Este ano minha esposa me surpreendeu no meu aniversário com um presente perfeito: um Raspberry Pi.
O Raspberry Pi é um computador completo no formato de uma placa de circuito impresso do tamanho de um cartão de crédito. Apesar do tamanho ele é mais poderoso do que o Pentium que eu usava na faculdade (que não faz tanto tempo assim). Ele é alimentado por um carregador de celular de 5V e é capaz fornecer vídeo 1080p para a televisão. E tudo isso por apenas 176R$. Uma grande ferramenta para projetos eletrônicos.
Me restou decidir o que fazer com ele. Queria aproveitar ao máximo o poder de processamento da máquina e fazer um projeto que me fizesse a voltar a exercitar meus dotes de eletrônica. Então pensei em coisas que seriam legais dividir com minhas filhas. Poderíamos fazer uma sonda atmosférica, ou algum tipo de instrumento musical, mas achei que o projeto que melhor aproveitaria a máquina seria fazer uma máquina de fliperama customizada para minhas filhas.
Estou apresentando as eras de videogame gradativamente para elas, de uma forma bem nerd. Comecei colocando Donkey Kong Pauline Edition para elas jogarem. Depois Ecco the Dolphin, afinal crianças adoram golfinhos. Depois procurei um fighting game apropriado para meninas, que tivesse bons personagens femininos que não fossem apelativos e encontrei o de Ranma 1/2. Atualmente minha esposa viciou elas em Pokémon. Um fliperama seria a forma perfeita delas aproveitarem esse pedaço da formação do caráter que tivemos na nossa juventude, e como eles estão desaparecendo, resolvi fazer um sob medida para elas.
Comecei estudando planos de pequenos gabinetes e procurando hardware. o bom de usar um Rasp Pi é que ele é preparado para usar o que se tiver à mão em matéria de hardware, então comprei o monitor com entrada DVI mais barato que encontrei, comprei no site chinês Deal Extreme umas palancas de bola vermelhas que me pareceram muito mais apropriadas para as mãos delas do que os manches que eu via por aqui e pedi em um site nacional de suplemento para fliperamas dois pacotes de dez botões, para conectar as palancas e os botões comprei dois joysticks dos mais baratos (10R$), afinal eu só queria a placa de circuito deles, juntei no meio das tranqueiras eletrônicas aqui de casa caixas de som e um carregador de celular.
Para o gabinete, me apropriei de uma mesa da Xalingo que ficou pequena para as gurias, encontrei uma caixa de talheres indo para a reciclagem e me aproveitei de uma pilha de MDF que sobrou depois de termos desmontado uma prateleira. Mas como essa parte ainda não está pronta, nesse tutorial vou me concentrar somente na parte eletrônica da coisa.
Primeiro fiz um teste, baixei uma distribuição do Raspi Pi já carregada de emuladores e com um sistema de navegação que permite usar o computador somente com os joysticks, sem teclado. Conectei o Raspi, os joysticks, teclado e monitor e testei a distribuição. Tive que aprender a mexer em algumas configurações mas o site da distribuição foi muito bom em me auxiliar a configurar o sistema do jeito que eu queria. O Emulador de SNES ainda não funcionou com o joystick, mas o de Genesis/Megadrive funciona! OK, por enquanto as gurias vão jogar Ecco no lugar de Ranma.
Então foi a vez de por minhas habilidades em marcenaria (ou a falta delas) à prova. Passei uma tarde recortando MDF com uma serra tico-tico alugada, com resultados medianos, e uma tarde fazendo furos na caixa que eu encontrei para ser o suporte dos controles. A primeira tentativa de furos não foi muito feliz, alguns furos ficaram muito ruins mesmo e quase não seguravam os botões. Sem pânico, vamos virar a caixa e tentar de novo, com um pouco mais de prática dá certo.
Com os furos no lugar é hora de colocar o ferro de solda para esquentar Para minha sorte os controles que eu comprei tem uma placa de circuito impresso com áreas próprias para se conectar fios, bastou furar cada uma dessas áreas com um Dremel e uma broca apropriada e estava pronto para soldar. Comprei umas 60 ponteiras apropriadas para conectar nos botões e soldei dois metros de fio, um pedacinho de cada vez, nos furos que fiz na placa. Estou bem enferrujado desde os tempos da Escola Técnica, então minhas soldas não foram das mais profissionais, mas ficaram boas o suficiente.
O último passo é conectar a fiação nos botões e palanca. Depois de um tempo acertando todos os fios no lugar, conectando os cabos USB, DVI e alimentação no Raspi Pi e ligando tudo na tomada: Sucesso!
Ainda é um projeto em andamento. Por enquanto só o Player 1 está com a fiação passada e não tem som, tampouco o gabinete ficou pronto, mas já demonstra que o projeto é possível e só falta terminar detalhes trabalhosos. Foi fácil? Não, de jeito nenhum, envolve muitas habilidades diferentes e bastante trabalho. Mas com certeza foi muito recompensador.