Intimado pelo CF, faço aqui meu pequeno balanço de 2017. Em geral, foi um ano que passou absurdamente rápido – parece que começou ontem, e tenho bem viva a memória de coisas que fiz ou que aconteceram lá no começo. Mas vamos ver com calma.
RPG
O ano começou muito legal, com uma enxurrada de lançamentos com o meu nome entre os autores – na verdade foram nos últimos meses de 2016, mas o hype deles entrou forte no começo do ano. O Só Aventuras 4 teve uma aventura minha, além dos colegas de site Álvaro Freitas e Davide di Benetto e do veterano Rogério Saladino. Depois veio o Manual do Defensor, onde eu tentei expor um pouco da minha visão e da minha experiência com esse jogo que amamos tanto. E então veio o Mundos dos Deuses, também com os colegas do site, Álvaro Freitas e Leonel Domingos. Ao longo do ano ainda participei ativamente da Dragão Brasil com diversos textos e adaptações que foram matéria de capa, como No Man’s Sky (DB 113), Final Fantasy XV (DB 116), Persona 5 (DB 122) e Darkest Dungeon (DB 125), entre outros. E também tive meus textinhos lá no site da Jambô publicados com regularidade, inclusive a minha coluna bimestral, a Castanha de Kaiju. Dá pra dizer que foi um ano bem legal pra mim como autor, inclusive com coisas que ainda não saíram mas estão sendo trabalhadas intensamente nos bastidores.
Como jogador tive menos destaques, pois tenho realmente sido muito pouco RPGista de verdade ultimamente. Mas consegui jogar – na verdade, mestrar – um pouco de D&D5 este ano, reunindo alguns amigos antigos, e foi bem legal. Jogamos Lost Mine of Phandelver, a aventura pronta do Starter Set, e foi lindo, com direito a TPK e tudo. Gostei bastante da experiência, e gostaria de conseguir jogar mais com regularidade, mas certas situações da minha vida pessoal me impedem.
Mesmo sem jogar muito, RPG é simplesmente algo sobre o qual eu gosto de ler e me envolver, então acabei catando alguns dos lançamentos do ano para fins de coleção. Participei dos financiamentos coletivos de 7th Sea e Shadowrun, o primeiro um jogo clássico que sempre quis conhecer, e o segundo outro clássico que já conheço bem e adoro – ainda tenho meus livros em português da Ediouro e da Devir aqui na estante. De importados, não resisti e comprei o livro básico de Starfinder. Eu adoro esse território meio cinzento que fica entre a ficção científica e a fantasia, que aparece inclusive no Mundos dos Deuses; embora tenha achado que o cenário acaba puxando mais para a FC, só com uns pontinhos de fantasia aqui e ali, ainda achei um jogo muito legal, que gostaria de conseguir jogar em algum momento.
O fim do ano ainda trouxe outras coisas bacanas que eu queria destacar. Primeiro tivemos o Manual dos Monstros, dos colegas Armageddon e Tiago Oriebir, onde fui creditado como revisor. Um livro muito legal e necessário depois do bombástico Tormenta Alpha. E depois tivemos A Bandeira do Elefante e da Arara: Livro de Interpretação de Papeis, do amigo Chistopher Kastensmidt. Trata-se de um projeto antigo dele, levando as aventuras dos seus personagens Gerard van Oost e Oludara, já bem publicados em romances e HQs, para o RPG. É um livro bem legal, que mostra como a história do Brasil pode ser fantástica e bacana de explorar. Recomendo muito ambos!
Outras mídias
O que posso destacar de legal em outras mídias? Vejamos.
- Cinema. Não sou exatamente um grande frequentador de cinemas, embora tenha meus gostos particulares e tente ir sempre que dá (o que é menos e menos ultimamente, com os preços um tanto abusivos que estão praticando). Gostei muito dos dois filmes da Marvel que vi esse ano, Guardiões da Galáxia vol. 2 e Thor: Ragnarok (não, não vi o do Homem-Aranha). São filmes que entram bem naquele território que destaquei acima: a área cinzenta que existe entre a ficção científica e a fantasia, nesse caso com os tropos de super-heróis. Recomendo efusivamente ambos. Da DC, assisti apenas Mulher-Maravilha, outro que gostei bastante, por tudo o que representa. Outros filmes legais que vi esse ano incluem o vencedor do Oscar Moonlight, Bingo – O Rei das Manhãs e Logan (que é da Marvel mas não é da Marvel, vocês sabem né). E um que ainda não vi mas já sei de antemão que vou amar e ficar louco demais, é claro, é o Star Wars – Os Últimos Jedi.
- Seriados. Até mais do que cinema, eu sou muito pouco envolvido com seriados. Tem algo sobre ficar quinze horas parado na frente da TV que simplesmente não me anima. Acabo vendo muito poucos, em geral acompanhando a minha namorada, com exceção aí do Game of Thrones obrigatório (embora confesse que esteja assistindo mais por inércia do que por ainda ter interesse genuíno na série – quero é os próximos livros logo!). Não vi Punho de Ferro até o fim – até estava gostando no início, pois sou fã antigo de filmes wuxia de artes marciais, mas a verdade é que ele acaba aproveitando muito pouco o universo místico do personagem; com isso, meio que perdi o interesse e acabei não indo até o fim. Mas vi Os Defensores, e gostei – me lembrou praticamente todos os crossovers de heróis de quadrinhos que eu lia quando mais jovem, e o arco da ressurreição da Elektra é uma história legal demais em qualquer contexto. Outra que assisti foi Dear White People, série que rodeada de polêmicas pela forma como aborda questões raciais na sociedade norte-americana, que achei bastante instigante e interessante. E, é claro, Stranger Things! A segunda temporada não foi tão boa ou bombástica como a primeira, mas segue muito divertida e envolvente.
- Literatura. Li muito pouco este ano, por uma série de razões, o que é algo que me incomoda bastante, já que sempre fui um devorador de livros. A Joia da Alma, o novo romance de Tormenta da Karen Soarele, foi um que me surpreendeu bastante – li meio por obrigação, na verdade, pois não é um gênero que tem me empolgado muito ultimamente, mas no fim gostei bastante; a Karen realmente escreve bem, com personagens bem vivos e repletos de drama e tragédia, e a história não demora a empolgar. O que me incomodou mais foram justamente os clichês e tropos de gênero mesmo, o tipo de coisa do qual ela simplesmente não poderia fugir, de forma que tem muito pouco a ver com a sua qualidade como autora. Já no começo do ano estava lendo Knights of Breton Court, uma fantasia urbana que tenta reimaginar o mito do Rei Arthur no contexto das brigas de gangues de subúrbios de periferia norte-americanos – li apenas o primeiro volume da trilogia, King Maker, mas é um livro bem interessante, ainda que bastante pesado. Acho que a melhor leitura que fiz, no entanto, foi Outubro, do China Miéville, em que ele reconta a história os oito meses que abalaram o mundo em 1917, a partir de uma pesquisa intensa e usando técnicas literárias. Um livro bastante intenso e enriquecedor, para suscitar o debate e a reflexão no ano do centenário da Revolução Russa. Outro que li do Miéville esse ano e recomendo bastante é The Last Days of New Paris – trata-se de uma pequena novela de história alternativa, em que obras de pintura surrealista ganham vida numa Paris devastada após a invasão nazista na Segunda Guerra Mundial. Se essa sinopse não te vender o livro, nada o fará.
- Quadrinhos. O que falei da literatura se estende também para os quadrinhos, embora tenha conseguido talvez ler um pouco mais. Li e recomendo efusivamente o Pantera Negra do Ta-Nehisi Coates, que é simplesmente sensacional; aqui tem uma pequena palhinha dele, pra quem quiser ver. Sigo lendo também os encadernados da Ms. Marvel da G. Willow Wilson e do Gavião Arqueiro do Matt Fraction & Frank Aja, outras duas séries que recomendo demais, demais e demais. Os primeiros lançamentos da editora Valiant pela Jambô – Divinity e Faith – também me agradaram bastante, recomendo muito ambos. De mangás, praticamente os únicos que tenho lido com regularidade são as edições nacionais de Blade of the Immortal e Blame! E também aproveitei as promoções da Amazon pra enriquecer minha coleção com Promethea (edição absoluta), Valerian (clássico dos quadrinhos franceses que ganhou uma malfamada adaptação cinematográfica esse ano) e Blacksad.
- Videogames. O jogo eletrônico que dominou meu ano foi, sem qualquer sombra de dúvida, Persona 5. Peguei meio despretensioso, pois nunca havia sido um grande fã da série (apesar de ter jogado no PS1), apenas porque queria um bom RPG japonês com combates por turnos para passar o tempo, e me apaixonei praticamente desde o primeiro minuto. Tudo nele me envolveu e encantou – o estilo de arte vibrante e dinâmico, a trilha sonora de acid jazz, o tema de assaltos mirabolantes adaptado ao cenário sobrenatural, as referências a ladrões tricksters da literatura como Arsène Lupin, a trama de conotações políticas com uma mensagem verdadeira a passar. Tenho um textão sobre o jogo há muito tempo engatilhado, e não há como subestimar o quanto eu o recomendo. O outro jogo que mais joguei durante o ano foi o Street Fighter V, tanto online como couch versus com alguns amigos; acho até que tenho melhorado bastante minhas habilidades, me especializando na brasileira lutadora de jiu-jitsu Laura Matsuda. Tenho me divertido ainda acompanhado o cenário competitivo, que é repleto de jogadores carismáticos como Punk, Nuckledu, Ricky Ortiz, Tokido e “a fera” Daigo Umehara (por sinal, neste fim de semana ocorre a Capcom Cup, o torneio de encerramento da temporada, onde os principais deles devem competir). De jogos independentes e menores, gostei muito de Pyre – uma espécie de épico fantástico de esportes, algo como Pro Evolution Soccer encontra História Sem Fim; não acho que jamais termos um jogo eletrônico de magibol, mas este chega próximo o bastante! Além disso, a arte é absolutamente linda. E nos últimos dias tenho me divertido no PS Vita com uma coisinha chamada VA-11 HALL-A, uma espécie de simulador de barman cyberpunk, em que você deve fazer drinques para estimular os clientes a falarem sobre suas vidas. É uma experiência diferente, menos focada no desafio do que na narrativa aberta que muda de acordo com os drinques preparados, mas tem sido bem legal.
Terminando
Num tom mais melancólico, queria lembrar que 2017 foi um ano bastante cheio no obituário. No mundinho nerd brasileiro, tivemos a morte do Douglas Quinta Reis, um dos nossos pioneiros, fundador da Devir Livraria. Num espectro mais amplo, tiveram duas mortes no meio musical que me marcaram bastante, uma nacional e outra internacional: a primeira foi o Belchior, cantor cearense que sempre admirei, autor de canções como Alucinação, Como Nossos Pais e Pequeno Mapa do Tempo; e a segunda, já mais próxima ao fim do ano, do Fats Domino, cantor clássico de R&B norte-americano do qual também sou muito fã, e um dos pilares para quem quiser conhecer a verdadeira história do rock para além das linhas do tempo oficialescas.
Fora das artes, 2017 foi um ano cheio de verdade nas mortes intelectuais, como Tzetan Todorov, filósofo búlgaro, que o meio nerd talvez conheça mais pela sua Introdução à Literatura Fantástica; István Mészáros, filósofo político húngaro; e, mais recentemente, Emília Viotti da Costa, grande historiadora com trabalhos fundamentais sobre a escravidão colonial e a primeira República brasileira. Sei que estamos em um blog nerd, e isso parece meio fora de contexto, mas gostaria apenas de deixar registrada essa lembrança, de pensadores que muito contribuíram para a minha visão de mundo.
Mas enfim. Num tom mais alegre, posso dizer que o ano terminou muito bem para mim com o tri-campeonato da Libertadores da América do Grêmio! Fiz até um NPC comemorativo de Tormenta Alpha para homenagear o capitão do time aqui no blog. Agora aguardo nas próximas semanas o campeonato mundial, para saber se terei um acréscimo ainda maior de felicidade antes da virada.
Deixo agora indicado o colega Marlon “Armageddon” Teske como o próximo a fazer o seu balanço do ano. O que será que aconteceu em 2017 nas selvas virgens de Timbó? Saiba logo mais, aqui no RPGista!
Para encerrar o post, um clássico de Fats Domino.