As Cores do RPG

Olá, Joe ou Sue. Meu nome é JJ Rangel e, a convite do Marlon, entrei para essa trupe. Venho do Juca’s Blog e também faço parte da Liga Narrativa com o Marlon e outras figuras. Costumo escrever sobre temas muito variados e meu foco é a inquietação. Não vim aqui falar (apenas) de mim, separei o RPG como estreia mas não vou dar dicas nem fazer propaganda do meu novo “melhor sistema de todos os tempos da última semana”. Discutirei um assunto complicado:
O RPG brasileiro vende menos porque é desvalorizado ou é desvalorizado porque vende menos?
Eu sei, forcei a barra com a pergunta “Tostines”, mas se você ficou pensativo, é um bom começo.
Tempos atrás li uma matéria, se não me engano escrita pelo meu xará Jaime Daniel, sobre a diferença de preço entre RPG gringo e sua versão traduzida. Claro, a versão traduzida sempre será mais cara pois tem custos que a original não tem, como contratar um tradutor, impostos diferentes, etc. Normalmente a solução para tornar o preço acessível aqui é a versão nacional ser feita em preto e branco e/ou com menos qualidade gráfica. Sou a favor disso. Nem todo mundo tem grana sobrando. Mas algo sempre me deixou encafifado: por que o RPG brasileiro (criado originalmente no Brasil) tem como praxe ser feito em preto e branco e/ou baixa qualidade gráfica? Esse é só o começo da história.
“Você sabe o trabalho que dá e os custos envolvidos para fazer um RPG de grande qualidade!?” – Não, quase ninguém sabe. Se alguém puder explicar, beleza, agradeço.
No Brasil, a meu ver, ainda sofremos da síndrome de vira-lata: “Feito no Brasil, deve ser um lixo!” – É incrível como damos tanto valor ao que vem de fora e negligenciamos talentos locais. Este não é um discurso “Brasil, ame-o ou deixe-o!”, não me entenda mal. Por exemplo, algumas pessoas reclamam que os básicos de D&D custam uma fortuna, que não dá para jogar mais. Então, não jogue mais. Quer um sistema para fantasia pseudo-medieval, com magia e espécies mitológicas combatendo em jornadas? Jogue Mighty Blade: brasileiro e grátis para baixar. Prefere o livro em mãos? R$ 15 + frete e ele é seu. Mighty Blade vem de uma linha de RPG tradicionalista, sim, porém muito simples e divertido. Ele é uma exceção no mercado: um cara teve uma ideia, a desenvolveu e agora vende sem precisar de uma editora. Notável.
Voltando à qualidade dos produtos, minha bronca é a baixa qualidade gráfica dos títulos brasucas. Mas isso nem é o pior: já tive em mãos livros sem índice, com regras contraditórias, falta de descrições e ilustrações repetitivas que mais parecem rascunhos. Às vezes tenho a impressão que alguns títulos não passam por revisão e são jogados de qualquer jeito para o público.
Tenho que ressaltar algo bom: com a chegada da editora Jambô e, recentemente, da Retropunk, o mercado melhorou mas o RPG genuinamente brasileiro continua de lado, “indie”, quase renegado.
Quero dizer com este pequeno manifesto que o mercado nacional cresceu mas a profissionalização do produto em si ficou um pouco para trás. Então, cabe a você jogador de RPG que compra, começar a ficar mais exigente, se valer de seus direitos, afinal você é consumidor e não mais aquele camarada comprando só para dar apoio ao hobby.
Espero ainda poder ver numa prateleira, ou loja virtual, Nexus e OPERA ao lado de GURPS e D&D, por exemplo, e com qualidade gráfica equiparável para servir de opção como sistemas de grande público.
Se eu não for morto por pensamentos vingativos da blogosfera, trarei mais exemplos de substituições de RPGs gringos por nacionais similares. Seu bolso agradecerá.
Até.

Jaime Rangel

Jaime "JJ" Rangel é um cara de Duque de Caxias (RJ), franco, tranquilo e desmemoriado. Gosta de levar inquietação às mentes alheias. Prefere 10 inimigos sinceros a 1 amigo indeciso. Cuidado ao perguntar algo, ele responderá a verdade. E a verdade é sempre mais divertida (pra ele). Escreve/traduz/joga RPG e afins.

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14 Resultados

  1. JJ, devo dizer. Ótima estréia. Parabéns!
    Concordo contigo sobre a “pouca evolução” do profissionalismo no RPG brasileiro. Temos muito material bom nacional, que simplesmente passa despercebido pelo fato de ser brasileiro.
    Opera é um sistema do tipo que eu gosto [simulacionista] e poderia substituir o meu preferido, se fosse necessário. O grande problema, que você notou bem, e transcreveu, é o fato de a pessoa reclamar, chiar, espernear, mas não se fazer valer o código do consumidor.
    Acho que vale pelo puxão de orelha nos compradores de livros, não só estrangeiros traduzidos, como também os nacionais, que temos vários direitos e que eles estão aí para nos servir.
    Mais uma vez, parabéns.

  2. Nerun disse:

    Seria legal ter uma matéria falando de RPGs gratuitos, nacionais e alternativos.

  3. JJ Rangel disse:

    Obrigado aos Joes pelos comentários.
    Fnord: Eu tento abrir os olhos das pessoas sobre saber criticar e valorizar algo. Imagine aquela banda de garagem dos seus amigos (que é boa) e uma determinada música não tá legal, então eles perguntam “Tá legal?”. Não é pra dar um sorriso amarelo e enganá-los dizendo “Sim!”. Diga a verdade, assim eles podem tentar amadurecer a canção e torná-la melhor. Criticar e ofender são coisas diferentes. Assim como elogiar e bajular. Captou bem.
    Nerun: A ideia é também fazer o que você sugere, tá no final do texto. Basta o povo aparecer comentando sobre um tipo de RPG que queira que eu ache substituto e eu faço a mágica. Vou tentar, ao menos. (:P
    P.S. Preciso aprender a resumir texto!

  4. Muito interessante esta matéria. E ela veio em um momento bem propício.
    Há cerca de 17 anos desenvolvendo um cenário intitulado Terras de Shiang. Ele vem sendo desenvolvido em paralelo ao OPERA RPG (do qual sou co-autor). Em fev. de 2008 comecei o site deste RPG, e agora estou trabalhando na revisão da compilação de todo o material para uma versão impressa.
    Venho desenvolvendo o RPG junto com 3 ilustradores, 1 arquiteto e 2 cronistas. Pensei desde o inicio em fazer um livro misto – com grande parte das paginas preto e branco e algumas coloridas.
    Desenvolvemos uma HQ e várias ilustrações de personagens que estão sendo finalizadas coloridas. Miinha intenção era fazer imagens 3D nas aberturas dos capítulos. Como iria fazer uma impressão de 500 exemplares, o custo final do livro misto com óculos 3D sairia por R$78,00.
    Contudo, conversando com um pessoal de uma agência de publicidade, resolvemos fazer uma pesquisa para verificar qual o valor que o jogador de RPG pagaria para ter um livro em mãos. Para minha surpresa, o valor tem ser em torno de R$ 40,00. Para cair para esse custo, é necessário reduzir o custo da impressão com miolo preto e branco (e também com isso eliminar as imagens 3D).
    Repensamos nossa estratégia, e vamos começar com um livro preto e branco com capa dura colorida. No futuro, se tivermos algum mercado, voltaremos a planejar uma edição de luxo com páginas coloridas.
    Longa vida ao OPERA RPG, Mighty Blade, Nexus, Tagmar e todos os nacionais!
    Léo Andrade

    • Alexandre disse:

      Salve, Leonardo!
      Acho que o problema nem é o preço de R$78. Acho que a questão é mais gastar isso em um jogo que você não conhece.
      A HQ é uma ótima idéia para lançar e divulgar o universo, e agregar valor ao RPG depois.

  5. Nerun disse:

    @JJ Rangel
    Existe alguma resenha do do Opera ReOps? Alguém sabe?

  6. Roj Ventura disse:

    Vejo a cultura do “se é nacional, não presta” acontecer em toda a parte.
    Esperto foi o professor Júlio César de Melo e Souza que se fez passar por tradutor de um fictício escritor árabe para fazer sucesso com sua obra “O Homem que Calculava”.
    O povo brasileiro se acha capaz apenas de jogar futebol; não se acredita que um brasileiro seja capaz de qualquer outro feito capaz de rivalizar e bater num similar estrangeiro.
    É a mentalidade derrotista de um povo que parece ter sido condicionado a se considerar inferior em tudo.
    Menos no futebol.

  7. bob mota disse:

    Kra, gostei e concordo com o que você falou. Creio que no mercado de RPG Indie nacional falta profissionalismo. Lógico que com suas devidas exceções.

  8. Alexandre dos Santos disse:

    Parabéns pelo texto, ficou ótima! Uma boa crítica.

  9. Edu Guimarães disse:

    Concordo que a qualidade gráfica pode prejudicar o produto quando comparado a um D&D ou GURPS traduzido, mas seria simplista reduzir a questão a isso.
    O rpgista é exigente, e deseja material com conteúdo de qualidade e que desperte seu interesse. A Jambô vem sendo bem sucedida justamente por entender seu público e atingí-lo com materiais de qualidade. O mesmo vale para a Retropunk.
    Angus RPG é um livro belíssimo, mas um fracasso de vendas, porque é ruim, simples assim.
    E hoje em dia não basta apenas publicar material de qualidade, o suporte por trás desse material também é importante. Tormenta e 3D&T não seriam o que são hoje sem o suporte da Dragão Brasil, e atualmente da DS. O suporte na internet e proximidade com os autores, também é fundamental. Ponto para Jambô e para a Retropunk nestes quesitos.

  10. Edu Guimarães disse:

    Esqueci de adicionar que no caso de Angus, talvez o preço pese tanto ou mais que o conteúdo…

  11. JJ Rangel disse:

    Voltando das “férias”. Desculpem a demora.
    Leonardo: Valeu por ter nos dado a noção do trabalho de um RPG. As ilustrções são muito boas. Esse primor que você descreveu valeria R$ 80. Infelizmente há quem prefira pagar essa grana em “d20s ctrl+c e ctrl+v” sem pestanejar.
    Alexandre: Penso que a questão seria: brasileiro pagaria o valor mesmo que conhecesse o produto e soubesse que é genuinamente brasileiro?
    Nerun: Não lembro de cabeça mas tem na rede. Se alguma alma caridosa quiser me doar um ReOps (meu aniversário foi semana passada), resenho feliz da vida! (:D
    Roj: Infelizmente as pessoas não se ligaram que não somos mais uma colônia européia. Somos mais do que chutadores de esferas.
    Bob: Acho que é mais um comodismo latino “se tá funcionando, deixa assim mesmo”.
    Alexandre Santos: Concordo, Joe.
    Edu: Angus é realmente lastimável. Chamei a atenção para as “cores” no texto mas também tento passar: não está na hora de RPG virar produto de verdade, agregando outros conteúdos (quadrinhos, bonecos, cartas, camisetas, etc.) e empresas/autores respeitarem mais o público, não apenas empurrando lançamentos como se fosse fast food?
    Qualquer coisa, comentem e eu volto, pessoal. Iniciei um esboço de próxima matéria. Sim, sou péssimo pra resumir.
    Até.

  12. Rubenildo Marques de Araujo disse:

    O problema é que os brasileiros ainda estão em um processo de evolução, deixem os cras evoluírem, comprem os produtos, por que são baratos para incentivar que eles busquem melhorar, quando algo tem retorno geralmente a pessoa busca fazer melhorias e trazer novidades o problema do brasileiro é a falta de apoio, lá nos EUA eles apoiam jogos eletrônicos simples e dão incentivos financeiros, sei que não tem haver com rpg de mesa, mas se usar a mesma lógica nesta área pode funcionar e produzir bons frutos a longo prazo, gora quando não tem incentivos financeiros nem incentivo moral nem adianta esperar melhorias, pode ir tirando o cavalinho da chuva o Brasil vai continuar sendo o viralata de sempre, isso por que o próprio brasileiro que está construindo esta imagem com estas atitudes.
    Os caras torram milhares de dólares em coisas importadas, em jogos eletrônicos de outros países, torram milhares de reais em porcarias como cigarros, bebidas alcólicas, festas de funk e sertanejos modinha. O que esperar de uma sociedade com este nível? A demência total, por que quem tenta produzir coisa de qualidade não recebe incentivos e se tem um tipo de gente criativa é o brasileiro principalmente o dos norte, pela própria riqueza dos eu folclore, no Norte em Geral que inclui o Nordeste ali tem gente criativa, em fim em todo o Brasil tem, o que não tem é incentivo moral e financeiro só isso.

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