Maioria silenciosa: de Nixon a Lula, da 4e a Tormenta

O termo maioria silenciosa foi cunhado pelo infame ex-presidente estadunidense Richard Nixon, que renunciou ao cargo na década de setenta para escapar de um impeachment quando seu envolvimento no famoso caso Watergate veio a tona, e designa a vasta parcela da população que mantêm suas opiniões para si.
Apesar do que diz o editorial da revista mais ridícula e tendenciosa do Brasil, capaz de destinar seis páginas a uma brincadeira de internet e metade de uma para a morte do vencedor do Nobel de Literatura José Saramago, a internet não é realmente a “voz da maioria silenciosa”.
A começar pela própria exclusão da grande maioria da população do mundo virtual. Apesar dos cerca de sessenta milhões de Brasileiros conectados, menos de um terço da população do país, apenas vinte por cento destes possui banda larga. Isso diminui o universo digital Brasileiro para cerca de doze milhões de pessoas, ínfimos sete e meio por cento da população do país, e em geral membros de classe média e classe média alta. Então me sinto confortável para afirmar: a internet não é e não pode ser a voz da maioria silenciosa. Sem falar que esse pessoal não é chamado de silencioso por qualquer motivo: eles não se preocupam em externar suas opiniões por escolha, não por falta de uma ferramenta para isto.
Foi engraçado, por exemplo, descobrir que pelo menos metade dos membros mais ativos do .20 são lulistas – e não necessariamente petistas – depois do meu artigo sobre o mercado de RPG onde me declarei a favor do presidente. Especialmente porque o Jamil comentou não muito tempo antes no twitter que não conhecia ninguém que gostava do presidente.
Trazendo essa conversa toda para o que interessa: é de uma arrogância tremenda que qualquer um declare que a sua opinião pessoal representa qualquer coisa maior que seu círculo de amigos e muitas vezes nem mesmo isto. Umas semanas atrás o Jamil teria dito que nenhum dos seus amigos era lulista, o que não seria verdade.
É por isto que apesar da aparente rejeição da 4e de D&D por parte de algumas grandes comunidades virtuais o jogo da Wizards vai muito bem, obrigado. O sucesso de iniciativas estadunidenses que vem no vácuo da 3.5, como o Pathfinder RPG, empalidecem quando em comparação com a 4e. No Brasil o exemplo funciona para duas marcas: D&D e Tormenta são amplamente criticados por comunidades virtuais distintas e são os produtos mais bem sucedidos no mercado. É o poder da maioria silenciosa.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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28 Resultados

  1. douglas3 disse:

    Eita, Nume. Ainda estão trollando você?

  2. Concordo com o texto; tinha um gráfico hilário sobre o assunto no Cracked.com, sobre esse mesmo assunto, depois eu acho aqui.

  3. Um_rpgista_petista disse:

    ontem msmo eu estava pensando nisso: mas como será possível eu achar tantas críticas ao Tormenta na rede se ele parece vender como água, ou pelo menos é bom o suficiente pra mim e tem tantos admiradores? E é a mesma coisa com o nosso presidente: como é possível ele ser tão achincalhado por aqueles q detém o grande poder da mídia nesse pais, a elite, e ainda assim ele ter índice de popularidade quase nos 80%?
    São perguntas q não querem calar, e eu pensei q faria elas apenas aqui para os meu botões. Graças a esse espaço em um blog, veja só vc, é q eu posso encontrar um lugar para fazê-las e quem sabe vcs me ajudem a elucidá-las. Agradeço.

  4. Meks disse:

    Reflexão pertinente.
    Gostaria que esse post tivesse algum eco, e fizesse parar a pregação vazia do tipo "Tormenta é ruim demais", "D&D4 não presta", "GURPS é complicado demais", "o mercado está em crise" e outros chavões gastos (e falsos) que infelizmente continuam a circular na comunidade, apesar de desmentidos em inúmeras ocasiões.

  5. Uma máxima sobre isso: "os cães ladram, mas a caravana passa".

  6. Gruingas disse:

    Aparente rejeição do Tormenta RPG e do D&D…. acho que vai de quem vc "encontra" na internet. A galera de algumas listas de discussão que eu participo adora a 4E, e eu sempre vejo alguém falando bem dela por aí.
    Como por exemplo no Rolando20
    E o mesmo vale pra Tormenta, o forum da Jambô está apinhado de gente que curtiu. Algumas comunidades do orkut também.
    Minha impressão é que não é um efeito da maioria silenciosa, e sim da minoria barulhenta. Quem gosta fala "ah, eu gostei", "na minha mesa funcionou" ou "tá legal", agora a minoria que detesta sai gritando "é uma coisa horroroza!!!!" "nunca vi jogo pior na minha vida!!" "é uma piada!!!!" só que com palavrões.

  7. Marcelo Tomaz disse:

    De qualquer forma, se o assunto é o governo Lula, podemos considerar que foi uma administração de sucesso.
    No embalo do crescimento do Brasil, rumo a uma grande potência, ele conduziu com excelência o país.
    É aclamado e provavelmente elegera sua sucessora.
    Isso se deve, em grande parte, aos projetos sociais no nordeste que, por baixo, darão mais de 20 milhões de votos, sem concorrência, para a ex-ministra Dilma, talvez por falta de discernimento da população.
    Não digo que esses mesmos milhões não votariam caso não houvesse esse apelo.
    Digo que isso acaba inibriando a população carente, sempre tratada como gado, ao melhor estilo romano de governo.
    Coisa de burguês.
    Não só Lula, mas todos fariam igual.

  8. FelipeRaabe disse:

    Falou tudo

  9. Dan Ramos disse:

    Olha, muito bom, Nume.
    Você tocou num assunto interessante: Tormenta e D&D 4E estão num patamar igual enquanto produto famoso, polêmico, e que apesar das críticas de alguns, tem muitos fãs.
    =)

  10. Daniel Anand disse:

    E vendem mais que qualquer outra coisa, dentro das suas realidades, países e ordens de grandeza! 🙂

  11. Cedê Silva disse:

    Considero a Babaquice Capital como revista “mais ridícula e tendenciosa do Brasil”; não obstante, gostei do seu texto. A minoria barulhenta que reclama pode acreditar, e fazer outros acreditarem, que certo produto ou idéia é ruim; não impedem a maioria silenciosa de discordar, e mais que isso, put their money where their mouths are.

  12. Tiago Lobo disse:

    Tá aí, crônica digna de um jornalista.
    Bacana a analogia com o Watergate.

  13. nivoricardo disse:

    odeio o lula…

    • Tek disse:

      E no que seu comentário vai adicionar algo à discussão? Garanto que tem gente aqui que concorda contigo, mas eles agregaram algo útil nos comentários, sem somente fazer esse ataque gratuito. Considere-se avisado.

    • Fernando Hax disse:

      Eu gosto dele, e do governo.

  14. Shido disse:

    Belo texto, Nume, leitura muito bacana.
    O que não quer dizer que eu concorde inteiramente com ele. Ainda que eu torça o nariz para críticas sem argumento — trollagem, ofensa gratuita, etc. –, rejeito igualmente essa coisa de "a maioria está coberta de razão."
    Talvez guardem suas opiniões para si por terem seus desejos atendidos, por não haver necessidade de reivindicar alternativas ou criticar as coisas como são (que, em geral, são feitas com eles em mente). Casal heterossexual precisa reivindicar os benefícios de união a que têm direito como pagadores de impostos que são? Bebedor de Brahma se sente frustrado por difícil acesso a seu álcool de escolha? Não precisam levantar a voz porque têm as coisas a seu favor.
    Não dizem por aí que "quem não chora não mama"? Talvez as minorias tenham motivo para a estridência. O foda é quando a maioria, não satisfeita em já ter um mundo praticamente sob medida para si, ainda quer que os insatisfeitos finjam que gostam da situação, ou, pelo menos, fiquem de bico calado.

  15. Álvaro Freitas disse:

    On 'quem não chora não mama': isso deixa bem claro o fato de vermos tanto esse tipo de trollagem vindo de opiniões que são minoria, em termos absolutos (i.e. Tormenta é um lixo, D&D 4E é um cocô). Percebam que não estou valorando nenhum dos lados das afirmações em questão aí – mas sim que majoritariamente, as opiniões são opostas às dos trolls.
    É só que a maioria satisfeita não sente que precisa lutar pra firmar uma posição, como o Shido bem disse. =)
    BTW, eu realmente não aprovo o governo Lula, mas sei admitir pontos de vista diferentes sem necessidade de antagonização – e olha só, tenho uma cacetada de amigos lulistas. =)

  16. adao_pinheiro disse:

    Pelo que entendi, o Nume não quis dizer que a minoria deva permanecer calada. Ninguém poderia dizer isto. Ele se referiu às pessoas que fazem de suas opiniões verdades absolutas, e que tratam tudo que é "mainstream" como um saco de fezes.
    Claro, a "maioria" está numa condição mais favorável sobre "benefícios", por assim dizer. Mas, agredir a opinião da maioria é tão preconceituoso quanto ser atacado por ela. Não é preciso xingar todo mundo e usar de "trollagem" – como muitos fazem principalmente em posts da Tormenta -, só pra expor uma opinião.

  17. Nume Finório disse:

    Hmm… Deixe-me colocar de outro modo então Remo: Não é porque os homosexuais DEVEM ter o direito a união civil que os heterosexuais devem PERDER seu direito a união civil. O que é mais ou menos o que a galera que tenta forçar sua opinião sobre Tormenta, D&D 4E ou qualquer coisa almeja: foder com os direitos individuais dos outros.

  18. Camilo disse:

    Pois é,
    Não tenho acesso às vendagens da Devir 😉 mas mesmo assim acredito que é difícil saber o que faz um jogo bom ou ruim; até porque – conforme o velho adágio – entre ser bom, ser ruim, e vender, há enormes diferenças. Basta ligar o rádio para comprovar.
    A única certeza é que existe variedade. Tormenta, D&D, 3d&t, Vampiro, GURPS – daqui a pouco teremos "Rastro de Cthulhu" – e mais um monte nos sebos e blogs fazem existir uma variedade crescente no mundo dos jogos em português (se você souber inglês… aí é reclamar de barriga para lá de cheia).
    Tem quem aproveita, tem quem resmunga. As pessoas são variadas também.

  19. @caioviel disse:

    Concordo totalmente.
    E outra, essa minoria barulhenta gosta de invadir espaços da maioria para se fazer ser enxergada. Ai que está o problema.

  20. Kalashtar15 disse:

    O negócio é que a internet se divide em nichos, e poucos saem de sua área de conforto.
    Obviamente não dá para levar em conta esse último RPGCON pois, Tormenta acabara de ser lançado mas, o número de mesas em um evento de RPG pode ser um INDICADOR. Só não é mais confiável porque parte dos mestre/jogadores aguardam exatamente os eventos para jogarem "rpgs desconhecidos"

  21. Fernando Hax disse:

    Realmente, muito bem lembrado. No meu círculo de amigos deve haver uns 25 jogadores e somente eu acompanho os blogs, revistas e sites de RPG.

  22. Gruingas disse:

    Concordo com você aqui Nume. A minoria barulhenta tem sua razão enquanto estiver exigindo seus direitos ou lutando por uma situação melhor. Mas a partir do momento que eles decidem se esforçar pra estragar a diversão dos outros, ao invés de correr atrás da própria, eles perdem a razão.

  23. nickel nausea disse:

    O dot 20 não éra pra ser pro 3.5 e pro tormenta?
    Serio. essa bixice de querer gostar e pregar 4edé uma merda da porra. 4ed vende bem por que a quase nenhuma outra opção no brasil.
    Tomenta vende bem por que é bom.

  24. Nume Finório disse:

    Acho que você não entendeu o post. Não é sobre 4e ou Tormenta mas sobre respeito.

  25. Opa! Essa discussão me fez lembrar um Nerdcast que escutei quando perguntaram como o Mário Abade escrevia as críticas de seus filmes: ele disse que não ouvia nada sobre o filme e nem lia outra crítica, para ser mais impessoal, depois de pronto ele partia para a pesquisa deste material e ver o que acrescentava ao que ele tinha escrito.
    Nunca foi o maior fã do trio e de Tormenta e D&D4 não me atraiu, mas ainda assim comprei o livro na RPGCON pois algum mérito ele tem (maioria silenciosa 🙂 ), para estar tão bem consolidado, mesmo que algumas coisas não sejam originais.
    Acho que o que realmente falta a minoria barulhenta (a bem pouco tempo já fiz parte dela e em certos assuntos ainda faço) é ler este material de maneira imparcial; só assim podemos encontrar os méritos e falhas deles. Aí pode-se criticar com fundamento (e este tipo de crítica é o que faz o cenário crescer e os livros melhorarem).

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