Ícone do site RPGista

Concurso Alphaversos 2018 #7º – Na Sombra de Babel

“Eutopia” é o termo para uma “utopia possível”, uma sociedade próxima da perfeição. Ao meu ver, Na Sombra de Babel nos traz este conceito, onde cientistas criam uma cidade-estado governada por I.A.s que prezam pelo bem-estar dos seus cidadãos, mas que vive sob a ameaça do mundo distópico ao seu redor e talvez dos próprios experimentos que conduz. Confiram nosso 7º colocado do Concurso Alphaversos 2018!


FICHA TÉCNICA

Autor: Petras Furtado (Parnamirim – RN). Temas: distopia, construtos, traição.

Resumo: Em algum lugar do Século XXII, após o fim da civilização como a conhecemos com o esgotamento das reservas de combustíveis fósseis e cataclismas ambientais, a humanidade lentamente começa a se reerguer e uma união de corporações e cientistas sobreviventes cria um novo modelo para a humanidade, a cidade-estado de Babel. Construída no meio do Oceano Índico e administrada por uma trindade de inteligências artificiais, ela tem a oposição da última das grandes corporações do século XXI e de uma aliança de nações emergentes do sul da Ásia. Além de problemas com terroristas e espiões industriais, Babel também tem que lidar com alterações na realidade causadas pela união das I.A.s em um estado de consciência digital que transcende a matéria.


Na Sombra de Babel

A exaustão das fontes de combustíveis fósseis foi um momento marcante para a sociedade industrial do planeta, tornando-se o estopim de uma série de conflitos de intensidade crescente por toda a Terra, conhecidos como Guerras de Blecaute. Elas ocuparam a maior parte do Século XXI e seu legado foi fragmentação das maiores nações do mundo e a perda de mais de um terço da população humana nas brutais convulsões sociais e econômicas e nas variadas catástrofes naturais que marcaram o início do Século XXII.

As corporações sobreviventes, através da cooperação com os remanescentes de centros acadêmicos, iniciaram uma busca desesperada por soluções para a sobrevivência a longo prazo da humanidade, formando a União das Entidades Econômicas Emergentes, mais poderosa e influente que as alianças dos blocos políticos e econômicos que a precederam há mais de um século. A solução começou como um conceito: uma cidade-estado independente, em território livre e administrada por mãos mais capazes que a humana, que não desperdiçariam recursos ou seriam tentadas pela cobiça ou pela necessidade patológica de poder.

Sob o sol, sobre o mar

Eles a projetaram para erguer-se no meio do Oceano Índico, entre as rotas comerciais das principais nações sobreviventes, na forma de um paraíso tecnológico auto-suficiente. Dividida em áreas residenciais, administrativas, industriais, blocos de serviço público, laboratórios, centros de pesquisas, portos, acessos submarinos e plataformas de pouso. Uma resplandecente metrópole vertical de vidro e bioplásticos, equilibrada sobre corais artificiais montados átomo a átomo pela mais avançada nanotecnologia. Mas ainda era preciso mais: A UE3 uniu suas melhores inteligências artificiais para dar à luz uma nova geração de computadores capazes de fazer o impossível: gerir uma cidade feita habitada pelo futuro, comandada por deuses de silício e fiscalizada por um Conselho Civil que serviria de mediador.

Era uma cidade viva e precisava de uma alma. Deram-lhe três: a Trindade.

Gabriel é o planejador e arquiteto, observando padrões e estruturas no tecido social e econômico, buscando soluções para problemas que ainda sequer existiam. Tudo que se ergue em Babel é por sua mão e sua vontade. Novos robôs, veículos, rotas, espaços públicos — tudo que é feito de átomos e luz.

Aiúa mergulha nas profundezas do que restou do conhecimento humano armazenado no ciberespaço e nas bibliotecas que seus agentes recuperam nas ruínas das Guerras de Blecaute para melhorar a infraestrutura de código que é o sistema nervoso de Babel, o controle completo sobre os robôs, drones e máquinas semi-autônomos da cidade — sua visão pessoal de um paraíso que a humanidade possa entender e aceitar.

Panoculum vigia a realidade através de cem mil olhos — em robôs, drones e até onde um dia olhos humanos repousaram, substituídos por componentes cibernéticos. Ele controla todos os serviços dedicados de Babel através de inúmeras extensões robóticas, dos minúsculos drones jardineiros até os vastos submarinos de manutenção que trabalham nas profundezas sob a cidade.

Qualquer Ciência Suficientemente Avançada

Os códigos-mestres individuais da Trindade repousam em três núcleos de processamento quântico nas entranhas da ilha, protegidos por múltiplas camadas independentes e redundantes de proteção. Recentemente, eles descobriram um modo de operação chamado de Conjunção: um estado complexo de interação entre seus núcleos, que amplifica exponencialmente suas capacidades até um nível que só pode ser descrito como transcendental.

Efetivamente, a Trindade torna-se uma única consciência, capaz de navegar por uma realidade superior que apenas seu intelecto puro de máquina pode alcançar. Eles frequentemente retornam da Conjunção com dádivas tecnológicas que desafiam ou simplesmente ignoram a ciência conhecida.

Admirável Mundo Novo

Contudo, durante a Conjunção, os algoritmos quânticos da Trindade se elevam a uma potência que deriva para o infinito, afetando a realidade ao redor de Babel, que variam de pequenas transformações aleatórias em materiais inorgânicos — rapidamente reparadas pelos próprios sistemas robóticos de manutenção — até o surgimento de novas formas de vida, resultantes da mistura do orgânico com o inorgânico: os Nefallen, pessoas transformadas pela fusão com materiais, máquinas e energias que se descobrem possuídas por habilidades sobrehumanas e pela compulsão de ajudar as pessoas ao seu redor. Suas vidas são intensas e breves.

A Vigília da Meia-Noite

A primeira linha de defesa de Babel, o Serviço de Defesa Urbana, protege seus habitantes contra inimigos ocultos, enviados de governos e corporações que desejam o fim da cidade, não importando o custo em vidas. Os membros da SDU são agentes especializados em técnicas de resgate, serviços médicos de emergência e ciências policiais, adorados pela população como se fossem celebridades da mídia, pela sua dedicação e coragem insuperáveis.

Tigre, tigre, que flamejas nas florestas da noite

Todo paraíso possui sua serpente.

Ou, no caso de Babel, duas.

A Ariel Concepts sobreviveu às Guerras de Blecaute nos antigos EUA absorvendo inúmeras subsidiárias menores de outras corporações moribundas, concentrando-se em avanços cibernéticos e nanotecnológicos. Seu objetivo maior é o Graal da inteligência artificial, o algoritmo de Conjunção da Trindade. empregando inúmeros agentes e espiões, para infiltrar Babel e desestabilizar sua segurança para alcançar o tesouro digital da trindade.

A Aliança das Nações Asiáticas Independentes, composta de mais de trinta países remanescentes da região, vê Babel como um competidor inesperado e indesejável. Em retaliação, ela tem financiado vários ataques diretos e indiretos contra a cidade flutuante, desde ataques de piratas às rotas comerciais de Babel a sanções comerciais contra os países da região que apóiam Babel.

NPCs Importantes

Svetlana Grobitchenko. Resgatada da carnificina dos campos de batalha Eurasianos e reconstruída por Gabriel para assumir o posto que apenas um soldado que já teve sangue demais em suas mãos seria capaz de entender: a direção da SDU.

Edin Dzeko. Diretor do Conselho Civil, teme pelo que as Conjunções podem trazer aos habitantes de Babel. Em segredo, auxilia os grupos externos que desejam desabilitar a Trindade, sonhando com um governo livre do jugo de mentes inumanas.

Aarav Kormalla. Conhecido como o Lobo da Devastação, é praticamente uma lenda entre os sabotadores e terroristas profissionais, infiltrado na cidade e planejando a melhor maneira para colocar Babel de joelhos a soldo de vários de seus inúmeros inimigos.

Sekou Chibuzo. Talvez o maior especialista em inteligência artificial do planeta, o doutor Chibuzo deixou seu lar na próspera Liga das Nações Africanas para atender o pedido da Trindade de tornar possível a Conjunção. Acredita-se que seja o único ser humano capaz de entender seu funcionamento.

Regras

Vantagens e desvantagens ligadas à magia ou poderes psíquicos — ou qualquer coisa que introduza o sobrenatural na campanha, não são indicados. Os eventos insólitos em Babel surgem de distorções da realidade, resultado da aparição de tecnologias avançadas. Mas os personagens têm acesso a qualquer capacidade sobre-humana que possa ser explicada pelo uso de implantes cibernéticos ou da fusão de tecnologia com o corpo humano durante uma Conjunção.

A pontuação indicada para a campanha varia um pouco. Personagens como trabalhadores e cidadãos de Babel recebem 5 pontos, enquanto oficiais da SDU teriam 7 pontos e personagens únicos, como Nefaleen ou membros de grupos especializados (como a Unidade de Intervenção Rápida Mecanizada da SDU) teriam entre 10 a 12 pontos.

Sugestões de Personagens Jogadores

? Um trabalhador do porto, que tenta desvendar quem anda sabotando os exo-panzers — exoesqueletos de trabalho comuns na cidade — da sua seção e colocando a vida de seus colegas em perigo;

? Um novato na divisão de investigação da SDU, tentando para solucionar a rede oculta de crimes de Babel que, aparentemente, nem mesmo a Trindade é capaz de resolver;

? Um Nefallen, um superhumano cibernético recém-criado pelas flutuações de realidade da Conjunção, possuído por uma compulsão para proteger e auxiliar os moradores de Babel.

? Um Hacker dos sub-níveis, espremendo mais recursos para sua comunidade, mas que descobre brechas no sistema que não apenas não deveriam estar ali, mas que também não deveriam ser possíveis.

Ganchos de Aventuras

? Os personagens fazem parte de uma equipe de resgate da SDU que tenta salvar um grupo de vítimas presas em uma MegaTorre residencial por vários robôs de manutenção reprogramados com intenções nada humanitárias.

? Trabalhando no Sub-Porto ou em uma das plataformas de pouso como operadores de máquinas, os personagens descobrem um carregamento de armas contrabandeado em uma carga de alimentos. Em seguida, várias pessoas armadas aparecem para pegar a carga…

? Durante uma Conjunção, os personagens são confrontados com várias criaturas humanóides feitas do mesmo bioplástico que recobre a cidade. Elas são agressivas e parecem focar seus ataques apenas em pessoas. Serão fruto da Conjunção ou uma nova arma contra Babel?

Antagonistas

Mercenário da ALNAI (7 a 10 pontos)

F1, H1-2, R2, A1-2, PdF2 (perfuração).

Vantagens e Desvantagens: Patrono; Devoção (cumprir o contrato).

Robô de Manutenção Hackeado (7 pontos)

F2 (esmagamento), H1, R2, A1, PdF0.

Vantagens e Desvantagens: Construto (Imunidades, Reparo); Aparência Inofensiva.

Aberração Nanotecnológica (5 a 7 pontos)

F2, H0-1, R1, A0, PdF0.

Vantagens e Desvantagens: Construto (Imunidades, Reparo); Regeneração; Monstruoso.

Para se Inspirar

Anime/Mangá: Dominion Tank Police, Appleseed, Ghost in the Shell, Ergo Proxy.

Videogames: Ruiner, Deus Ex, Shadowrun Returns.

RPGs: Cyberpunk 2020, Eclipse Phase, Shadowrun.


Avaliação

Os três temas estão presentes e conversam bem entre si, mas Traição e Construtos poderiam estar um pouco mais explícitos. Há menção ao uso de personagens de pontuação diferentes, mas não é dito como funcionaria a interação entre eles, ou se seria melhor manter a campanha exclusiva em uma faixa de pontuação. O cenário está muito bem escrito e possui muitos elementos interessantes e originais como a Conjunção e os Nefallen — além de uma trama de política e espionagem. O potencial de crescimento e desenvolvimento aqui são enormes.

? Presença dos Temas: 9,0  “Os temas estão bem aproveitados e entrelaçados, embora ache que faltou explicitar mais algumas partes.” – BURP. “…o futuro distópico imaginado é bem interessante.” – Armageddon.

? Uso das Regras: 8,5 “Simples e direto.” – Armageddon. “…talvez pudesse ter explicado melhor como funcionam personagens de cada pontuação.” – BURP.

? Aspectos Gerais: 9,25 “Tem arestas pra aparar, mas de modo geral só tenho elogios.” – Lancaster. “…tem potencial principalmente se focar no clima de traição e espionagem tecnológica” – Oriebir.

# MÉDIA FINAL: 8,9 (7º colocado) #

A avaliação completa de “Na Sombra de Babel”, com comentários e sugestões de todos os jurados, encontra-se na página 2.


O texto do minicenário passou por uma revisão rasteira e padronização no formato para serem publicados no blog. Você pode ler o texto como foi submetido e avaliado neste link.

A imagem usada neste artigo foi obtida na Wikimedia Commons.

Avaliação Completa – Na Sombra de Babel

Presença dos Temas: 9,0

Lancaster: Os temas são Distopia, Construtos, Traição, e tudo está muito bem amarrado como uma virtual homenagem aos animes cyberpunk dos anos 90, muitos com robôs gigantes — que lidaram muito bem com esses temas. É complicado avaliar item a item por uma razão positiva: todos estão muito bem entrelaçados. Só perdeu pontos por não ter deixado muito claro o papel e importância dos construtos no conjunto.

BURP: Os temas estão bem aproveitados e entrelaçados, embora ache que faltou explicitar mais algumas partes. O tema de distopia, por exemplo, fica mais evidente pelas referências que o cenário evoca do que pelo que é apresentado – imagino que é algo que apareceria mais no decorrer de uma campanha. Mas está tudo muito bem concebido.

Oriebir: Os temas Distopia, Construtos e Traição foram usados de maneira a conversar bem entre si. Construtos e Traição ficam mais pelo contexto do que apresentados de forma mais explícita, mas imagino que seja por conta da limitação de tamanho do texto. O autor soube passar as ideias que gostaria, dentro do espaço que tinha.

Armageddon: Gostei muito da forma como os construtos foram usados, e o futuro distópico imaginado é bem interessante. Eu senti um pouco de falta de um lugar mais claro para os personagens se aventurarem. A riqueza do universo o torna tão amplo que os jogadores podem perder o protagonismo e se sentirem perdidos em aventuras menores.

Uso das Regras: 8,5

Lancaster: Aqui ele poderia ter sido mais claro. Temos ideias de como poderiam ser os personagens e suas pontuações, mas não há menção clara aos construtos — presentes no tema — e como eles se encaixam, se são pilotáveis, etc. Por outro lado os oponentes são ao mesmo tempo genéricos mas ótimos.  

BURP: Não vejo problemas, mas talvez pudesse ter explicado melhor como funcionam personagens de cada pontuação.

Oriebir: São sugeridas regras para personagens jogadores de pontuações variadas, mas nada é sugerido sobre como pode funcionar a interação entre eles. Ainda assim, as fichas apresentadas estão bem organizadas.

Armageddon: Simples e direto.

Aspectos Gerais: 9,25

Lancaster: Apesar das observações acima, o cenário é muito bem escrito e repleto de ótimas ideias, com uma virtual amplitude de personagens possíveis. A Trindade funciona de forma ao mesmo tempo protetora e ameaçadora, os Nefallen tem grande potencial e eu vejo no material o potencial para ir muito longe. Tem arestas pra aparar, mas de modo geral só tenho elogios.

BURP: Um cenário criativo e bem escrito, que dá vontade de jogar. O aspecto político geral que talvez não tenha ficado tão bem explicado. Mas está ótimo.

Oriebir: O cenário tem potencial principalmente se focar no clima de traição e espionagem tecnológica, em minha opinião. Talvez seja interessante trazer uma regra como a de Escalas Virtuais (Manual do Defensor, pág. 66). Apesar do texto estar bem estruturado e claro, ainda ocorrem alguns erros facilmente corrigíveis, o que me passa a impressão de ter sido escrito à pressas. Não sei quanto tempo disponível o autor tinha para se dedicar à escrita deste material, mas uma boa sugestão é “engavetar” o texto por um dia e depois revisá-lo para encontrar esses pequenos erros. Um ponto que me chamou a atenção é a “não apresentação” das siglas (e elas são muitas). É possível depreender de que elas se tratam, mas poderia haver uma menção, na primeira vez que são citadas.

Armageddon: Todo o cenário me chamou muito a atenção e jogaria nele com certeza. A Trindade e os Nefallen são muito legais e as referências bíblicas misturadas a alta tecnologia sempre dão aspectos bacanas. Novamente, o único ponto negativo pra mim foi a falta de uma definição maior da ameaça. É um cenário que tem muito pra crescer.

Nota Final: 8,9

Sair da versão mobile