Resenha – Journey
Journey começa com um peregrino em um manto vermelho no meio de um deserto. Não há um longo vídeo de apresentação em CG, nem qualquer história prévia: apenas você cercado de dunas por todos os lados. O único ponto de referência que você possui é uma montanha no horizonte com uma luz no seu topo; por falta de opção melhor, portanto, você decide ir em direção a ela. E, assim, parte em uma das jornadas mais únicas e envolventes dos videogames nos últimos tempos.
Tudo no jogo é mínimo. Não há tempo perdido com longas cenas entre as fases, nem dúzias de tutoriais ou menus onde escolher habilidades e poderes. Sequer há uma barra de energia ou qualquer coisa semelhante, muito embora a sua echarpe, cujo tamanho vai aumentando conforme você avança de nível, possa servir como um substituto equivalente. O seu desafio em cada fase é menos o de vencer hordas intermináveis de inimigos e chefes apelões do que apenas explorar as regiões tentando descobrir o que fazer para chegar à próxima área. Nisso ele lembra bastante o clássico Ico do Playstation 2, e a sua continuação, Shadow of the Colossus, também me veio à mente várias vezes, graças aos cenários desolados e solitários e a ênfase em mostrar antes do que contar – para um jogo sem uma linha de diálogo sequer, é realmente impressionante a expressividade que ele possui, através tanto de histórias contadas por meio de murais estilizados, como se fossem feitos em alto-relevo, como pela forma magnífica como a música se mescla ao ambiente, dando o tom e a tensão de cada momento.
A isso se soma ainda uma direção de arte muito interessante, com personagens que lembram algo dos espíritos de A Viagem de Chihiro e outros clássicos do Estúdio Ghibli. Tudo colabora para criar uma aura única de mistério e fantasia, que, antes do que entregar de cara todo o seu significado, deixa a sua mente livre para interpretar os símbolos no caminho de acordo com as suas próprias idéias e experiências. A história toda é contada em não mais do que três horas, o suficiente para o jogo ser terminado em uma única sentada; mas isso até colabora para que ele seja uma experiência tão única, e você possivelmente irá querer voltar a jogá-lo mais de uma vez, seja apenas para vivê-lo novamente, seja para explorar melhor as áreas e adquirir todos os troféus disponíveis. Acho que desde Shadow of the Colossus mesmo que eu não tinha contato com um jogo tão envolvente na sua simplicidade.
Um outro elemento no qual o jogo também é bastante único é a sua abordagem multiplayer. Ele pode ser jogado on-line, e a cada vez que você entra ele irá selecionar um outro jogador que também esteja conectado e na mesma área que você para ser o seu companheiro. Não há qualquer indicação na tela do seu nome ou local de origem, muito menos uma forma de conversar com ele; seus únicos “diálogos” são feitos através de um pequeno sinal monotônico que você pode usar para chamar a sua atenção. Há um pequeno benefício por jogar com alguém desta forma, permitindo que você recupere mais rapidamente a energia gasta da sua echarpe, mas na prática mesmo isso não é realmente necessário para terminar o jogo; mesmo assim, jogar com outra pessoa é totalmente diferente de jogar sozinho: a sensação passada é mesmo a de que vocês são companheiros de jornada, mais do que meramente ferramentas para vencer os desafios, e assim você se sente menos sozinho em meio às paisagens desérticas à sua volta.
Journey, enfim, é uma experiência realmente única, que eu recomendo para qualquer um que tenha um Playstation 3. Droga, já vi gente dizendo por aí que valeria a pena comprar um console apenas para jogá-lo! (Mas não, eu não sou tão exagerado assim; sei como um videogame é caro hoje em dia…) Você não irá encontrá-lo à venda em lojas de eletrônicos, no entanto; ele é vendido exclusivamente on-line, através da PlayStation Store, por cerca de 15 dólares. Uma bagatela, se me perguntarem, para um jogo capaz de despertar sensações tão fortes.
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