A Invenção de Hugo Cabret
Desde que começou essa última onda de filmes em 3D (sim, porque a primeira já tem pelo menos uns sessenta anos…), eu tenho falhado miseravelmente em me impressionar com qualquer um deles. Não sei se é uma deficiência física mesmo – meus olhos simplesmente não conseguirem se levar pela ilusão da terceira dimensão, ou talvez pelos óculos em geral serem pequenos para o tamanho da minha cabeça -, ou se tem a ver com o fato de a maioria dos filmes lançados assim realmente não serem tão impressionantes mesmo – geralmente eles são gravados com tecnologias 2D, e convertidos ao outro formato por meios digitais. Até mesmo Avatar, da qual tanta gente falou tanto a respeito e contou com toda uma inovação tecnológica na sua produção, falhou em deixar alguma marca digna de nota, à parte por uma ou duas cenas especialmente bonitas.
Mas então chegamos a A Invenção de Hugo Cabret, filme de Martin Scorcese indicado a onze Oscars e que utiliza a mesma tecnologia de gravação do supracitado épico de ficção científica. Esse é o primeiro filme que eu posso realmente dizer: assistam em 3D. Faz toda a diferença. Desde as visões panorâmicas da Paris de 1930, até o uso de objetos diversos em planos diferentes, eis um filme que realmente tira proveito do recurso para intensificar o maravilhamento, e de fato o faz ajudar a contar a história. Trata-se de um verdadeiro espetáculo visual, repleto de cores e movimento, do jeito que tantos filmes tentaram fazer recentemente mas só ele, na minha sincera opinião, realmente conseguiu.
Claro, o filme também vai bem além de todo esse esplendor visual. Ele conta a história de Hugo Cabret, um garoto de doze anos que mora sozinho em uma estação de trem de Paris e é responsável por dar corda nos relógios locais, garantindo que eles continuem funcionando. Em segredo, no entanto, ele também rouba peças de um vendedor de brinquedos local para completar um certo projeto secreto, sem saber que o próprio vendedor também possui um certo segredo sobre a sua identidade.
A premissa pode parecer simples e ingênua, mas, se enquanto roteiro ela não quer realmente ser muito mais do que isso, enquanto produção cinematográfica ela vai muito além nas suas pretensões. É um filme de aventura leve para um público infanto-juvenil, baseado em um livro ilustrado, com um tom de magia e sense of wonder que é mais importante do que os conflitos, e se dá ao luxo mesmo de não ter um vilão propriamente dito; mas isso não o impede também de ser envolvente e encantador, e desenvolver ao longo do roteiro uma profundidade espantosa (sem trocadilhos). Enquanto uma criança vai se maravilhar com a aventura dickensiana, os personagens cativantes e os momentos de humor, o público mais adulto se encantará com uma homenagem emocionante ao cinema e a um dos seus principais pioneiros. Assim, consegue fazer aquilo que tantos outros filmes do gênero tentam e prometem, mas raramente conseguem – ser uma opção de cinema envolvente e cativante de fato para toda a família, dos mais jovens aos mais velhos.
Toda a montagem e direção do filme é fenomenal. A escolha dos planos e enquadramentos, as sequências de câmeras seguindo os personagens por entre o cenário, a direção de fotografia e figurino criando um ambiente de nostalgia e maravilhamento… A trilha sonora é fantástica, seguindo com perfeição o tom de cada cena, e colaborando com o clima de fábula de época (sem contar na participação especial de um certo violonista cigano do qual sou muito fã). Se for para apontar um defeito, eu diria que alguns recursos narrativos, especialmente o uso de flashbacks, parecem um pouco desarmônicos com o desenvolvimento das cenas, mesmo que tenham uma função importante dentro do roteiro. Alguns personagens também parecem meio soltos, em especial o livreiro interpretado por Christopher Lee, e fica realmente a impressão de que talvez pudessem ter sido melhor aproveitados (incluindo pelo menos uma entrelinha sugerida mas nunca realmente explorada). Mas nada que realmente invalide o filme, ou o torne menos do que maravilhoso.
Enfim, não posso deixar de recomendar o filme para todos os que amam cinema e a cinematografia. Assistam. No cinema. Em 3D. É o tipo de produção que mexe com a imaginação do início ao fim, e o faz sair da sala com aquele sorriso de orelha a orelha e a sensação de ter visto algo realmente único e mágico.
Eu comprei uma TV 3D uns meses atrás, são poucos filmes que são feitos pensando no 3D mesmo. O que mais impressionou, no geral, acho que foi How To Train Your Dragon, mas confesso que assisti poucos filmes até agora. Os documentários da Imax que tem um 3D realmente impressionante, basta ver os trechos deles que estão presentes nos vídeos de demonstração do 3D da LG. Mas valeu a dica, vou baixar esse pra assistir em 3D com a galera aqui em casa.
Normalmente animações ficam bem melhores em 3D do que filmes mesmo. Tanto que o filme 3D que mais me impressionou foi o do Tintin…
Eu tenho o livro – na verdade, tinha até empresta-lo á um primo. Enfim, eu estou com boas expectativas quanto á esse filme, e essa resenha somou uns pontos.