Resenha: Annabel & Sarah

Outro dia fiz a solene promessa à Annilatir,  deusa da inspiração, de dedicar-me mais a leitura de autores nacionais contemporâneos de literatura fantástica.
Hoje eu trago uma resenha.
(E se tudo seguir conforme o plano, vocês podem esperar de agora em diante um artigo meu a cada mês sobre esse mesmo assunto aqui no RPGista.)
Tomei conhecimento da existência de “Annabel & Sarah” e seu autor, Jim Anotsu, por total acaso, numa sexta feira à tarde por meio de um #FF que alguém fez no Twitter elencando alguns escritores brasileiros. Procurando sobre o que o tal Anotsu havia escrito em questão, acabei me deparando com esse que é seu primeiro romance, publicado pela Editora Draco em 2010.

O quê esperar desse livro? 
Se você gostou de obras como “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Caroll, “A Viagem de Chihiro” de Hayao Miyazaki, ou “Coraline” de Neil Gaiman, espere encontrar mais desse sub-gênero que envolve as viagens de uma menina por um mundo maluco. (Embora, como diz o título, aqui são duas protagonistas  e não uma.)
Você pode prosseguir.
Se não conhece nenhuma dessa obras,  provavelmente deveria passar por elas primeiro e voltar aqui depois. Embora isso não seja obrigatório.
Se você por algum motivo não gosta desse gênero narrativo ou tem algum tipo bizzaro de trauma de infância com esse tipo de coisa, sugiro que pare por aqui e vá procurar outra leitura.
O enredo
Ainda por aqui? Ótimo.
A premissa do livro, devo dizer, cativa logo de cara: Duas irmãs gêmeas, com personalidades completamente opostas uma a outra. Annabel, uma indie rocker descabelada e Sarah, uma patricinha fissurada em moda.
Após mais uma rotineira briga fraterna entre as duas, Sarah é aprisionada por mãos que emergem de uma tela de  uma TV antiga e a arrastam para fora dessa realidade. (No melhor estilo do filme “Poltergeist” de Steven Spielberg)
Annabel em sua tentativa de resgate vai parar num mundo povoado por animais antropomórficos  e  onde cidades tem nomes de escritores da geração beat . Ela conta com a ajuda de um relutante lobo detetive chamado “Op-Spade” (diga-se de passagem um dos personagens mais legais desse livro) na sua busca pela flor Amor- Perfeito, a única coisa que pode trazer sua irmã de volta.
Enquanto isso Sarah desperta na cidade de Allegria, um lugar governado por uma ditadura de tons  orwellianos onde todos os cidadãos são obrigados a serem “felizes”.
A narrativa
O livro é narrado na terceira pessoa e estruturado em capítulos curtos. Os capítulos se alternam mostrando o que está acontecendo com cada irmã. A escrita é fluida, ágil, parecida com a de alguns romances policiais.

Um livro cabeçudo

Dresden Dolls. Dashiell Hammett. Film Noir. Literatura Beatnik. Literatura clássica. Rock’ n Roll. Distopias. Personagens bíblicos. Séries de TV.
Annabel & Sarah está apinhando de citações e referências a música, literatura, cinema e cultura pop em geral.
E embora eu pessoalmente ame muito tudo isso, esse talvez seja, ironicamente, seu maior defeito.
Pois enquanto o enredo tem uma pegada que talvez agrade mais o público adolescente, é preciso ter um repertório significativo para poder apreciar (e mesmo entender) algumas das várias referências presentes no livro.
O que acaba restringindo um pouco o leitor ideal dessa obra a um nicho híbrido de adolescentes e universitários cultos e cabeçudos.
O problema é que em algumas passagens as citações estão tão arraigadas no texto, que se você não pescar no ato sobre o que Anotsu está falando terá que levantar sua bunda gorda e ir ao Google para ser iluminado com conhecimento. (Não que isso seja necessariamente uma coisa ruim…)
Por exemplo: Em deteminado trecho Annabel manuseia uma arma de fogo e  Anotsu escreve que “sua mão tremeu assim como a de Julien Sorel tremera antes de atirar na Sra. De Renâl”
Se você como eu leu “O Vermelho e o Negro” de Stendhall (um puta romance clássico por sinal), no problem. Se não, sua corajosa busca na internet  irá fazer isso soar apenas como uma tentativa por parte do autor de mostrar erudição . Na minha (humilde e fecal) opinião isso é desnecessário.  Se esse recurso ao tópico literário não estivesse lá você ainda entenderia a situação da personagem perfeitamente.
Apesar desse “defeito” menor, ainda é possível ler o livro sem pegar todas as referências e mesmo assim apreciar a história que é muito legal e não decepciona.
Se como eu disse anteriormente, você gostar desse gênero.
Finalizando
Anabel & Sarah” é um livro bacana e uma leitura muito divertida,  ainda mais  se você  atender as demandas o que o livro espera de você como leitor . Por sua vez, Jim Anotsu é um autor bastante promissor. Esse é com certeza um excelente primeiro romance e que me deu vontade de continuar lendo e acompanhando seus próximos trabalhos.
Annabel  & Sarah. Jim Anotsu. 156 páginas. R$ 30,90.

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2 Resultados

  1. Bruno disse:

    Gostei muito desse livro, recomendo bastante. Ele se passa um pouco em algumas referências mesmo, mas acho que isso é parte do charme da história também. E na maior parte do tempo, não é algo que atrapalhe tanto a leitura, acho eu.

  2. Di Benedetto disse:

    A questão não é tanto “atrapalhar a leitura”, mas mais restringir o público mesmo.
    A história em si poderia muito bem agradar minha irmã de quatorze anos… mas tenho certeza que algumas passagens a deixariam confusa, hehe. Em alguns momento essas referências poderiam ser mais sutis.
    Pessoalmente eu gosto de referências literárias e a cultura pop. Um dos meus livros favoritos é “A Misteriosa Chama da Rainha Loana” do Umberto Eco, que é basicamente uma gigantesca amálgama de citações de 400 páginas! XD (com gravuras)

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