Para que conste nos registros, o sistema Old Dragon completa hoje, dia 03/11, um ano desde que foi lançado. E toda a equipe que trabalha nos bastidores do sistema preparou uma série de materiais muito bacanas para o Old Dragon Day, um evento de jogo organizado com várias mesas em todo o país. Infelizmente, não poderei jogar no dia 05, entretanto, também dei meu jeito de aproveitar os cinco personagens prontos disponibilizados pela alma por detrás de toda a identidade visual do jogo, o Dan Ramos.
Uma “homenagem” bem singela minha para todos os envolvidos. E que o sistema OD seja como os velhos dragões, que ficam cada vez mais fortes conforme os anos passam.
Conto – Velho Dragão
Quando o grito de ira de Evendur ecoou pela campina, Isiscarus instintivamente buscou abrigo no alto da pedra solitária que fornecia a única sombra sob o sol abrasador do meio dia. A escalada rápida não apresentava para ele desafio maior, os dedos minúsculos de halfling encontrando pontos de apoio impossíveis. Mas o calor, este sim, estava prestes a dobrá-lo. Nem o mais fino fio de brisa soprava ali, e sua camisa, aberta ao peito, colava no suor das costas.
Haviam marchado desde a aurora através da mata de galhos secos levantando a poeira do chão ressecado. Caminhavam poupando as três mulas que adquiriram no vilarejo de Ponte de Pedra para a carga dos equipamentos e para o transporte das mulheres. Melina, a silenciosa maga do grupo, não pareceu satisfeita a princípio por trocar a bela égua presente de um amante em Torre’alta por aquele animal ossudo. Mas conforme o sol subia nos céus sem afetar o trote manso, agradecia intimamente por ter uma vez mais engolido seu orgulho.
Também havia sido o orgulho de Dorgauth que de certa forma restringiu o número de animais adquiridos para um número inferior ao de membros da comitiva. O anão jamais aceitaria montar em qualquer coisa maior do que seu próprio machado. Evendur achou graça da teimosia furiosa do pequeno robusto, de tal forma que também recusou-se. Não havia pressa, de qualquer maneira. O covil de dragão que desejavam explorar estava abandonado há séculos, um dia ou dois a mais de marcha não fariam diferença. Acompanharia o amigo pelo caminho pedregoso. O próprio Isiscarus teria aceitado a montaria de bom grado, mas havia gasto todo seu ouro com prostitutas e vinho. Teria que caminhar quer quisesse, quer não.
A batalha havia fugido da mente do halfling por alguns instantes, dando lugar a uma série de lembranças desconexas, e ele cuspira por isso, nervoso. Divagara pelo tempo em que o urro do guerreiro morria na garganta, e foi suficiente para que sangue fosse derramado, que vidas fossem ceifadas e que as armas de seus amigos rendidos caíssem soltas ao chão. O suficiente para que as coisas se tornassem ainda piores e fugissem totalmente de seu controle.
A sacerdotiza Eledriel estava ferida, com o braço delicado virado para trás, seguro nas mãos de um imenso gnoll. A criatura peluda com quase dois metros de altura sorria um riso nervoso, doentio. Moscados revoavam sob o couro imundo, e um fio de saliva morna escorria pelas presas muito acima da cabeça da elfa, gotejando em seu cabelo cor de ouro. Ela chorava, soluçando, a face marcada pela dor. Isso parecia incitar o monstro a virar seu pulso ainda mais.
Um grupo de oito daqueles bichos haviam atacado. Caíram sobre eles tão logo apearam dos animais, buscando o descanso adiado sob a sombra daquela pedra. Os dois primeiros monstros morreram pelo machado de Dorgauth, e outros três caíram pela espada de Evendur. Melina havia feito alguma coisa com a mente dos demais, algo tão terrível que os colocou em fuga. Mas havia um último, o maior e mais feroz. E o desespero da criatura o fez usar a mais frágil dentre eles como refém.
Eledriel era vital para o grupo. A única capaz de curar as feridas do corpo e da alma. O rosto de menina escondia a fé de uma mulher feita. Não só nos deuses, mas principalmente em seus companheiros. Acreditava piamente em seus amigos. Os olhos lacrimejantes ergueram-se por um segundo e enfim encontraram o semblante de Isiscarus. Um aceno único. Confiança.
O halfling não se podia dar o luxo de errar. Segurou uma de suas facas pela ponta da lâmina, e do alto da pedra, fez mira. Nem mesmo o inseto que pousou irritante sobre seus lábios roubou sua concentração. Era o seu alvo. Era seu momento de brilhar. Uma gota de suor desceu por sua testa, escorreu por sua face e caiu pelo queixo. Só então atirou. A faca cruzou o ar num silêncio surdo, uma flecha de prata cortando o espaço entre ambos.
Preciso, como sempre.
Direto no olho direito. O monstro tombou sem jamais saber como fora atingido.
– Será que com isso consegui uma carona em sua mula, Eledriel? – questionou o ladino com um sorriso faceiro no rosto pequeno. A clériga, que deixava que as energias curativas dos deuses fizessem seu trabalho no ombro ferido, sorriu em concordância. Ele de fato havia feito por merecer.