E então temos Guardiões da Galáxia, novo filme do universo cinematográfico da Marvel. Em tese poderíamos considerá-lo mais um filme de super-herois, com personagens de poderes extraordinários, vilões cósmicos e todo o resto; no entanto, ele realmente se esforça para levar mais a sério a sua herança das space operas, o que acaba influenciando muitas das mudanças que faz com relação ao material original. Trata-se de uma aventura espacial como já não se fazia mais, com ênfase na diversão e na fantasia mas sem deixar de ser séria e ter seus momentos dramáticos desde o prólogo, com personagens carismáticos e com os quais você aprende realmente a se importar – mesmo que entre eles estejam uma árvore andante e um guaxinim falante.
Vou confessar aqui que, apesar de ter sido um marvete na maior parte da minha vida nerd, não conheço muito das histórias do grupo – a sua primeira aparição foi muito antes de eu nascer, e a encarnação mais recente da qual o filme é adaptado foi lançada anos depois de eu encher o saco e desistir de acompanhar séries de quadrinhos regulares. Acho todo o universo espacial Marvel muito legal, mas conheço pouco mais do que o que foi mostrado nas mega sagas como a Trilogia do Infinito (justamente, aliás, a que começou a ser armada desde a famosa cena pós-créditos de Os Vingadores, e que segue desenvolvida pelo McGuffin escolhido para mover o enredo deste aqui); por isso, talvez tenha sido mais fácil para mim relativizar as mudanças do material original aqui do que foi em outros casos. A única coisa que doeu um pouco foi ver a Tropa Nova se tornar meros pilotos de caças – mas no fundo talvez tenha sido uma mudança necessária mesmo para ajudar a estabelecer o universo como de ficção científica antes do que de super heróis espaciais.
Em todo caso, a verdade é que você teria mesmo que ser um tanto chato demais para se incomodar com fidelidade à fonte quando se tem um filme tão carismático e divertido de assistir. Os atores estão impecáveis – bom, com uma exceção, talvez, achei a atuação de Dave Bautista tão literal e vazia quanto parece ser a mente do seu personagem; por outro lado, Vin Diesel parece ter encontrado o seu personagem perfeito na árvore andante Groot e a única frase que ela é capaz de falar. Há também uma boa desculpa narrativa pra que a trilha sonora seja feita apenas de clássicos dos anos 1970 e 1980, economizando orçam… Digo, ajudando a criar um clima leve e divertido e dando mote para boas piadas e tiradas do protagonista em muitos momentos.
Muitas das seqüências do filme já nasceram clássicas. A fuga da prisão armada pelo Rocket Raccoon é perfeita. E toda a cena inicial do Starlord nas ruínas é ótima, com referências algo mais do que sutis a’Os Caçadores da Arca Perdida, e usando o recurso do 3D como poucos filmes conseguiram para causar maravilhamento – infelizmente, no entanto, no resto do filme esse recurso parece ser esquecido, e não há nenhuma outra cena em que a sensação de profundidade faça qualquer diferença.
No fim, Guardiões da Galáxia é um filme muito legal, divertido e com o carisma que já se tornou a grande marca dos filmes da Marvel Comics. Com o sucesso que tem tido, é bem capaz que consiga sozinho a façanha de transformar um grupo de personagens de segundo escalão nas novas estrelas da editora. No fundo, no entanto, acho que pra mim o que mais valeu foi me remeter à minha formação na ficção científica cinematográfica, e resgatar um pouco daquele garoto de oito anos que imaginava os mundos que podiam existir entre as estrelas.