É um encontro curioso, não tanto por unir duas empresas tecnicamente concorrentes, como por unir jogos que, à parte de pertencerem ao mesmo gênero, sempre funcionaram de formas muito diferentes. Se Tekken, como eu já disse, é o principal nome das lutas em 3D, Street Fighter sempre foi um dos bastiões dos combates em duas dimensões – mesmo o seu título mais recente, que utiliza modelos tridimensionais para os cenários e personagens, é considerado na verdade uma espécie “2,5D”, pois eles são jogados em uma arena de duas dimensões para trocarem seus chutes e bolas de fogo. Street Fighter vs. Tekken, como a série que vem antes no título, segue um modelo mais parecido com este segundo: a jogabilidade básica é fundamentada principalmente no modelo de Street Fighter IV, enquanto os lutadores da Namco precisaram ter os seus movimentos e combros adaptados a este estilo de jogo.
Se isso colabora para manter o jogo mais simples, rápido e dinâmico (palavra de quem, em outras épocas, já gastou tardes inteiras com uma revista de games na mão decorando movimentos e seqüências de golpes a cada novo Tekken lançado…), também trouxe alguns problemas. Os personagens de Tekken, em especial, são mais complexos de usar do que os Street Fighters; seus ataques especiais têm comandos mais difíceis, muitas vezes repletos de combinações e variações, enquanto boa parte dos segundos possuem ataques eficientes usados com dois ou três movimentos. Também faz diferença o fato de que poucos deles possuem ataques de projéteis, que aparecem em profusão entre os lutadores da Capcom, deixando estes em vantagem nas mãos dos jogadores mais apelões.
À parte por isso, no entanto, o jogo até que consegue ser razoavelmente equilibrado entre as suas partes. A maioria dos movimentos e combros clássicos de Tekken foram muito bem transpostos e simplificados, sendo fáceis de reconhecer durante o jogo. Mesmo muitos dos comandos originais foram respeitados, então algum veterano que queira jogar com o Jin Kazama, por exemplo, vai se sentir bem à vontade.
Não se pode deixar de falar também, é claro, do elemento crossover propriamente dito, a forma como as duplas de personagens interagem entre si. Acho que posso dizer que este é o jogo no estilo que o desenvolve e leva mais longe: mais do que apenas trocar personagens durante as lutas ou combinar os seus ataques especiais, existem muitas formas diferentes de usá-los durante os combates, trocando-os no meio de um combo, chamando o companheiro para terminar o seu ataque, ou mesmo dando os seus golpes especiais em seqüência. Além disso, há aquela que eu pessoalmente considero a idéia mais genial do gênero desde a criação do sistema de batalhas dois contra dois: modo de dois jogadores cooperativo! Sim, chame um amigo e cada um de vocês controlará um dos personagens, coordenando entre si as trocas entre eles, ou mesmo, através de um comando especial, combatendo simultaneamente por alguns segundos. Acho que há um bom tempo eu não tinha uma experiência nova tão divertida em um jogo de lutas.
A única coisa que é um pouco esquisita é o fato de que, mesmo que você tenha dois lutadores de cada lado, basta um deles ser derrotado para a rodada ser encerrada, o que pode ser bastante frustrante quando você se descuida e toma um golpe de sorte fatal enquanto a sua dupla espera do lado de fora com a energia quase completa. Existe também um modo de customização, onde você pode atribuir gemas com habilidades especiais a cada personagem, mas que eu pessoalmente achei dispensável – quero dizer, a idéia não é ruim, mas é chato ter que se preocupar com isso quando você quer apenas trocar uns sopapos com um amigo. Poderia existir um modo de desligá-lo, para você não pensar que comprou um jogo de RPG ao invés de um de luta.
Acho que posso fazer algumas críticas quanto à seleção dos personagens também. Enquanto clássicos como Blanka e E. Honda, e mesmo novas caras populares como a Crimson Viper, ficaram de fora, temos nomes descartáveis como Rolento, Ibuki ou Hugo. Do lado do Tekken, ao invés de um Bob, Lili ou Ogre (que é chefe, vá lá, mas o que custava colocar o Heihachi nesse lugar?), poderíamos ter um Bryan Fury ou Lei Wulong. E qual o sentido exatamente daqueles mascotes felinos exclusivos da versão do Playstation 3? No fundo, no entanto, acho que qualquer elenco escolhido geraria críticas de qualquer forma, e os nomes realmente indispensáveis estão todos lá, ao menos. De bônus, é uma homenagem bacana ter personagens baixáveis (mas ainda gratuitos) do Pac Man e Mega Man, ainda que o segundo esteja em uma versão bizarra que lembra pouco o robozinho azul da Capcom.
Todo o jogo ainda é muito bem animado, colorido e bonito. Os cenários, apesar de serem poucos, são cheios de animações e participações especiais de ambas as franquias. E há ainda belas cenas de apresentação e diálogos divertidos para todas as duplas “oficiais”, com direito mesmo a finais em animação. Só a dublagem algumas vezes me pareceu um tanto tosca.
Como saldo final, Street Fighter vs. Tekken é um jogo realmente muito divertido, acho que o mais bem acabado dos crossovers da Capcom. Fãs de Street Fighter devem ficar bem satisfeitos, e acredito que a maioria dos de Tekken também, apesar do estilo diferente. E se pudermos tomar o exemplo do encontro da Capcom e da SNK, podemos esperar um Tekken vs. Street Fighter, seguindo desta vez um estilo mais próximo ao jogo da Namco, para algum momento no futuro, algo que estou bem curioso para ver como vai ficar. Só espero não termos uma versão Ultimatedesse aqui antes disso…