A Lenda de Jim "Bolt" Parker
No saloon de Madame Carmela a concentração era total. Todos ali presentes se acotovelavam por um bom ângulo para assistir a partida de pôquer entre o sortudo forasteiro Jim Bolt Parker e o renomado Edgar Burtom, xerife da pequena cidade de Stonefield.
Todos os participantes haviam apostado alto, incentivados pela língua afiada do jovem Parker, no entanto estes já estavam fora da mesa, pois uma maré de azar os perseguia naquele dia. O xerife Burtom, no entando, exalava confiança e encarava, intrépido, a face do adversário.
Edgar era um homem magro e elegante, trajado em roupas finas, bons calçados e um relógio reluzente que se mostrava no bolso de seu colete. Sua barba, sempre bem aparada e acompanhada de um bigode fino e peculiar, demonstrava que era um homem regrado e limpo. Além disso era honesto e um tanto orgulhoso, sempre fazendo questão de relembrar seus feitos, como aquele que todos os frequentadores da casa de Madame Carmella já sabiam: Edgar Burtom nunca tinha perdido um jogo de pôquer, salvo duas partidas, por motivos óbvios de trapaça, de gatunos que acabaram na prisão antes que pudessem ver o dia nascer.
– Pronto para perder na frente dos seus amigos, xerife? – Jim indagou de forma pedante.
– Não belfe garoto, você não imagina o jogo que eu tenho em mãos – disse o xerife com um meio sorriso. De fato Edgar estava com um ótimo jogo. um Straight Flush. Dificilmente o forasteiro conseguiria vencer essa partida. No entanto, mesmo assim o xerife estava intimidado. Óbviamente que não deixava transparecer, pois isso, para um jogador, é a sua ruína. Mas havia algo estranho naquele jogo. Era fato.
O momento de revelar cada jogada tinha chegado e todos estavam impacientes, menos Jim, que não deixava nem mesmo as pessoas do saloon espiarem seu jogo.
Então o xerife baixou o seu jogo na mesa, o que criou espanto geral com vozes em coro dizendo “Oh!”, e caras e bocas passadas com a perícia daquela velha raposa.
O forasteiro continuava risonho e simpático, como era de costume, arrancando suspiros de raparigas que admiravam seus modos. De repente, abriu o casaco de couro e tateou um bolso interno, o que assustou algumas pessoas e atirou no chão outras, receosas que um tiroteio tivesse início. Puxou uma pequena embalagem e uma cartela de fósforos. Com um sorriso debochado acendeu um cigarro e disse: Sabe Mr. Edgar, eu tenho essa terrível mania de fumar no final dos jogos. Ah, isso ainda me mata! Mas enquanto isso eu preciso admitir que o senhor é realmente bom… Mas eu sou melhor – com uma piscadela, Jim “Bolt” Parker, revelou seu jogo e silenciou o saloon: um Royal Straight Flush.
O delegado olhava atônito para a jogada que o forasteiro tinha formado. O povo em volta, incrédulo, começava a pressentir confusão e aos poucos foram saíndo “à francesa”.
Jim se levantou: – É isso senhores, obrigado pela agradável, e rentável, partida. Agora, infelizmente, eu preciso ir. Até ficaria aqui conversando com vocês e ensinando alguns truques para o senhor Burtom, mas receio que ele já saiba tudo o que precisa. Enão, sem mais – no momento em que Parker pronunciou “truque” um lampejo passou pela mente perturbada do xerife, que se levantou irado e bateu com as mãos espalmadas contra a mesa.
Quando Jim acabou de juntar o dinheiro das apostas, o cherife segurou seu braço e avisou: – Saiba de uma coisa “Bolt”, todos os homens que me venceram acabaram vendo o sol nascer quadrado -.
– Ah, senhor Burtom, me desculpe mas este, com certeza, não será o meu caso. Gosto de conforto, se me convidar para passar a noite hospedado na sua casa, especialmente na cama com a sua senhora eu, talvez, até aceite –
Quando Jim encerrou sua resposta o cherife já estava vermelho e berrando intempéries como “miserável”, “filho de um cão” entre outros piores. Jim Bolt Parker não perdeu tempo e virou a mesa de jogo contra o xerife e correu para a portinhola dupla do saloon de Stonefield. No meio do caminho um velho tentou segurá-lo mas levou uma cotovelada no queixo que provavelmente lhe fez perder alguns dentes.
Então Parker saltou sobre mesas, chutou pratos e copos, derrubou cadeiras e viu que a saída estava guardada por dois homens, cada um com uma Colt Army apontada para ele.
Como um raio, Jim sacou Madeleine, seu revólver Colt Peacemaker 44. Com dois disparos precisos ele acertou as armas dos soldados que acabaram por levar chutes, coronhadas e socos, já que permaneceram em seu caminho.
Jim saiu do saloon, saltou em um belo cavalo malhado e fugiu em direção a próxima cidade, para ganhar a vida fácil com mais um punhado de jogadores “experientes”.
Quando o xerife se levantou Jim já estava longe. Mas pelo menos ele pode confirmar suas conjecturas: colado embaixo da mesa de jogo havia um pequeno envelope de couro rigido, com algumas cartas como Reis e Ases. O apelido do garoto não se referia a sua rapidez no gatilho, ou talvez não se limitasse a isso. E então o delegado pensou alto: – Por isso o desgraçado tem essa maldita mania de fumar no final dos jogos.
(Não precisa aceita o post, mas cherife na verdade se escreve xerife ^^)
Na verdade eu sou semi-analfabeto, então certas gafes passam hehehe.
Com esse currículo já pode se candidatar a presidente 🙂
É verdade. Tiago Lobo pra presidente defendendo os interesses dos nerds!
Valeu aí sr. anônimo! Acho que houve uma confusão com "cherif", como dizem na terra do Tio Sam.
Post corrigido, mas o xerife perdeu do mesmo jeito! 😛
Eu vou revisar esse trem depois.
É uma boa, até pra te disciplinar mais 😉
Eu achei o conto legal, apesar de ter encontrado uns errinhos (que vou ver se conserto mais tarde, quando a internet aqui de PoA parar de baleiar)
Muito interessante, gostei do truque