Resenha: Dragon's Crown

DragonsCrown_CoverDragon’s Crown é a homenagem do designer e artista japonês George Kamitani aos bons e velhos beat ‘em ups de fantasia dos fliperamas de outrora. Misturando uma jogabilidade clássica com profundidade contemporânea e portabilidade online, consegue ser uma viagem nostálgica que nem por isso se perde em apenas referenciar (ou reverenciar) suas inspirações.
É impossível falar do jogo sem mencionar em primeiro lugar a sua arte, tanto no aspecto positivo como no negativo. Por um lado, há uma direção artística realmente linda, com cenários e personagens desenhados à mão pelo próprio Kamitani. Tudo no jogo é repleto de cor e vida, um espetáculo visual com poucos paralelos possíveis – consigo pensar apenas na beleza estilizada de um Okami, talvez.
Por outro, no entanto, algumas escolhas de design conceitual realmente ficaram bem questionáveis. Acho que a imagem comparativa abaixo resume bem o problema:
DC_Sorceress
À esquerda, temos o design original de uma das personagens disponíveis para os jogadores, uma feiticeira, feito quando o produtor tentou pela primeira vez propor a ideia do jogo a uma desenvolvedora; à direita, como ela ficou na versão final. E não se trata exatamente de uma exceção – ao longo do jogo você se depara com inúmeras desculpas para fanservices safados, indo desde o sensual de verdade até o meramente apelativo. Não que o problema se resuma apenas à representação feminina, é claro – os homens mesmo também são muitas vezes grandes montanhas de músculos trapezoidais -, mas eu acredito que isso só o agrave, ao invés de atenuá-lo; e é na verdade até um pouco mais decepcionante quando você percebe que há exemplos no próprio jogo de como ele poderia ser feito de forma mais elegante – penso no design da personagem elfa, por exemplo, que ficou elegante e bonito sem apelar para proporções exageradas.
E no fim é uma grande pena que o jogo acabe marcado por essa polêmica, especialmente quando você leva em consideração que ele é perfeito em praticamente todos os outros quesitos, satisfazendo com sobras a todas as expectativas. A ascendência é bem clara dos jogos de fantasia para fliperama da Capcom, em especial as duas adaptações do universo de Dungeons & Dragons que foram recentemente relançadas na PSN (e nos quais, aliás, o próprio Kamitani chegou a trabalhar); mas ele faz um belíssimo trabalho de atualização do gênero, incluindo classes de personagens que realmente funcionam de forma distinta, transformando-o praticamente em um jogo diferente dependendo da escolhida; um sistema de evolução profundo e que permite uma boa personalização do seu personagem; e mesmo batalhas contra chefes que requerem algo mais do que apenas bater e matar indiscriminadamente, incluindo truques e estratégias de jogabilidade que as tornam mais únicas e divertidas (além de certas referências *SPOILER* que conseguem ser ainda mais nerds do que o próprio D&D).
Por trás de tudo, há uma tentativa muito bem sucedida de emular o clima de uma mesa de RPG tradicional. O enredo sui generis acompanha um aventureiro / grupo de aventureiros resolvendo problemas diversos em dungeons, que pouco a pouco se convertem em uma trama de ameaça mundial digna de uma boa campanha de D&D. Os estágios (apropriadamente chamados de “aventuras”) apresentam todos os cenários clássicos – a fortaleza orc, a cripta do vampiro, a torre do mago… -, e há NPCs típicos como o mago recluso ou o herdeiro do trono ambicioso. O próprio narrador emula um mestre de jogos contando para o grupo o que acontece com os personagens, inclusive relatando falas e diálogos através de discurso indireto. E há ainda a ênfase na pilhagem de tesouros das aventuras de D&D mais clássicas, ranqueando-os de acordo com o valor e incluindo um ladrão NPC que o acompanha nas aventuras com a função de abrir baús e portas trancadas.
No fim, Dragon’s Crown é um jogo bem único, que evoca ao mesmo tempo a nostalgia de uma época mais simples dos jogos eletrônicos e a profundidade de experiência dos jogos mais modernos. É uma ótima opção de multiplayer, tanto local (o que tem sido raro hoje em dia) como online, se você puder passar por cima da vergonha de dividir com conhecidos as opções questionáveis de design; e é simplesmente um jogo muito divertido de jogar para qualquer um que já tenha rolado um d20 uma vez na vida – além, é claro, de ser um senhor aquecimento para o lançamento do aguardado O Desafio dos Deuses

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5 Resultados

  1. Edu disse:

    Só pra PS3? Que chato 🙁

  2. Sascha disse:

    OH! o jogo tem peitos (e bundas também) que grande “desvantagem”…. O jogo foi desenvolvido no Japão e a principio para japoneses. Lá é outra cultura e muitas vezes o fanservice faz parte de obras de ficção e games, tanto que até mesmo em desenhos mais infantis como dragon ball há fanservices (leiam qualquer texto por ai sobre os cortes de dragon ball pare terem ideia do nível), então se essa for a única desvantagem do jogo acho que ela nem é lá essas coisas… tipo reclamar disso é o mesmo que reclamar do bondag… digo “roupas” da Niele (falem o que quiserem, mas os homens gostam, e ponto)

  3. Daniel Anand disse:

    O jogo tem peitões, mas também tem bundões, peitorais exagerados e coisas do tipo. É o estilo de arte do jogo, e apesar de achar que ele está longe de ser um modelo de jogo não machista, é muito divertido. Foi o jogo onde mais gastei horas no ano passado, platinando no PS3+Vita. Recomendo super.

  4. BURP disse:

    Bom, só pra não deixar passar, o problema é um pouco além de apenas ter peitos e bundas. Tu pode achar nada demais na feiticeira peituda lá, aí de repente uma imagem em HD numa transição de fase tem uma monja com as pernas abertas bem no meio da tela, ou uma ninfa gemendo cada vez que tu clica nela, e por aí vai. Tem alguns pontos em que o jogo realmente ultrapassa a barreira do meramente apelativo. Mas eu vou concordar que no fim isso não me impediu de me divertir muito quando ele não está nesses pontos, que são bem esporádicos, porque ele é realmente muito bem executado. E até por isso que esses momentos acabam incomodando mais – porque o jogo realmente não precisava disso pra ser legal, e tem gente que no fim vai se lembrar só da parte polêmica =P

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