Dragão Velho é que faz comida boa?

Primeira sessão de Old Dragon aqui na Hell’s Kitchen de Fortaleza. Após ter apresentado o livrinho vermelho um tempo antes, os jogadores ficaram curiosíssimos com a possibilidade de testar o jogo. Até me assustei com os pedidos de “bora logo!”. É a vida.
Não foi uma unanimidade. Dois jogadores estavam resistentes e continuaram resistentes dado o amor ao D&D 4 e a minha descrição honesta do jogo  como “um sistema low power onde a criatividade e improvisação podem salvar sua pele da morte certa”. No fim, após essas desistências (uma opção justa para todo e qualquer jogador) e um pequeno stress inflancionado por elas, outros cinco jogadores berraram pelo início da coisa.
Começamos as atividades gerais. Em nossa mesa isso significa um dos momentos mais divertidos para a imensa maioria: o sorteio de atributos. É sempre uma festa. Piadas sobre os personagens que nasceram de sete meses, gritos de “ai meu Deus, vou ser padeiro!” e a velha torcida pelos 18. Usamos uma regra de D&D: o jogador joga 4d6 e elimina o resultado mais baixo, repetindo o processo para cada Atributo. Em uma das rolagens, a sua escolha, o jogador pode “flutuar”, jogando novamente o dado mais baixo da mesma. Como regra antiga da casa, 4 dados que resultem em “1” dão ao azarão um 18.
Depois de alguns personagens extremamente bem nascidos e um ou outro que precisará mostrar seu valor sem os favores da natureza, todos começaram a fazer as fichas. Havia uma curiosidade normal e uma felicidade absurda quanto à simplicidade da coisa. Tudo estava pronto em dez minutos, resultado nos seguintes protagonistas:

  • Arthun da Torre: um rapaz jovem e tímido, com sérios problemas de autoconfiança (Car 9) e um imenso potencial intelectual (Int 20!), que cresceu como serviçal de Altanar, o Mago. Em poucos meses Arthun aprendeu feitiços como um autodidata, pouco tempo antes de seu senhor desaparecer levando todos os seus pertences em uma manhã cinzenta.
  • Kayron Lorrigan: um garboso (Car 17) clérigo a serviço dos deuses da Ordem, vindo de uma rica família de senhores de terra. Rompendo com o pai o intrépido rapaz se prepara para assumir uma pequena paróquia ao sul de sua cidade. Confiante e disposto ele crê demais na necessidade de expurgar o mal do mundo a ponta-pés.
  • “Reed”: um guerreiro coberto de cicatrizes (Car 8), mas forte como o destino (For 16), o pequeno Hafling busca o verdadeiro dono deste nome. Meses atrás ele foi achado e horrivelmente espancado por um grupo de caçadores de soldados de sua raça que aparentemente o confundiram com outra pessoa. Deste então, na companhia de Volg, seu cão de montaria e de Adrasta, sua espada de estimação, o falso “Reed” está a caça do real merecedor daquele tratamento.
  • Van: um rapaz de aparência confiável, o joven Van é um aprendiz da ladroagem. Hábil fisicamente (Des 15) ele foge das consequências de um    “empreendimento mal-sucedido” e tem o já esperado vício pelo vil metal alheio.
  • Barrick Bravenor: um clérigo anão do Patriarcado (ordem secreta da Igreja dos Robustos) foi expulso de sua congregação por conta de problemas com a cerveja. Mais tarde é contatado por um braço secreto da mesma e readmitido em segredo. Procura desvendar mistérios nas colinas da região, a mando das autoridades eclesiásticas.

Resumo besta das coisas
A aventura se desenrolava em uma vila-de-meio-de-estrada. Todos se conhecem em uma estalagem (acreditem, há ANOS não uso esse sabororo clichê!) e ali o grupo descobre que uma criatura desconhecida voltou após sete anos e raptou outra garota (maldita!). Partindo rumo a fazenda onde o pai da menina mora, os pobres aventureiros se deparam com a família inteira morta e transformada em zumbis!
Após combates contra lobos, hilárias negociações com fazendeiros locais, exorcismos em camponeses (um uso interessante de Afastar Mortos-Vivos), destruição de zumbis, investigações em um laboratório arcano escondido em um porão e um inacreditável encontro com patrulheiros elfos (“Elfos! Pelos deuses! São elfos!!!!”) o grupo descobre pedaços de um mistério envolvendo um berbalang e um mago (o mestre de Arthun). Pela manhã, ao retornar a vila para retirar um espírito que acabou possuindo o pequeno halfling (agora amarrado e amordaçado, mas furioso como um diabo-da-tasmânia) os personagens acham o local infestado de mortos-vivos. O que, raios, aconteceu com a população?! (“Walking DEEAAAAAAD?!”)
Considerações do pós-domingo
A recepção do sistema por quem jogou não poderia ter sido melhor. Fiquei profundamente surpreso com o fato de que jogadores apelões inveterados gostaram de um sistema sem talentos ou poderes. A mecânica das Jogadas de Proteção foi bem assimilada assim como o tom de improvisação (vi, depois de anos, magos derrubando cortinas para se proteger, halfligns passando por baixo das pernas de outros personagens sem “ajustar” e clérigos imaginando o que fazer com uma gama de magias simples). O subsistema de jogadas de iniciativa foi o principal estranhamento (“como assim a Destreza não conta quando ataco?”). A tabela da regra opcional de acertos críticos foi interessantemente elogiada (“Deu 6. Ele morreu”).
No mais: não dá pra saber o quanto o OD pode suportar jogos longos. Ele é simples e feito pra ser simples. Mas, julgando pela tarde divertida (fora os reveses iniciais mencionados acima) e pelos pedidos de continuidade no domingão que vem, acredito que o jogo passa no teste do “será que funciona?” da minha preconceituosa mesa (verdade seja dita: tenho jogadores muito resistentes ao novo e mais ainda ao indie). Ainda tenho, é preciso que se diga, um grupo que gosta da 4E e dos d20s gringos. Fico feliz de descobrir que não apenas isso.
Vamos ver o que o futuro reserva para este velho escamoso aqui, na Terra da Luz.
 
“Para aqueles que me procuram pra o Mal, saibam: eu tenho a LÂMINA!
Para aqueles que me procuram para o Bem: encontrem a Garganta das Trevas!”
– Misteriosas (e canastríssimas) inscrições deixadas por Altanar, o Insano.
 
* * *
A imagem que ilustra este post é, obviamente, ilustração de capa e contracapa do Old Dragon, de autoria de Diego Mádia e Daniel Ramos e propriedade da RedBox Editora. É usada aqui com o objetivo de resenha. Todos os direitos reservados aos autores.
 
 

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8 Resultados

  1. leolima disse:

    Realmente a resistência ao “novo” é um problema de muitas mesas – que eu conheça pelo menos.
    Alguns dias atrás ao tirar o meu OD da mochila meus jogadores torceram o nariz antes mesmo de conhecer o sistema.

  2. Sutekh disse:

    Honestamente falando, tenho muitas saudades do tempo do AD&D, onde só tínhamos os livros básicos (Jogador, Mestre e Monstros) e tínhamos que imrovisar muitas das situações que surgiam. A falta de suplementos e regras, honestamente, nunca foi um problema. E o bom é que o O Old Dragon permite um retorno à este “mundo jurássico”, porém muito divertido.
    Espero que, quando eu mestrar isto para o meu grupo, não haja tanta resistência…

  3. Rodrigo "Leninn" disse:

    Ah, muito legal as impressões sobre a sessão! Fiquei com vontade de jogar, isso que me falta, eu só mestro, e olhe lá, aqui ninguém quer ser mestre de jogo!
    Mas eu não me deixo complicar por regras e meus jogadores tem total liberdade para criar… toda situação em que temos que procurar regra para alguma situação, eu não procuro, simplesmente uso meu bom senso e aplico modificadores a alguma jogada e ponto final. Pra proxima sessão, se a regra oficial for simples, eu uso, se não, fico no bom senso.

  4. o Clérigo disse:

    Eu não tenho palavras pra expressar minha gratidão pelos caras que lançaram esse sistema. Vendi todos meus livros da 3.5 depois que comprei OD, só pra se ter uma ideia do quanto gostei desse véio dragão.

  5. Rodrigo "Leninn" disse:

    Sinceramente, eu gosto mto do Pathfinder, muito mesmo! Mas eu to bem impressionado com o Old Dragon. Para escrever material por exemplo, to considerando mto escrever sempre com regra pros dois.

  6. Legal a regra de 1×4=18! Adotarei!
    Me deu ainda mais vontade de testar o sistema agora!

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