Zebedias, o monstrólogo – parte 2
Eu tava campando no estreito das caverna do Umbú, ali onde os deus desse mundo lava roupa, quando eu vi a dita-cuja. Pai-de-nós, ela tava dentro dos mato, junta do rio.
Quando um magrelim da vila feito tu me pergunta sobre demonho, eu desconverso. Sou sujeito-home, você sabe. É que tem coisa que dá um medim, um pipoco na tampa de trás. Sendo ou não sendo, eu sei que eles vive no fundo de fogo bravo debaixo da gente. E que vem pra arengar, pra queimar bezerro e pra desamarrar alma de gente ruim.
Mas essa demonha… Essas vem pra pegar o juizo de gente boa, dobrar e enfiar no molhadim do cosmo.
O Kadrad Pau de Fogo chama elas de “Sucuba”. “Sucubosa”. Coisa assim. E eu vi uma, nesse dia que eu digo. A bicha era um quarto de milha de parte de sentar. Ô, senhorzim dos sem aviso. Eu não posso deixa de dizer que era eu no escondido, aprendendo, e ela no mostrado, tomando banho no riacho.
Sim, ela tinha chifre preto, rabo (de cabo, feito leão, só que lagartoso) e asa de morcego, grandona. Afora isso era mulher. Toda curva, bronzeadinha, de cabelão ruivado, de onda e caracol. A pele lisinha, dava pra imaginar, e sentir até um chero de venha-a-nós. Rapaz, era uma coisa cheia de lindeza, um par de coco que eu juro não deve ser coisa que saiu à toa da casa do diabo do inferno. E eu lá, olhando e vivendo eu, vivendo eu.
Essas violoneira tem uns puder de arromba. Diz meu pai que o pai dele disse que elas beija e mata, chupa as alma ou que, quando quer brincar de vera, joga um canto que nubleia a pessoa e faz ela errar, bem fundo, perdendo peso no que num deve. E que avua, some aqui e aparece lá; além de rasgar coro com unha, como todo monstro.
E eu no canto, naquela hora, pensando pouco. A criatura então deu uma oilhada pra mim, lá no arbusto. E soltou risinho. Aí eu num lembro mais é nada. Acordei seis dias no depois, na vila de Malacam, tonto e seco, não sei porque. E de lá pra cá eu penso mesmo é em fazer tudo no direito nessa vida, até ajudar as carniça de vocês que me pergunta as coisa besta.
Porque num sei, no pronto, qual lugar que me espera depois do foi-se dessa vida. Porque ou eu pequei feito elfo e anão ou eu vou pra algum céu da puta que pariu os brocha!
– Zebedias Riscadaga, micropecuarista.
*A arte acima é de autoria de Tony DiTerlizzi. Todos os direitos reservados ao autor.
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