Se você lê histórias em quadrinhos há algum tempo, já deve estar mais ou menos acostumado com reformulações, recomeços e o reínício de personagens, grupos e até mesmo universos como um todo. Se não está, então vá se acostumando.
A bola da vez é a DC Comics. Não muito tempo atrás, ainda este ano, a editora anunciou um reboot de todos os seus quadrinhos. Mais do que isso: a DC chegou a estipular a data do reboot: setembro de 2011. Para os mais céticos, parecia que tratava-se apenas de um golpe de marketing para chamar atenção.
Entretanto, pouco a pouco começaram a surgir boatos circulando entre os bastidores, depois afirmações categóricas out of the record e, finalmente, entrevistas completas com autores da DC Comics dizendo com todas as letras que a editora estava mesmo caminhando para seu reboot — e todos repetiam a mesma coisa: “Minha série termina com a HQ de agosto”.
Golpe de marketing, claro. Chamando cada vez mais atenção. Só que, a partir daí, até os mais céticos começaram a ver que a DC estava preparando algo grande. Entra Flashpoint.
Flashpoint
Flashpoint foi o “evento de verão” 2011 da DC. Espalhou-se por outros títulos, teve spin-offs, recebeu todo o tratamento típico dos mega-eventos de meio de ano. Particularmente, achei uma boa história, mas apenas morna.
Não vou depreciar o trabalho de Geoff Johns, nem do resto da editora, porque a mini não foi ruim, não (na verdade, foi bem melhor do que Fear Itself até aqui, evento de verão da concorrente Marvel). Mas Flashpoint deixou bem claro que a DC estava mirando mais adiante.
A última edição de Flashpoint terminou com os primeiros relances do novo universo DC. Na mesma semana, chegava às bancas Justice League #1, carro-chefe da editora nesta nova etapa de sua longa história (e preste bastante atenção neste novo carro-chefe).
Toda quarta-feira a partir de então, a DC coloca à venda os títulos de seu novo universo — de quadrinhos clássicos como Action Comics, Superman, Detective Comics, Batman e Wonder Woman com a numeração devidamente zerada, até títulos novos como Batwing, Static Shock e Men of War.
O que muda?
Quem estava esperando grandes mudanças com o reboot da DC pode ter ficado um pouco decepcionado com o que viu desde o fim de Flashpoint. A verdade é que, até aqui — e estou me referindo apenas à primeira edição de cada título do novo universo DC —, não mudou grande coisa. Pelo menos não em termos de história, legado e continuidade.
Em Detective Comics, por exemplo, Bruce Wayne é o Batman, e continua sendo o mesmo Batman dos últimos anos (se você desconsiderar o período em que Dick Grayson assumiu o manto), com seu filho Damian como Robin (da mesma forma que era na época de Dick Grayson).
Em Justice League International, uma nova Liga é formada pela ONU, para combater ameaças globais — e entre seus membros estão o Gladiador Dourado, Gelo, Fogo e Batman (Bruce Wayne) também faz uma ponta. Todos heróis conhecidos do público (tanto o público real quanto as pessoas dentro das HQs). Não parece ter mudado muita coisa, não é?
Pois é, e não mudou, mesmo. Além do retcon de algumas coisas, como o Desafiador continuar morto, diferente do que se viu em A Noite Mais Densa, por exemplo, o resto meio que continua igual ao que era antes do reboot.
O que a DC comics fez de verdade nesse reboot foram alguns retcons (cuja extensão teremos de esperar para ver) e situar algumas histórias no passado, como Action Comics e Justice League. De resto…
Continuidade
Mas o que realmente causa alvoroço é, como sempre, a questão da continuidade. Tradicionalmente, quando uma editora mexe em suas vacas sagradas, algumas histórias do passado dos personagens continuam lá, outras caem fora, algumas são reinterpretadas… O que sempre acaba pisando nos calos de algum fã, e causa um certo mal estar nos estômagos de todos.
Até aqui, sabemos que Bruce Wayne é o Batman, que Damian, seu filho, é o Robin, que Dick Grayson é o Asa Noturna e por aí vai (para ficar apenas na Família Batman). Entretanto, algumas coisas mudaram com relação ao antigo universo DC. Por exemplo, Bárbara Gordon.
Bárbara foi alvejada pelo Coringa (na clássica história A Piada Mortal) e ficou paraplégica. Impossibilitada de continuar a combater o crime como Batgirl, ela assumiu o título de Oráculo, ajudando Batman e praticamente todos os outros heróis da DC com informações, identidades falsas e todas as muitas vantagens que conseguia a partir de seu esconderijo secreto, atrás do monitor de um supercomputador.
De acordo com o novo Batgirl #1, Bárbara foi mesmo alvejada pelo Coringa, mas passou por um longo período de recuperação para voltar a andar. Nada de superciência, nada de supertecnologia, nada de magia — apenas terapia. E, para boa parte dos fãs, um sacrilégio.
Para os puritanos, mexer em algo tão sagrado quanto uma história de Alan Moore é motivo suficiente para alvejar Bárbara Gordon (de novo), a roteirista Gail Simone e todos os outros criadores do novo universo DC… Para a galera mais positiva, as próximas edições e a qualidade das histórias por vir é que vão decidir se valeu a pena permitir que Bárbara voltasse a andar ou não.
Mas, vale lembrar, por enquanto só temos as edições número 1 em mãos. E algumas notícias sobre as histórias das duas ou três próximas edições. Fora a cúpula da editora, ainda não temos como saber quais das histórias mais antigas e clássicas valem ou não neste novo universo DC. Por isso, cruze os dedos — há uma boa chance de a sua história preferida estar lá.
New 52
Então as coisas não mudaram muito. Temos histórias no passado de alguns dos heróis da DC, enquanto quase todo o resto manteve o mesmo status quo, com algumas poucas reinterpretações. A maioria dos quadrinhos da editora não passou por mais que uma reformulação na equipe criativa, se é que chegou a tanto.
Entretanto, o novo universo DC não termina nos principais personagens da editora. Na verdade, a DC tem agora 52 títulos, entre os de personagens clássicos e os de heróis — e vilões — que ganharam destaque nos últimos anos, ou personagens recém chegados, deixados de lado ou esquecidos por completo.
Cada título precisa ser avaliado por si mesmo. Não é como se uma editora grande não arriscasse um novo título de vez em quando. A própria DC fez isso várias vezes ao longo dos anos. Alguns títulos deram certo, outros nem tanto. Tem sido assim desde que quadrinhos são quadrinhos.
No final das contas, o que precisamos mesmo é fazer a coisa mais difícil: dar tempo ao tempo.
DC (nem tão) nU assim…
Na minha humilde opinião, o reboot da DC parece mais fogo de palha do que uma verdadeira fogueira. A editora conseguiu chamar atenção para si, tanto entre os fãs de quadrinhos quanto na imprensa em geral, e com certeza vai elevar as vendas, pelo menos nos primeiros meses de seu novo universo.
Mas o reboot não chegou a causar as enormes mudanças que todos esperavam. Nem de longe. Pelo menos não nas primeiras edições, nem trará grandes mudanças nos próximos meses — isso já sabemos. Afinal, as séries que se passam no presente (e são quase todas) trazem histórias quase que diretamente ligadas ao que estava acontecendo logo antes do final de Flashpoint. Ou começaram novos arcos, coisa normal quando entra uma equipe criativa nova.
Então, megarefomulações-que-não-mudam-grande-coisa-a-parte, resta ver o que as novas equipes criativas tem a nos oferecer.
Conclusão
Se você vem acompanhando os quadrinhos da DC Comics, não se apavore com o reboot da editora; há um fechamento das histórias concomitante com o final de Flashpoint, e os “novos velhos” títulos não são mais que uma mudança na equipe criativa, o que acontece praticamente todo ano, ou a cada poucos anos.
Se você realmente quiser ler algo novo, procure os novos Justice League e Action Comics, os títulos com as histórias no passado dos principais personagens da DC. Dê uma olhada também nas séries completamente novas, como OMAC, Animal Man e outros. Tanto pela variedade quanto pela oportunidade.
Com algumas das equipes criativas por aí, há bastante chance de você se divertir. Eu estou curtindo.