Minha esposa não gosta de RPG.
Mas ela não gosta MESMO. Ela não chega (ainda) ao ponto de sabotar o meu jogo, mas já deixou bem claro – várias vezes – que não gosta que eu jogue.
Desde que começamos a namorar, ela sempre foi contra o jogo. Durante nosso namoro isso não chegou a ser problema, porque eu estava em um período “entre grupos”, i.e., estava sem jogar.
Passei uns bons 6 anos sem jogar periodicamente. Às vezes pintava um jogo aqui, outro ali, mas nada fixo. Nessa época, ela já falava mal do RPG.
Mesmo assim, eu lembro de dizer claramente:
“- Eu gosto de RPG. Não se engane, eu VOU voltar a jogar.” E ela aceitava sem grandes reclamações.
Hoje, tenho um grupo e a primeira coisa que ela disse quando conheceu as pessoas foi:
“- Mas RPG não é coisa de idiota?”
Como eu já havia avisado às pessoas do comportamento dela (e o motivo dele), a tentativa de irritar foi em vão. É claro que, depois disso, tivemos uma “conversinha” em casa.
Agora, preciso explicar o motivo pelo qual ela tem essa má impressão dos jogadores.
Ela tem um trauma.
Uma vez, há muito tempo atrás, ele deixou escapar para mim que tinha um namorado. Ela gostava bastante dele e ele jogava RPG.
Às vezes, ela o chamava para sair, mas ele dizia que tinha jogo marcado. E assim a relação foi se desgastando. Com o cara trocando a menina pelo jogo.
Sob esse aspecto, devo concordar que o cara foi um idiota, assim como eu já fui também.
Nessa situação, temos dois problemas configurados:
1 – Sua/seu companheira(o) não gosta de RPG;
2 – Você troca sua vida social pelo RPG
Escrevo sobre o primeiro, depois posto o segundo.
No meu caso, precisei entender o ponto de vista dela para que pudesse discutir o assunto.
Ela se sente TROCADA pelo jogo. Se sente em segundo plano.
Por isso, tive que deixar bem claro que jamais vou deixar de estar com ela, quando ela precisar, para jogar RPG. Com tanto tempo juntos, já tive a oportunidade de demonstrar essa disposição.
É óbvio que precisei deixar claro que o RPG faz parte da minha individualidade, e que não posso me desrespeitar, a ponto de sacrificar algo que gosto de fazer por ela, porque depois virão cobranças a respeito.
E ela entendeu.
Hoje, casado, confesso que tenho mais tempo para o hobby do que tinha antes. Quando namorava, e nós não nos víamos com freqüência, era difícil sacrificar um dia do final de semana para o jogo. Eu mesmo não tinha disposição para fazê-lo e não me arrependo disso.
Como qualquer outro problema de casal, acho que a questão do jogo é resolvida com negociação e compreensão. Entender o outro lado e, enfim, definir o que é realmente importante para cada um.
No meu caso, primeiro vem ela, depois o hobby.
Sempre foi assim, e eu só precisei deixar explícito.