Resenha: Suikoden Tierkreis
A realidade é uma miríade de mundos infinitos. São muitos caminhos a seguir. As estrelas são as luzes que brilham sobre os caminhos de todos os mundos; as 108 Estrelas do Destino representam os múltiplos futuros possíveis em todos esses caminhos. Um Único Caminho representa o Dia Perpétuo – o fim do futuro. Suikoden Tierkreis é um excepcional JRPG em pleno 2009 que ninguém conhece ou para o qual ninguém deu a mínima.
Trata-se de um spin-off da prestigiada série Suikoden, a qual se iniciou em Playstation 1 em 1996, quando o mundo era mais simples e os RPGs ainda eram legais de se jogar. Lançado para Nintendo DS, Suikoden Tierkreis não é considerado o melhor Suikoden – são cinco os jogos da série principal, para PS1 e PS2 – e, por se tratar de um spin-off, seu enredo não tem nenhuma ligação com os Suikodens anteriores; é um “mundo alternativo”, ainda que esteja no mesmo “universo” dos jogos anteriores. Mas é um dos maiores e mais honestos JRPGs que já joguei nessa era de gráficos resplandescentes, personagens ocos e narrativas imbecis. Foram horas e horas e dias e mais dias de sincera diversão e comoção em um jogo que tem muito a dizer.
Assim como os jogos Suikoden da série principal, são 108 personagens jogáveis. Isso mesmo, cento e oito!
A estória começa com um flashback, no qual um grupo de heróis, identificados como os únicos sobreviventes dentre as 108 estrelas, preparam-se para a investida final contra o chefão final do jogo, o invencível One King… e aparentemente perdem. Somos então transportados para Citro Village – pra variar, a pacata vila no meio do nada onde reside nosso herói. E o jogo já começa a encantar logo com o protagonista, cujo nome default é Sieg. Trata-se de um órfão encontrado nos arredores da aldeia e criado como um filho da vila desde pequeno. É um moleque de quinze anos, cuja personalidade me lembrou de cara Yusuke Urameshi (Yu Yu Hakusho): é desbocado, fala o que é pensa, é honestamente estúpido e estupidamente esperto, corajoso sem ser clichê e sentimental quando necessário. Isso mesmo, um herói à moda antiga, sem visual forçadamente andrógeno ou angústias babacas pra agradar à molecadinha emo. Ao longo do jogo, é revelado que Sieg é a Tenkai Star, ou seja, a estrela principal, líder dos 108 Starbears, cujo destino é opor-se à tirania ordeira do One King… e o moleque lida muito bem com o fato, sem perder tempo com hesitações limitantes nem se dando ao trabalho de cair em arrogâncias infantis – ele simplesmente faz o que deve ser feito, permanece fiel ao seu propósito de fazer o que acha certo, para que ele próprio e todas as outras pessoas tenham direito ao futuro que bem desejarem. O moleque é foda!
Mas estou me adiantando. Voltemos à Citro Village.
Então. Citro Village, a remota vila clichê tão distante de tudo que não pertence oficialmente a nenhum país e governa a si mesma. Mesmo sendo um lugar comum, já começa a desperta simpatias desde já, nos diálogos divertidos de seus habitantes e em suas vestimentas curiosas… que são a tônica de todos os habitantes de todas as cidades – alguém pode dar meus parabéns ao estilista do game, por favor? E já na primeira vila somos apresentados a um interessante sistema de comércio: os preços variam de acordo com o local. Digo, uma malha de determinada tecitura ou peles de determinados animais é mais barata onde sua matéria-prima é mais comum e bem mais cara onde é mais rara. Ou seja, você compra barato em um lugar e vende caro em outro. Uma coisa simples, mas que dá delicioso toque capitalista ao jogo. Gostei. Há também variações nas estações do ano, cuja mudança libera determinados eventos e gatilhos para recrutamento de certos personagens, assim como a contagem dos dias, que garante acesso a determinadas situações, rumores à venda e até mesmo monstros que só aparecem em determinados dias ou estações. Quanto mais você anda pelo mapa, mais dias se passam e mais você se aproxima da próxima mudança de estação.
Eita, estou divagando e ainda nem comecei a falar do enredo. Vamos lá.
O jogo começa quando você tem controle do protagonista, e logo recebe a missão de lidar com uns certos monstrinhos que estão devorando todas as plantações. Quem está acostumado com protagonistas mudos da era 16-bits toma um choque: esse moleque Sieg fala pra cacete, e rápido pra diabo! Com o tempo, ele passa a falar mais devagar, mas permanece tagarela o jogo inteiro. Seus amigos de infância, Marica, Jale e Liu se juntam à missão, acompanhados de Dirk, um rapaz mais velho que treinou os moleques na arte do combate. A partir desse ponto você percebe que o jogo todo gira em torno de missões a serem cumpridas e a recompensa a ser coletada depois; há as missões obrigatórias do storyline e muitas, muitas missões opcionais, que geralmente liberam os muitos personagens opcionais do jogo. Algumas são apenas cenas divertidas que revelam aspectos do mundo, do passado e das relações entre os personagens. Você vai passar horas entretidos nessas missões!
Voltando. Vocês saem da vila e dão um rolê no planalto, vencem alguns bichinhos e vão se aproximando do covil dos lagartinhos comedores de plantações… até que, do nada, uma luz vomita um brilho dramático e então uma floresta inteira aparece num terreno que inicialmente era plano! Os personagens estranham no início, mas depois… depois todos concordam que aquela floresta sempre esteve ali. O quê? Certo, vocês seguem em frente. Aí, vocês entram numa espécie de templo abandonado dentro da floresta que “sempre esteve ali”, e aí são cercado por uns monstrengos além de suas capacidades… Dirk tenta dar-lhes cobertura para que fujam, mas aí o protagonista Sieg, Marica e Jale são atraídos por um livro velho no centro sala, tocam o livro e… alguma coisa acontece! Os moleques ganham uns superpoderes malucos e descobrem que lutam bem pra cacete! Depois de dar um pau nos monstrengos – sob os olhares incrédulos de Dirk e Liu – o novo trio superpoderoso percebe que a tal floresta em que se encontram surgiu de repente há poucos minutos, só que Dirk insiste de que a tal floresta sempre, sempre esteve ali! Quando retornam a Citro Village, todos os demais habitantes batem o pé afirmando que a tal floresta sempre existiu… todos exceto Liu, que tem agido estranho. O que é que ele sabe? E por que tem andado tão evasivo? Mas nem dá tempo de pensar, porque os habitantes estão assustados com Marica, afirmam que ela andou por ai com um machado maior que a espada do Sephiroth ameaçando pessoas! Mas como ela pode ter feito uma coisa dessas, se ela esteve com vocês o tempo todo? O que diabos está acontecendo? Os moleques decidem ir atrás dessa impostora, além de procurar respostas para a floresta que apareceu do nada e dos poderes incríveis que receberam, e assim a estória segue.
Não revelarei mais detalhes para não estragar as surpresas, mas posso dizer com propriedade que o jogo vai se tornando cada vez mais divertido e interessante de se jogar. Quase todos os personagens, jogáveis ou não, antagonistas ou não, possuem um carisma todo próprio, diálogos legais e personalidades cativantes. A trama vai se mostrando complexa sem ser pedante e simples sem ser simplória. Você viaja por diversas cidades, cada uma com sua própria musiquinha, seu próprio saber – aliás, a trilha sonora é um show! Não é a melhor coisa do universo, mas faz um papel excelente na maioria dos casos, seja em batalha, seja na derrota, seja na vitória. Há vários povos com os quais fará contato, cada qual uma miríade de costumes fictícios com estereótipos reais, mas ainda assim convincentes. O sistema de batalha é bastante tradicional, a boa e velha aleatoriedade das dungeons e do wolrd map, num combate de turnos de espera, sempre grupos de quatro personagens – Sieg está sempre presente. Aliás, outra coisa que faltou mencionar: ataques combinados! São possíveis diversos ataques de duplas ou trios, dependendo da ligação entre os personagens – pais e filhos, conterrâneos, amigos de longa data, rivais ferrenhos, mesma técnica de luta, reis e súditos ou mesmo o ataque triplo das “três garotas mais estranhas” ou “os três personagens carecas”. Cada um dos 108 personagens possui pelo menos uma opção de ataque combinado com alguém – a maioria só possui uma única opção, enquanto outros podem possuir diversos ataques combinados com diversos outros personagens. Esses ataques são legais de se ver e quase sempre causam um dano monstruoso!
É claro que há pontos negativos dignos de nota: os personagens são bonitos e expressivos nas caixas de diálogos, mas são feios e quadradões em jogo; a luta contra o chefão final One King é meio sem graça, o jogo meio que termina quando você enfrenta Valfred, o verdadeiro antagonista e um dos melhores personagens; a estória toda é muito, muito legal, mas justo o final é meio besta; e, o mais abominável de tudo: não há New Game+!
Suikoden Tierkreis é um JRPG excelente, um dos melhores de sua geração. É muito divertido de jogar, de novo e de novo, sempre tentando novos caminhos e recrutando personagens de maneiras diferentes. Um jogo do qual poucos ouviram falar, mas que vale muito, muito a pena, uma ilha neste mar de RPGs modernosos que são só gráficos brilhantes e não possuem graça nenhuma. Se você é um saudosos daquelas maravilhas de RPGs da era 16-bits, Suikoden Tierkreis é o seu jogo! Recomendo forte, e, se não curtir, pode reclamar aqui.
Só pelas imagens já deu pra sacar que o jogo é muito legal. Um dia ainda consigo comprar um PS e ter tempo pra usar huauah
Dez a resenha Ka Bral =D
Mesmo que não cheguem a jogar, fico agradecido que tenham gostado da resenha, deuhehuehuehuehue!
Mas sério, o jogo é mó legal mesmo. Mas sério também, sei o quanto a falta de tempo e grana é foda…
Suikoden era uma série foda mesmo. O Suikoden 2, principalmente, era lindo, obrigatório pra qualquer um que se diz fã de JRPGs. Pena que ultimamente ela só sobrevive nesses spin-offs, parece que a série principal foi abandonada de vez pela Konami mesmo…
Uma pena que os bons JRPGs estão morrendo…
Ótima análise. Cheguei aqui procurando livros sobre Suikoden no google. Esse game citado, ainda não joguei, mas pretendo terminar todos games dessa série fantástica.
Excelente análise, embora eu considere a citação sobre o Valfred um spoiler grave (ainda estou jogando o jogo e preferiria não saber que ele não é aquele chefão do flashback). Suikoden Tierkreis é mesmo uma grata surpresa. Peguei esse jogo só para dar uma olhadinha e me apaixonei… desde então nunca mais consegui voltar a jogar Dragon Quest IX ou Pokémon White (às vezes passo um dia inteiro sem nem ligar o PC). Pessoalmente adoro jogos com texto e mais texto (de qualidade, é claro) e que dê para personalizar o nome do protagonista… me sinto um verdadeiro participante da história. Suikoden é um jogo impecável, ou quase: a tradução (ao menos a espanhola) possui erros ridículos… passei meu save para o PC só para poder tirar essa screenshot… o que eu poderia dizer dela? No mais, realmente é um jogo obrigatório para quem gosta de RPG (mesmo para quem não é fã de batalhas aleatórias, como é o meu caso).
O código HTML que usei aparentemente não funcionou. Eis a imagem:
http://spirittracks.files.wordpress.com/2012/01/suikoden.png
Cara…O_o isso que é uma análise, tô com o jogo pra jogar mas fiquei meio assim, eu esperava um visual igual os dois primeiros e o 5, um estilo mais desenho, mas depois de ler o que li, até que dá pra dar uma chance pro jogo brow kkkkk
tá de parabéns (Y)
A história demora muito (muito mesmo) pra pegar no tranco e tem muitos diálogos chatos, outros trocentos diálogos desnecessários. Ninguém aguenta mais esse “estilo” chato de rpg japonês, isso está ultrapassado.
Se você quer pegar no sono e esperar 3 horas pra ter liberdade de escolha, jogue Suikoden Tierkreis. Haja paciência.