Há bastante tempo, em uma das muitas conversas que antecederam a criação de Gandara, falávamos sobre a criação de mundos medievais e os detalhes necessários para torná-lo atraente. Os diferenciais já empregados com sucesso em outros mundos de fantasia foram aqui e ali eliminados, até que não nos restava mais idéia nenhuma e ficamos com o dilema do que fazer em mãos.
Foi neste momento que a frase que acabou por dar a base para todo o trabalho dali em diante surgiu. “Na verdade, eu queria jogar num cenário com trens”. O silêncio que se seguiu logo foi interrompido por uma verdadeira chuva de possibilidades. Queríamos um cenário fantástico que mantivesse uma origem intrinsecamente medieval, mas onde o vapor houvesse se propagado realmente, sendo a tecnologia mais difundida em todo o mundo.
Retiramos então tudo o que considerávamos já trabalhado a exaustão. Os elfos foram realmente extintos, deixando apenas suas contrapartes negras, os drow e mestiços, a magia se tornou uma arte praticada apenas por bruxos e o panteão foi destruído por uma entidade matadora de deuses. Um mundo pós-apocalipse que definha lentamente, onde os habitantes se agarram á sua última saída… a tecnologia a vapor criada por goblins.
Literalmente, criamos um monstro.
A desigualdade entre as classes movimentada pelo capitalismo feroz imposto pelos anões, principais fornecedores de carvão e minério de ferro de todo o mundo, espalhou a pobreza entre os menos favorecidos. Guerras civis explodiram em vários lugares de todo o mundo, e a raça élfica foi completamente extinta. Conforme o sol do mundo lentamente se consome, as chaminés dos complexos industriais provocam um efeito estufa em todo o globo, retardando o frio glacial da morte. Florestas inteiras são consumidas pelas fornalhas das fábricas, e a sombra do desemprego ganha força.
O crime nunca foi tão propagado, com a máfia despontando soberana com o contrabando de armas, bebidas e drogas. Os pequeninos halflings reduzidos a ratos infestam as vielas escuras das metrópoles, enquanto o êxodo em busca de melhores condições de vida acompanha os leitos dos rios que secam a olhos vistos. Os meio-elfos reuniram-se sob uma única bandeira, e atrás da vingança, iniciaram uma guerra pelo extermínio das raças impuras. Clérigos de Mephisto, o destruidor de deuses, propagam ainda mais violência e mortes enquanto uma corrida armamentista sem precedentes tem inicio.
E é nesse ínterim que surgem os heróis. A última esperança da população contra a vilania que assola cada cidade de Gandara, ainda presos a disputa diária pela sobrevivência do mais forte ou do mais esperto. Divididos entre os próprios interesses e os do mundo em que vivem e lentamente definha, os jogadores terão pela frente as garras de criaturas poderosas e manipuladores em um mundo onde os deuses já não ouvem suas preces.
Steampunk?
O gênero steampunk pode ser explicado de maneira muito simples, comparando-o a literatura que lhe deu origem. Baseado num universo de ficção cientifica criado por autores consagrados como Julio Verne no fim do século XIX, ele mostra um mundo onde a tecnologia mecânica a vapor evoluiu até níveis impossíveis (ou pelo menos improváveis) com automóveis, aviões e até mesmo robôs movidos a vapor.
Este tipo de enfoque não é novidade, tanto na mídia quanto nos RPGs. O gênero Steam (vapor em inglês) a muito vem se popularizando e se mostra aos nossos olhos em filmes e desenhos animados como James Weast e Steamboy. A Liga Extraordinária e Van Hellsing são outros exemplos de filmes que trabalham exatamente este período da literatura.
Viagens sobre trilhos de trens, verdadeiros hotéis flutuantes vagando em zepelins e máquinas extravagantes de funcionamento complicado que fazem pouco mais do que um despertador pululam em cada canto do mundo. Nos RPGs, mundos Steampunk podem ser encontrados no genial Castelo Falksenstein, ou ainda na Trilogia do Fogo das Bruxas.