Airgaid, um conto de Tormenta – Parte 2
Continuando Airgaid, segue a parte 2 do conto, caso você não tenha lido as partes anteriores, segue o link:
Relembrando – PALAVRAS DO AUTOR DE AIRGAID
Bem pessoal, meu nome é Jorge Botelho e esse foi o conto que eu escrevi para o edital de Crônicas da Tormenta Volume 3.
Eu não cheguei a ficar entre os finalistas, mas como fiquei menção honrosa, ele poderia ser postado na Dragão Brasil. Só que cometi um pequeno erro, eu mudava um pouco o cânone, e como uma das regras era não mudar o cânone, então era pra ele ser desclassificado. Por isso ele não pode sair na Dragão Brasil (seria injusto com quem seguiu as regras), mas como eu gostei do material, pedi para uns amigos postarem aqui no RPGista, espero que vocês gostem.
Airgaid – Parte 2
Ele avançou devagar, um passo de cada vez, com a espada em punho e protegendo a frente com o escudo. Ele estava ansioso, um misto de querer encontrar logo Dandara com torcer para que ela não estivesse ali. Ele não tinha raiva dela, sabia quem ela era, na verdade ele só a amava e sentia saudades. Ele só sentia raiva era dos puristas, se eles não tivessem avançado para o norte, não tivessem invadido Namalkah, talvez hoje eles ainda estivessem juntos.
***
Eles estavam casados a cerca de um ano, haviam decidido a largar a vida de aventureiros para trás e viver uma vida tranqüila. Com certeza não era o que nem Kallyadranoch e nem Khalmyr esperavam deles, mas é o que tinham a oferecer e estavam felizes com isso. Era raro aventureiros se aposentarem cedo e “viverem felizes para sempre”, mas é o que haviam acontecido com eles, ao menos era o que eles acreditavam. Com o passar dos meses eles foram sentindo que estava faltando algo, que apesar de felizes, havia a sensação de que estavam incompletos. Rhosgar se convenceu de que era um filho, ele sempre quis ser pai, e que era isso que faltava para ele, mas Dandara sentia que não era isso. Apesar disto, se deixou convencer de que realmente uma criança os deixaria felizes completamente.
Até que os puristas chegaram, avançando com um pequeno grupo. O vilarejo vivia em tranquilidade, mas já haviam tido boatos de que uma guerra estava surgindo no horizonte. Enquanto nada mudava, os aldeões encaravam a ameaça apenas como sendo rumores de aventureiros. Porém, quando uma tropa de dez soldados fortemente armados, vestidos de armaduras pesadas com a bandeira de Yuden chegou, eles sabiam que a guerra era real. Tinham muitos não humanos no vilarejo, sua melhor amiga, Juliana, era uma hynne e estava em sérios apuros.
Quando eles escutaram os gritos e pedidos de socorro, Rhosgar e Dandara se entreolharam, e sem dizer uma só palavra, se arrumaram e pegaram os seus equipamentos que estavam guardados. Perceberam que as suas vidas de aventuras não haviam sido deixadas paras trás.
Devido à urgência da situação, eles saíram de casa sem vestir suas armaduras, apenas com suas armas em punho. Rhosgar correu na frente, com sua espada e seu escudo que começou a brilhar. Foi bom saber que mesmo depois de anos, ele não havia abandonado Khalmyr e nem o Deus da Justiça havia se esquecido dele.
Ele correu, investiu, sentiu o vento no seu rosto e sorriu. Sorriu, apesar de alguns inocentes estarem feridos – seriam os primeiros a serem ajudados – mas sorriu porque se sentia completo novamente, sorriu porque ser paladino de Khalmyr era parte dele, e apesar dele ter sido feliz, ele percebeu que ser paladino de Khalmyr era o que o completava.
De repente ele ouviu um barulho, um “flop”, alto e poderoso. Ele não perdeu tempo olhando para trás, mas não foi necessário. Ele nunca tinha visto um dragão, sempre escutara que eram seres majestosos, imponentes, cheios de si, e apesar de ainda não ter visto um, ele pôde confirmar que o que diziam era verdade.
Dandara passou por ele voando, um par de asas com escamas brancas haviam surgido nas suas costas, suas mãos seguravam a lança com firmeza. Ele sabia que Dandara era forte, poderosa, mas até então ele não sabia o quanto isso era verdade. Sozinha ela investiu sobre os puristas, e antes que eles fizessem algo, ela cuspiu gelo e um inferno congelado tomou conta dos invasores. Provavelmente era um grupo de batedores, eles podiam até esperar que tivesse algum aventureiro no pequeno vilarejo, mas não com o poder que Dandara tinha, na verdade, nem mesmo Rhosgar esperava ver tamanha demonstração de poder.
Mas não foi o poder de Dandara que chamou a atenção de Rhosgar, nem as asas ou as baforadas que ela dava, mas algo que ele não tinha visto até então nela. O sorriso nos lábios, o brilhos dos olhos, ela se sentir completa e quando ela olhou de volta pra ele, ele sabia que ela viu a mesma coisa.
Percebendo que ela conseguiria cuidar dos puristas invasores, Rhosgar foi então cuidar dos feridos, pois isso ele podia fazer bem. Enquanto curava os machucados, ele observava ela lutar. Os movimentos eram graciosos, belos e poderosos.
Em um momento da batalha, Dandara estava cercada por cinco puristas, neste caso por opção dela. Os outros cinco inimigos já estavam derrotados no chão depois do ataque bem sucedido efetuado por ela. O plano dela era chamar a atenção de todos para que os aldeões tivessem a oportunidade de fugir. Segurando a lança com as duas mãos, girando rapidamente formando um círculo na sua frente, ela rebateu os ataques de dois puristas que estavam na sua frente, sem dificuldade nenhuma. Só que os dois ataques eram um engodo, uma distração, um dos puristas atacou Dandara por trás e antes que Rhosgar pudesse gritar, ele viu a esposa girar a lança e fincar por baixo seu braço. A asa direita escondeu a arma empunhada de tal modo que o purista que a atacou pelas costas não viu a lança atravessar o seu tórax, fincar no coração e arrancá-lo do corpo, pulsando ainda na ponta da lança. Agora eram quatro puristas.
Sem esforço nenhum, Dandara puxou a lança fazendo com que o corpo do adversário morto caísse no chão e em seguida avançou sobre os dois puristas que segundos antes haviam lhe atacado. Por um momento Rhosgar teve pena, porque eles não tiveram chance nenhuma. Agora restavam dois puristas.
Um deles foi tomado pela covardia, virou de costas de tentou fugir, fugir do alcance de Dandara, mas ela não era piedosa, arremessou a lança, mirando na cabeça do fujão. A arma afiada atravessou o elmo e a cabeça e esta se prendeu em um poste, mantendo o corpo agonizante do purista balançando.
Sobrava apenas um purista, que achou que teria mais chance quando viu a brava guerreira desarmada, porém, mesmo de longe, Rhosgar viu que o purista ficou surpreso quando garras começaram a nascer das mãos de Dandara, e antes que ele tentasse algo, ela cortou a armadura do purista como se fosse feito de papiro, derrubou-o no chão e soprou um cone de gelo que terminou de matá-lo. Dandara sozinha havia liquidado dez puristas.
Quando ela foi falar com Rhosgar, ele já havia curado todos os aldeões. O vilarejo os aclamava como bravos heróis que eram. Sem a intenção de atrapalhar as comemorações, Juliana lembrou que aqueles homens eram um grupo de batedores, que haveria mais. Abandonar o vilarejo era inevitável.
Dandara e Rhosgar foram para casa pegar os pertences necessários para garantir sua sobrevivência fora da vila, e assim que fecharam a porta, se entreolharam, se viram completos, felizes. O beijo forte e apaixonante foi só começo da noite mais longa que já passaram juntos.
***
Aquela noite foi a última vez que ele a viu, na manhã seguinte ela partira antes dele acordar, mas não antes dela matar Juliana em um sacrifício para Kallyadranoch. Ele tinha acreditado nela, no amor dela, e sua melhor amiga pagou o preço. Agora ele teria que não buscar vingança, mas trazer justiça, o que era muito mais difícil.
***
Fim da parte 2
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