Distopia
A Entidade vigia.
Não há um registro preciso da data em que a Entidade surgiu. Estima-se que duzentos anos tenham se passado desde a queda dos velhos reinos e o enforcamento público do último rei-imortal. Mas a verdade é que não sabemos com exatidão e este tempo pode ser muito maior. A Entidade achou por bem reescrever a história a partir de seu advento e para a maior parte do mundo ela sempre existiu.
A Entidade – uma organização que unificou todos os poderes mundanos e divinos em si própria – prega que vivemos em uma era pacificada, protegidos sob sua égide e que continuaremos desta forma enquanto a aceitarmos como legítima governante. O povo alienado aceita esta ideia, e cada vez menos pessoas a contestam. Ao contrário, muitos inclusive a defendem. Tratam como heresia duvidar de seu único e sagrado soberano, e seguem numa existência sem brilho sob uma constante sombra de terror.
Porém, sempre haverão os descontentes. Alguns poucos que nutrem a certeza de que abaixo da opressão da Entidade há toda uma esfera de existência livre que está tão próxima que pode ser tocada com os dedos. Para isto, basta que você perceba que ela existe. Que seja capaz de compreender que está vivo e que em algum momento toda a humanidade possuiu o livre arbítrio sobre seus atos.
Basta uma simples ideia.
Tão fácil de conceber, mas tão difícil de por em prática.
Emperion
O mundo-sob-o-céu a qual chamamos de Emperion por muito tempo sangrou devido às guerras da nobreza por títulos e territórios, um mal que cobrava seu preço em vidas. Após um período de especial violência, uma revolta popular se espalhou pelos reinos levando à forca até o último dos governantes. Nos primeiros anos após a queda, não havia governo. Cada homem era seu próprio rei.
Foi um tempo de grande poder, mas sem rumo. Não haviam regras claras, e por isso pouco ou nada se construía. A lei vigente era a lei do mais forte, e o mal crescia oprimindo os fracos. Isto perdurou até o dia em que novos mandatários substituíram os anteriores. Reunidos, chegaram a conclusão de que a única forma de perpetuar a liderança e evitar que o ciclo de destruição se perpetuasse seria a de tirar das mãos do homem o livre arbítrio sobre seus atos. Criaram assim uma organização sem rosto que recebeu a alcunha de A Entidade: o juiz, rei e deus de todos os seus súditos; os Protegidos.
Apesar do que possa parecer, porém, não há nada de incrível ou fantástico na existência da Entidade. Sua força reside em seu controle de todo o sistema econômico, jurídico, político e religioso de Emperion. Denuncias de pessoas contrárias ou potencialmente perigosas ao sistema são recompensadas com regalias aos delatores. Esconder um criminoso sob o mesmo teto por sua vez é crime passível de morte pela Água ou pelo Fogo. Desta forma, pouco a pouco, os Protegidos tiveram suas liberdades cerceadas, sendo, talvez a maior delas, a proibição do uso do alfarrábio arcano que já foi de uso comum, a Palavra, hoje quase esquecida em favor do novo idioma.
Um Mundo Pleno, onde as palavras tem poder
A Palavra é uma afronta as ideias de igualdade e controle que a Entidade deseja. Com ela, qualquer um é capaz de moldar a realidade ao seu critério, desfazendo em instantes aquilo que a organização levou décadas para construir: o sentimento de que é impossível viver sem ela. No passado, todos os homens viveram através do uso cotidiano da palavra, mas hoje possivelmente não há em todo o mundo algum falante pleno do idioma arcano. Sob esta ótica, ele está morto, talvez para sempre.
Mas muitas palavras resistiram. Estão escondidas em templos antigos, em laboratórios de estudiosos reclusos ou em livros que de alguma forma escaparam da inquisição imposta pela Entidade. São raros; cobiçados pelos revoltosos que lutam contra o sistema opressor e procurados com afinco pelos Diáconos, os inquisidores que mantém o domínio da Entidade sob todos os homens livres. Estes últimos, possivelmente, os maiores inimigos que seu grupo de jogo pode vir a enfrentar. Boa parte das palavras que estão atualmente disponíveis são substantivos, passam ideias simples e sua utilização é igualmente restrita. Outras, mais raras, tratam-se de verbos. Estes têm o poder de dobrar as palavras à vontade do invocador e são potencialmente mais perigosas.
Usando a Palavra em seu Jogo
Todos os jogadores começam a partida com um certo número de palavras memorizadas, restritas pela Classe a qual pertencem. Podem usar cada um dos substantivos conhecidos uma vez ao dia para cada nível que possuam. Verbos são usados livremente. Conforme evoluem, recebem um novo Substantivo a cada nível, e um Verbo a cada três níveis. Entenda Palavras como ideias. Elas podem ser conquistadas em aventuras, mas é impossível ensiná-las a outros facilmente.
- Homem de Armas – 1 Substantivo.
- Ladrões – 2 Substantivos.
- Clérigos – 1 Verbo, 2 Substantivos.
- Magos – 2 Verbos, 2 Substantivos.
Digamos que eu possua um soldado que conheça a Palavra ‘Fogo’. Com ela, o jogador pode usar (mas não produzir) fogo de alguma maneira. Talvez expandir a chama de uma vela para iluminar o entorno ou encantar por um turno sua arma provocando 1d4+nível de dano por fogo… não importa. Criar um efeito que passe pelo crivo do mestre e brincar com as possibilidades em relação ao número limitado de palavras conhecidas faz parte do jogo.
Para usar a Palavra você deve realizar um Teste de Personagem (TdP). Se tiver sucesso, o efeito negociado irá ocorrer. Se falhar, a palavra terá sido desperdiçada naquele dia, estando disponível novamente apenas após repouso. Clérigos e Magos possuem um controle maior da Palavra por conhecerem um ou mais Verbos. Somando-o ao substantivo, podem gerar efeitos como Criar Fogo, Levitar Corpo, Curar Carne… Estas regras substituem toda a Magia vista no Poket Dragon.
O Véu
Você só enxerga aquilo que quer ver.
Esta espécie de ignorância seletiva é a responsável pela sensação de normalidade que permeia os sentidos dos habitantes comuns e faz com que praticamente todos ignorem qualquer coisa que não seja para seus olhos. Em Distopia, este fenômeno é chamado de O Véu. Graças a ele, os Diáconos podem executar um homem em plena luz do dia sem que ninguém intervenha, ou sequer pareça notar.
Apesar de surpreendente, este efeito é facilmente gerado pela Entidade, sendo alimentado pelo medo das pessoas em arriscar sua própria vida em prol de algo ou alguém. Felizmente, qualquer um pode proferir a Palavra que lhe arranca da cegueira do Véu. Esta inclusive é amplamente conhecida e divulgada, mas poucos arriscam pronunciá-la em voz alta, temendo um futuro incerto.
Tal palavra é Liberdade.
A partir do momento em que for proferida, passamos a ver o mundo como ele realmente é. Miséria, sujeira e degradação conspurcam as cidades enquanto a violência e criaturas há muito banidas atacam nos ermos. Sempre que entrarem em contato com alguma nova criatura ou rolarem 20 em seu TdP para o uso da Palavra, novas facetas da realidade e verdades virão a tona. Em contrapartida, porém, um resultado 1 nestes casos fará com que a Entidade envie alguns agentes para neutralizarem sua equipe o mais rápido possível…
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