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Resenha: Círculo de Fogo

pacific rimNão sei exatamente de onde vem esse fascínio por robôs gigantes. Talvez seja a sensação de segurança – se sentir protegido em uma cabine de comando por trás de placas de aço com vários metros de espessura -, ou de força mesmo – ter o seu próprio corpo projetado para um ser humanoide com dezenas de metros de altura. Tem também o fato de que, dentro de um, pouco importa o que você é do lado de fora; você pode ser um magrela mirrento ou um gordinho nem um pouco atlético, e ser um ás da mesma forma. Sei lá. Só sei que, tendo crescido em meio aos robôs dos tokusatsu e animes japoneses, eles sempre me pareceram fodas demais. Meu sonho de criança era ter um, de preferência um modelo Valkyrie de Super Dimension Fortress Macross, mas ok, eu me contentaria com qualquer gundam genérico também.
Somando tudo, é claro que eu estava ansiosíssimo praticamente desde o primeiro anúncio para ver Círculo de Fogo, filme em que o diretor Guillermo del Toro pretendia dar a sua interpretação ao gênero que tanto marcou a sua própria infância (e favor não confundir com o outro Círculo de Fogo, aquele dos duelos de franco-atiradores na Segunda Guerra Mundial). Não me decepcionei: desde o primeiro minuto, o que se tem é uma grande festa de robôs e monstros colossais se degladiando e destruindo tudo à sua volta; uma grande homenagem, e ao mesmo tempo um filme de ação puro e extremamente satisfatório.
O roteiro, é claro, não é lá especialmente surpreendente ou muito original. É uma história militar clássica, com ecos de real robots e outros, em que um destacamento especial do exército é formado para enfrentar invasores alienígenas. Pensou emIndependence Day? É uma boa comparação; até a motivação dos invasores tem aquele mesmo ar genérico só pra justificar que não haja possibilidade de paz. No entanto, o diretor espertamente descarta todo o ufanismo, fazendo primeiro com que os pilotos sejam de várias nacionalidades (mas é óbvio que o mocinho é norte-americano, porque né?), e depois também deixando subjacente uma crítica à própria política na ameaça de fechamento do programa de jaegers que defende o planeta.
O grande mérito, acredito, é que del Toro sabe como ninguém equilibrar um roteiro que, ao mesmo tempo em que não é mais filosófico e profundo do que robôs gigantes batendo em monstros são capazes de ser, também não é completamente vazio de conteúdo a ponto de ter que se justificar com explosões indiscriminadas. Já havia provado isso com os seus ótimos (e subestimados) Hellboy, e agora ainda mais: ele não se deixa levar pela tentação de fazer um Neon Genesis Evangelion emlive action (ainda hajam algumas óbvias semelhanças), e nem pela preguiça de ser só um novo Transformers do Michael Bay. Se não há grandes epifanias existenciais e debates críticos, ao mesmo tempo há bons conflitos e crescimento dos personagens. A própria idéia de fazer cada jaeger possuir dois pilotos foi um grande achado, não só para aumentar o número de dramatis personae, mas também pela própria forma de conexão que permite ao robô se movimentar, que influencia diretamente no relacionamento dos personagens.
Achei apenas que o ato final foi um pouco apressado demais. Dá pra sentir uma certa ânsia de terminar logo tudo, uma vez que o grande combate do filme já havia passado sem exatamente encerrar a ameaça de invasão. Então é preciso correr, acelerar a tomada de decisões, bem como os deus ex machina que forcem ao sacrifício derradeiro pela humanidade (e é claro que tem que ter um sacrifício derradeiro pela humanidade).
Mas sinceramente? Nesse ponto você já está tão embasbacado que nem se importa. Foi o primeiro filme que assisti em um cinema IMAX, e cara, que diferença! O tamanho dos jaegers e kaiju é ainda mais impressionante com o tamanho da tela, e mesmo os efeitos em 3D parecem ser menos descartáveis. Quando você vê um robô do tamanho de um arranha-céu usando um navio como clava pra bater em um monstro, você simplesmente não está mais se importando com os eventuais buracos do roteiro.

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