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Resenha: O Cavaleiro dos Sete Reinos

cavaleiroNem só de zumbis gelados, intrigas palacianas e dragões revividos vive Westeros. (Ok, isso já é bastante coisa de qualquer forma). Além da série principal d’As Crônicas de Gelo e Fogo, o autor George R. R. Martin também possui uma outra série ambientada no mesmo universo – as aventuras de Sor Dunk, o Alto, e Egg, seu escudeiro que é mais do que aparenta, ambientada noventa anos antes dos acontecimentos da saga maior. Ela foi desenvolvida em uma série de novelas – para quem não está acostumado com a nomenclatura, isso significa histórias um tanto maiores do que um conto, mas ainda mais objetivas e longe do tamanho de um romance completo – publicadas em coletâneas de fantasia lá fora, reunidas agora neste volume lançado no Brasil pela editora LeYa.
O livro reúne as três primeiras histórias da dupla: O Cavaleiro Errante, em que sabemos como os dois se conheceram em um torneio fatídico na região da Campina; A Espada Juramentada, em que eles devem ajudar a resolver um conflito entre lordes; e O Cavaleiro Misterioso, em que um novo torneio nas Terras Fluviais esconde uma conspiração muito maior do que aparenta. Originalmente, haviam sido publicadas lá fora em coletâneas de histórias sobre guerreiros; a idéia de Martin era continuar a série de aventuras em outras coletâneas, como Dangerous Women (sobre mulheres perigosas), de 2013, e Rogues (sobre ladrões e trapaceiros), de 2014, mas aparentemente as histórias não ficaram prontas a tempo, sendo substituídas por excertos do livro World of Ice and Fire que deve ser lançado ainda este ano. No entanto, ele diz que pretende ainda seguir com a série, e contar toda a história da dupla até a sua morte.
De maneira geral, pode-se dizer que a Westeros de Dunk e Egg é um tanto diferente daquela que conhecemos na série de TV e nos livros principais. Ainda é um lugar sujo e tomado de intrigas, é claro; mas há mais espaço para honra e heroísmo, com um pouco menos de risco de se ter a sua cabeça cortada por isso. Um escudeiro de um cavaleiro errante de menor importância pode ver a sua vida mudar com um misto de sorte, força de vontade e cabeça-dura, que o fazem cair nas graças de um príncipe de uma certa casa nobre de grande importância. Uma atitude corajosa e honrada, porém estúpida, possui alguma chance de não terminar em uma grande tragédia – mas não de não terminar em alguma tragédia, é claro, com um custo alto a ser pago para compensar a estupidez. Grosso modo, pode-se dizer que é um universo muito mais propício para uma campanha de RPG do que o cenário posterior, durante a sua saga mais importante.
As histórias da dupla são episódicas, o que quer dizer que cada uma conta uma aventura com início, meio e fim. No entanto, é possível ver claramente alguns esboços maiores se desenvolvendo ao fundo, enquanto os protagonistas devem lidar com os espólios da Rebelião Blackfyre, uma revolta envolvendo um bastardo Targaryen pretendente ao trono, citada levemente nos livros principais mas que aqui terminou apenas alguns anos no passado. Aos poucos os temas típicos que permeiam o mundo de Westeros se apresentam, como as noções de honra e lealdade medievais, sempre em conflito com a dureza e frieza da realidade, ou o fato de que toda guerra ou disputa de maior escala é sempre determinada pelos seus tons de cinza, e não por noções maiores de moral e justiça muito bem definidas. Há mesmo espaço para algumas pequenas referências à história maior que se desenvolveria quase um século depois, como a presença de um certo herdeiro da casa Frey, aqui um mancebo de apenas quatro anos, ou um outro personagem importante que depois acabaria levado para o extremo norte do cenário.
Outro ponto relevante é que eu havia lido os livros da série original em inglês, então este na verdade é o meu primeiro contato com a polêmica tradução deles para o português. Muito já se falou a respeito, e eu não tenho muito mais o que adicionar, na verdade. De maneira geral a leitura é fluida e fácil, mas é difícil não se pegar imaginando sobre algumas arbitrariedades nas nomeações. Pessoalmente, sou simpático à idéia de traduzir nomes de pessoas e lugares sim, mas é preciso ser consistente. É meio estranho ver uma espada de aço valiriano ser chamada Irmã Negra, e a outra Blackfyre. Ou então chamar uma cidade de Campina de Vaufreixo mas depois manter todos os nomes bastardos, como Flowers e Rivers, no original. Claro, há que se admitir que algumas traduções seriam ingratas (traduzir o nome de Egg para Ovo perderia todo o seu sentido original, cuja revelação seria um spoiler), mas não se pode dizer isso exatamente de todos os casos.
Enfim, pequenos detalhes à parte, a verdade é que gostei muito de O Cavaleiro dos Sete Reinos. São histórias mais leves, mas que ainda possuem a marca própria de Westeros e d’As Crônicas de Gelo e Fogo. Em certo sentido, achei elas até melhores do que a saga principal – são muito menos ambiciosas, é claro, mas pelo menos são também muito mais divertidas e carismáticas, sem o ar soturno que permeia os Sete Reinos de noventa anos depois. Dunk e Egg possuem naturalmente o tipo de química que a série de TV se esforça tanto para criar com Brienne e Podrick, por exemplo, e no final fica, sim, aquele gostinho e vontade de ler mais aventuras com os dois no futuro.
O Cavaleiro dos Sete Reinos, de George R. R. Martin.
416 páginas por R$ 49,90 (físico) ou 33,99 (digital).

 

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