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Medindo distâncias

Passo, passo, passo… esquerda, direita… passo, passo, passo…
Quantos de nós são capazes de avaliar distâncias a pé? Embora seja muito simples é uma das percepções que mais se alteraram a partir da era moderna, graças à evolução no sistema de transportes.

Até o século XVIII, os únicos meios de transporte terrestres eram os próprios pés ou a velocidade de alguns animais, como os cavalos. Em marcha, um homem anda entre 4 e 5,4 km/h, podendo manter este ritmo por tanto tempo quanto um cavalo trotaria (os cavalos trotam entre 7 e 16 km/h). Isto significa 5 ou 6 horas de caminhada por dia, num passo que não irá causar fadiga. Um viajante a pé, então, percorreria algo entre 20 e 33 km/dia, enquanto um a cavalo faria entre 35 e 96 km/dia.

Hoje podemos nos locomover a uma média de 80 km/h (automóvel, média entre estradas de alta velocidade e ruas urbanizadas) que, mesmo mantendo o rendimento diário entre 5 e 6 horas, já nos fornece 400, 480 km/dia. Que dizer dos corredores aéreos, trens de supervelocidade e afins, então? O homem encurtou o Espaço x Tempo e o mundo, hoje, não parece mais tão vasto.

Agora, imaginem a dificuldade de quem foi criado no Brasil de hoje, um país de proporções continentais, em perceber o espaço da forma que perceberia um personagem medieval, ou até mesmo um homem em meados do séc. XIX? Em saber que o reino vizinho, cuja capital está a uma semana de distância para um grupo de aventureiros a pé, não está a mais que 231 km.

Isto ajuda a explicar a colcha de retalhos dos reinos medievais, as guerras por posse de terras, as cidades diminutas e alguns outros fatores. Ajuda a perceber logo de cara, por exemplo, porque o norueguês Fortimbras, ao pedir permissão para passar com seu exército pelo reino da Dinamarca  para conquistar uma nesga de terra na Polônia (Hamlet, ato IV), não está planejando outra coisa que não a invasão da própria Dinamarca.

Então, eis uma idéia simples, para tentar sentir melhor estas distâncias: andar. Pegar um dia ou dois livres, abrir um mapa (google maps ajuda bastante para traçar estas rotas), planejar sua pequena viagem (levando em consideração as distâncias apresentadas acima) e sair caminhando. Se fizer o retorno de carro ou ônibus, melhor ainda, pois poderá perceber ainda mais a diferença. Uma bicicleta ajuda (um pouco, e desde que não saia correndo com ela) a perceber como seria a distância a cavalo. Ou até mesmo a cavalo, se houver oportunidade. Tentar traçar uma rota que pegue estradas, outra rota que passe por dentro de uma mata. Caminhadas ecológicas servem bem para isso. E não esqueçam de consultar os mapas que imprimirem e tentar perceber bem o espaço percorrido.

Algumas dicas (para um andarilho, não para um competidor de corridas): Protejam a panturrilha. Um meião de futebol já ajuda bastante. Procurem se manter hidratados, mas não beber água em excesso de uma só vez durante as marchas. Quando sentirem sede, simplesmente parem, bebam um pouco e descansem alguns minutos. Se a sua rota for dentro de matas ou trilhas, ou mesmo em estradas de terra, um cajado ajuda muito a manter o ritmo e evitar escorregões e tropeções. Uma bota de caminhada (pode ser desde o tênis esportivo de meio cano até um coturno) evita torções.

Após algumas destas pequenas aventuras a pé, tentem aplicar o conhecimento adquirido nos seus personagens de RPG, ou em sua campanha. Depois me digam.

Abraços,
Leonel

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