Pra minha surpresa Monsterhearts acabou se tornando um dos meus jogos favoritos, talvez O FAVORITO (estou em dúvida entre ele o Dungeon World), por isso estou sempre tentando convencer as pessoas a darem uma chance a ele. Mas admito, é uma tarefa complicada.
Monsterhearts é um hack de Apocalyse World (o que na prática o torna um jogo completamente novo) escrito por Avery McDaldno e lançado em 2012 pela editora Buried Without Ceremony. Mas convenhamos, fichas técnicas não convencem ninguém a jogar.
“Um jogo narrativo sobre a complicada vida de monstros adolescentes.”
Uma tradução livre do que está na em sua capa. É daí que começo na verdade, mas é algo vago demais. Normalmente prossigo com:
“Sabe Crepúsculo? Teen Wolf, Buffy, Instrumentos Mortais, Jovens Bruxas? É tipo uma mistura de tudo isso.”
Não costuma ajudar muito. As pessoas torcem o nariz ao ouvir “Crepúsculo”. Mas antes de dizer sobre o que é Monsterhearts, prefiro dizer sobre o que ele NÃO É.
NÃO É uma releitura de World of Darkness. Não é uma versão atualizada. Não é, sequer, “tipo” WoD e nem tem pretensão de ser. Apesar das inegáveis semelhanças que ambos compartilham, a pegada é completamente diferente, com cenário, clima e propósitos distintos. Mas por que é importante dizer isso? Porque é uma ligação óbvia, porem errônea, que muitos costumam fazer assim que se deparam com o jogo (incluindo eu mesmo o fiz).
Outra coisa: MH é um jogo SOBRE adolescentes, mas NÃO É um jogo PARA adolescentes, muito menos infantil. Apesar de nada impedir adolescentes de jogarem, para aproveitar a experiência devidamente é exigido uma certa maturidade que, até onde me consta, a maioria dos adolescentes ainda não o tem (pelo menos eu não tinha). Pode parecer estranho, mas é um jogo com temática bastante adulta.
Hoje, depois de ter participado de uma campanha como jogador e estar mestrando outra, eu definiria MH como um storygame sobre as dificuldades e complicações daquela fase onde não se é mais criança e ainda não se é adulto. Sendo que o conteúdo sobrenatural não é uma atração por si só, servindo mais como metáfora para os problemas que a maioria de nós enfrentamos nesse período de nossas vidas.
Ele te dá?—?como eu nunca havia visto antes em um jogo, seja ele RPG ou não?—?a oportunidade de brincar com questões de gênero e sexualidade. E, por tanto que os envolvidos estejam de acordo, até explorar questões bastante pesadas como bullying, homofobia, abuso, depressão e etc.
Note que eu usei “de acordo” ao invés de “confortável”. Porque parte da experiência e charme do jogo é sim causar certo desconforto. O desconforto típico de ser adolescente e não saber exatamente seu lugar no mundo. O desconforto de se sentir a todo momento incompreendido e até perseguido.
Por isso acho que para aproveitar bem essa experiência você primeiro tem que ter saído da adolescência para só então revisita-la. Além de é claro, exigir que deixemos nossos preconceitos bobos de lado. Jogar Monsterhearts de mente e coração abertos é essencial para um bom divertimento.
Via de regra as capacidades sobrenaturais dos personagens só são importantes quando geram alguma carga dramática. Não é um jogo sobre poder derrotar o vilão com seus poderes mágicos, mas é sobre manipular a ingênua jovem que está apaixonada por você enquanto tenta lidar com sua atração secreta pelo seu melhor amigo. Ou seja, como em qualquer bom storygame o verdadeiro poder aqui é gerar historias intrigantes.
E me sinto na obrigação de ressaltar que mesmo com a possibilidade de abordar tais temas, não necessariamente, é um jogo sombrio. Aliás, facilmente ele terá vários momentos galhofas com diversos clichês retirados de seus filmes e séries de referência. O vampiro centenário que frequenta a escola, a garota que não tem nada demais mas atraí a paixão de todos, decisões idiotas que só um adolescente apaixonado tomaria e por aí afora. Sugiro ao invés de evitar os clichês, abraçá-los.
E se você está com o nariz torcido até agora por ter lido “Crepúsculo” lá em cima, deixo aqui uma citação do inicio do livro:
“Sejamos francos: você também joga porque tem uma atração constrangedora por criaturas sobrenaturais e histórias exageradas sobre amor, e no fundo você acha que pode escrever algo melhor, não é? Ótimo. Essa é sua chance de provar.”
Finalizando minha divagação confusa sobre esse RPG, espero que ao menos tenha conseguido instigar sua curiosidade o suficiente para te fazer testa-lo. Apesar de não ser pra todos os públicos acredito que a maioria que joga-lo de mente aberta vá gostar, e muito.
Infelizmente apesar da versão nacional do jogo ter entrado em pré-venda no final de 2013, até a presente data ela não foi lançada. As ultimas promessas da editora responsável, a Kobold’s Den, falam em algo no final de julho. Pessoalmente não tenho muitas esperanças.
P.S: Se você ficou curioso pra ver Monsterhearts em ação, eu participei de uma campanha com o pessoal do Escudo do Mestre que você pode conferir na íntegra (ainda em lançamento) clicando aqui! E atualmente mestro uma campanha (bem no inicio) via stream ao vivo todas as quartas-feiras, às 21h, mas você também pode conferir no youtube as sessões gravadas clicando aqui!