Depois de fugir do caos no centro da cidade, me abriguei numa oficina, onde outros dois sobreviventes – um deles adolescente e o outro já com seus trinta anos – estavam encurralados.
Os dois sobreviventes estavam muito assustados, um pouco talvez por causa da minha entrada súbita. Apresentei-me para acalmá-los, embora minha farda coberta de sangue, meu colete com marcas de mordida e minhas armas ainda fumegantes não ajudassem muito. Dentro da oficina, vimos no noticiário sobre a onda de caos se espalhando por toda a cidade, principalmente no centro. Eu morava porto do centro, minha mulher e filha estavam em perigo. Perguntei se tinham parentes para resgatar, e o mais velho confirmou.
Traçamos uma rota rápida que passava pela minha casa e depois pela casa do outro. Havia uma SUV na garagem, mas estava no concerto. Pedi ao homem que arrumasse o veículo, enquanto eu e o garoto fazíamos as barricadas. Enquanto o mecânico testava o motor, vidraças quebrando e batidas nas portas anunciavam que a horda já estava ali. Até me passou pela cabeça deixar a pistola com o jovem, mas decidi que não seria adequado. Havia medo de mais em seus olhos.
Saímos em disparada, derrubando o portão e alguns infelizes logo em seguida. Enquanto o mais dirigia, perguntei ao mais novo o que diabos era aquilo tudo. “Zumbis, cara. Igual aos filmes!” – ele respondeu. O jovem ia começar a explicar algo, mas gritei para o motorista parar próximo à minha viatura capotada. Corri para pegar as duas espingardas que estavam guardadas no interior, e uma caixa de munição. Eles começaram a gritar alguma coisa, e eu voltei antes que os zumbis chegassem perto. Eles ficaram me olhando: o mais velho visivelmente duvidoso da necessidade daquilo, e o mais novo com certeza querendo uma das armas. Pensei em explicar, mas desisti. Fiz sinal que continuassem.
Fizemos um grande contorno para evitarmos uma concentração próxima à avenida. Tentei ligar para o batalhão enquanto isso, mas todas as linhas estavam ocupadas. Assim que chegamos ao meu prédio, entreguei uma espingarda para cada um, e pedi para o pirralho não fazer besteira. Ele não gostou, mas consentiu. Subimos as escadas em silêncio, até a porta do meu apartamento. Toquei a campainha, mas ninguém atendeu. Pedi que cobrissem a minha retaguarda, e chutei a porta. Por sorte, as duas estavam com as malas prontas, atrás do sofá virado. As abracei como nunca o tinha feito antes, chorando e rindo. Perguntei se estavam bem, e o jovem lá fora gritou “os seus vizinhos querem nos matar!”. “Novidade!” respondi, enquanto descia pelas escadas, feliz da vida, e atirando em meus vizinhos.
Seguimos direto para a segunda casa. Ao chegarmos, já havia vários zumbis tentando entrar pelas portas e janelas e o que fosse. Pedi ao jovem para ficar no veículo, protegendo minha família, enquanto eu e o mais velho iríamos até a casa. Enquanto eu falava, o mecânico atropelou dois zumbis, desceu do carro e literalmente abriu caminho até a casa. Entrei derrubando a porta, e chequei a casa até encontrar a esposa dele trancada no banheiro, gritando socorro. Ele seguiu correndo até o banheiro, avisou a sua esposa que estava lá, e me pediu pra proteger a saída. Enquanto os mortos-vivos se empilhavam no gramado da casa – agora mortos de verdade – o casal correu até o veículo, e eu fiz o mesmo. Missão cumprida, hora de procurar abrigo.
O batalhão de artilharia nos pareceu a melhor escolha, e rumamos direto para lá. No caminho, avistamos do alto da cidade as proporções que a situação já tinha atingido. Quando estávamos na rodovia que dá acesso ao batalhão, ouvimos pequenos sons agudos, vindos do alto. Súbita, uma explosão bem à nossa frente quase acertou o veículo. O batalhão de artilharia do exército estava atirando em nós. Teriam os zumbis tomando conta até do exército?