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Os RPGistas querem acabar com o RPG

Definindo
Talvez a melhor coisa que eu já li sobre os RPGistas, em geral, seja esse trecho escrito pelo Jaime Daniel Cancela, na época, presidente da Ludus Culturalis, para a Nível Épico. Ele conseguiu, em um parágrafo, definir o que eu entendo pelo atual público consumidor de RPG no país:
“O jogador de RPG exige respeito da imprensa, da igreja, do professor, dos pais, dos amigos, de Deus e do Chuck Norris! Mas esquece uma coisinha. Respeito deve ser conquistado também! Claro que se presume que todos merecem ser tratados igualmente perante a lei, mas espera-se que todos tenham igual comportamento também. E a verdade é que o mundo do RPG no Brasil é extremamente imatu­ro. E isso não é exclusividade dos jogadores! Mesmo entre quem faz o RPG no Brasil vê-se muitas atitudes imaturas ou amadoras. E isso não ajuda nada a questão.”
Pois é por aí mesmo, visão muito atual. O destaque vai para: “E a verdade é que o mundo do RPG no Brasil é extremamente imaturo”.
Obs: Na época, o Jaime se referia ao respeito exigido pelos jogadores de RPG devido aos supostos crimes que ocorreram relacionados ao jogo – ainda farei uma matéria completa sobre isso. Eu estou, aqui, usando esse trecho para me referir aos RPGistas como um todo.
Escondendo o Jogo
É isso que as empresas, os narradores e jogadores vêm fazendo. Um colocando a culpa no outro.
Por um lado empresas não divulgam seus produtos, mas não o fazem, pois, segundo elas, o consumidor não compra seus produtos para justificar investimentos arriscados. Tudo acaba entrando no mérito do marinheiro e sua Jolly Roger.
Para contrabalançar vem o consumidor que, ora bolas, só consome na medida que é estimulado para tanto. Papel das empresas. Mas, como não existe estímulo, e aí entramos no preço dos produtos ofertados e sua qualidade, o jogador se sente desmotivado. Resultado: um jogador desmotivado pode ser igual a 6 ou mais jogadores desmotivados. E assim por diante, principalmente se o tal jogador for o Mestre do jogo. E como o cliente sempre tem razão…
Isso pode ajudar a esboçar alguns dos diversos motivos que cada vez menos encontramos novos jogadores. Lembram daquela molecada que lotava os eventos, deslumbrada com seu primeiro combate contra um dragão? Pois é, alguém viu?
Desserviço
É isso que, se pararmos para pensar, estamos fazendo. Claro, antes que me mandem e-mails explosivos: existem exceções e aqui eu quero ser o mais objetivo e simplista possível. Falo de regras não de exceções. Mas admito: elas são uma ótima pauta para um futuro post!
Voltando…
Quando deixamos de ter motivação para jogar, por falha das empresas do ramo, deixamos de acompanhar os lançamentos de longe, que seja. Assim prestamos um desserviço ao hobby, como identificou um publicitário amigo meu. É isso que está acontecendo, o consumidor de jogos de RPG anda cada vez mais triste e desmotivado com o cenário que ele se vê obrigado a engolir. Aí quando acontece um evento, por exemplo, ele não tem ânimo para comparecer e o evento fracassa. Importante: não quero dizer que o RPGista tenha que sair comprando tudo o que não for usar e o que não gostar. Mas, se você não joga mais, e não for desapegado dos seus livros a ponto de doá-lo, provavelmente, não “criará” novos jogadores. Uma pena.
O Drama
O drama é o seguinte, pensem nessa situação: João, 14 anos, comprou seu primeiro livro de RPG, um módulo básico de GURPS – adoro GURPS. Juntou 5 amigos e começou a jogar, e jogar e jogar. Acompanhava revistas, comprava livros, ficava atento aos eventos e, de repente, cresceu. A história do menino maluquinho não acaba aí, mas, fica mais incerta, complicada. Com uma periodicidade indefinida.
Agora ele tem 21 anos, está quase se formando em Física e tem uma namorada, do mesmo curso. Sua namorada não joga, não gosta. “Coisa de garotos”. Diz ela.
Ele trabalha para pagar a faculdade, e todos os seus amigos que começaram jogando em seu grupo, estão se formando, TCC e coisa e tal. Nada de RPG. Pra piorar nada de eventos, lançamentos e revistas como antes. Tudo demora mais pra ser lançado e está mais caro.
Seus amigos fundaram seus próprios grupos, hoje extintos. Eram, geralmente narradores.
O que João poderia fazer? Narrar para iniciantes. Mas isso é cada vez mais raro!
Desse exemplo pode-se extrair, por médias, os seguintes números: João e 5 amigos. 6 pessoas. Multiplicamos 5 por 4 – uma média de cada grupo dos amigos.
Mais ou menos 25 pessoas que conheceram o RPG por causa daquele um, chamado João. Que comprou um livro preto, esquisito, que tinha a sigla “RPG” na capa.
Moral da História
Não posso dizer que as vendas de livros de RPG estão em queda. Isso seria mera especulação da minha parte, mas posso dizer pelo que tenho visto nesses diversos eventos que eu produzi, e nos diversos relatos que eu sempre procuro “extrair” de todo mundo que participa ativamente do mercado, que os jogadores não estão se renovando. Não me venham com essa de crise, não estou analisando a oferta, mas sim a procura. O que é muito, mas muito, pior!
Claro que ninguém que gosta de uma coisa quer acabar com ela, as empresas mesmo não querem acabar com seus negócios, mas conforme o andar da carruagem é o que tende a acontecer. O RPG não vai acabar, isso seria até engraçado de ser dito. Já o mercado, ah, esse sim, que quase inexiste, pode ter seus dias contados.

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