Nuvens claras se moviam por um céu azulado, passando sobre um pequeno monte esverdeado onde, pendurado em uma árvore, um saco de areia recebia pancadas violentas. Um homem de cabelos escuros treinava em um quimono branco sujo e remendado, com uma faixa vermelha esvoaçando ao vento presa na cabeça, desferindo chutes com a perna esquerda, direita, esquerda, esquerda, direita, e então socos com a mão direita, esquerda, esquerda, direita.
– Ryu! – quem gritou foi outro homem que subia o monte correndo, também vestindo um quimono, mas vermelho, com os cabelos loiros soltos na altura dos ombros. Quando chegou até o cume parou por um instante para recuperar o fôlego, apoiando as duas mãos sobre as pernas na altura dos joelhos. – Finalmente te encontrei, cara!
– Ken! – Ryu sorriu ao ver o amigo, antes de correr até ele.
Ambos apertaram as mãos e se abraçaram, mas foram interrompidos subitamente por uma trovoada ao longe. Viraram o rosto para cima e viram que o céu azul começava a ser preenchido por nuvens escuras, de uma coloração vermelha como sangue. Um grande raio desceu delas e atingiu o chão não muito longe dali. Ryu e Ken se olharam, e então partiram correndo naquela direção.
Mal começavam a se aproximar do seu destino quando encontraram um grande homem em uma armadura de placas completa, portando uma espada bastarda na mão direita e um grande escudo triangular na esquerda. Ele esticou a mão do escudo, bloqueando a passagem dos dois, e virou o rosto devagar, revelando uma barba grisalha e grossa sobre o rosto. O desenho de um corvo púrpura estava estampado nos seus equipamentos.
– Isto não é assunto de vocês. Deixe que nós cuidamos de tudo. – disse ele.
– Ora, seu! – o rosto de Ryu já começava a se contorcer e tomar uma expressão de raiva. – Se um desastre está acontecendo perto de mim, é sim um assunto meu!
– Acho que eles não vão nos ouvir, Orion. – Quem falava era um homem de cabelos loiros em uma cota de malha ao lado do cavaleiro, portando uma espada em cada mão, a da direita envolta em fogo, a da esquerda em gelo. – Vamos ter que resolver isso à moda antiga.
– Muito bem, Vallen. – respondeu Sir Orion Drake, e ambos postaram-se em posição de combate.
Não longe dali, o combate já havia iniciado entre dois guerreiros. Um tinha cabelos prateados e vestia um sobretudo vermelho, e enquanto lutava trocava suas armas entre um par de pistolas e uma grande espada que emanava uma aura demoníaca. O outro tinha a cabeça depilada e vestia uma armadura de couro negro, mas que deixava as as costas musculosas e lisas à mostra, onde estava estampada a imagem de um grande escorpião. Ao longo de toda a sua roupa armas variadas estavam presas, incluindo diversos pares de adaga, duas bestas de mão, cinturões de dardos e estrelas de arremesso. Ele lutava com uma espada oriental, cada ataque desferido em meio a dúzias de movimentos complexos e sinuosos.
Trocaram um golpe ou dois antes de serem quase atingidos por um objeto voador: era uma mulher com asas de morcego e cabelos verdes, cujo vestido tinha um grande decote em V que deixava boa parte do seu corpo à mostra, e a calça lilás se colava tão justamente nas suas pernas que pareciam ser mesmo a própria pele. Atrás vinha uma elfa com patas caninas e longos cabelos azulados, vestindo um conjunto de tiras de couro que pareciam estar sempre prestes a explodir com a pressão dos seus seios volumosos. Ela voava sobre um cajado com uma jóia verde encrustada no que parecia ser uma garra em uma de suas extremidades, de onde eram disparados raios de energia contra a inimiga.
Enquanto seguiam em seu embate aéreo, as duas passaram sobre a luta de duas mulheres, uma vestindo uma blusa azul e disparando chutes tão rápidos que pareciam fazer suas pernas grossas desaparecerem, e a outra com uma armadura ornamental que protegia com placas metálicas praticamente apenas seus quadris e busto, e tentava prender a adversária com uma rede enquanto manejava um tridente na outra mão. Mais adiante no caminho do vôo duas criaturas verdes trocavam golpes, um coberto de pêlos alaranjados e que parecia criar faíscas elétricas com os seus movimentos, e o outro de aparência reptiliana, com uma barbatana sobre as costas e uma grande arma de haste semelhante a uma foice. A seguir eram dois homens com braços metálicos, o primeiro disparando sua mão mecânica como uma espécie de arpéu, enquanto o segundo se esquivava e revidava com golpes rápidos de uma maça. Mais além ainda lutavam dois guerreiros de aparência demoníaca, o primeiro em um quimono púrpura escuro e envolto no que parecia ser uma aura de fogo negro, e o segundo vestindo uma armadura completa de aparência óssea, terminando em um elmo com forma de crânio sobre a cabeça.
Finalmente as duas passaram sobre uma colina onde um homem flutuava de braços cruzados poucos centímetros sobre o chão em um uniforme militar vermelho, com o emblema de uma caveira com asas no quepe. Ele olhava para os combates abaixo com um sorriso largo, vendo-os através de olhos vazios de onde pequenas faíscas saíam. Um som de passos pesados o fez se virar para trás.
– Vejo que chegou, afinal. – disse ao ver um grande homem com uma armadura púrpura que cobria todo o corpo, com ombreiras volumosas e um elmo com visor formado por um vidro vermelho, portando um escudo e um grande martelo envolto por eletricidade.
– SIM. VAMOS COMEÇAR. – respondeu o outro, e partiu em posição de combate contra ele.
Em uma colina do outro lado da zona de conflitos, uma moça de cabelos loiros curtos também observava tudo distante, sentada em meio a galhos que pareciam nascer naturalmente ao seu redor. Ao seu lado uma loba de pelugem branca, com traços que pareciam pintados à nanquim e um escudo em forma de disco nas costas, também estava sentada, olhando para os embates.
– Parece que começou. – disse a moça.
– Sim. – um pequeno ser brilhante e saltitante sobre o lobo respondeu. – Será que conseguirão resolver suas diferenças e se voltar contra o verdadeiro inimigo?
Ao terminar de falar os três viraram seus rostos para cima, em direção ao horizonte, onde uma sombra colossal formada por ângulos impossíveis começava a tomar forma entre as nuvens rubras…
O DESTINO DE DOIS MUNDOS ESTÁ PARA SER DECIDIDO!
– Objeção! – o advogado gritou com o dedo em riste. Vestia um terno de linho e tinha cabelos escuros cuidadosamente alisados para trás, como se buscasse um design aerodinâmico. Ao seu lado, com os braços cruzados e um sorriso triunfante nos lábios, se sentava um homem em mantos finos, com cabelos longos vermelhos em volta de orelhas pontudas, e uma cicatriz tripla sobre o olho esquerdo.
– Não… De novo não… – sussurrou um homem de cabelos compridos marrons presos por uma fita, vestindo um colete cinza sobre uma camisa amarela, sentado logo atrás da mesa da promotoria.