Um Encontro em Malpetrim
A tensão fazia parte de se estar em Malpetrim. Como a única a resistir ao domínio táurico em Petrynia, ela se tornou uma cidade-estado completamente independente dentro do território do Império de Tauron e por isso era o campo de batalha de espiões e diplomatas de todas as coalizações de reinos, e também centro da resistência humana aos minotauros. Justin já estava acostumado a essa tensão e lidava com ela da melhor maneira que podia.
Mas naquele momento ele podia se afogar na tensão que se produzia no ambiente desde que aquele bardo halfling doido, Mippo, começou a tocar uma balada romântica sobre Tauron e Glórienn. De um lado, os minotauros ficavam animados com a lembrança da primeira das grandes vitórias de seu deus na história recente de Arton, isso deixava os humanos na taverna bastante perturbados e inclinados contra a canção, o que era um belo barrilete de pólvora na sua opinião. E ele olhava diretamente para o pavio naquele momento.
Era a elfa. Ele já a tinha visto várias vezes pela cidade nos últimos anos e a achava muito bonita, como a maioria das outras elfas eram, e notava nela uma diferença marcante dos outros de sua raça: não havia traços de melancolia. Os olhos não carregavam tristeza, mas determinação, os movimentos não traíam confusão, eram objetivos. Não havia conversado uma única vez com ela, mas podia dizer, até pelos trajes luxuosos, que era orgulhosa e provavelmente arrogante. Exatamente como a descrição dos elfos antes da queda de seu reino em Lamnor.
Ela ignorava a disputa que se construía na taverna com a canção imprudente do bardo e lia um livro muito antigo, com linguagem obviamente élfica, enquanto mordiscava mechas do seu cabelo negro de uma maneira que ele achava muito sensual. Justin observou que um dos minotauros fez menção de ir até a mesa dela, provavelmente provocá-la e iniciar de uma vez a briga na taverna. Aproveitando estar mais próximo, rapidamente foi até a mesa dela, puxou uma cadeira e se sentou. O minotauro parou, hesitando.
? Não foi convidado – disparou a elfa sem levantar os olhos do livro – Vá embora.
? Concordo com a primeira parte, peço desculpas – olhou para o minotauro de forma amistosa e levantou seu caneco de cerveja, ao mesmo tempo fez a espada longa visível na cintura, o minotauro entendeu o recado e devolveu o cumprimento – Mas deve entender que neste momento minha presença na sua mesa é boa para todos nós.
? Posso cuidar de mim mesma – devolveu sem emoção. Justin passou a mão nos cabelos e suspirou.
? Certo, neste caso, por favor, deixe-me explicar o que provavelmente aconteceria nesta taverna quando você chutasse os bagos daquele mugidor de merda – fez uma pausa para molhar a boca com cerveja e notou um leve sorriso como resposta ao xingamento, ela não era tão fria assim, hein? – Os outros minotauros iriam ajudar o companheiro, os humanos iriam ir contra eles porque, bem, minotauros não são populares em Malpetrim. Iria ter uma baita briga e muita gente dos dois lados iria se machucar. Então a guarda iria chegar e machucar ainda mais gente para conter a confusão. Supondo que você lute bem e não seja nocauteada e levada para fora da taverna e então da cidade, e você sabe o que isso significa, quando a poeira baixasse os minotauros iriam clamar que você era escrava deles e estava tentando fugir, e vão apresentar um documento legítimo do Império de Tauron provando que estão falando a verdade.
? Como eles teriam um documento legítimo de propriedade sobre mim? – interrompeu, pela primeira vez interessada na conversa o suficiente para erguer os olhos para seu interlocutor, que a achou ainda mais bonita daquele ângulo.
? Ah, isso não é difícil. Claro que você iria descobrir que tinha outro nome a vida inteira, mas duvido que tenha qualquer documento provando sua identidade, e não é como se alguém pudesse testemunhar sobre isso. Moro a vida toda nessa cidade e vejo você por aí ocasionalmente, e já estou nessa mesa a um bom tempo, e não sei seu nome. Se me disserem que se chama Niele ou qualquer outro nome de elfa, acredito – disse dando de ombros, tomou mais um gole da cerveja e se concentrou nas reações da elfa. Ela parecia considerar cada palavra dele agora – Tem um outro truque que eles também usam de vez em quando, mais difícil mas garantido, que é o ferro quente. Se você tem a marca de escrava e eles apresentam o documento, não tem mais jeito.
? Se eles tentassem fazer isso, lançaria um feitiço de transmutação e os tornaria os animais de pasto que eles nunca deveriam deixar de ter sido – desafiou a elfa. Justin pôs as mãos para o alto e sorriu.
? Com todo o respeito, senhorita, você não é do tipo que conversa antes de brigar, pelo menos com qualquer um que não um elfo, ou nem isso. Se pudesse fazer o que acabou de dizer, teria feito comigo no momento em que sentei aqui e comecei a lhe incomodar com minhas bobagens.
Justin achou que iria provocar revolta ou desdém por parte da elfa. Mas ela sorria abertamente agora.
? Não são bobagens, na verdade essa conversa tem sido bastante estimulante e cheia de aprendizado, e confesso que realmente não tenho mais o poder que acabei de professar. É uma longa história. Eu sou Michilla – finalmente se apresentou, estendendo a mão para ele beijar.
? Justin McHearth, prazer em conhecê-la – Justin beijou a mão que ela estendeu da maneira mais polida que conseguiu, o que não era muito, e não pode deixar de pensar que ela realmente cheirava muito bem – Desculpe apressar as coisas, mas agora que nos entendemos o suficiente, quê acha de arranjarmos um plano para dar no pé daqui?
? Acha que eles vão tentar me seguir? – surpreendeu-se.
? É uma possibilidade. E aprendi a nunca confiar numa raça que não tem mulheres – novamente um sorriso em resposta ao gracejo – Eles obviamente estão interessados já que você é bonita, mesmo comigo bem armado, eles são uma dúzia e provavelmente vão saber como se aproveitar disso.
? Se esperarmos aqui, alguns deles vão sair para montar uma emboscada, se sairmos agora pelo menos temos a vantagem – disparou Michilla, entrando no jogo.
? Sim, mas essa armadura não me deixa correr muito e faz um bom barulho, eles iriam nos alcançar rápido. Minha casa é perto do mercado. Mas estaríamos mais seguros no templo de Marah agora…
? Não acha que está se esquecendo de uma possibilidade? – perguntou a elfa já se levantando e assumindo uma postura autoritária e arrogante – Já chega! Essa música é uma afronta! – e num segundo todos os rostos viraram-se para ela de uma vez. O bardo também parou de tocar e dançar para ver o que estava acontecendo – Como você ousa, seu pequeno ignorante, colocar Tauron como um herói nesta história? Ele é um monstro traiçoeiro e deve ser retratado como tal!
Imediatamente o caos começou. Os minotauros defenderam sua divindade padroeira. Os humanos apoiaram Michilla, fizeram mais acusações e Mippo percebeu a tolice que cometeu apenas tarde demais, quando o primeiro caneco atingiu um focinho táurico e a batalha começou.
? Você é louca, Michilla. Pensei que tinha dito que era melhor evitar conflitos – disse Justin enquanto usava seu escudo para proteger a elfa de um minotauro. Não sacou a espada para evitar começar um massacre, mas socou forte a laringe do adversário e deu um chute na boca do estômago quando ele baixou a guarda.
? Agora vamos sair daqui. Mesmo que alguns deles tentem nos seguir, você e eu podemos dar conta de dois ou três, certo? – retorquiu ela já se dirigindo para a saída.
Tiveram alguns problemas e Justin teve que distribuir mais socos e pontapés, mas chegaram em segurança até a rua. Onde já se ouvia ao longe o apito da guarda se aproximando.
? Para que lado fica sua casa? – perguntou a elfa. Justin rosnou um “por aqui” e eles dispararam pela noite. Atravessaram vielas e pontes e desviaram das patrulhas da guarda que convergiam para a confusão para evitarem ficarem parados respondendo perguntas dos milicianos.
Infelizmente, não adiantou muito. Em dado momento se depararam com três minotauros com diversos hematomas da briga na taverna.
? Essa mulher é nossa – disse o maior e provavelmente líder dos três para Justin, que já estava com espada e escudo em posição e iniciando uma carga.
? Malpetrim! Bastardos de Tauron! Malpetrim!
A carga atingiu o líder dos minotauros em cheio, a espada atravessando músculos, ossos e órgãos até sair pelas costas, o golpe com o escudo foi necessário apenas para colocar o oponente já morto no chão. Os outros dois sacavam suas armas e avançavam quando pisaram em chão escorregadio e simplesmente tombaram. Michilla conjurara um feitiço simples, mas eficiente.
? Se afaste, vou queima-los – ordenou a elfa. O guerreiro deu alguns passos para trás e ficou ao lado dela, que entoava palavras e gestos arcanos com paciência. Quando os dois adversários finalmente conseguiram manter-se de pé foram engolfados por chamas sobrenaturais que partiam das mãos de Michilla. Um deles ainda sobreviveu, mas teve a garganta cortada facilmente por Justin. Algumas janelas se abriram na rua para ver o que acontecia. O povo, ao ver os minotauros mortos, apenas gritaram “Malpetrim!” e fechavam novamente as janelas. A Resistência ao Império de Tauron tinha na cidade sua sede, afinal de contas.
? Vamos sair daqui antes que a guarda chegue – disse Justin enquanto cortava as algibeiras com os tibares dos inimigos caídos.
? Para quê roubá-los? – perguntou a elfa.
? Um assalto com três minotauros mortos é uma resposta. Três minotauros mortos é uma pergunta. É melhor para o Conselho da Malpetrim ter respostas quando levar os corpos para a embaixada do Império.
? Você realmente se importa com essa cidade, não é?
? Somos a única em milhares de quilômetros que conseguiu chutar a bunda da boiada de Tauron, então sim, tenho orgulho da minha cidade. Isso é ruim?
? Orgulho é bom – respondeu Michilla com um sorriso – Eu gosto.
Seguiram até a casa de Justin, um anexo ao prédio onde funcionava uma forjaria. O anexo era mais depósito do que casa, com os quartos apinhados de peças incompletas de armas e armaduras e outros utensílios de metal. Tinha um cheiro característico de fumaça que parecia estar impregnado em tudo e também era muito mais quente lá dentro.
? Você mora aqui? – perguntou ela.
? É barato e próximo do trabalho, não dá para reclamar – ironizou, enquanto tirava uma caixa de madeira de cima da cama, a caixa tilintou com as centenas de anéis que, reunidos, formariam uma cota de malha – E é isso. Você provavelmente vai ter que ficar escondida aqui por uns dias até tudo se acalmar na cidade. Se quiser posso ir até sua casa amanhã e trazer qualquer coisa de que precise. Mas, honestamente, não acho boa idéia. Você se mostrou um bocado lá na taverna e duvido que os minotauros já não tenham reparado em uma elfa bonita como você antes. Se já não tem, vão ficar sabendo do seu endereço até amanhecer e vão colocar vigias no lugar.
? É difícil dar tanto crédito a eles – retorquiu ela – O mundo mudou tanto…
? O mundo está sempre mudando. Ultimamente mais do que de costume. Quero dizer, eu nem tenho vinte anos e já aconteceram mais coisas incríveis durante esse período em Arton do que nos últimos seiscentos anos – Justin ia falando e arrumando o quarto.
? Vinte anos? Vocês humanos vivem tão pouco. Com essa idade ainda aprendia meus primeiros truques de mágica rudimentar em Lenórienn. Mas é verdade, as últimas duas ou três décadas são as mais conturbadas desde a Revolta dos Três – Justin parou para olhar para ela seriamente – Disse alguma coisa errada?
? Você não é como os outros elfos. Quando se toca no assunto de Lenórienn, elfos reagem de muitas maneiras: tristeza, raiva, saudade. Mas nunca indiferença – respondeu ele, ainda intrigado.
? É claro que não sou como os outros elfos, sou superior. Os elfos acreditavam que eram perfeitos, e desdenhavam qualquer um que não estivesse nesse modelo de perfeição, eles não conseguiam se adaptar a visões diferentes. Por isso não viam suas próprias fraquezas. Se eu tivesse tido sucesso, tudo teria sido evitado – disse a elfa, como se fosse apenas uma coisa banal, enquanto sentava-se em uma cadeira que julgou estar limpa o suficiente.
Justin ficou olhando para ela alguns instantes, meio abobado com a situação. Ele sabia que ela devia ser bastante orgulhosa e arrogante, mas isso era mais, muito mais do que havia esperado. E quanto aquela última frase…?
? Não quero parecer um intrometido, mas isso me deixou bem curioso, o quê deu errado e poderia ter evitado a queda de Lenórienn? – ele arriscou perguntar.
? Ah, claro, às vezes esqueço quanto tempo faz, especialmente do ponto de vista de vocês, humanos. Tornando uma história longa em curta: tentei roubar o trono de Lenórienn de Khinlanas, setecentos anos atrás, mas minhas forças foram derrotadas, com isso fui forçada a forjar minha morte para escapar – novamente como se não fosse nada. Justin não sabia se devia leva-la a sério, seria louca?
? Isso é bastante inacreditável, se me permite o comentário. Especialmente porque você parece jovem para uma senhora élfica de, o quê, uns novecentos, talvez mil anos?
? Sim, permito o comentário. Como um homem de armas, não espero que conheça bem os meandros da magia. Para simplificar, usei vários feitiços e rituais que permitiram garantir a integridade do meu corpo e alma quando as forças de Khinlanas me encontrassem. Meu plano era desaparecer de vista durante alguns séculos e então retornar, quando menos esperassem, para reformar meus exércitos e tentar usurpar o trono novamente. Claro que não contava que o reino iria desaparecer neste período. Sempre soube que Khinlanas não era o melhor para Lenórienn, mas não imaginava que seria tão incompetente a ponto de fazer tudo desmoronar. Outras complicações também aconteceram, claro, como a perda da vasta maioria dos meus poderes arcanos e memórias – nesse ponto, ele apenas desistiu e aceitou: ou era louca, ou era realmente uma antiga foragida de Lenórienn e tinha mil anos de idade. Ambas as possibilidades eram interessantes. E por ser Arton, elas podiam ser verdadeiras.
? Acho que preciso de uma cerveja. Quer beber alguma coisa?
? Cerveja. Se for para ofender uma obra de arte, que seja a cerveja dos anões ao vinho dos elfos.
? Já que o assunto não é tabu para você, vamos ser sinceros – Justin pôs dois copos sobre a mesa e serviu cerveja para ambos – Vinho élfico é algo que não existe desde o fim de Lenórienn, então tanto faz ofendê-lo ou não com meu modesto vinho de cinco tibares a garrafa.
? Cinco tibares? Por esse preço, as uvas devem ter sido esmagadas por goblins – primeira reação bem-humorada que ele já havia visto.
? Goblins ainda usam sapatos, quando damos a eles, aposto em halflings – riram juntos – Você disse que perdeu seus poderes e suas memórias?
? Oh, bem, a verdade é que meu plano de desaparecer não funcionou muito bem. Eles perceberam o engodo e acabaram me encontrando. Mas a fraqueza dos elfos me salvou – disse ela sorvendo uma pequena quantidade de cerveja e arqueando as sobrancelhas em reprovação.
? Como?
? Eles decidiram que não era honrado me matar naquela situação sem defesas em que estava. Você compreende o quão estúpido isto é?
? Não completamente, mas imagino que seria como não matar Aurakas e acabar com o Império apenas porque não seria honrado enfiar uma espada nele enquanto dorme ou coisa do gênero, dane-se a porcaria da honra, pelo menos neste caso – por um momento Justin imaginou se poderia mesmo matar um homem, por mais odioso que ele fosse, a sangue frio. A dúvida, por si só, podia ser a resposta.
? Exatamente. Por um ideal eles deixaram um inimigo, um inimigo perigoso, viver. Mas admito que a solução foi engenhosa – ela fez alguns gestos e enviou um pequeno raio esbranquiçado em direção a caneca, que ficou coberta com uma fina camada de gelo, bebeu da cerveja gelada, como que para preparar o terreno para más memórias – Usando magias antigas e poderosas eles retiraram quase todo o conhecimento arcano da minha mente, assim como muitas memórias que consideraram perigosas. Quando acordei tentei um feitiço para me levar a um antigo laboratório em Lamnor, e não sabia mais nem como era o primeiro gesto do encantamento. Ou sequer onde ficava esse laboratório. Eu não sabia de nada. Você não poderia imaginar meu desespero – para ela, realmente, eram as piores memórias.
? Eu conheço a sensação de impotência muito bem. Sou cidadão de Malpetrim e me orgulho disso, mas também sou um súdito do reino de Petrynia e tenho vergonha. Vergonha que os bastardos de Tapista tenham o controle além das muralhas daqui e que nosso rei seja um regente de coisa nenhuma.
? Bom, pelo menos ainda temos esperança, – ela notou o interesse dele na sua cerveja gelada e fez um gesto oferecendo o pequeno encanto para a cerveja do guerreiro, que aceitou – posso reconquistar meu poder com paciência e trabalho, e vocês podem reconquistar seu reino. Se há uma coisa que aprendi voltando depois de tanto tempo é que nenhum império é eterno, porque nada é perfeito.
? Me desculpe – respondeu Justin para surpresa de Michilla que ergueu as sobrancelhas, curiosa – Achei que você fosse louca, antes quando você começou a me contar sua história. Mas você é a elfa mais lúcida com que já falei. Tem uma autoconfiança que beira o absurdo, mas lúcida.
Michilla riu-se. Era difícil para Justin entender o que se passava na mente da elfa. Ela era de um outro tempo, de outra raça e de outra classe social, a julgar pela sua ambição pelo antigo trono de Lenórienn, e ele era um jovem ferreiro e guerreiro cuja maior ambição era viajar pelo mundo durante alguns anos antes de se casar e formar um lar cheio de filhos que iriam crescer para ser como ele.
? Bem – disse ela depois das risadas – acho que você tem todo o direito de desconfiar da sanidade de uma mulher que diga tudo o que eu disse. Na verdade, você é a primeira pessoa para quem revelo isto. Sempre imaginei que a maioria das pessoas iria rir de mim. Mas imaginei que se algum dia fosse contar a alguém seria a um arquimago ou grande feiticeiro, e não a um jovem ferreiro que – e ela lançou um olhar significativo para ele – se arrisca a combater minotauros para me ajudar apenas por achar ser a coisa certa.
? Talvez seja um sinal para mudar de profissão. Ser maga não funcionou, vista uma armadura, pegue uma espada e vamos treinar esgrima a partir de amanhã – respondeu ele, divertiram-se com a idéia – Mas, sério agora, por qual razão você me contou essa história toda?
Ela ficou séria de repente e então sorriu divertida com a pergunta direta. Pegou seu cajado, deixado de lado em uma parede até o momento, e mostrou a jóia encrustada no topo. Justin notou, examinando assim de perto, que havia saliências ao longo da jóia como se ela tivesse sido lascada como uma pedra comum, o que lhe parecia ridículo considerando a óbvia qualidade dela.
? Eu contei para você porque quero sua ajuda para restaurar isto, e por conseqüência meu poder – ela falou com os olhos brilhando, provavelmente já sonhando com essa restauração.
? Oh – começou ele surpreso – Agradeço o pensamento e gostaria de ajudar, claro. Mas não sou joalheiro, nem mago, só sei construir coisas de metal que uso para bater em pessoas. Como exatamente você espera que possa lhe ajudar com isto?
? Fazendo exatamente o quê você sabe fazer – respondeu – Esta jóia é um item de poder onde depositei minha alma daquela vez. As lascas que você vê faltando são as partes da minha alma removidas pelos servos de Khinlanas. Estas lascam carregam grande poder arcano por si próprias e provavelmente espalharam-se pelo mundo com o passar dos séculos, tenho pesquisado e acredito ter encontrado vestígios que apontam a localização de uma dessas lascas em uma antiga mansão abandonada há poucos dias de viajem de Malpetrim.
? E portanto dentro do território do Império – concluiu Justin.
? Exatamente. Agora você entende – afirmou ela.
Justin considerou as possibilidades de tudo acabar errado. Ela era bonita, inteligente e, diabo, ele já estava apaixonado. Mas aquilo que ela pedia era tremendamente perigoso. Se aventurar dentro do território do Império era uma coisa, muita gente fazia isto sem grandes problemas além de um ocasional desentendimento com patrulhas de minotauros acerca de documentos e passaportes. Mas o mesmo junto de uma elfa bonita era completamente diferente: seriam visados pelas patrulhas, atacados por caçadores de escravos e uma infinidade de outros problemas.
? Nós sozinhos não conseguiríamos – foi a resposta dele, e percebeu não ter dito exatamente uma negativa.
? Malpetrim é a cidade dos heróis, tão povoada de aventureiros que foi a única capaz de resistir a investida táurica. Acho que não será difícil recrutar alguns deles com a promessa de ficarem com uma parte do que encontrarmos, você mesmo deve conhecer algumas pessoas, não é mesmo? – disparou a elfa, aplicando a última isca e fechando o cerco. Justin ficou em silêncio por alguns segundos, sentido-se desconfortável sendo manipulado daquele jeito. Mas a verdade era que ele sempre quisera isso, e que se fosse para viajar com alguém ele não se importava que fosse com aquela mulher. Rapidamente tomou sua decisão.
? Sim, conheço algumas pessoas. Posso organizar a expedição para daqui alguns dias.
? Isso é ótimo, vou esperar para conhecer as pessoas que você vai escolher – sorriu, feliz com o arranjo.
? Michilla? – chamou ele depois de terminar sua cerveja.
? Sim?
? Por acaso sou o primeiro soldado do seu novo exército? – perguntou, sem emoção.
? E se for? – provocou ela.
? Vou esperar compensações por ser o segundo em comando – ironizou ele estendendo a mão para acariciar os cabelos da elfa.
? É uma nova Arton, por quê não? – conclui ela, aceitando a carícia.
Good Job !!! *Aplausos*
Belo conto… e belo gancho de aventura… /o/
Gostei tbm, eu peguei as fichas prontas e gostei muito. Parabéns.
Os personagens vieram primeiro 🙂
Ótimo conto, parabéns!
A forma como descreves o ambiente na taverna é muito bom e conseguiu dar o clima certo.
Muito bom mesmo! Parabens!
Realmente, pensei em mim gritando: "Malpetrim! bando de corno, Malpetrim!"
Muuuuuuuuuito bom!
o/
impossível deixar de pensar em algo como "Cornos filhos da pu&% do caral$@!" durante a carga. =P
Adoro clichês/assuntos recorrentes (não que eu ache que o seu é um).
Ótimo conto, Parabéns!
2017 e eu li isso agora!!!! eu amei esse conto. parabéns!!!