Num mundo onde criaturas feitas de pesadelos tomaram forma e levaram a humanidade quase a extinção, alguns sobreviventes desenvolveram poderes que podem ser a chave para o contra-ataque da humanidade, ou sua perdição. Desbrave uma Natal apocalíptica em Tocados pelo Terror, o 6º colocado do Concurso Alphaversos 2018!
Autor: Gilberto “Joka” Olimpio (Natal – RN). Temas: sobrevivência, distopia, disputa de território.
Resumo: Os Pesadelos tomaram conta do mundo, destruindo a civilização como a conhecemos. Centenas de milhares de pessoas sucumbiram à loucura ou perderam a vida devido aos seus mais nefastos pensamentos e desejos. Cabe a vocês, os Tocados, detentores de poderes originados dos próprios monstros que enfrentam e os únicos capazes de entrar em uma Zona de Terror e voltarem sãos, retomarem as terras que a humanidade perdeu antes que a essência maligna que os habitam os transformem em Pesadelos.
Tocados pelo Terror
Quando o fim da civilização chegou, não foi com bombas ou tiros, mas com gritos. Longos e assustadores gritos na calada da noite. Os pesadelos, anteriormente presos aos sonhos da humanidade, agora tomavam forma física e devoravam suas vítimas. Centenas de milhares de pessoas pereceram ante aqueles inimigos criados pelos seus piores desejos, impulsos e pensamentos. Praticamente ninguém estava preparado para enfrentar algo assim. A humanidade teve que aprender a evitar as áreas onde os pesadelos predavam para sobreviver, criando comunidades longe dos grandes centros urbanos, agora entupidos de pesadelos sedentos por novas vítimas. Os poucos que tentaram lutar contra os monstros ou morriam, para retornarem como novos pesadelos, ou voltavam completamente insanos.
Com o tempo, porém, alguns poucos retornaram, os Tocados, pessoas que carregavam a marca dos pesadelos e eram capazes não apenas de voltar sãos desses lugares habitados pelos monstros, mas possuíam habilidades sobrenaturais para lutar contra eles. Acendendo a centelha de esperança da humanidade novamente de reconquistar o seu mundo. Entretanto, alguns desses Tocados formaram cultos aos pesadelos e buscaram aumentar seus poderes sacrificando seus semelhantes aos monstros da noite e dominando o que sobrou da humanidade pelo medo, despertando a desconfiança em relação aos seus supostos salvadores.
Zonas de Terror
Graças aos Tocados, a luta pelo que restou do mundo pôde começar. Descobriram que toda Zona de Terror possui uma entrada, chamada de Portal, que pode tomar as mais variadas formas a depender do pesadelo o qual deu origem à zona. Este Portal leva até a intersecção entre o mundo real e a dimensão invasiva do terror, que é um tipo de labirinto construído pelo próprio pesadelo para aprisionar suas vítimas e delas criar mais monstros. Assim, para fechar de vez o Portal, é necessário destruir ou retirar o Grilhão de lá, uma espécie de objeto ou pessoa ligada misticamente ao pesadelo. Sem ele, o pesadelo não pode habitar o plano material e manter a zona, levando-o à destruição. Ao mesmo tempo, enquanto o grilhão não for resolvido, o pesadelo não pode ser verdadeiramente exterminado. Mesmo que seu corpo seja destruído fora ou dentro da zona de terror, em pouco tempo ele retorna para assombrar suas vítimas.
Pesadelos
Os pesadelos habitam, em sua grande maioria, os centros urbanos onde antes havia enormes concentrações de pessoas e de ressonância de seus horrores ou medos mais profundos. Quanto mais vítimas são devoradas por um pesadelo, mais poderoso e complexo ele se torna, gerando também novos pesadelos em um círculo vicioso e sem fim até que o último ser humano pereça em suas zonas de terror. Entretanto, os mais poderosos não conseguem encarar a luz do dia ou sequer sair de sua zona, por isso atraem suas vítimas até o seu território utilizando-se de humanos degenerados ou pondo coisas que os sobreviventes precisam, como comida, água, equipamentos e assim por diante. Eles podem assumir todo tipo de forma variada, tendo alguns exemplos um carro assombrado pelo orgulho de seu dono, um lobisomem gerado pela fúria de um marido violento ou mesmo uma aranha que se alimenta da inocência das crianças.
Vila de Planalto
Na cidade do Natal, no Rio Grande do Norte, um lugar ficou conhecido como referência a aqueles que sobreviveram e lutam contra os pesadelos, a vila de Planalto. Localizada em um ponto entre diversos morros de dunas, a vila fica em um antigo bairro residencial afastado do restante da cidade. Graças à atuação de Tocados, o lugar pôde começar a tornar-se uma vila, à medida que as pessoas eram salvas e equipamentos da cidade eram resgatados.
Natal do Terror
Natal é uma cidade tomada por um poderoso pesadelo que mantém quase toda a área urbana embaixo de uma eterna nevasca congelante de cinzas. Os que tomam coragem para entrar, contam que um som baixo e ininterrupto de um coro de crianças cantando músicas natalinas chega quase a ensurdecer com o tempo. Corpos de pessoas congeladas ou soterradas por cinzas estão espalhadas por todo o lugar. Mas não há crianças mortas. Elas podem ser vistas perambulando pela cidade com um olhar maldoso e um sorriso maníaco. Os dentes, agora afiados como caninos, terminam de pintar a aparência assustadora delas. Elas estão sempre atrás de novas crianças para entregar ao Velho do Saco, já os adultos, são devorados pelos pequenos.
NPC’S Importantes
Velho do Saco. Um pesadelo com forma humanóide de um homem com seus 70 anos, vestido com fraque sujo e esburacado vermelho sangue e adereços brancos. Por onde ele transita, um fusca bonito e adornado o leva ao som alto de uma música natalina anunciando sua chegada.
Carlos Alves, líder comunitário da vila do Planalto. Está sempre com um olhar cansado, como de quem dificilmente dorme. Respeitado por todos que lá vivem, têm estado em grande alerta desde que viajantes que passam pela vila estarem desaparecendo com freqüência.
Padre Francisco. Homem devoto que acredita que Deus colocou os pesadelos como provações para testar aqueles que querem entrar no reino do céu. Tem agido de forma estranha nos últimos dias por dificilmente ser visto à luz do dia e viver trancado em seu pequeno casebre.
Regras
Tocados pelo terror é um cenário pós-apocalíptico onde os personagens possuem poderes sobrenaturais e concedidos pelas próprias criaturas pelas quais eles irão lutar. Os personagens podem variar de 5 pontos (Novato) a 7 pontos (Lutador) na pontuação inicial, sendo os poucos com capacidade de fazer frente aos monstros, mesmo que nem sempre consigam vencê-los verdadeiramente. Todos os personagens devem começar com a desvantagem Má Fama, devido ao incômodo causado pela energia do pesadelo presente em um Tocado.
Praticamente todas as vantagens estão liberadas, a critério do narrador, com exceção das ligadas ao uso de magia – embora algumas possam ser utilizadas mediante uma boa justificativa sob a aprovação do Mestre. As Vantagens Únicas podem ser adquiridas como o efeito causado pelo poder do Pesadelo no personagem, ainda assim, Construtos somente podem ser adquiridos com autorização do Mestre. Opcionalmente, é possível utilizar as regras de mácula do Manual do Defensor (pág 15) para representar o domínio dos pesadelos sobre os personagens a cada vez que eles fazem excursões nas zonas de terror.
Sugestões de Personagens
? Um sobrevivente da zona de terror, que passou tanto tempo preso que hoje não sabe a diferença entre realidade e pesadelo.
? Um saqueador de ruínas, que busca encontrar o máximo de recursos possíveis para reconstruir a civilização.
? Um possuído, que vendeu toda sua humanidade para lutar contra os mesmos monstros que lhe deram poderes.
? Um vingador, que busca encontrar sua família presa nas zonas de terror.
Ganchos de Aventuras
? Um vendedor de “poções milagrosas” passa pela vila e vende uma poção a uma senhora com a promessa de curar a doença de seu filho. A subsequente morte da criança e enlouquecimento da mãe fazem com que a cada passagem do vendedor, pessoas desaparecem misteriosamente.
? Uma criança é sequestrada na vila, arrastada pelas crianças do velho do saco. Resta aos personagens resgatarem ela antes de se tornar um monstro.
? Em uma misteriosa casa do século 19, uma mulher conhecida como Viúva Machado (Papa Figo) atrai pessoas para dentro ao pedir socorro ou oferecer abrigo a viajantes. Lá, ela devora o fígado de suas vítimas para se manter eternamente jovem.
Antagonistas
Pesadelos Menores (3 a 7 pontos)
F0-2, H0, R2, A0-1, PdF0-1.
Vantagens e Desvantagens: Patrono.
Crianças do Velho do Saco (5 pontos)
F2, H0, R2, A0, PdF0.
Vantagens e Desvantagens: Paralisia, Arena (enquanto estiver na Zona de Terror do Velho do Saco); Modelo Especial (pequeno).
Fusca do Velho do Saco (8 pontos)
F3, H1, R2, A1, PdF0.
Vantagens e Desvantagens: Aceleração, Ataque Especial 1 (Atropelar), Paralisia (farol alto cegante); Ambiente Especial (não pode ficar afastado da Zona de Terror), Modelo Especial (é um carro).
Para Inspirar
Anime/Mangá: Darkstalkers, Puella Magi Madoka Magica, Kekkai Sensen, Yu Yu Hakusho.
Filmes: Cidade das Sombras, A hora do pesadelo, A Coisa, Clown.
Livros: Praticamente todos os livros de Stephen King e Joe Hill.
RPGs: Monstro da Semana, Mutante Ano Zero, Call of Cthulhu, Little Fears.
Video Games: Dying Light, Alan Wake, The Evil Within, Persona, Until Dawn e a série Silent Hill.
Avaliação
Tocados pelo Terror traz um cenário de survival horror interessante, usando bem os temas escolhidos. Faz um bom uso das regras do Manual Básico, e ainda levanta a possibilidade de usar as regras de Mácula do Manual do Defensor. Embora parte dos jurados tenha sentido falta de um melhor desenvolvimento de alguns aspectos (como natureza dos pesadelos e dos poderes dos tocados), todos concordam que os pesadelos são antagonistas interessantes e imaginativos e a ambientação nacional (e que ainda por cima sai do eixo Rio-Sampa) é um diferencial positivo, dando personalidade ao cenário.
? Presença dos Temas: 9,5 – “Os temas estão muito bem representados e em equilíbrio, nenhum ficou em segundo plano em detrimento de outro.” – Armageddon.
? Uso das Regras: 9,0 – “Senti falta de algo que destacasse melhor em regras o que são os pesadelos. (…) seria interessante algum direcionamento mais sólido nesse sentido.” – Oriebir.
? Aspectos Gerais: 8,5 – “É basicamente um survival horror cujo trunfo é substituir os manjados zumbis por um elemento mais imaginativo.” – Lancaster. “Faz um apocalipse de terror fora do lugar comum” – BURP.
# MÉDIA FINAL: 9,0 (6º colocado) #
A avaliação completa de “Tocados pelos Planos”, com comentários e sugestões de todos os jurados, encontra-se na página 2.
O texto do minicenário passou por uma revisão rasteira e padronização no formato para serem publicados no blog. Você pode ler o texto como foi submetido e avaliado neste link.
Confiram a versão extendida do cenário neste artigo no blog do autor (Mundos Colidem), o autor também escreveu uma versão para FATE Acelerado.
As imagens usada neste artigo pertencem a Jambô Editora (banner) ou foi obtida neste link (zona de terror).
Avaliação Completa – Tocados pelo Terror
Presença dos Temas: 9,5
Lancaster: Os temas são Sobrevivência, Distopia, Disputa de Território. Todos se aplicam.
BURP: Utilizou todos de forma bem criativa.
Oriebir: Todos os temas propostos estão satisfatoriamente presentes.
Armageddon: Os temas estão muito bem representados e em equilíbrio, nenhum ficou em segundo plano em detrimento de outro.
Uso das Regras: 9,0
Lancaster: O autor conhece as regras e isso é um elemento positivo.
BURP: Bem aproveitadas também, com conhecimento de causa.
Oriebir: Senti falta de algo que destacasse melhor em regras o que são os pesadelos. São youkai? Fantasmas? Não que precise de uma vantagem única específica para eles, mas acho que seria interessante algum direcionamento mais sólido nesse sentido. Além disso, há alguns errinhos bobos, como “Ataque Poderoso” ou dispor os elementos das fichas em uma ordem diferente do padrão que vem sendo adotado ultimamente (vantagens; perícias; desvantagens), mas é inegável que o autor conhece as regras.
Armageddon: Tem a ficha de um fusca como antagonista. Encerro aqui minha argumentação.
Aspectos Gerais: 8.5
Lancaster: É basicamente um survival horror cujo trunfo é substituir os manjados zumbis por um elemento mais imaginativo. O elemento nacional adiciona um elemento a mais e tira o material do lugar-comum.
BURP: Achei um cenário bem interessante e único, que faz um apocalipse de terror fora do lugar comum. Gostei bastante.
Oriebir: Gostei do mini-cenário e fiquei curioso para saber mais detalhes sobre ele. Gostaria de saber mais sobre os Pesadelos e como se dá a organização dos focos de resistência. Também achei muito interessante a maneira como elementos míticos brasileiros são adicionados no cenário sem forçação de barra e já quero ler mais também sobre como são interpretados outros mitos neste cenário. Enquanto lia, uma imagem que me ocorria bastante era a dos jogos da franquia Souls. Acho que há elementos desta série que poderiam servir como referência neste cenário. Como observação final, gostei bastante das Zonas de Terror, mas acho que sua dinâmica está excessivamente parecida com a das Áreas de Tormenta, em Tormenta, tanto em sua composição quanto nas maneiras de destruí-las. Acho que as Zonas deveriam ser mantidas no cenário, mas seria interessante repensar sua dinâmica.
Armageddon: Uma das primeirissimas coisas que eu fiz quando comecei a jogar RPG foi justamente transformar minha cidade e cercanias em um cenário. E da forma que foi feito, de uma maneira bastante original, só merece elogios.