Putz! Vou precisar ser mestre.
Se você é jogador e tem receio em mestrar, não ache que está só!
Eu não gosto de ser mestre.
Eu não gosto e eu não quero.
Mas eu preciso.
Meu grupo é composto principalmente por iniciantes, e por dois caras que se recusam absolutamente a mestrar. Aí, sobra para mim.
É aquela coisa, “alguém precisa fazer o trabalho sujo”. E hoje, esse alguém sou eu.
No início, eu tinha graves problemas ao mestrar os jogos. Hoje, com a prática, consegui superar a maior parte deles.
No meu caso, eu não acreditava que era criativo o suficiente para levar uma aventura, por isso evitava a experiência.
Como muita gente, eu tinha medo de fazer errado.
Mas você aprende.
Aliás, aprende errando. Com as suas experiências e observando as dos outros.
E se eu não tivesse errado tanto, hoje estaria sem grupo de RPG.
Minhas primeiras experiências como mestre foram horríveis.
Eu escrevia uma aventura, mais ou menos no estilo de um livro jogo, e ia narrando.
.“Ok… Então vocês chegam a uma encruzilhada. Para onde vocês vão? Direita ou esquerda?”
E os jogadores, sacanas, diziam:
“Vou jogar uma moeda!”, “Vou ver qual a direção do vento”, ou então “Vou pelo meio do mato”.
Isso me quebrava. Eu precisava que eles fizessem uma escolha, e eles se recusavam a fazer. Eu me sentia mal porque sabia que eles estavam me sacaneando, e não queria que a aventura fosse para esse rumo.
Outra coisa, que virou piada interna, era quando eu narrava a descrição da viagem entre um ponto e outro na aventura:
“Vocês andam, andam, andam, andam…. e andam mais, e mais, e mais… E continuam andando… até que (…)”.
“Vamos comprar uma pizza?
-UHHU! Demorou! Mas a gente está sem carro…
Não tem problema! A gente anda, anda, anda e anda…”
Eu precisava pensar nos encontros seguintes, e ficava repetindo “(…)andam, e andam (…)” para ver se aparecia alguma coisa na cabeça! Hahahahaha!
É óbvio que eu ficava tão concentrado em pensar em alguma coisa, que acabava não pensando em nada. Era Ridículo! (reparou o “R” maiúsculo?)
Ao final das aventuras, eu estava exausto. Fisicamente e mentalmente. Freqüentemente com dores de cabeça.
Ser mestre era um stress.
Mas aí, observando meus próprios erros (e eu perguntava ao grupo o que eu podia melhorar, que parte eles tinham gostado mais/menos), eu resolvi fazer uma aventura PHODA!
Essa foi a melhor aventura que já narrei, e foi um divisor de águas na minha carreira.
Minha preparação foi assim:
1 – Liguei o foda-se;
Não se preocupe tanto com o que os players vão achar. Preocupe-se com a sua diversão. Se você não estiver se divertindo, não conseguirá animar ninguém.
Apenas lembre que você não joga CONTRA os jogadores, joga COM eles.
2 – Fiz um rascunho de um parágrafo sobre o que estava acontecendo;
Só para ter na cabeça mesmo. Dando liberdade para os jogadores fazerem o que desejarem.
É claro que o desafio foi dosado para que os PC´s saíssem vitoriosos, mas não fiquei me preocupando com as conseqüências das ações dos jogadores.
“Mas e se eles resolverem tudo rápido demais?”
Comece outra aventura.
“Mas e se eles não salvarem o mundo?”
Então, o mundo acaba. Aliás, você lembra que está com o foda-se ligado?
3 – Escrevi meia dúzia de eventos que aconteceriam durante a aventura;
Só para dar uma cor e passar aos jogadores algumas dicas sobre o que estava acontecendo e preencher um pouco o tempo.
4 – Fiz a ficha do inimigo principal, que seria enfrentado no final da aventura;
Era o principal, né? Esse precisava fazer.
5 – Sentei a porrada nos PC´s.
Era uma aventura de ação, então… Adrenalina!
Se fosse um aventura de roleplay, então… Representação!
Se fosse comédia… Piadas!
Assumi o estilo de jogo e coloquei hormônio para cavalo nele! Nada de ficar no meio termo.
O resultado foi um sucesso.
Nunca mais parei de repetir essa fórmula.
Se você reparar, a maior parte das coisas descritas todo mundo faz.
A mais importante está lá no início: Relaxar, e ver aonde vai dar.
Acho que posso dizer que é uma forma meio budista de virar mestre.
Sem anseios. Sem preocupações. Apenas a aventura.
cara, muito bom isso ae!
comigo aconteceu bem parecido: eu queria jogar e não tinha grupo, dae montei um grupo e comecei a mestrar.
Uma coisa que me ajudou muito era que a galera que formou o meu primeiro grupo mestrando, eram amigos, primos e irmão de longa data, e passamos boa parte de nossa vida andando, andando, andando, andando…
Dicas 100% aprovadas e já vividas por mim também. Um a dica de matéria/meme o que quiser é um post falando das suas cagasdas no começo da prática como mestre. Alias esse do andando, andando, andando as vezes sem querer me pego até hoje fazendo, fazer o que…
Eu escrevendo comentários no meu trabalho sou um desastre… Só reparo meus erros depois que posto, muito triste isso…
Muito legal… Passa muito do que alguns mestres passaram.
No meu caso tambem foi bem complicado, por que quando me tornei mestre eu tinha jogado apenas uma sessão de AD&D e tinha q mestrar GURPS. Isso por que onde moro ninguem sabia o que era rpg até 2000, dai sobrou pra mim divulgar o jogo (Pra variar: Como Mestre)…
Mas confesso que gostei muito e até hoje prefiro mais atuar como mestre do que como jogador, apesar de naum ter aprendido ainda a mestrar…
Muito bom o post. Só uma pergunta pra finalizar: como vc resolveu o problema da narração das viagens?
Na verdade, hoje eu não vejo mais as viagens como um problema.
Na campanha que tenho mestrado, a própria viagem se tornou a aventura… Ao invés de me preocupar com o objetivo da estória (chegar a um lugar Y e fazer X), descrevo as cidades, e eventos que normalmente podem causar algum problema aos PC´s e, com isso, trato da resolução desses problemas.
Minha filosofia hoje é que, se você deixar os personagens “sozinhos” durante um tempo, eles mesmos criarão seus próprios problemas, por meio da interpretação.
Se não tiver nada para acontecer na viagem, então eu pulo direto para o ponto principal (o tal lugar Y). Apenas fazendo uma descrição rápida sobre a viagem.
Desculpe a demora para te responder, Phil. O final de semana sempre é ruim para o blog.
Você deu uma boa idéia! Mas antes, até para juntar mais gente para escrever, vou sugerir o meme “os maiores erros dos jogadores”!
Valeu!
Rapaiz, e não é que é mesmo? Nunca tinha reparado nesses pontos. O engraçado é que minhas aventuras só ficavam boas quando eu olhava pros jogadores e falava “Ah, foda-se com o roteiro, eu quero é jogar” hehehe
Adorei, tou te adicionando nos meus favoritos !!
Abração !!
Olá Alexandre! 🙂
Simplesmente ADOREI o artigo! Simples, direto e objetivo! Até mandei por e-mail para alguns dos mestres que eu conheço pra eles lerem! Vinicius, Eliza, Vasco, Pedro, Suelen, André e Tales: comentem aqui pra não me deixar mentir.
Aprovo TODAS as regras. Uso TODAS, numa estrutura MUITO parecida (senão idêntica). Achei fantástico vc conseguir traduzir isso num passo-a-passo! Muito curioso isso!
Aliás, o mais curioso é que, ao contrário de vc, eu SEMPRE quis ser o Mestre! Talvez seja pq eu tive a sorte de ter um cara como você que assumiu a tarefa de montar um grupo pra divulgar o jogo.
Pra vc ter uma idéia, não consigo nem me lembrar direito qual foi a primeira vez que eu mestrei um jogo (mas lembro que o sistema era o das “Aventuras Fantásticas” da Marques Saraiva, pq eu ainda não tinha grana pra bancar o First Quest da Grow). 😀
Parabéns pelo artigo!