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RPG por Whatsapp: um pequeno manual para mestres desesperados

Há quase um ano atrás eu contei sobre a experiência que eu tive ao jogar RPG pelo Whatsapp com pessoas que nunca haviam jogado antes. De lá pra cá, o post vem recebendo uma enxurrada de comentários pedindo para participar de campanhas semelhantes, além de algumas dúvidas de leitores. Depois de ler tantos e de responder alguns, decidi escrever esse post para ajudar quem quiser montar sua própria campanha de RPG via celular. Vamos lá:

Antes: já existem alguns aplicativos de celular próprios para gerenciar campanhas, como o Roll 20. Dê uma olhada na loja de apps do seu sistema e veja se não tem algo que te ajudaria. Claro que, muitas vezes, usar aplicações requer tempo e mais dedicação do que um simples acompanhamento de grupo no Whatsapp ou email. Se não encontrar nada suficientemente ágil pras suas necessidades, então é hora de se juntar ao lado freestyle da diversão.


Sobre o ritmo do jogo

Cada grupo tem sua dinâmica particular. Alguns têm membros mais participativos. Outros custam aparecer. É importante saber esperar, mas também saber seguir se alguém demorar mais do que deveria. Tenha bom senso e, se for necessário, estabeleça algumas regras com seus jogadores sobre isso. Mas é interessante observar que o conceito de turno é algo meio descartável aqui.

Dentro do acordo estabelecido, alguém pode acabar participando com mais frequência do que outro. Não é bom prejudicar o jogador mais ausente, mas também tome cuidado pra não enfraquecer a empolgação de quem estiver mais pilhado com o jogo. Uma ideia pra balancear isso é olhar para as ações deles de diferentes modos: enxergue as ações dos empolgados com mais detalhes, lutas e desafios com mais etapas e desdobramentos; já as ações dos ausentes você pode tomar como algo mais geral, sem tanto desdobramento (ou seja, enquanto um tem uma luta detalhada com um inimigo, outro pode ter uma vitória com uma ou duas ações descritivas).

Outra coisa importante é: se o chat estiver em chamas, escreva várias mensagens menores. Assim os jogadores podem ir lendo suas palavras enquanto você escreve novas. Pode ter certeza: se você demorar demais escrevendo um único textão, algum jogador pode acabar mandando algo antes que vira tudo de cabeça pra baixo e te faz descartar tudo que estava escrevendo. Também escreva sempre amarrando bem as ações dos jogadores dentro da cena, pra todos eles entenderem onde estão e o que está acontecendo. De outra maneira, eles podem acabar perdendo a noção de espaço dentro da cena e caírem cada um para ações mais individualistas.

E o sistema? Qual usar?

Bom, dependendo de como for, você pode nem precisar de um sistema. Talvez apenas algumas descrições dos personagens seja o suficiente para mestre e jogadores entenderem as capacidades de cada um e o resto pode fluir sobre os auspícios do bom senso (sempre ele). Mas se quiser algo mais, pra deixar a brincadeira com mais cara de jogo e menos de bate-papo narrativo, você pode usar algum sistema pronto ou criar o seu. Mas antes, tenha algumas coisas em mente:

Use sistemas mais simples e fuja daqueles cheios de rolagens de dados, bônus, listas, tabelas etc. Nada que você precise consultar ou ficar tirando dúvidas. De preferência, algo que nem precise de (muitas) rolagens de dados. Primeiro, porque isso só ia te atrapalhar. Segundo, porque, para um jogador, rolar dados só é divertido ao vivo, quando ele pode flertar com a sorte e o azar enquanto o dado desliza sobre a mesa. Mas se o mestre está jogando dados escondido, a coisa perde um pouco a graça.

Menos dados e menos necessidade de números. O jogo está preso em uma plataforma de trocas de palavras, então use isso. Prefira sistemas que se baseiem mais em parâmetros verbais do que numéricos. Alguns exemplos são o Lady Blackbird (não tem nenhum número na ficha, só palavras) e o Fate (cuja versão acelerada o Rangel traduziu). Eu sei que os dois sistemas usam dados, mas nada que você não possa simplificar. No caso do primeiro, você pode transformar a parada de dados em bônus a ser somado em um único dado. No caso do segundo, substitua os dados especiais por uma rolagem simples de 2d6 (ou use um aplicativo próprio, como o Fate Dice). Mas, seja como for, se lembre do parágrafo anterior: quando o jogador não vê, os dados perdem sua emoção.

Uma ideia é usar sistemas que deem pontos de vantagem aos jogadores. São pontos que eles poderiam gastar para criar vantagens em certas situações e os quais eles ganhassem mais ao entrar em complicações (como os Pontos de Destino, no Fate). Assim eles têm um certo poder lúdico dentro da narrativa, sem ficar dependendo de rolagens.

Resumindo, é isso aí. Não tem muito segredo, só evite complicar as coisas. Jogar RPG pelo celular pode não ser a maneira mais confortável de se divertir com o hobbie, mas pode ser uma alternativa pra quem não tem muitas oportunidades de escapar da rotina. No fim, a regra é aquela mesma que você já cansou de ouvir: divirta-se e garanta que os outros se divirtam também.
Agora é com vocês. Aguardo ideias e experiências nos comentários. Até a próxima!

PS.: Não fiquem colocando seus telefones aqui. Se não pela privacidade, que seja pela segurança. Chamem seus amigos, façam contatos em fóruns, no Facebook ou em outro lugar. É mais tranquilo e tem muito mais chances de dar certo.

Imagens: 1) Autor anônimo, disponibilizada no Grogtard. 2) Cena de Final Fantasy VII: Advent Children, da Square-Enix.

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