Resenha: The Boys

Resenha: The Boys 1

Cara de comido é isto aí em cima


Para comemorar a chegada desta série ao Brasil pela Devir Livraria, sob o título The Boys: O Nome do Jogo, decidi resenhar aqui no .20 as edições estadunidenses da revista mensal com roteiro de Garth Ennis e arte de Darick Robertson. Já que não custa avisar: esta resenha contém spoilers. Se você não é fresco com essas coisas nem se importa com histórias em quadrinhos ultra-violentas, siga em frente.
Indo direto ao ponto: Garth Ennis é doentio. Genialmente doentio. Com seus diálogos bem construídos, situações bizarras e tramas cheias de violência desmedida, ele consegue criar histórias que arrebatam o leitor pela simplicidade do real. Afinal de contas: como seriam os super-heróis na vida real? Como a natureza humana reagiria sobre a tentação de grandes poderes?
Ennis não tem rodeios em ser franco em seu pessimismo sobre os seres humanos: somos em geral egoístas, cínicos e cheios de defeitos medonhos. Sem piedade, ele nos joga na cara situações típicas do nosso cotidiano que nunca imaginaríamos em uma história de super-heróis. Homossexualidade, perversões, pedofilia, egoísmo, incompetência e outras coisas que aparecem todo dia nos jornais e na nossa vida. Somos cheios de defeitos e o poder só faz crescer isto. Afinal, ao ter super-poderes você acaba ficando acima das leis da sociedade que cuidam para não enlouquecermos de vez, e aí é que os rapazes do título.
Financiada pela CIA, a unidade conhecida como The Boys (ou Os Rapazes) é responsável manter os super-heróis na linha, por quaisquer meios possíveis. Os Rapazes são também supers, e criados a partir dos mais poderosos soros produzidos pelos EUA eles são capazes de dar conta de quase qualquer outro super-ser no mundo. E qualquer ferramenta é permitida: Chantagem, surras corretivas e assassinato.
Na realidade criada por Garth Ennis os super-heróis surgiram logo depois da Segunda Guerra Mundial como resultado da criação de um soro capaz de dar poderes a humanos comuns. Pela mesma época, uma companhia de defesa passando por maus momentos pela sua incompetência na criação de armas resolveu investir no composto e em uma nova indústria: as histórias em quadrinhos de super-heróis. A companhia financiava super-equipes, as tornava famosas e então lucrava bilhões com licenciamentos de todo tipo da marca, ou para resumir, os super-heróis são na verdade super-celebridades.
Incompetente em criar bons “produtos” também no novo ramo, a companhia não oferece treinamento e aconselhamento psicológico aos seus “funcionários”, o que gerou uma legião de super-equipes que, quando realmente tentam combater o crime entre uma sessão de fotos e outra, acabam fazendo muita merda.
Apenas para se ter uma idéia, a equipe que faz referência à Liga da Justiça e aos Vingadores, ao tentar salvar um dos aviões de serem jogados contra as torres gêmeas em 2001, acabou estragando tudo e jogando o avião na ponte do Brooklyn.
Não que os Rapazes sejam muito melhores que os próprios super-heróis. Dos cinco membros do grupo, dois são inqüestionavelmente doidos de pedra. E os outros três não ficam muito atrás. O próprio líder da equipe é um sádico dono de um cachorro violador chamado Terror. O mais lúcido provavelmente é o novato Hughie, irlandês que perdeu a namorada em mais uma ação desastrosa dos super-heróis e foi convidado para integrar os Rapazes. Com estes personagens, Ennies consegue criar tramas que chocam e são crítica profunda aos quadrinhos de super-heróis ao mesmo tempo.
A mensal faz um bom sucesso lá nos EUA, com mais de trinta edições da série normal e mais algumas do spin-off Herogasm. Meu conselho para você é se agarrar no volume publicado aqui no Brasil pela Devir Livraria e ler tudo numa tacada só. Faz um bem danado para a alma. Depois vai reler Preacher, que também é bom.
The Boys: O Nome do Jogo (Devir Livraria)
152 páginas, colorido, capa mole.
R$ 39,90 ou R$ R$ 37,00 pela d3store.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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7 Resultados

  1. Filipi disse:

    Correção. Preacher é MUITO BOM! 🙂

  2. Pra corrigir só, Hughie é escocês e não irlandês =)
    E tenho até medo da censura que o filme vai pegar.G

    • RucardolbSdA disse:

      a especulação desse filme (como milhares de outras), já rola na internet a tanto tempo que ver alguem lembrar desse conto é engraçado.

  3. O grande prblema da série é que TODOS os supers tem desvios sexuais! TODS! Achei isso meio forçado… mas a série é realmente boa, mais pelo contra-ponto do Mijão do que pelo resto todo.

    • Tek disse:

      Hoje em dia isso é algo bem comum cara.

      • O que é comum? Supers com desvios sexuais? Eu vejo Capitão América, Super-homem, homem-aranha, X-Men e Hulk todos os meses nas bancas, e não lembro desses caras terem desvios sexuais. Eu NÃO estou falando da versão tarada do Hulk ultimate, mas do verdão velho-de-guerra "HULK ESMAGA!" ou mesmo do cinzento senhor Tira-Teima. Com todos os seus problemas com racismo, patriotismos exacerbados, falta de grana, perseguição pelo governo e super-vilões tenebrosos, nenhum deles tem desvios sexuais! Eles não vão à puteiros, não transam com animais, não curtem bondage.. Diabos, alguns nem fazem sexo!
        (eu não mencionei o Batman, porque… Bom, tem o Robin, e tal…)

  4. RucardolbSdA disse:

    o problema de ennis é que ele (pra quem já viu hitman, hellblazer ou hitman) cai na repetição de SEMPRE explorar esses temas que talvez em sua época pudessem causar algum espanto, ou pior exagerar em dialogos ENTUPINDO o balão de dezenas de palavrão, o que remete achar que a hq foi escrita por um pirralho.
    mesmo que preacher tenha sido extremamente enrolada foi um boa revista e eu RECOMENDO.
    já o the boys explora um tema que já foi muito mastigado, (irredimible ou the mighty), lendo as 20 primeiras edições você vai ver pornografia e violencia escatologica, quando eles começam a contar alguma história lá pra 13.

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