Não havia luz do sol, apenas um breu interminável no céu.
Mesmo assim os campos estavam repletos de jardins verdejantes e árvores floridas. Longos canais atravessavam o vale, incessantemente navegados por barqueiros trazendo pessoas em gôndolas. Cantarolavam. Havia revoadas de borboletas voando através do negrume e, em algum lugar, um cachorro de três cabeças perseguia alegremente algumas crianças.
Uma comitiva de pessoas andava em direção a um portal brilhante, fonte de luminosidade e calor que ocupava o centro da região. O grupo era formado por homens e mulheres, todos jovens de aspecto agradável, vestindo roupas de cores vivazes. Brincavam, riam, dançavam, tocavam flauta.
Em meio às mulheres, uma se destacava, sendo ainda mais bela que as outras. Corpo moreno, olhos verdes. Perséfone, filha da deusa que comandava a terra e as colheitas. Estava de mãos dadas com um homem baixo e barbudo, de ar senhoril, trajando vestes mais sóbrias que os demais. Hades, o deus da morte. Apesar do físico desavantajado, até que era simpático.
O casal conversava:
– E então. Se divertiu? – perguntou Hades.
– Claro que sim. O pessoal daqui sabe como dar uma festa! Foram férias maravilhosas.
– Precisa mesmo ir? Sabe que por mim você ficava.
– Sim. Mas você também sabe que minha mãe é um saco, carente, não vive sem minha presença. Deve ser porque está acostumada a ser amada apenas por camponeses e sujeitos rudes. – ela riu – Não posso deixá-la sozinha, você lembra o que aconteceu da última vez que fugi de casa.
– Não posso dizer que foi de todo ruim. Naquele ano, recebemos um monte de caras novas por aqui.
– Típico. Você só pensa nos negócios!
– Claro que não. Só estava lembrando dos bons tempos. Eu, você e o longo inverno… – os olhos do deus faiscavam – Fique.
– Vamos, vamos. Não seja grudento, ninguém atura homens assim. Já disse que volto. Esse lugar é maravilhoso! – ao se aproximar do portal, Perséfone virou-se para trás e contemplou a paisagem. – Vou sentir saudades. Até ano que vem.
Ela despediu-se com um beijo e foi em direção à luz, desaparecendo.
Um minuto depois do ocorrido, a grama murchou, as folhas caíram das árvores e as borboletas voando entraram em combustão espontânea. Os barqueiros começaram a bater em seus passageiros com os remos, rindo sadicamente enquanto as pessoas, sem entender o que estava acontecendo, jogavam-se na água.
O cachorro de três cabeças finalmente alcançou as crianças que perseguia e as devorou.
Hades empertigou-se e berrava soltando perdigotos no ar – ACABOU A FULEIRAGEM SEUS VAGABUNDOS! DE VOLTA À PROGRAMAÇÃO NORMAL. – acertou um dos rapazes que estava próximo a ele com um soco nos testículos, chutando a face do garoto quando este foi ao chão – E parem de tocar essa flauta! Me dá nos nervos.
Os jovens tiraram suas roupas, começaram a vagar perdidos pelos campos, agora um deserto frio e cinzento. Tinham um olhar vazio no rosto e se lamentavam, afetando gritos agoniados.
Era primavera no mundo dos mortos.
Mesmo assim os campos estavam repletos de jardins verdejantes e árvores floridas. Longos canais atravessavam o vale, incessantemente navegados por barqueiros trazendo pessoas em gôndolas. Cantarolavam. Havia revoadas de borboletas voando através do negrume e, em algum lugar, um cachorro de três cabeças perseguia alegremente algumas crianças.
Uma comitiva de pessoas andava em direção a um portal brilhante, fonte de luminosidade e calor que ocupava o centro da região. O grupo era formado por homens e mulheres, todos jovens de aspecto agradável, vestindo roupas de cores vivazes. Brincavam, riam, dançavam, tocavam flauta.
Em meio às mulheres, uma se destacava, sendo ainda mais bela que as outras. Corpo moreno, olhos verdes. Perséfone, filha da deusa que comandava a terra e as colheitas. Estava de mãos dadas com um homem baixo e barbudo, de ar senhoril, trajando vestes mais sóbrias que os demais. Hades, o deus da morte. Apesar do físico desavantajado, até que era simpático.
O casal conversava:
– E então. Se divertiu? – perguntou Hades.
– Claro que sim. O pessoal daqui sabe como dar uma festa! Foram férias maravilhosas.
– Precisa mesmo ir? Sabe que por mim você ficava.
– Sim. Mas você também sabe que minha mãe é um saco, carente, não vive sem minha presença. Deve ser porque está acostumada a ser amada apenas por camponeses e sujeitos rudes. – ela riu – Não posso deixá-la sozinha, você lembra o que aconteceu da última vez que fugi de casa.
– Não posso dizer que foi de todo ruim. Naquele ano, recebemos um monte de caras novas por aqui.
– Típico. Você só pensa nos negócios!
– Claro que não. Só estava lembrando dos bons tempos. Eu, você e o longo inverno… – os olhos do deus faiscavam – Fique.
– Vamos, vamos. Não seja grudento, ninguém atura homens assim. Já disse que volto. Esse lugar é maravilhoso! – ao se aproximar do portal, Perséfone virou-se para trás e contemplou a paisagem. – Vou sentir saudades. Até ano que vem.
Ela despediu-se com um beijo e foi em direção à luz, desaparecendo.
Um minuto depois do ocorrido, a grama murchou, as folhas caíram das árvores e as borboletas voando entraram em combustão espontânea. Os barqueiros começaram a bater em seus passageiros com os remos, rindo sadicamente enquanto as pessoas, sem entender o que estava acontecendo, jogavam-se na água.
O cachorro de três cabeças finalmente alcançou as crianças que perseguia e as devorou.
Hades empertigou-se e berrava soltando perdigotos no ar – ACABOU A FULEIRAGEM SEUS VAGABUNDOS! DE VOLTA À PROGRAMAÇÃO NORMAL. – acertou um dos rapazes que estava próximo a ele com um soco nos testículos, chutando a face do garoto quando este foi ao chão – E parem de tocar essa flauta! Me dá nos nervos.
Os jovens tiraram suas roupas, começaram a vagar perdidos pelos campos, agora um deserto frio e cinzento. Tinham um olhar vazio no rosto e se lamentavam, afetando gritos agoniados.
Era primavera no mundo dos mortos.