Você escolheu, e aqui está! O capítulo sobre Forte Martim completo, saído quentinho da prensa do livro A Constelação do Sabre – Volume 1!
Boa parte dos dados básicos sobre Forte Martim foi dada no livro básico de Brigada Ligeira Estelar. Em resumo, é um mundo dividido: há nove anos, os clãs agrários deste planeta levantaram uma insurreição que custou a vida do Príncipe-Regente Teodósio D’Altoughia e sua esposa Angelina. Isso exigiu a intervenção da Brigada Ligeira Estelar, e foi graças a ela que as duas filhas do príncipe-regente foram salvas. Foram necessários anos para que o mundo se recuperasse e a mais velha das garotas, Adelaide D’Altoughia, fosse reconduzida ao trono regencial. Sua irmã mais nova, Isabela, está sendo criada em segurança em algum ponto distante do Império. Mas ninguém foi condenado por esses crimes contra o estado; houve uma solução de conveniência, e agora temos uma situação tensa: Adelaide quer mudar seu mundo, enfrentando o status quo imposto pelas demais casas de nobreza locais, e todos sabem que ela espera o momento certo para agir. Essas casas, por outro lado, esperam o momento certo para se livrar dela.
Os motivos para tanta animosidade remetem aos tempos do avô de Adelaide – Julião D’Altoughia, ligado às elites de Forte Martim. Ele era, antes de mais nada, um governante pragmático e conservador. Em nada queria mudar a estrutura fundiária de seu planeta; sabia desde o começo com quem estava lidando. Ninguém esperaria dele um filho como Teodósio – e muito menos uma neta como Adelaide. Mas também era um homem perspicaz, e estava atento às bandeiras sociais que Silas Falconeri erguia por onde passava. Seu maior medo era que, em uma eventual campanha de anexação, Falconeri levantasse lideranças populares da mesma forma como fez em alguns mundos, e estas o alijassem do poder – na época, havia muita desinformação e um medo concreto de que as terras de seu mundo fossem tomadas e redistribuídas a novos oponentes. Por outro lado, as lideranças políticas de Forte Martim sempre estiveram por cima de todo e qualquer tipo de processo político, e jamais foram contrariadas de alguma forma. Em suma, eram (e são) uma classe política arrogante e jamais aceitariam mostrar algum tipo de fraqueza.
Com todos esses dados de bastidores em mãos, não é difícil entender o que levou à famigerada “Guerra que Nunca Foi”. Ainda há muito segredo sobre o que realmente teria acontecido; o consenso geral (jamais confirmado) é que Julião D’Altoughia teria convocado as forças do Império para estabelecer um cerco militar – forçando as classes superiores de seu mundo a sentar e negociar, sabendo que teriam muitas perdas financeiras com ataques às suas propriedades e terras. Julião teria deixado claro que não queria um banho de sangue e estava disposto a exercer um governo de transição – mas a verdade é que ele jamais quis se indispor com as forças que o colocaram no poder previamente. Sua ideia teria sido estabelecer em seu mundo uma situação política similar à de Arkadi: as coisas mudariam na superfície, para na verdade permanecer as mesmas. As velhas famílias de senhores de terras continuariam no lugar, agora com títulos de nobreza, e tudo ficaria bem para os envolvidos.
Julião só esqueceu de uma coisa: o senso de orgulho de muitas dessas lideranças políticas, acostumadas a serem como reis em seus domínios. No fundo, o governante para eles sempre foi uma conveniência – alguém que os representasse e que poderia ser derrubado do poder a qualquer momento em troca de uma opção mais interessante. Com a nova ordem, os governantes – agora príncipes-regentes – passaram a ter um eixo de sustentação política próprio. Em Arkadi, essa estratégia funcionou pela distância e isolamento do local em relação aos mundos centrais do Império, e pelo fato de os príncipe-regentes da família Dagar representarem um eixo político forte demais para ser simplesmente removido e substituído. Julião D’Altoughia jamais teve nenhuma dessas vantagens.
A pressão de Albuquerque sobre Forte Martim sempre foi enorme, e a disputa entre Albuquerque e Tarso (que acenava com um discurso mais atraente a essas elites) ajudou a piorar muito a situação. Julião acabou enviando sua esposa e filho a Albuquerque, onde achou que eles estariam em segurança. Ele estava certo, mas fez com que o seu herdeiro Teodósio voltasse repleto de ideias novas quando foi a sua vez de sentar no trono regencial. Teodósio percebeu que, assim que decidisse ousar mais em suas políticas, perderia todo o apoio político em seu mundo. Assim, começou a investir na criação de uma nobreza alinhada às suas causas de modernização do planeta. Para isso, um de seus primeiros atos foi combater o trabalho semiescravo em áreas agrícolas – o que voltou toda a elite contra ele. Um adendo na lei tornou a situação ainda pior: as terras seriam confiscadas e redistribuídas em estrutura minifundiária às vítimas, e os nobres responsáveis seriam destitulados. Além disso, para evitar que as coisas voltassem a ser como eram, os governantes desses locais passaram a ser pessoas de confiança, agora investidos de títulos de nobreza – formando clãs artificiais, criando inusitados condes e duques de domínio único. O problema é que esses novos clãs eram vistos frequentemente como intrusos ajudando a impor a política governamental de cima para baixo. Sem vários nobres de escalões menores a seu favor, a nova estrutura tinha falhas de sustentação que levaram a Pequena Nobreza a perceber o poder que tinham em mãos, truncando os projetos regenciais de base justamente na sua etapa de implementação. Esse foi o primeiro eixo do tripé que levou à ruína dos Altoughia em seu planeta: os senhores de domínio e os viscondes.
O segundo eixo é consequente do primeiro e foi formado pela classe militar. Como boa parte das forças armadas era formada por pessoas egressas da nobreza deste mundo, principalmente dos escalões mais baixos, essa visão envenenou a instituição da Guarda Regencial, especialmente porque Forte Martim nunca teve uma cultura de governantes fortes com ideologias ou diretrizes. Seus militares mais graduados se veem como um poder à parte, com direito de intervir nas decisões de seu planeta – a função de um governante seria a de manter a ordem das coisas, cabendo à Guarda Regencial manter a estrutura da sociedade. Junte-se a isso tropas ao mesmo tempo contaminadas por essa arrogância e desestimuladas por obedecer a alguém que não lhes inspira obediência, e temos uma combinação explosiva em potencial. Não é preciso lembrar que, além da Guarda Regencial, o ativo militar de um planeta conta com todas as tropas sob o comando da nobreza…
O último eixo do tripé com certeza foi Tarso. Pouco se provou, pouco se fala e a imprensa ajuda a enterrar qualquer menção ostensiva a esse assunto, mas são públicas e notórias as relações da nobreza de Forte Martim com as famílias poderosas deste mundo. Ninguém sabe realmente como isso foi feito, graças à ausência de documentação, mas a influência do planeta cinzento foi fundamental para o levante de 1854 – uma oportunidade de estabelecer uma área velada de influência e ao mesmo tempo enfraquecer dramaticamente a Autoridade Imperial. Não foi à toa que as grandes frentes de comunicação tarsianas se instalaram firmemente em Forte Martim durante o levante, ancoradas em um discurso de “autonomia dos povos” que na verdade, tinha como alvo o Império, não os rumos deste planeta em si.
É por isso que o apoio militar da Princesa Adelaide é a Brigada Ligeira Estelar – que na prática é a verdadeira Guarda Regencial de seu planeta. É à Brigada que ela confia missões de estado, a própria vida e o futuro de Forte Martim. Assim como seu pai, politicamente Adelaide está solitária, em uma luta feroz contra um planeta inteiro. Isso a torna muito bem vista de modo geral fora de seu mundo, e várias pessoas veem-na como uma heroína – uma menina de dezesseis anos que sobreviveu ao assassinato presumido de seus pais e que carrega o peso de um planeta inteiro nas suas costas. Em seu mundo ela é continuamente difamada, como se fosse uma ameaça para o estado. Mas ela suporta tudo com força – acumulando rancor, mas sabendo qual o seu papel e o que deve fazer.
O grande problema é que seus inimigos não se resumem a um punhado de famílias poderosas – são todas elas. Seria muito mais fácil atacar um grande oponente e desarticulá-lo. Só que hoje a pequena nobreza é consciente de sua força, como uma nuvem de gafanhotos impossível de se exterminar por completo. Aliada a interesses externos, esta nobreza se encontra com poder até mesmo para ameaçar a Princesa-Regente com outro levante, usando clãs maiores como seus representantes maiores. Essa é a verdade trágica: a miríade de clãs menores desse mundo se tornou praticamente um clã maior em si, unidas e bem representadas na política de seu mundo, como uma hidra de diversas cabeças. Algo aparentemente impossível de se derrotar.
Por isso, Adelaide está se valendo da mesma arma inicial de seu pai – forjar nobres de confiança – com uma diferença: trazer pessoas que possam somar forças a ela em sua luta. O ex-oficial da Brigada Ligeira Estelar Miguel Sabatini (hoje Barão de Mosteiro) é um exemplo claro disso: elevado à nobreza, ele converteu o antigo castelo do ex-condado na Academia do Corpo de Guarda das Lâminas Rubras e transformou seus experientes homens em instrutores. Seu objetivo é formar oficiais com uma nova mentalidade, alinhada ao Império, ao legado de Silas Falconeri e à Princesa-Regente Adelaide, qualificados para se juntar à Guarda Regencial de Forte Martim por decreto regencial. No entanto, isso dá margem a conflitos internos nas forças armadas.
O importante é que ela não esteja sozinha, e por isso mesmo, ela prefere incomodar adversários que jamais seriam amigáveis a ela do que perder tempo sendo pragmática e mediadora. Aqueles que não se deixaram teleguiar pela mídia perceberam isso.
Como Princesa-Regente, Adelaide trouxe algo fundamental a Forte Martim: esperança. Ela é um símbolo para os mais jovens, uma esperança para aqueles que acreditam tanto no legado de Silas Falconeri quanto nos princípios de justiça que levaram à fundação do Império; Adelaide acredita que pode dar prosseguimento ao projeto de Silas, encampado por seu pai Teodósio, e trazer a justiça a seu planeta. Sua figura e atitude justificam e inspiram os hussardos da Brigada Ligeira Estelar em Forte Martim, que veem em sua figura simbólica um motivo para lutar contra as diferentes lideranças que conspiram pela morte, difamação ou destituição da Princesa. Fora das áreas de invasão Proscrita, este talvez seja o mundo que mais exige heróis: para lutar pela Princesa-Regente – e pelo espírito e ideais de Silas Falconeri.
Dados Importantes sobre Forte Martim | |
Unidade Federativa | Principado |
Capital | Madeira Sul |
Príncipe-Regente | Adelaide Augusta Regina Menezes d’Altoughia (16 incompletos) |
Consorte Regencial | – |
Clã Regencial | D’Altoughia |
Herdeiro Regencial | – |
Cores do Brasão Regencial (usado nas guardas regenciais) | Verde-folha e azul marinho com detalhes em branco |
Número de Grão-Domínios | 827 |
Principais Clãs de Nobreza e Grão-Domínios sob sua Posse | D’Altoughia (178)Mondragor (175) São Roque (100)Bertrão de Sousa (99)Albornoz (95)Outros clãs (180) |
CORPOS MILITARES DE FORTE MARTIM | |
Guardas Militares |
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Dados sobre as Guardas Regenciais | Não-mista(não aceita mulheres)Contam com combatentes de suporte(couraceiros e dragoneiros)Contam com bases espaciais(naves e hussardos) |
ALGUNS CLÃS NOBRES DE FORTE MARTIM
D’Altoughia: certa vez, um jovem nobre do clã D’Altoughia, afeito a diversão, duelos inconsequentes e donzelas, decidiu cortejar uma bela moça da nobreza que avistou ao acaso. Ao se aproximar dela, percebeu que em seu pescoço repousava um colar – e o reconheceu. O colar pertencera ao próprio rapaz, que o recebera de seu pai quando criança, para presentear a mãe, meses antes do levante. A moça não tinha ideia do que estava por trás de tudo; quando, imaginando que o rapaz só queria puxar conversa, contou-lhe que recebera o colar de seu pai (o Conde de *******), sedimentou o caminho para uma tragédia. Esta trama terminou com dois robôs gigantes e um cadáver – não importando mais se era o do jovem nobre, ou o do pai da moça.
Esta situação poderia acontecer com boa parte do clã D’Altoughia: as sequelas do levante de 1854 ainda estão muito presentes neste mundo. Teodósio D’Altoughia, o antigo Príncipe-Regente, acabou traído pela própria guarda regencial. Uma vez que ele e sua esposa provavelmente foram mortos nesse ataque, os D’Altoughia de todo o planeta mandaram seus herdeiros para o espaço ? dividindo-se entre os que os acompanharam na fuga para outros mundos, os que ficaram para lutar e os que fizeram acordos para permanecer intocados, dando as costas a seu próprio clã no seu pior momento. Nenhuma dessas decisões foi tomada sem preço.
A anistia geral que se seguiu trouxe os D’Altoughia de volta a Forte Martim, mas a sensação geral foi que esse arranjo só beneficiou os traidores: ninguém foi punido. Mesmo a única exigência pétrea do regente Pérez-Reverte (a devolução dos domínios invadidos) foi uma vitória dúbia: o clã, ao retornar, encontrou tudo aos pedaços – seus inimigos fizeram questão de destruir o que não puderam carregar. E nem todas as terras foram devolvidas até agora; alguns se valem de artifícios jurídicos para mantê-las e prejudicar o retorno dos verdadeiros donos. Para piorar tudo, os D’Altoughia criados em outros mundos não estão nada contentes com o que encontraram em Forte Martim: temos filhos batendo de frente contra pais, pessoas dispostas a tudo para se vingar e acusações de todos os lados. A revolta é tanta que mesmo aqueles que se interessam por carreiras militares jamais vestiriam o traje da Guarda Regencial de seu mundo – juntam-se à Brigada Ligeira Estelar. Dentro de um mesmo teto, podemos ter gente rezando para que a Princesa-Regente Adelaide não seja “revanchista” – e outros (principalmente os mais jovens) prontos para desembainhar seu sabre e tirar seus robôs do hangar, dispostos a seguir a princesa caso ela faça justiça!
Para os Jogadores
Você é um D’Altoughia. Isso quer dizer que você é, no mínimo, um injustiçado. Talvez sua família tenha retomado suas terras só para encontrá-las em frangalhos, ou talvez você tenha perdido seus pais, ou talvez eles tenham sido feitos prisioneiros… O importante agora é decidir a postura a tomar. Talvez você não queira vingança, apenas justiça – e seguirá os passos ditados pela Princesa-Regente. Ou talvez tenha encontrado nesta situação um motivo maior ainda para lutar. Quem sabe? Sua missão pode ser reconstruir seu clã e mudar Forte Martim. Mas seguir adiante com os risos da impunidade em seu ouvido é inadmissível. Faça o que tem que ser feito, mas saiba que o custo pode ser alto.
Mondragor (Ramo de Forte Martim): as origens deste clã remontam ao desmonte das igrejas organizadas durante a expansão terrestre para o Espaço. Embora naqueles tempos distantes fossem exigidos celibato e castidade para que os bens acumulados em vida por sacerdotes passassem para a igreja e não para seus herdeiros, a verdade é que a observação dessa regra sempre foi relativa. Filhos não assumidos de clérigos tinham em alguns segmentos da sociedade um status não muito diferente da fidalguia. E, com a implosão estrutural das grandes religiões, aqueles que as comandavam recolheram seus trapos luxuosos e se reconstruíram sobre a nova ordem que se desenhava.
Os Mondragor de Forte Martim são os herdeiros possíveis de uma antiga tradição, reinventados na forma de uma casa de nobreza. A religião em si não desapareceu; sacerdotes existem em toda cidade do Império, por menor que ela seja, mas são figuras comunitárias, e cada pregador tem sua própria postura. Não há mais um único pensamento religioso em comum nos dias de hoje, e a grande ambição dos Mondragor é mudar isso.
O que os caracteriza é que aqueles com domínios sob seu comando se revestem de uma “investidura espiritual” em suas comunidades, oferecendo “aconselhamento espiritual” em público e agregando seguidores fiéis. Tributos não são problema quando se é nobre, o importante é a influência: os filhos homens dos Mondragor são educados para influenciar multidões. Sim, esta família dita o comportamento moral em seus domínios, com pesada influência na vida particular alheia. Para garantir isso, não toleram outros pregadores em suas terras – e pressionam das piores formas qualquer um que contrarie essa diretriz, até que vá embora. Os Mondragor não precisam de ideias espirituais diferentes em seu território; querem a lealdade e obediência de seu rebanho.
Apesar de suas origens e ambições (ou talvez por causa delas), os Mondragor ainda são uma casa de nobreza comum, envolvendo-se em negociatas políticas, casamentos arranjados e jogos de poder. Não é preciso para um membro desta família resgatar os conceitos de celibato e castidade, basta fazer papel público de bom marido e bom pai. Eles nunca esconderam o desejo de estender sua influência sobre todo Forte Martim, e a existência de um poderoso ramo menor em Tarso indica o caminho para isso: a lealdade da Aliança é mais importante para eles do que o trono do Imperador. Nesse sentido, pouco lhes importa quem esteja no poder. Os Mondragor não escolhem aliados ou inimigos por rusgas pessoais – apenas querem destruir os que possam atrapalhar sua influência. E sabem encontrar mãos que se sujem em seu nome.
De resto, o clã teve uma pesada participação no levante de 1854. A regência jamais gostou do discurso impositivo de “moralidade” dos Mondragor sendo forçado contra as leis imperiais de cidadania – e como, para a Princesa-Regente Adelaide, envolvimento no levante é encarado como uma questão pessoal, as coisas prometem ficar muito feias daqui para a frente.
Cores: vinho e preto.
Para os Jogadores
Os Mondragor parecem ser educados de forma padronizada desde o berço: voz calma, calculada e articulada; vestes sóbrias e escuras; uma postura física um tanto rígida e um certo ar de formalidade em tudo que fazem. Esta é uma tradição que vale para todos, e com você não foi diferente. Mas a aparência e educação de um Mondragor é bem diferente de sua identidade real. Os Mondragor são como quaisquer outros nobres, capazes dos mesmos atos e com os mesmos interesses. Uum Mondragor saca seu sabre em duelo como qualquer outro, mesmo que oficialmente o clã condene a prática. Mas vocês respeitam a hierarquia da família, mesmo quando discordam de algo. E sabem que a fidelidade e obediência da população em seus domínios é a base de seu poder. Tenha isso em mente.
São Roque: forjado em meio às guerras da segunda metade do Grande Vazio, o clã dos São Roque poderia ter sido apenas mais uma das muitas casas de nobreza com perfil militar que povoam os mundos imperiais. E realmente muitos deles fazem parte da Guarda Regencial de Forte Martim – mas isso vale para todos os clãs do planeta (menos os D’Altoughia, claro). O que então garante a ascensão dos São Roque ao papel de uma das famílias mais poderosas de seu mundo?
Individualidade talvez seja a resposta.
Os São Roque têm bastante liberdade de ação, desde que tragam resultados. Se há alguma coordenação mútua, é no sentido de proteger a si mesmos e preservar o poder e influência de seu clã. Obviamente, o Levante de 1854 foi um dos momentos mais participativos desta casa como um todo. O que não deixa de ser curioso: um São Roque poderia oferecer seus serviços abertamente para a Princesa-Regente caso sentisse que fosse o melhor para seus interesses. Mas não é bom confiar neles. Os São Roque comportam-se como seus interesses: balançam ao sabor do vento.
Mas por que estimular uma atitude que pode gerar víboras sob seu próprio teto? É simples: isso traz retorno. Uma vez que falamos de individualistas que respeitam seu clã porque é justamente a sua influência que dá respaldo a suas ações, eles, ao buscarem sua própria fortuna e poder – e desprovidos dos escrúpulos morais que poderiam truncar seu caminho – agregam recursos ao clã como um todo por tabela. Claro, há aqueles que são leais em relação à sua palavra, mas é porque sentem que podem ganhar algo com isso. No dia em que eles tiverem mais a ganhar mudando suas lealdades… Bem, como diz seu lema, Nihil est scriptum in lapidem – “Nada está escrito em pedra”. E os outros? Ah, os outros que se danem.
Cores: vermelho e branco.
Para os Jogadores
Você é um São Roque – e vocês são famosos por serem fluidos, adaptáveis, ambiciosos e individualistas. Você sabe aproveitar as oportunidades, mas pouco se importa com aqueles que deixou para trás ou que lhe serviram de alavanca para uma posição mais vantajosa. Claro, este é o motivo pelo qual seus parentes costumam ser muito bem-sucedidos em todos os campos em que atuam – caso não sejam mortos por algum inimigo. Você tem uma perspectiva imensa de futuro. Olhe para o caminho à sua frente. Ele é seu. E os outros ao redor… Bem, aproveite a companhia. Eles podem ser úteis.
Outros Clãs: de modo geral, os clãs de Forte Martim têm em comum o fato de que relações patriarcais são levadas muito a sério. Tradição é importante; eles são avessos a mudanças. Governam como reis em seus domínios, sem grandes interferências – com um aparato que vai desde seus corpos militares particulares até os bons e velhos jagunços. Nunca houve a quem apelar. Não é à toa que esses clãs sempre odiaram o Príncipe-Regente Teodósio: amparado pela máquina do estado imperial, ele tinha força para impor as leis do império. E essas leis eram esnobadas pela nobreza de Forte Martim, como se os Falconeri jamais tivessem pisado no planeta. Na prática, os D’Altoughia jamais minaram as fundações do poder desses clãs; não é de se admirar que politicamente eles fossem mais frágeis do que acreditavam ser.
De modo geral, os clãs querem que tudo continue como sempre esteve. Mas é claro que a Princesa-Regente Adelaide é um foco de tensão e uma pedra potencial em seus sapatos. Porque ninguém tem ideia de seus passos a longo prazo. E dá para perceber que ela joga mais duro que o velho Teodósio. Muito mais duro.
ALGUNS LOCAIS EM FORTE MARTIM
Conquista: região extensa que abarca os vinte e quatro domínios que margeiam o Rio Conquista, e seus quase quarenta afluentes ao longo de três viscondados diferentes. É uma das regiões mais perigosas do planeta, e isso não tem nada a ver com pobreza ou qualidade de vida: antes da anexação pelo Império, Conquista foi cenário de três séculos contínuos de “guerras de gabinete” – leia-se, confitos de pequena escala, com exércitos pequenos, encabeçados por oficiais pertencentes à nobreza e movidos por interesses menores, com frequentes trocas de coalizão e uso constante de mercenários. Muitos territórios passaram de mão em mão nessas disputas. Por isso, a legitimidade das posses atuais é frequentemente posta em xeque até hoje. Como a chegada de uma ordem imperial centralizou a autoridade planetária na figura do Príncipe-Regente, qualquer iniciativa de violência nesta região seria reprimida pela própria Guarda Regencial. Isso fez com que os grandes conflitos decrescessem para uma forma bem menos aberta: duelos, emboscadas e manipulação da pior espécie. Um estranho que passe na região pode se ver envolvido onde não deve. Para piorar a situação, durante os anos do golpe, as guerras de gabinete recomeçaram – e com a ascensão da Princesa Adelaide ao poder, os senhores da região decidiram não esperar: aquietaram-se. Mas seu ativo militar continua de prontidão…
A Academia das Lâminas Rubras: o Domínio de Mosteiro é apenas o que restou do extinto Condado de Mosteiro, um ponto de conexão importante entre duas províncias, a de Barbalho e a de Valverde. Mosteiro esteve sob o comando do Conde Barreiro de São Roque no passado e produzia basicamente material para exportação. O conde local foi uma figura de peso entre os golpistas, mas foi justamente o golpe que o prejudicou, complicando as exportações tão importantes para a área e tornando-a um alvo frágil e fácil no começo da retomada. Assim, um dos principais heróis na reação imperial ao levante, Miguel Sabatini, foi proclamado Barão de Mosteiro, tornando os Sabatini um clã menor de Forte Martim. Elevado à nobreza, Sabatini não sabia o que fazer com as terras e posses que não tinha como avaliar; se recebeu tal presente foi porque a princesa queria-o a seu lado para apoiá-la. Ele então converteu o palácio do antigo conde na Academia do Corpo de Guarda das Lâminas Rubras, jogando sal na ferida dos vizinhos e deixando um recado implícito ao resto do planeta: se algum nobre desafiar a regente, suas terras serão repartidas entre os aliados dos D’Altoughia – e seus sucessores serão rebaixados!
Não é o suficiente para uma reação armada de seus inimigos, mas os antigos senhores da região estão arrancando os cabelos com isso até hoje.
A Academia é aberta a todos, de todas as classes, desde que estejam dispostos a pagar ou a se juntar às cada vez maiores forças de Miguel, que ocupam um nebuloso espaço entre guarda de domínio e mercenários – algo incômodo para vários lordes que tiveram suas garras cortadas por ele antes da anistia. Há inclusive algumas jovens mulheres entre seus alunos, mesmo que estas não possam se juntar à Guarda Regencial quando se formarem – mas a própria presença delas gera uma suspeita generalizada sobre os planos futuros da Princesa Regente. Isso criou um paradoxo: uma guarda de domínio com o efetivo de uma guarda de condado, em termos de membros. E por isso, há pressão de outros clãs de nobreza contra o lugar. O objetivo de Miguel é óbvio: formar oficiais com uma nova mentalidade, alinhada ao Império, ao legado de Silas Falconeri e principalmente à Princesa-Regente. Os hussardos formados pela tradicional Academia da Guarda Regencial de Forte Martim não reconhecem os “Lâminas Rubras”, como eles os chamam. E isso dá margem a vários conflitos internos nas forças armadas.
A CAMPANHA EM FORTE MARTIM
Assim como Trianon, Forte Martim é um dos mundos mais emblemáticos e completos do cenário como um todo, com uso potencial de quase todos os arquétipos de Brigada Ligeira Estelar. Vinganças, duelos, romances, intrigas e uma princesa pela qual lutar! Há tecnologia, estações espaciais (a Dâmocles, no livro básico do cenário), locais não tão desenvolvidos, rivalidades entre guardas, traições, situações folhetinescas… E robôs duelando! Sintam-se em casa aqui!
Há lugar para quase tudo em Forte Martim, mas não custa pontuar algumas possibilidades para personagens.
OFICIAIS HUSSARDOS DA BRIGADA LIGEIRA ESTELAR
Como a Princesa-Regente não pode confiar na própria Guarda Regencial de seu planeta, é na Brigada que ela deposita seu futuro e sua vida. Foi a Brigada quem salvou-a de ser morta nas mãos dos soldados regenciais que mataram seus pais, afinal de contas. São os hussardos imperiais que sustentam sua presença em um mundo onde os velhos traidores continuam na ativa, sem a menor punição. Aqui, eles têm de ser heróis no sentido mais puro da palavra. É sua missão e seu dever.
OFICIAIS HUSSARDOS DA GUARDA REGENCIAL DE FORTE MARTIM
Há oficiais hussardos fiéis a seu dever primário de lutar pela Princesa-Regente. Mas mesmo eles têm dificuldades em mostrar sua lealdade quando o histórico de seu corpo de guarda foi manchado por uma traição a serviço de uma nobreza que continua no poder. A maioria dos oficiais dessa guarda oscila entre uma má vontade em seguir a regente e a repetição de um discurso que enaltece o levante. A rivalidade entre guardas, tão fácil de se encontrar em todos os mundos, reveste-se aqui de uma conotação agressiva: para os hussardos regenciais, a Brigada é uma intrusa. Quem não se descabela para mostrar serviço pode ser um oponente em potencial para a própria regência. As coisas não são fáceis em Forte Martim.
GUARDA-COSTAS
Em um mundo fraturado, com nobres de todos os lados envolvidos em questões de posse de domínios, vendetas acumuladas após o levante e intenções políticas desleais, boa parte dos nobres precisa de guarda-costas ? só a regente tem pelo menos cinco. E quando temos alguns nobres jovens prontos a desembainhar o sabre, é bom que haja quem o segure…
FIDALGOS, CORTESÃS, DUELISTAS, GUARDIÕES OCULTOS…
A fauna da nobreza somada a um evento que destruiu muitos locais (e a evidência de muitos fatos) tornaram Forte Martim um campo farto para tudo que é folhetinesco. Como já foi dito, você pode estar dançando com uma moça sem saber que ela é a filha do homem que matou seus pais! Aquela menina órfã que está sendo perseguida por dois assassinos pode ser na verdade herdeira de um domínio e nem saber disso! E quem garante que aquela cortesã não entrou para o ofício por conta de uma tragédia familiar causada pelo levante – e que na verdade está pondo uma vingança impiedosa em curso?
VINGADORES, JUSTICEIROS MASCARADOS, NOBRES ESPADACHINS, REVOLTOSOS, REVOLUCIONÁRIOS, CONSPIRADORES, TERRORISTAS, MERCENÁRIOS…
Não é óbvio que praticamente tudo é possível em Forte Martim em um cenário como este, onde qualquer marca do passado pode gerar uma escaramuça ou um duelo de sabres?
OUTROS
De modo geral, uma boa história pode justificar quase todos os arquétipos de personagens – e isso vale para qualquer mundo se pensarmos bem.
NOME COMPLETO: Duque Emerenciano Augusto José Albornoz Nanterre Mondragor
IDADE: 49 anos
Emerenciano Mondragor é o patriarca de seu clã em Forte Martim – o mais influente e poderoso de todos os membros de sua família. Curiosamente, não deveria ter sido ele a exercer o cargo: aos dezessete anos, a herança do Grão-Domínio de Estrada recaiu sobre seus ombros quando seu irmão mais velho, Coriolano, inacreditavelmente desafiou as ordens paternas sob o impacto do ataque de Tarso a Albuquerque, sendo um dos primeiros membros dos Voluntários do Sabre – o embrião da Brigada Ligeira Estelar. Coriolano, embora não tenha sido destitulado, foi removido da linha sucessória do Grão-Domínio de Estrada por seu pai. Emerenciano teve de abandonar seus planos de seguir carreira militar na Guarda Regencial de Forte Martim, na qual servira como hussardo por três anos.
Mas, no fundo, seu coração estava com as forças armadas. E friamente, ele nunca se importou com “papéis espirituais” salvo como instrumento de fidelização dos seus súditos: como Grão-Príncipe de Estrada, trabalhou calculadamente a extensão e influência de seu clã em Forte Martim com a eficiência de um general que planeja uma guerra por décadas. O militar que há nele é muito forte, e não é à toa que em seus trajes públicos ele carrega dois sabres: o de sua casa de nobreza e seu velho sabre hussardo da Guarda Regencial. Talvez por isso ele tenha se tornado o patriarca mais importante da história dos Mondragor.
Ao contrário do que se possa pensar, o Grão-Príncipe de Estrada não é exatamente um canalha. Está longe de ser o que se chama de um “bom homem”; não é incomum que ordene secretamente assassinatos e participou de várias conspirações, inclusive a que levou ao Levante de 1854. Mas, justiça seja feita, ele jamais se deixou levar pela loucura do poder; a rigor, serve apenas aos interesses de seu clã e inspira a fidelidade dos que o seguem. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo de seus três filhos homens, Hugo, José e Luís, que são os crápulas insidiosos que seu pai jamais foi.
Sua vida familiar nunca foi um mar de rosas. Por um lado, as coisas nunca foram fáceis com sua esposa – uma montalbaniana de sangue quente, com ideias próprias e mais alinhada ao Império do que deveria. Ambos se separaram: ela hoje vive em um palacete pessoal no Grão-Domínio de Madredeus, só se reencontrando com o marido em ocasiões formais para manter as aparências.
Por outro lado, Coriolano, o detestado irmão de Emerenciano, retornou ao planeta com o Levante, liderando a Brigada Ligeira Estelar na defesa de Forte Martim. Hoje ele é um dos homens de confiança da Princesa-Regente Adelaide e o comandante-chefe dos hussardos imperiais neste mundo, tendo sido essencial ao negociar com o irmão a neutralidade dos Mondragor no conflito logo em seu início. Isso enfraqueceu os rebeldes pela perda de seu suporte e ao mesmo tempo preservou a casa, suas terras e súditos por seu não envolvimento ? pelo menos em aberto. O Grão-Príncipe de Estrada permitiu a fuga das princesas em troca da garantia de uma Lei de Anistia irrestrita ao fim do levante, mas seu papel na articulação do movimento não pode ser esquecido. Quem Coriolano ajudou nisso tudo? A Coroa, os Mondragor ou ambos? E como a Princesa-Regente Adelaide enxerga a dubiedade de um inimigo político como o Grão-Príncipe?
Enquanto isso, o Grão-Príncipe de Estrada prossegue com seus planos. Os Mondragor sempre serão o mais importante para ele, afinal de contas.
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Vantagens: Arena, Nobreza.
Perícias: Manipulação.
Domínio: Emerenciano Mondragor é senhor do Domínio da Cidade de Estrada, que serve de capital para o grão-domínio homônimo, que conta com uma guarda local composta de 4d6 hussardos e 1d6x1d6x1d6x1d6x1d6x10 lanceiros. Emerenciano sempre conta com quatro oficiais hussardos como sua guarda particular no palácio.
Patriarca de Clã de Nobreza: ele não é apenas um nobre, é o mais importante de seu clã! Perícias de interação social têm dificuldade reduzida em uma categoria (testes Difíceis tornam-se Médios, Médios tornam-se Fáceis e Fáceis são automaticamente bem-sucedidos).
Riqueza: para o Grão-Príncipe de Estrada, dinheiro não é problema. Enquanto estiver dentro da área de sua Arena, Emerenciano pode gastar 1 PH para usar todo o dinheiro de que precise – só não podendo adquirir algo que represente uma vantagem ou a “recompra” de uma desvantagem.
Aura de Retidão: sua postura inspira o respeito de seus homens, com tanta força que sua presença afeta aqueles que não se enquadram em sua disciplina. Todos os adversários em alcance curto (até dez metros) sofrem -2 em sua FA.
Língua Ferina: Emerenciano não chegou a sua posição apenas por herança familiar ? é um articulador político arguto e impiedoso. Uma vez por dia, ele pode obter um sucesso automático em um teste de Manipulação.
Ordens de Combate: a herança militar lhe fez bem como governante. Emerenciano pode gastar um movimento e 1 PH para dar ordens a todos os aliados que possam ouvi-lo. Esses aliados recebem FA+1 e FD+1. O efeito dura um número de rodadas igual à sua Habilidade.
Político Nato: jogos políticos são parte integrante deste mundo, e Emerenciano é um bom jogador. Ele conta com as especializações Lábia e Intimidação (de Manipulação), e a dificuldade de seus testes nestas áreas diminui em um grau (testes Difíceis tornam-se Médios e testes Médios tornam-se Fáceis). Além disso, sempre que encontrar-se em meio a uma batalha, ele pode fazer um teste de Intimidação para que a FA de seu alvo seja reduzida em -1d6 contra ele mesmo.