-los.
Problemas:
– Recriações contínuas
Ajustes de fichas não podem ser encarados como uma festa, mas sim como uma exceção. Quando o jogador exagera nos ajustes do seu personagem e abusa nas mudanças, é sinal de falta de comprometimento e/ou preocupação na hora de criar o personagem em si.
Nesse caso, melhor aprender a fazer personagens.
Esse problema também pode ser causado por…
– Problemas no conceito do personagem, e não na mecânica do personagem
O conceito do personagem é o que o define. Se o jogador não está satisfeito com o papel do personagem na aventura, ele pode desejar fazer ajustes no seu PC, mas isso deve ser evitado.
Nesse caso, o melhor é fazer outro personagem, ao invés de ficar remendando o que já nasceu errado.
P.ex.: O jogador não quer ter mais um “mago” e começa a investir/alterar o personagem para torná-lo mais habilidoso com a espada e armaduras.
– O grupo não aceita ajustes nos personagens
Se o ajuste do PC vai atrapalhar a diversão dos outros integrantes do grupo, melhor deixar para lá. Não vale a pena deixar um monte de gente se sentindo injustiçados.
– Interferência no andamento da campanha
Muito parecido com o item anterior. Se o andamento das aventuras for prejudicado pelos ajustes, melhor vetar. Não adianta sacrificar a diversão do grupo inteiro (incluindo o narrador) por causa de um problema na criação do PC. Todos acabam perdendo.
Qualquer que seja a sua decisão, não deixe que o fato disso não estar previsto nas regras do seu sistema atrapalhe a sua diversão!
Um sistema é apenas uma ferramenta que deve servir ao grupo, e não o contrário!
O super-homem que sempre dá um reset nos quadrinhos. Acho que eu já vi a morte e o retorno dele umas 4524623 vezes.
Eu sempre gostei de fazer personagens novos, principalmente porque fazer a ficha é uma das partes mais divertidas do jogo. Pra poder trocar o nome, me amarro em colocar nomes exóticos nos personagens. E pra poder trocar o personagem, a variação é algo muito legal, desde que não atrapalhe… é lógico!!!
Caramba, esse teu artigo refletiu muito com o meu pensamento e até um pouco com um post meio antigo no meu blog. Eu concordo com a maior parte do que você escreveu, e já tive nos dois lados (como mestre quando um jogador deseja mudar alguma coisa e como jogador insatisfeito com a ficha do personagem). Já tive personagens que mudaram até classe básica, já tive personagem que mudou de conceito por elemento de campanha (uma maga que resolveu ser guerreira), e já permiti aos meus jogadores mudar esse ou aquele talento, e mexer uns requisitos pra pegar certa prestige class.
Ótimo artigo, me lembrou de várias situações e me fez pensar no assunto. Parabéns!
último post de Nino X.:Resenha: Dragonlance Fifth Age
Opa! Valeu, Nino! 🙂