Publicado originalmente no Juca’s Blog em 23 de janeiro de 2010.
Noite: seu palco, seu lar. Apoteose tempestiva. Ela vem com o luar, enganando-me, iludindo. Um olhar: prata empaladora, dor que já não fere tanto. Observo seus passos, seus vícios. Consome o que me resta de paz e embarga meu sono tranquilo. Pobre de mim que cedo aos seus caprichos. Tentadora, debochada, nociva.
Assim ela sempre surge: promete, me ama, me odeia e destrói toda tentativa de amanhecer. Isso é escravidão, escracho, esconjuro. Deita ao meu lado, respira meu ar e rouba meu sonhar sem piedade. Não aceita negativa. Quer o controle, domínio. Sorri quando me enraivece e desperta a bestialidade ancestral de todo homem. Marca, explora, alucina.
Enquanto as horas passam, o tempo agoniza. Quero uma pausa, trégua. Quero mais. Também a amo, a odeio e não acredito que é parte de mim. É parte de uma força que vem e surpreende, recria e manipula o discernimento que tenho sobre meu ego.
Olho para o lado oposto e ela irrompe em gargalhadas. Será que é tarde para desistir desse jogo? Ou devo criar novas regras? Não sei dizer. Apenas sei que quando menos esperar ela estará de volta. Irei amá-la ou odiá-la? Que venha a noite então.