Acho que um bocado se explica, provavelmente, pela atmosfera extremamente kitsch que ele possui. Não falo, no entanto, de um kitsch proposital, como em um filme do Tarantino; mas muito mais de um decalque dele, que se torna kitsch na sua própria tentativa de emular o kitsch mais artístico do diretor.
Complicado? Nem tanto, na verdade. Tudo no jogo é feito para emular a atmosfera tarantinesca, tentando ser uma espécie de Kill Bill com revólveres (mas sem dispensar uma katana bem cool, é claro). A própria direção artística dele evoca o cinema, com telas que lembram pôsteres vintage, e mesmo a imagem de uma película descarrilhando como tela de game over. Entre alguns cenários, há colagens de cenas de filmes de terror, animações e comerciais antigos. Adicione ainda uma protagonista feminina forte (embora muitas vezes ao ponto da caricatura involuntária), uma trilha sonora de bandas independentes com mais nomes do que o elenco de dubladores, e aquela violência estilizada pela qual Tarantino e o seu chapa Robert Rodriguez ficaram mais conhecidos.
E isso, é claro, é o que ele tem de mais divertido. Não se trata de uma aventura épica buscando mudar a sua concepção dos videogames como forma de arte nem nada assim, mas apenas um joguinho de tiro em terceira pessoa que tem na simplicidade o seu maior charme. A jogabilidade em si é um pouco crua, mas é eficiente o bastante para o que se propõe: tiroteios acrobáticos ao som de rock independente. Você não irá exatamente ter dores de cabeça com puzzles insolúveis, nem se embrenhar em batalhas táticas com inteligências artificiais afinadas; mas garanto que há muita diversão a se ter correndo pelas paredes, pulando em bullet time e realizando acrobacias de gun fu ao som de um bom hardcore. Droga, algumas vezes eu juro que me sentia jogando um Tony Hawk Pro Skater com tiros!
Pra não parecer que tudo no jogo se resume a atirar indiscriminadamente para todos os lados, há também uma boa variação de modos e fases de jogo. Na verdade, em certos aspectos ele chega a lembrar mesmo velhos jogos de plataforma em duas dimensões, como Contra, Metal Slug e semelhantes, apenas revestido de uma roupagem mais moderna (e, obviamente, com gráficos poligonais): há os inimigos intermináveis, fases de bônus, time attack… Há uma pegada meio arcade em toda a sua concepção, o que é muito legal.
Se há um ponto realmente negativo no jogo, em todo o caso, são os gráficos. Não são exatamente ruins em comparação com outros por aí, e há de se levar em consideração que ele foi lançado em 2009, é claro, mas penso que mesmo na época do Playstation 2 ele já não estaria entre os melhores. É até um pouco constrangedor ver algumas cenas e movimentos depois de passar meses jogando os últimos Metal Gear Solid e Final Fantasy… A protagonista também é um pouco vazia de carisma e personalidade, por mais que os roteiristas tenham tentado de forma até um pouco comovente dotá-la de toda a awesomeness possível – o que, pensando em retrospecto, talvez seja justamente o que deu errado. Mas, enfim, ela só está lá para ser o avatar dos seus tiros e acrobacias mesmo.
Na soma final, tenho que dizer que Wet é um jogo bem subestimado sim, e que talvez merecesse ter tido um destaque um pouco maior. Não é especialmente revolucionário, mas ainda é bastante divertido, de um jeito que poucos jogos dessa última geração tem sido, e capaz de lhe dar uns bons sorrisos de satisfação. Não dá pra esperar que todo jogo seja um Shadow of the Colossus, afinal, e assumir a não-pretensão de ser um já lhe dá alguma personalidade. E por esse preço ainda, acho que é bastante lucro.