RPG é Literatura?
Essa é uma pergunta que eu já escutei diversas vezes, pelos mais variados tipos de pessoas. Na minha opinião RPG é, sim, literatura. Vamos às explicações?
O que é Literatura?
“Literatura é: 1) a arte de compor ou estudar escritos artísticos; 2) o exercício da eloquência e da poesia; 3) o conjunto de produções literárias de um país ou de uma época; 4) a carreira das letras.
A palavra Literatura vem do latim “litterae” que signifca “letras”, e possivelmente de uma tradução do grego “grammatikee”. Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, se refere especificamente à arte ou ofício de escrever de forma artística. O termo Literatura também é usado como referência a um corpo ou um conjunto escolhido de textos como, por exemplo, a literatura médica, a literatura inglesa, literatura portuguesa, etc.”
Ou seja, qualquer coisa escrita é literatura, independendo de sua função. Bula de remédio é literatura, manual de eletrodoméstico é literatura, assim como módulos básicos, suplementos e cenários de RPG são obras literárias.
O que é RPG?
É paradoxal se dar ao luxo de querer explicar para RPGistas, que frequentam este site, o que é RPG. Então vou me limitar a uma simples análise dos argumentos que eu venho expondo.
Antes de mais nada, vale lembra que RPG é um jogo. Jogo, este, que tem sua origem em livros de regras e ambientação, sendo, então, os livros – por conseguinte a literatura – sua principal mídia consumida. Sem entrar no mérito de que o RPG saiu da Literatura Fantástica, pois isso é assunto para um outro post.
RPG é Literatura!
Juntando um fato ao outro eu chego a essa conclusão. Alguém se opõe? Claro que não quero comparar um livro de RPG a um romance de Machado de Assis. São coisas completamente diferentes. Só gosto de deixar tudo no seu devido lugar e conceito. Que para mim parece correto.
O que acontece é que se fosse determinado que um Livro de RPG não se enquadra como uma obra literária, todos os manuais de regras de jogos (Batalha Naval, por exemplo) e tudo o mais que não fosse um romance, conto ou crônica – até mesmo roteiros – deveriam ser desclassificados. Relegados a alguma coisa que não fosse literatura (mas o que seria?).
Jogos de RPG possuem vários tipos de literatura em sua composição, desde narrativas fantásticas até manuais técnicos, então se incorre ao erro no momento que se desassocia o jogo da Literatura, pois ele tem sua oferta através de livros.
Eu não concordo com certas ideologias de elevar o RPG a “algo mais que um jogo”. Pesquiso, de fato, a sua aplicação como ferramenta educacional e tenho trabalhado muito mais com RPG como um produto, que é, do que como uma forma de lazer. Mas aprendi com o CF, do Covil, e com o Tek, “Dungeon Master” aqui da casa, que RPG é um jogo. Ponto final. Um hobby que as pessoas usam – ou deveriam usar – para se divertir.
Óbviamente é um jogo bem completo e com benefícios lúdicos e sócio-educativos, porém algumas pessoas tendem a chamá-lo de arte. Na minha opinião isso seria correto, somente, quando se associa a literatura como a manifestação artística que o sobrepõe. Não simplesmente por ser RPG. Voltamos ao fato que eu defendo: RPG é literatura.
Romances saídos de jogos de RPG
Não vou discutir sobre o RPG ser ou não literatura (há espaço para discussão em algumas minúcias, mas não o farei no momento), mas quanto ao ponto de que “qualquer coisa escrita é literatura” (sic) incluindo nisto até mesmo bulas de remédio.
É necessário nivelar por baixo? A literatura de RPG é assim tão desprezível que é preciso elevar (e citar) ao nome de literatura até mesmo uma bula de remédio (e, dando continuidade lógica à definição de que “qualquer coisa escrita é literatura” (sic) podemos jogar neste balaio qualquer coisa mesmo, incluindo placas de automóvel, cartazes com preço de laranjas na feira da esquina e afins)?
Desculpe-me, neste ponto, discordo. Mas estou aberto à discussão.
Bem, se “qualquer coisa escrita é literatura” então não há a necessidade de um texto tão grande para justificar que RPG é literatura, já que RPG é muito escrito em forma de livros de cenários, pequenos ensaios sobre raças, cultura ou até nas características das fichas de personagens.
Eu acho que teria sido mais interessante se o texto fosse voltado para textos literários que influenciaram o RPG, com os óbvios exemplos de “O Senhor dos Anéis” e romances de Ane Rice e também sobre como o RPG influenciou a literatura, com exemplos dos romances baseados em Tormenta, por exemplo.
Eu não tinha lido o comentário do Leonel antes de escrever meu comentário anterior e tenho que dizer que concordo com ele: o RPG é cultura sim e muitos escritores de RPG fazem verdadeiras obras de arte.
Sem querer ser ainda mais incômodo, mas, os dois primeiros parágrafos são cópias quase diretas da Wikipédia[1]. Então seria bom se você deixasse claro que trata-se de uma citação ou libere seu post inteiro pela GNU FDL, ou licença compatível, ou poderá ter problemas de direito autoral com a Wikimedia Foundation.
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura
Leonel, respeito o teu ponto de vista. Também estou aberto a discussões e se tu me apresentar argumentos fortes eu mudo de idéia.
Minha intenção não é nivelar por baixo. Mas bula de remédio é literatura técnico-científica. O que eu acho errado é que certos termos acabam sendo utilizados de forma pomposa em certos lugares. Principalmente no Brasil.
Literatura é o registro de alguma coisa por meio da escrita. Simples.
É pra ser uma visão objetiva e simplista, mesmo.
Agora existem tipos e tipos de literatura e uma discussão interminável por parte de acadêmicos da área. Tem gente que coloca no mesmo balaio da placa de frutas, placas de automóveis e afins, até partituras. Estão errados? É questão de pontos de vista.
Max, não é incômodo algum. O primeiro parágrafo é, sim, cópia da Wikipédia, por isso que está entre áspas. E esse site inteiro é Creative Commons, eu acho.
Eu não disse, em momento algum, no post, ou em qualquer outro lugar, que RPG não é cultura.
Acho que não me expressei bem em ambos os meus comentários, no segundo eu queria ter dito que seria interessante se você tivesse abordado o lado mais artístico dos textos de RPG.
Sobre o licenciamento, algumas formas de implementar a CC são incompatíveis com a GNU FDL, acho bom ser cuidadoso. =)
Ok, vamos lá:
Se eu contratar um pintor para pintar minha casa de, digamos, verde piscina, é pintura? Sim. É pintura.
Se eu pintar numa tela uma paisagem, é pintura? Sim, é pintura.
Mas uma não justifica a outra. Estão ligadas apenas ao termo chão da palavra, não sua expressão completa. Não é possível usar o exemplo de uma para defender uma posição na outra. Eu não posso querer pleitear que meu armário seja exposto num museu, junto com telas ou outras expressões, sob a alegação de que ele recebeu uma camada de tinta cor-de-madeira e 3 de verniz (três!) e que isto caracteriza uma pintura.
Também não irei encontrar uma (uma apenas. Uma folha, três ou quatro linhas. apenas a bula, valorizada nela mesma por ser literatura) bula de remédio numa biblioteca municipal, devidamente catalogada. Mas poderei encontrar uma obra de RPG.
Que qualquer coisa escrita possa ser, no termo chão, literatura, da mesma maneira que qualquer coisa que receba tinta, sob qualquer propósito, possa também ser, no termo chão, uma pintura, não irei discutir, já que não sou da área de letras. Mas discuto a iniciativa de reclamar o termo chão para definir um produto como literatura. Parece-me com evocar o termo chão da pintura para definir um armário como obra de pintura.
A não ser, claro, que você queira dizer: “o RPG é tão literatura quanto uma bula de remédio. É tão literatura quanto papel de bala”. Caso que, repito, seria menosprezar o caráter artistico do mesmo.
E, para avançar a discussão, RPG, para mim, NÃO é literatura. PODE CONTER literatura, mas ele em si não é. Ele em si é um jogo. Eu posso perfeitamente fazer RPG sem precisar de qualquer obra escrita, sem precisar de nada mais que eu mesmo e meus jogadores (e quando digo nada, digo nada mesmo. Sem livros, sem fichas, sem dados, sem nada). Continuará sendo RPG. Mas defendo o termo Literatura, gênero RPG, onde então um livro qualquer de RPG pode ser considerado, sim, literatura.
Como há o gênero terror, mas o terror em si não é literatura.
Porém, se você classificar qualquer arte de contar estórias, ainda que não sejam escritas e jamais registradas sob qualquer forma, como literatura, então terei que repensar o RPG como literatura, sim.
Exatamente, estão ligadas pelo termo, pela palavra, mas não pelo conceito. Mas independente de conceitos, que são coisas vindas da interpretação da cada um (portanto subjetivas) são por definição literatura e pintura. Não que tenham o mesmo valor artístico, em momento algum eu defendi isso, mas estão dentro do mesmo balaio, seguindo o teu exemplo.
Não, não estou menosprezando o caráter artístico do jogo. Não acho que RPG seja uma arte. É um jogo. A literatura que está impressa em seus manuais, é, pra mim, arte. Mas o ato de *jogar RPG* não caracteriza arte alguma, se não uma atividade de lazer e entretenimento.
Talvez a TNI possa ser encarada como arte, e eu não discordaria totalmente se fosse.
Leonel, novamente concordo contigo. Tanto que digo: “(…)Antes de mais nada, vale lembra que RPG é um jogo. Jogo, este, que tem sua origem em livros(…)”.
Narrar não é literatura, pelo menos eu não acho.
Confusão causada pelo uso de diferentes acepções de um mesmo termo. Claro que existe uma literatura de RPG, mas isso não significa que os livros de RPG possam ser considerados obras literárias.
E quando falamos de literatural oral? Não há nada escrito, mesmo assim usamos o termo literatura. E isso é errado? Claro que não, pois como disse no primeiro parágrafo estamos usando uma outra significação para o mesmo termo. Que não é o “termo chão”, como expresso pelo Leonel.
A definição de o que pode ou não ser considerado literatura é um assunto tão controverso quanto o que pode ou não ser considerado “clássico”, no meio da teoria literária. Assim como o é a discussão de o que pode ou não ser considerado “arte”. E a wikipedia não é uma referência relevante em nenhuma dessas discussões 🙂
Vale o toque dado no post sobre não levar o RPG tão a sério, afinal é basicamente um jogo. Sessões de RPG podem ser expressões de literatura oral? Podem, assim como pode haver valor artístico nos livros básicos, suplementos etc. Mas que valor isso teria se não fosse divertido?
‘bora rolar uns dados!
Essa discussão pode ser incluída naquela que começou no século passado de o que seria realmente arte, com o início do uso de instalações e outros tipos de arte não tão convencionais. E se arte é aquilo que proporciona uma experiência estética, rpg é arte sim, pois eu me divirto com RPG de maneira similar como eu me divirto com um filme, livro, etc.
Bom, em primeiro lugar seria bom definir a terminologia. Existe literatura, significando toda obra de ficção, e existe o gênero literário conhecido como Literatura, onde se encaixam as obras de ficção sobre a condição humana, que acabam nas listas de best-seller e que costumam cair no vestibular. De uma maneria geral Livros de gênero, fantasia, mistério, horror ou ficção científica nunca são chamados literatura pelos críticos (e são eles que definem os rótulos).
[Aos acadêmicos: estou sendo rápida e não pretendo citar críticos para embasar minha resposta. Vivam com isso.]
RPG nunca poderia ser considerado parte do gênero Literatura por simplesmente não ser uma obra finita e completa. RPG é um jogo.
RPG também não pode ser considerado literatura no sentido mais amplo. Literatura presume livros, um objeto finito e terminado. O livro de RPG é o princípio, o insumo através do qual é feito o jogo. Não é uma obra para ser lida como objeto final.
Um detalhe interessante é que texto científico, técnico ou educacional, embora completo, nunca é chamado de literatura, então o argumento sobre bulas de remédio é forçar muito o caso.
Dito tudo isto e sabendo que a essa altura quem tem ânimos a serem inflamados já pulou o último parágrafo e está escrevendo sua resposta^^, não importa se algo é ou não Literatura ou literatura.
Vocês tem consciência de que a maior parte dos livros escritos não é considerado Literatura pelos críticos? Isso não tem nada a ver com arte e muito a ver com dinheiro.
Deixem a discussão pra quem tem uma tese a escrever. Vamos jogar ^____^
ps: Eu trabalho com este tipo de coisa, peço desculpas a quem está pensando ‘quem é essa mina pra falar’.
“Deixem a discussão pra quem tem uma tese a escrever. Vamos jogar”
Tá vendo, Nume? Fecha as portas do blog, passa cadeado e abre um RPG by fórum.
Saoki, eu concordo com seu aparte, quanto ao caso da literatura.
Quanto à discussão, bom… Eu achei que uma das propostas do blog é manter a discussão de idéias… haja vista a possibilidade de responder aos artigos, coisa que estamos fazendo… você mesma veio e fez um aparte muito interessante, então… Quem é essa mina para falar?
“De uma maneria geral Livros de gênero, fantasia, mistério, horror ou ficção científica nunca são chamados literatura pelos críticos (e são eles que definem os rótulos).”
‘Peraê! Pode ser muitas vezes considerado como sub-literatura, literatura de nicho ou como algo à parte da alta literatura, mas ainda assim é literatura. Da mesma forma que Código da Vinci ou Sabrina (pra mim, ambos estão no mesmo nível) também o são. Sem falar que mesmo no nicho sci-fi/fantasia há obras que se preocupam com o aspecto estético da escrita — me vêm à cabeça certos “malabarismos linguísticos” do China Miéville e do Leonel Caldela.
O Jack Vance (sci-fi/fantasia bem pulp) pode não ser um Oscar Wilde, mas tampouco se enquadra no universo das listas de supermercado ou dos manuais de montagem de guarda-roupas.
Quando ao (jogar) RPG, eu não diria que é uma arte, mas tampouco é uma partida de Banco Imobiliário (desculpem, Monopoly…). É um jogo mais pessoal e com ótimo potencial pra raciocínio especulativo e discussões interessantes (como costuma ser a boa ficção científica — a ação se passa em um mundo totalmente diferente do nosso, e tal distanciamento dá margem para discutir assuntos que acabam sendo bastante relacionados com as coisas que vivemos). É um jogo, e deve ser divertido, mas a parte atraente é esse diferencial — se for *apenas* para matar coisas, subir de nível, aprender novos golpes, comprar itens mágicos e dar risada com os amigos, é preferível jogar um corujão de WoW numa lan-house… (Os gráficos, afinal, são bem mais atraentes que estatuetinhas em cima de papel quadriculado.)
Já o livro de RPG é um produto — que pode ou não ter valor artístico agregado. A diagramação e as ilustrações ajudam, e muito, a agregar valor artístico ao “manual técnico” de jogo — e nem precisa ser colorido em papel brilhosinho, o Blue Rose é P&B e, artisticamente, é lindo. Os textos descritivos podem adicionar um valor literário interessante também — o Castelo Falkenstein e o Reinos de Ferro são dois livros que volta e meia me vejo abrindo pura e simplesmente para ler a parte de ambientação (coisa que não faria com o D&D 4e, esse sim, bula de remédio).
A Saoki, pelo que entendi, trouxe nova definição de Literatura, o gênero conhecido como literatura, e portanto diferenciado doutros gêneros, como “policial” por não se encaixar em nenhum destes.
Até aí, aceito, já que por si não exclui os outros de serem literatura, em gênero próprio.
E pois é, Shido, Falkenstein sempre me vem à mente nestes momentos, também. Porém, repito: Eu não considero RPG como literatura, mas que pode haver literatura de RPG. Os suplementos de Falkenstein se encaixariam muito bem neste caso.
Shido, as chaves do Blog estão com você? Passa o cadeado!
Tudo bem que, segundo Alberto Manguel, autor do livro história da Leitura, ” A grandeza do texto consiste em nos dar a possibilidade de refletir e de interpretar”, mas eu nunca disse aqui, que RPG era, tão somente, literatura para mim.
“Jogos de RPG possuem vários tipos de literatura em sua composição, desde narrativas fantásticas até manuais técnicos, então se incorre ao erro no momento que se desassocia o jogo da Literatura, pois ele tem sua oferta através de livros.”
Antes de mais nada é um jogo, como eu defendo no início do artigo. Mas que, se é ofertado através de livros, possui literatura.
Saoki, sem problemas, seu comentário foi bem interessante. De fato não existe um norte entre críticos e acadêmicos sobre o que é literatura. Por isso minha visão simplista continua. Eu posso morrer alegando que, para mim, literatura é todo o tipo de coisa escrita. Simplório e ingênuo? Provávelmente, mas pra mim é prático.
Mas como eu disse pro Leonel no início do debate: também estou aberto a discussões. Sempre.
Prático a ponto de ser ofensivo para os profissionais que lidam com literatura, Tiago.
A este pensamento eu agregaria “bronco” aos adjetivos “simplório e ingênuo”.
Em tempo: Como acredito que “bronco” não seja uma definição que lhe classifique, não tome isto como ofensa pessoal, por favor, mas sim uma crítica à sua posição. Critica esta que mantenho desde minha primeira postagem.
Ah, sim:
Eis um outro ponto de discordância. Você coloca sua posição de que o RPG não é tão somente literatura (para você).
Veja bem: Eu defendo que o RPG NÃO é literatura. De que a literatura PODE OCORRER.
O RPG é um jogo e a forma como ele ocorre pode variar — e de fato varia.
Ao dizer que o RPG tem sua oferta através dos livros você estabelece apenas a função comercial do mesmo. Função esta que, também, pode variar, depende da imaginação.
Mas o RPG independe de textos, sejam técnicos ou artísticos. Depende, sim, da interpretação dos papéis estipulados pelos jogadores (sejam personagens ou narradores), e isto está esclarecido no próprio nome deste jogo: jogo de interpretação de papéis.
Eu defendo a existência de um gênero (ou sub-gênero) de literatura: RPG. Mas isto não torna o RPG literatura.
Leonel, não levo como ofensa não. Ainda mais vindo de você que sempre manteve a educação com todo mundo, até onde eu sei.
Eu lido com literatura diáriamente, sou contista, cronista e adepto do Jornalismo Literário, e não acho ofensivo. É aquela coisa: se ofende quem quer. Se eu tivesse postado qualquer coisa como verdade absoluta (coisa que não fiz), aí sim, acho que existiria margem para as pessoas ficarem ofendidas.
A intenção não é ser bronco, em momento algum, só acho que a literatura é muito mais abrangente do que alguns definem. Se isso é bom ou ruim, certo ou errado, vai de cada um. Pra mim não faz qualquer diferença. Eu vou continuar escrevendo o que eu sempre escrevi, independente de um critico rotular, ou não, o que eu escrevo de literatura, lixo, ou o que for.
Eu concordo com você Leonel, discordando ao mesmo tempo.
Eu acho que RPG é um jogo. Ponto. Porém, ele não deixa de ser literatura por ser um jogo, ou deixa? Se ele tem elementos literários que corroboram no desenvolvimento da partida, ele é, pra mim, também literatura. Claro, pode ser um gênero ou sub-gênero como tu apontastes, porém, continua sendo literatura. Claro que antes de qualquer coisa é um jogo, mas a sua literatura existe, na minha opinião.
Na verdade eu acho até que partilho da mesma opinião que tu sobre isso, a única diferença é a ótica. Eu não acho errado dizer que RPG, depois de ser jogo, é literatura.
E como o jogo tem a sua literatura, não acho, por conseguinte, errado afirmar que RPG é, também, literatura.
Eu não vou eloucubrar muito e simplesmente dizer o seguinte: a minha tese de conclusão de curso de Letras, este ano, deve ser sobre a idéia de que os RPGs podem se encaixar na teoria literária como uma espécie de meta-literatura.
O raciocínio é simples: tirando os RPGs mais simplistas, você não pode considerar os livros de RPG como simples textos técnicos porque existe uma preocupação com a criação de um mundo fictício onde o leitor vai “entrar” – e esta é uma das definições básicas de literatura (no sentido “artístico” do termo, e não apenas de expressão pela palavra escrita).
Da mesma forma, a imersão do leitor é interativa, algo que não se tem na literatura convencional: seja Dostoiévski ou J. K. Rowling, os cenários são construídos junto com tramas que o leitor experimenta passivamente, enquanto nos RPGs os textos são construídos para que o leitor entre naquele mundo de forma ativa – construindo suas próprias tramas e levando-as aonde quiser.
Como vou me focar em especial nos RPGs que valorizam os meandros da construção de histórias (até mesmo “ensinando” conceitos básicos como o papel de um antagonista, divisão em cenas, recursos narrativos etc.), a conclusão natural é que se o RPG não for literatura no sentido convencional do termo, no mínimo ele é uma espécie de meta-literatura.
Fábio, bem interessante sua proposta, quando concluir se importaria de me enviar a tese?
Tiago, discordo completamente de quando tu afirmas que qualquer coisa escrita é literatura. Existem várias acepções para o termo “literatura” e uma delas é esta que tu citaste. Literatura como tu descreveste se enquadra como uma série de coisas escrita sobre determinado assunto ou área de estudo.
A literatura sob o ângulo da arte, é bem diferente. Ela se propõe a uma discussão estética, ela tenta fazer com que um emaranhado de palavras funcione de uma maneira diferente da usual, criando um efeito estético, criando algo mais complexo com a forma como a língua se estrutura.
Bula de rémedio não tem essa função. Bula de rémedio se pretende informativa, direta, concisa. Literatura, do ponto de vista estético, não se pretende informativa (e muito menos deve ser direta e concisa) e sim, complexificadora da maneira como as palavras se mostram, para garantir assim, um efeito estético que faça o leitor refletir sobre como é possível que um texto de jornal, que usa as mesmas palavras, seja completamente desiteressante perto do Senhor dos Anéis.
RPG não é Literatura, é um jogo com características literárias. E isso é bem diferente. Você pode ter, por exemplo, um livro de história com uma carga lírica muito forte. Mas ele não se torna literatura por isso, e sim, como disse o Fábio, ele se assume como uma meta-literatura, um determinado conteúdo textual que faz uma alusão direta ou indireta à literatura, falando dela, por ela.
Como o Leonel disse, RPG pode se tornar literatura, mas aí deixa de ser RPG. Tormenta é RPG, Inimigo do mundo é literatura fantástica/ ficcção de fantasia ou o termo que você quiser usar. Mas não mais RPG.
RPG tem como premissa inserir o leitor num contexto que o climatize para um determinado jogo. Posso criar um jogo em que os personagens são jornalistas e aí trago para eles um jornal para que possam entender o clima da coisa.
Isto não é literatura.
Bem você pode dizer que existem jogos com uma forte carga literária, como Vampiro e Mago. Mas eles ainda assim precisam ser explicativos e informativos, precisam apresentar as suas regras. O livro de RPG quer que o jogador se situe para que possa jogar um jogo. E isto não é literatura. Literatura, dentro de uma acepção artística, não é um jogo, e sim uma proposta estética.
Ps: Fábio, também pretendo trabalhar com RPG e Teoria Literária no meu TCC. Poderíamos trocar alguma bibliografia.
” Eu posso perfeitamente fazer RPG sem precisar de qualquer obra escrita, sem precisar de nada mais que eu mesmo e meus jogadores (e quando digo nada, digo nada mesmo. Sem livros, sem fichas, sem dados, sem nada). Continuará sendo RPG. Mas defendo o termo Literatura, gênero RPG, onde então um livro qualquer de RPG pode ser considerado, sim, literatura.” Comentário 8 do Leonel Domingos
Tinha um amigo que jogava RPG na escola sem fichas, sem dados, sem nada. Ele ia narrando as situações e quando aparecia algo que tivesse de ser resolvido com dados, ele escolhia um número entre 10 ou cinco algarismos (variando assim a dificuldade) e perguntava aos jogadores em que número ele estava pensando. Se o jogador em questão acertasse, passava no teste e concluia a tarefa.