Resenha: Piratas & Pistoleiros

2007 foi um dos anos mais brilhantes para Tormenta desde sua estréia, em 1999, com lançamentos importantes e há muito tempo esperados. No entanto, parecia ser também a consolidação de um novo clima para o cenário, a alegria e o colorido iniciais eram substituídos cada vez mais pela desesperança e desolação vermelha da tempestade rubra.

Piratas & Pistoleiros veio para relembrar a todos da alegria e do colorido. Ou do cheiro de sal e pólvora entrando pelas suas narinas.

Apesar de resgatar o lado mais alegre do cenário, este livro também é responsável por acrescentar nuances mais escuras nesse colorido. Piratas são audazes e galantes, mas também cruéis e sanguinários. Pistoleiros são rebeldes orgulhosos, mas também assassinos solitários. Os fanfarrões de Arton não contam bravatas apenas. Eles matam. E muito.

No primeiro capítulo do livro, Fanfarrões, temos uma breve introdução aos piratas e pistoleiros, seus respectivos períodos históricos, suas referências mais influentes na cultura pop, a história da pólvora em Arton e como os fanfarrões de diferentes raças e classes se comportam, seguindo com muito material para jogadores. A começar pela classe básica Swashbuckler: apesar de já ter sido revisada para a edição 3.5 em Tormenta: Guia do Jogador, aqui ela aparece modificada para comportar não apenas espadachins, mas também pistoleiros desde o primeiro nível, através de um estilo de combate escolhido pelo jogador, da mesma forma que o Ranger.

Depois, os novos talentos se fazem presentes, alguns revisados e outros já vistos antes em previews na Dragonslayer, mas todos excelentes. Destaque especial para Na Mosca e Ao Sabor do Destino, o primeiro por permitir acrescentar o modificador de destreza no dano com armas de projéteis e o segundo por substituir o papel dos itens mágicos no jogo, dando uma forçinha para personagens que, assim como James K., não gostam muito de magia.

As classes de prestígio são excelentes, tanto pelos bons backgrounds quanto pelas habilidades úteis. O Carteador é um jogador que tira seus poderes da sorte (e da trapaça!), enquanto o Sedutor é um diplomata que se utilizada do “Método” para conquistar tudo o que deseja. O infame Chapéu-Preto é o pistoleiro frio, o vilão do faroeste, capaz de congelar o próprio inferno com sua alma gelada (qualquer semelhança com o Santo dos Assassinos é mera homenagem), e o vigilante Xerife de Azgher é o agente da lei nas inóspitas terras da fronteira. O Franco-Atirador é o mestre da morte rápida e limpa, capaz de matar quase qualquer coisa com um bom tiro. Um Vigarista pode lhe vender um frasco de poção de cura feita das lágrimas de Valkaria por dois tibares, ou três por sete. O Lobo do Mar é o grande timoneiro, o mitológico pirata, cujo nome é suficiente para fazer navios inteiros tremerem de medo. Quanto ao incorrigível Pregador, bem, você não precisa levá-lo muito a sério, afinal, nem os deuses conseguem!

Há também as armas de fogo. Pistolas, mosquetes, canhões e outras belezinhas para se carregar por aí na cintura ou no convés, além de regras para próteses mecânicas (todo pirata tem uma!) e combate naval, e também para construir o seu próprio navio. Em seguida, temos os itens mágicos, como as pistolas da última chance, o coldre inquieto, o tapa olho do amotinado e alguns artefatos menores, como a forca bem humorada e o amaldiçoado tibar furado.

Depois de tudo isto, finalmente chegamos ao segundo capítulo, As Ilhas Piratas, já vista antes na antiga revista Tormenta, mas reapresentada aqui, revisada e com comentários hilários de James K., em mais uma tentativa literária do capitão pirata. Estes comentários, por si só, fazem valer a pena reler o material.

Na terceira parte, Smokestone, é apresentada uma cidade rebelde dentro das fronteiras do Reinado, onde minas de pedra-de-fumaça abastecem os pistoleiros de Arton. Aqui, a lei é feita pelos bravos, e a honra e o orgulho valem mais do que a própria vida. Narrado em forma de conto, Jack Banguela conta a um peregrino a história da cidade, os valores e costumes de seus habitantes intransigentes e orgulhosos.

No último capítulo, Os Bons, os Maus e os Feios, estão os NPC’s. Alguns novos, como Tom Callahan e Holden Crass, o maior pistoleiro de Arton e o Alto-Vigilante dos Xerifes de Azgher, Tina Tirocerto, centaura pistoleira, e o Homem Sem Nome, bardo assassino de pistoleiros armado com uma metralhadora (!!!). E outros não tão novos, mais ainda não apresentados formalmente, como a capitã Izzy Tarante e John-de-Sangue, presentes, respectivamente, no romance O Inimigo do Mundo, e nos contos do suplemento Área de Tormenta. E, finalmente, alguns já conhecidos e apresentados aparecem com fichas revisadas, como James K., sua irmã Anne K. e a assassina pistoleira Savanna.

Com tanto material novo e útil, a um preço tão acessível, é fácil apontar este como o melhor suplemento para o cenário em 2007.

Nota 6/6.
80 páginas.
R$ 19,50.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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4 Resultados

  1. Daniel disse:

    “fácil apontar este como o melhor suplemento para o cenário em 2007”
    O Área de Tormenta saiu em 2008? Pra mim esse é o melhor. Mas deve ser porque eu saio completamente desse escopo de faroeste em Arton -_-.
    Até porque as regras desse suplemento são cabulosamente ruins, na minha opinião :P. Mas eu realmente não sabia que tinha esse lado mais ‘sombrio’ do assunto sendo abordado, de modo que preciso dar uma nova olhada no material. ^^

  2. Regras ruins? Eu achei elas fantásticas. Deve ser bem isso que você falou mesmo, você não gosta de faroeste/pirataria, então fica difícil apreciar o suplemento.
    Já o Área de Tormenta, ele é muito bom, mas na próxima resenha eu explico porque ele não é o melhor de 2007.

  3. Thiago disse:

    Legal a resenha, mas eu também não gosto desse livro. Utilizar armas de fogo num mundo medieval é interessante, só que no PP não ficou legal. Acho ele meio”desclimatizante”, meio out of bounds. Você lê os romances do Caldela com cavaleiros, sangue, estupros…… e imagina um mundo “sério”, interessante, atraente.
    Esse negócio de Faroeste no meio de Arton é meio brochante.
    Mas o livro traz uma idéia e pelo que se viu ele foi bem sucedido nela. Não gostei simplesmente por não me agradar esse clima de faroeste. Para aqueles que curtem deve ser algo muito bom.

  4. Romullo disse:

    Como assim? Sem sombras de dúvidas este é o melhor título de Tormenta lançado até hj… Mt bom msm! Além do mais, ousado! Sim, sim, Área de Tormenta tb foi mt bom, mas vc pode mt bem misturar um com o outro. Ou vc já viu um cenário mais mistureba (sem perder nem um pouco a graça, claro) do que Arton? Nem Eberron chega perto…

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