RPG: o Verdadeiro Sentido*

Após ser convidado a integrar o grupo de moderação de uma comunidade no orkut, comecei a me perguntar: – Qual o verdadeiro sentido da prática do RPG? Pensando bem, esta é uma questão digna de nota, na minha opinião, além de bem controversa, claro.
Para responder essa questão recorri a artigos pedagógicos sobre atividades e jogos lúdicos, que por sinal caracterizam o nosso Role Playing Game.

A definição de lúdico é bem simples – Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae – como você não tem obrigação de falar Latim e não, eu também não falo, segue a tradução: o brincar é necessário para a vida humana.
Esta definição de São Tomás de Aquino reflete um parecer interessante.
Defende, basicamente, que o corpo dos homens possui força física limitada, precisando de repouso. E vai além, alegando que a alma também precisa e que este repouso da alma se realiza pela brincadeira.
Podemos tentar deixar isso mais concreto da seguinte forma: quando você joga RPG você brinca, se diverte. Se não, caia fora seu frustrado.
Alimentar a alma brincando me parece bem interessante, mas vamos mais longe: refeição indica se refazer das forças físicas, logo recrear ou recreação quer dizer “alimentar a alma“, logo, brincar. Lembrando que quando o D&D foi criado, ele não utilizava esta nomenclatura (RPG) e não tinha um apelo à interpretação voltemos um pouco no tempo, antes de exisitir o dito RPG, até aproximadamente 742 DC.

Chegando lá, vocês adentram um belo palácio adornado com ouro onde Carlos Magno se encontra em um caloroso debate com seu amigo, filósofo e pedagogo, Alcuíno, um dos homens mais ilustres da sua época, sobre o novíssimo Centro de Ensino.

Ops, não estou narrando uma aventura.
Bem, Carlos Magno criou um Centro de Ensino que ficou sob os cuidados de Alcuíno, e sua proposta era: deve-se ensinar divertindo. Curioso, não?
Naquela época já vemos a presença de atividades lúdicas, ou seja, talvez os primórdios do RPG “contemporâneo” por assim dizer, tenha bases muito mais antigas que os próprios wargames como Chainmail, e Dungeons and Dragons. Ok, D&D não era um wargame… Só vinha acompanhado de miniaturas, mas enfim.
O verdadeiro sentido do RPG deve ser separado em duas frentes,  sua prática como hobby e seu uso como ferramenta educacional. Em ambos os casos o brincar se manifesta. Porém, quando jogamos RPG manifestamos todos os benefícios correntes das atividades lúdicas, e aqueles outros mais propostos pelo hobby em si.
Diferente de utilizá-lo na sala de aula, genuinamente, ou seja, com regras e tudo o mais, a técnica narrativa do RPG pode e deve, na minha simplória opinião, ser utilizada em salas de aula com fins de agregar, não mais adeptos ao jogo, mas alunos interessados e cativados com a metodologia de ensino.
Já para os assiduos jogadores de RPG o jogo tem fins recreativos: você se reúne com amigos, rola dados, conta histórias e participa delas, promove a socialização do grupo e mais toda aquela história que todos já estão carecas de saber.
Na realidade, ainda não encontrei o real sentido do RPG, mas vamos brincar?
*Artigo publicado originalmente na revista Beholder Cego #11

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7 Resultados

  1. Shin disse:

    Excelente artigo.
    Na minha opnião: "RPG é diversão, se vc se diverte perfeito, o jogo está cumprindo seu objetivo, se não… "

  2. valberto disse:

    Não creio que haja UM verdadeiro sentido. O RPG é uma produção humana e como tal o jogador se apodera do jogo para sua própria experiência particular a partir de seus próprios paradigmas, necessidades e gostos. Assim sndo a experiência de jogar – mesmo em grupo – é absolutamente particular. Diversão pode ser um deles, assim como usos educacionais, ou engajamento social. Resta lembrar que rpg é uma criação humana. E humanos, por natureza, não diversos.

  3. Tiago Lobo disse:

    Mas é por aí que o artigo caminha. Eu não digo qual o verdadeiro sentido, só proponho uma reflexão individual sobre essa questão; "pra você, qual o verdadeiro sentido?"

  4. Gruingas disse:

    Eu acho que o grande sentido do RPG é "divertir-se em grupo contanto uma história", pelo menos para mim.
    Eu geralmente sou o mestre, então se aquelas horas de preparação da aventura não me renderem diversão eu fico frustrado, e se ao final da sessão a história não tiver se desenrolado um pouco eu fico com aquela sensação de que fui jogar WAR ou apenas beber refrigerante e conversar com os amigos.
    WAR até é divertido, mas não é RPG, e beber regigerante e conversar com meus amigos também, mas não é RPG.
    Então, pra mim, o sentido é esse, se divertir com um grupo de amigos e contar uma história, o que as vezes acontece sem regra nenhuma numa sombra do estacionamento da facul enquanto o resto do mundo assiste um jogo da copa do mundo…

  5. Sou totalmente a favor daqueles que usam RPG como ferramenta pra qualquer coisa, desde interação com jovens até método de tratar Câncer. o que eu sempre reclamo e defendo é: Os outros jogadores não são obrigados a participar disso.
    Nós podemos aceitar, mas não participar. Se você se identifica e quer doar um livro, ótimo, doe! Mas criar uma tópico dizendo "ganhem livros" e depois dizer que vc é um crápula por não doar, é errado. É como eu dizer: Vocês tem sangue, doem-no, eu já fiz. Eu posso ser doadora, ter carteirinha e me identificar com essa prática, mas não posso obrigar todo mundo a doar, nem mesmo criticar aqueles que são contra.
    RPG é diversão e com a diversão, pode-se fazer qualquer coisa. Desde que você respeite o espaço entre a SUA diversão e a diversão dos outros.
    Parabéns pelo artigo.

  6. Tiago Lobo disse:

    Agatha gostei muito da sua opinião.

  7. rsemente disse:

    reflexão … o verdadeiro sentido do RPG é se divertir fugindo um pouco da realidade e imaginando que você está no controle (ou é) alguem melhor e mais facinante que a vida real (ou que participa de alguma coisa mais facinante do que a vida real).
    Isso tudo com o intuito de se divetir, esquecer um pouco os probelams da vida real e descançar com algo maior e com sensação de imersão maior.

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