Somando tudo, é claro que eu estava ansiosíssimo praticamente desde o primeiro anúncio para ver Círculo de Fogo, filme em que o diretor Guillermo del Toro pretendia dar a sua interpretação ao gênero que tanto marcou a sua própria infância (e favor não confundir com o outro Círculo de Fogo, aquele dos duelos de franco-atiradores na Segunda Guerra Mundial). Não me decepcionei: desde o primeiro minuto, o que se tem é uma grande festa de robôs e monstros colossais se degladiando e destruindo tudo à sua volta; uma grande homenagem, e ao mesmo tempo um filme de ação puro e extremamente satisfatório.
O roteiro, é claro, não é lá especialmente surpreendente ou muito original. É uma história militar clássica, com ecos de real robots e outros, em que um destacamento especial do exército é formado para enfrentar invasores alienígenas. Pensou emIndependence Day? É uma boa comparação; até a motivação dos invasores tem aquele mesmo ar genérico só pra justificar que não haja possibilidade de paz. No entanto, o diretor espertamente descarta todo o ufanismo, fazendo primeiro com que os pilotos sejam de várias nacionalidades (mas é óbvio que o mocinho é norte-americano, porque né?), e depois também deixando subjacente uma crítica à própria política na ameaça de fechamento do programa de jaegers que defende o planeta.
O grande mérito, acredito, é que del Toro sabe como ninguém equilibrar um roteiro que, ao mesmo tempo em que não é mais filosófico e profundo do que robôs gigantes batendo em monstros são capazes de ser, também não é completamente vazio de conteúdo a ponto de ter que se justificar com explosões indiscriminadas. Já havia provado isso com os seus ótimos (e subestimados) Hellboy, e agora ainda mais: ele não se deixa levar pela tentação de fazer um Neon Genesis Evangelion emlive action (ainda hajam algumas óbvias semelhanças), e nem pela preguiça de ser só um novo Transformers do Michael Bay. Se não há grandes epifanias existenciais e debates críticos, ao mesmo tempo há bons conflitos e crescimento dos personagens. A própria idéia de fazer cada jaeger possuir dois pilotos foi um grande achado, não só para aumentar o número de dramatis personae, mas também pela própria forma de conexão que permite ao robô se movimentar, que influencia diretamente no relacionamento dos personagens.
Achei apenas que o ato final foi um pouco apressado demais. Dá pra sentir uma certa ânsia de terminar logo tudo, uma vez que o grande combate do filme já havia passado sem exatamente encerrar a ameaça de invasão. Então é preciso correr, acelerar a tomada de decisões, bem como os deus ex machina que forcem ao sacrifício derradeiro pela humanidade (e é claro que tem que ter um sacrifício derradeiro pela humanidade).
Mas sinceramente? Nesse ponto você já está tão embasbacado que nem se importa. Foi o primeiro filme que assisti em um cinema IMAX, e cara, que diferença! O tamanho dos jaegers e kaiju é ainda mais impressionante com o tamanho da tela, e mesmo os efeitos em 3D parecem ser menos descartáveis. Quando você vê um robô do tamanho de um arranha-céu usando um navio como clava pra bater em um monstro, você simplesmente não está mais se importando com os eventuais buracos do roteiro.